Mais de uma semana depois de classificar de lixo os títulos da dívida de Portugal, a agência de classificação de risco norte-americana Moody's continua a ser objeto de ataques e protestos no país. Camisetas com críticas à agência estão sendo dadas ou vendidas, seu site está sendo atacado – não podendo ser acessado a partir de Portugal – e críticos sugerem que cartas com detritos sejam enviados para a sede da empresa, em Nova York.
Vitor Sorano
Em loja de Lisboa, camiseta estampa relatório da Moody's em folha de papel higiênico
A rede de roupas femininas Lanidor estampou “Moody's? No, Thanks. Fashion Girls Anti-Junk” (Moody's? Não, obrigado. Garotas fashion contra o lixo), em 10 mil camisetas que está distribuindo nesta sexta-feira (15/07) às clientes. “Tivemos fila em Lisboa e no Porto pela manhã. Consideramos que [a decisão] foi um ataque injusto, provocatório. Não nos sentimos como lixo”, disse a diretora de comunicação e imagem do grupo, Margarida Mangerão.
“Acho certo que está em inglês. Mais gente vai entender do que se fosse em português”, afirmou a técnica Filipa Magalhães, de 24 anos. “Recebi o recado pelo e-mail e também vi pelo Facebook”, contou ao sair da loja da rede na Avenida da Liberdade, em Lisboa – a mais prestigiosa da capital.
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“As redes sociais começaram a falar nisso e a camiseta surgiu”, explicou Joaquim Mira, sócio da loja de roupas Cão Azul, que também aliou críticas e negócios e lançou uma estampa com o nome da agência em um rolo de papel higiênico. “Tentamos sempre acompanhar a atualidade de forma cômica e a Moody's não podia escapar”. Ele não revelou o número de unidades vendidas.
Fazendo um trocadilho com a S&P – outra das três grandes agências norte-americanas – o site de economia Dinheiro Vivo disponibilizou nos sites as estampas “Moody's is standardad and poor” (Moody's é comum e pobre) e “Moody's is overrated” (Moody's está sobreavaliada). “Tivemos cerca de 1,5 mil cliques. É possível baixar o padrão e mandar fazer camisetas”, disse Miguel Pacheco, diretor-adjunto.
A agência não se manifestou até a conclusão desta reportagem.
Vitor Sorano/Opera Mundi
Filipa Magalhães garantiu sua camiseta em crítica à agência: "Moody's? No, Thanks. Fashion Girls Anti-Junk"
Devolver o lixo
O corte do rating veio poucos dias após Portugal conhecer o plano do novo governo, de centro-direita. Nele, o país – cuja economia está em recessão e o desemprego em inéditos 12,4% – se compromete a cumprir o acordo com FMI (Fundo Monetário Internacional) e Comissão Europeia em troca da ajuda de 78 bilhões – e mesmo ir além. Na ocasião, os portugueses foram avisados, por exemplo, de que metade do 13º salário acima do mínimo, neste ano, fica para o Estado, e que o IVA de alguns produtos (semelhante ao ICMS) deve subir.
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“Veem um moribundo deitado no chão, tentando se levantar e chutam a cabeça”, comentou o publicitário Pedro Gonçalves, de 38 anos, um dos dois responsáveis pelo “Moody's Junk Mail” (veja abaixo). Com mais de 120 mil acessos – algo incomum para o mercado português, segundo ele – o vídeo mostra a dupla recolhendo lixo no chão e colocando no correio com o endereço da Moody's em Nova York. “O que é curioso é que são 120 mil acessos sem uma mulher de biquíni nem gatinhos fazendo coisas fofas”
Embora, segundo o publicitário, o objetivo não seja criar nenhum movimento de protesto – “não somos ativistas”, diz Gonçalves –, a ideia inspirou a campanha “Enviar lixo para a Moody's”, em atividade no Facebook. É a segunda iniciativa de uma outra dupla de indignados com a agência que criou o protesto iniciado no dia 14 e responsável por bloquear o acesso ao site principal da empresa a partir de IPs Portugal – ao qual 77 mil pessoas aderiram.
“Se continuássemos com a mesma forma de protesto, perderíamos a originalidade e o impacto”, explicou um dos integrantes da dupla, identificando-se como Padeira de Aljubarrota – uma heroína portuguesa do século XIV –, ressaltando que “nestes eventos não há um comandante”.
