segunda-feira, maio 08, 2006

Outra bomba de festim


Eduardo Guimarães

A entrevista do ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira vem se somar à já extensa lista de "armas do Juízo Final" com que a mídia oposicionista pretendeu, em quase doze meses (!!), emparedar o governo Lula e encher a bola da anêmica candidatura tucana à Presidência da República. A rigor, Pereira nada disse que possa justificar o destaque dado às suas palavras. Aliás, se não fosse possível manipulá-las contra o PT o sujeito jamais teria tido espaço na mídia, pois o pouco de novo que ele disse não tem como comprovar, ou seja, que seu partido pretendia arrecadar um bilhão de reais com esquemas como o de Marcos Valério.

Não devemos gastar muito tempo e espaço para analisar o que disse Pereira. É lógico que teremos alguns dias de tentativa de exploração política e de produção de material para a campanha tucana, com imagens do ex-secretário-geral petista depondo na CPI dos Bingos etc. Mas, em tempo recorde, o destino dessa última "bomba" de fabricação midiática será o mesmo que o das anteriores.

Algumas perguntas, no entanto, devem ser feitas. Por exemplo, podemos perguntar a que se deve esse surto de Pereira. Espírito Cívico? Decidiu passar para o lado "do bem"? Que bobagem! É óbvio que o sujeito está insatisfeito por ter sido defenestrado do cargo que tinha no PT e é óbvio que ele se encontra em dificuldades financeiras. Alguém que aceitava "presentes" caros (Land Rover) de empresas que mantêm negócios com o governo de seu partido é porque estava tentando se aproveitar da posição que tinha para amealhar patrimônio. Assim, ao ser pego com a boca na botija seu processo de enriquecimento foi sustado e ele ficou em dificuldades financeiras e com a lei. Sem apoio do PT, partiu para a chantagem contra o partido; como não funcionou, partiu para a retaliação. Simples.

As sucessivas contradições e explosões emocionais de Pereira durante a entrevista ao Globo tornam o destaque dado às suas palavras um ato de extremada irresponsabilidade jornalística, de um tipo que jamais ocorre em relação aos tucanos. Qualquer denúncia contra eles precisa de fortíssimo embasamento para ser divulgada pelos meios de comunicação... Mas estou chovendo no molhado. Todos já sabem disso. Sobretudo a maioria do eleitorado brasileiro, que, conforme mostrou recente pesquisa Ibope encomendada pelo PSDB, está aumentando seu apoio a Lula (45% para o presidente contra 18% para Alckmin)

Muito mais importante do que o desespero da oposição e da mídia com a fragilidade da candidatura Alckmin é uma notícia da Folha de São Paulo deste domingo (7/5) sobre os prejuízos que teve a imprensa da Venezuela por conta da campanha que moveu contra Hugo Chávez. A matéria deixa claro que quando um eleitorado ignora acusações da mídia e mantém sua opção política é porque essa mídia está sofrendo hemorragia de credibilidade, que acaba se convertendo em anemia de público e até de recursos financeiros. É isso o que acontecerá com os meios de comunicação brasileiros. Sem o prêmio que receberiam pela campanha anti-Lula e PT por conta de não terem conseguido eleger Alckmin, só lhes restará, depois das eleições, o rescaldo do desastre em que estão mergulhando cada vez mais fundo.

Contudo, por mais que a desmoralização da imprensa brasileira alente as almas dos que passaram os últimos onze meses sendo esbofeteados pela campanha mais hipócrita que a mídia já moveu contra um governo na história deste país, não posso deixar de lamentar que uma das instituições mais importantes de uma democracia republicana esteja se desmoralizando dessa forma. Todas as sociedades precisam da imprensa. Ao perdermos a nossa, estamos perdendo uma das principais "ferramentas" da democracia. Um dia, certamente ela nos fará falta.

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