Regulação
Para além de protestos, a Moody's sofre a ameaça indireta da União Europeia, que quer intervir no mercado de ratings. Desde o dia 7, representantes de órgãos comunitários vêm disparando críticas às agências e propondo novas regras para atuação das mesmas.
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O presidente do eurogrupo (que reúne os 17 países da zona euro), Jean Claude Juncker, propôs a criação de uma agência independente para o continente. “Irracionais e desmedidas” foram os adjetivos utilizados para classificar decisões sobre ratings tomadas pelas agências. Dias depois, o presidente do Conselho Europeu, Herman von Rompuy, defendeu a quebra do oligopólio atual e maior controle público, se os governos querem continuar “a ter a última palavra”.
Em declarações à Bloomberg no último dia 11, o comissário europeu para assuntos financeiros Michel Barnier, afirmou que está sendo considerada a possibilidade de exigir “a publicação obrigatória das análises que levam à modificação do ‘rating’ e a obrigação de realizar uma análise mais completa com mais regularidade.”
Essa desconfiança em relação aos critérios de análise das agências já levou a Moody's a perder clientes. Algumas prefeituras, como as de Lisboa e Cascais, e a empresa pública Aeroportos de Portugal suspenderam ou cancelaram os contratos com a empresa, após também terem tido seus ratings rebaixados.
Vitor Sorano
Em loja de Lisboa, camiseta estampa relatório da Moody's em folha de papel higiênico
A rede de roupas femininas Lanidor estampou “Moody's? No, Thanks. Fashion Girls Anti-Junk” (Moody's? Não, obrigado. Garotas fashion contra o lixo), em 10 mil camisetas que está distribuindo nesta sexta-feira (15/07) às clientes. “Tivemos fila em Lisboa e no Porto pela manhã. Consideramos que [a decisão] foi um ataque injusto, provocatório. Não nos sentimos como lixo”, disse a diretora de comunicação e imagem do grupo, Margarida Mangerão.
“Acho certo que está em inglês. Mais gente vai entender do que se fosse em português”, afirmou a técnica Filipa Magalhães, de 24 anos. “Recebi o recado pelo e-mail e também vi pelo Facebook”, contou ao sair da loja da rede na Avenida da Liberdade, em Lisboa – a mais prestigiosa da capital.
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“As redes sociais começaram a falar nisso e a camiseta surgiu”, explicou Joaquim Mira, sócio da loja de roupas Cão Azul, que também aliou críticas e negócios e lançou uma estampa com o nome da agência em um rolo de papel higiênico. “Tentamos sempre acompanhar a atualidade de forma cômica e a Moody's não podia escapar”. Ele não revelou o número de unidades vendidas.
Fazendo um trocadilho com a S&P – outra das três grandes agências norte-americanas – o site de economia Dinheiro Vivo disponibilizou nos sites as estampas “Moody's is standardad and poor” (Moody's é comum e pobre) e “Moody's is overrated” (Moody's está sobreavaliada). “Tivemos cerca de 1,5 mil cliques. É possível baixar o padrão e mandar fazer camisetas”, disse Miguel Pacheco, diretor-adjunto.
A agência não se manifestou até a conclusão desta reportagem.
Vitor Sorano/Opera Mundi
Filipa Magalhães garantiu sua camiseta em crítica à agência: "Moody's? No, Thanks. Fashion Girls Anti-Junk"
Devolver o lixo
O corte do rating veio poucos dias após Portugal conhecer o plano do novo governo, de centro-direita. Nele, o país – cuja economia está em recessão e o desemprego em inéditos 12,4% – se compromete a cumprir o acordo com FMI (Fundo Monetário Internacional) e Comissão Europeia em troca da ajuda de 78 bilhões – e mesmo ir além. Na ocasião, os portugueses foram avisados, por exemplo, de que metade do 13º salário acima do mínimo, neste ano, fica para o Estado, e que o IVA de alguns produtos (semelhante ao ICMS) deve subir.
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“Veem um moribundo deitado no chão, tentando se levantar e chutam a cabeça”, comentou o publicitário Pedro Gonçalves, de 38 anos, um dos dois responsáveis pelo “Moody's Junk Mail” (veja abaixo). Com mais de 120 mil acessos – algo incomum para o mercado português, segundo ele – o vídeo mostra a dupla recolhendo lixo no chão e colocando no correio com o endereço da Moody's em Nova York. “O que é curioso é que são 120 mil acessos sem uma mulher de biquíni nem gatinhos fazendo coisas fofas”
Embora, segundo o publicitário, o objetivo não seja criar nenhum movimento de protesto – “não somos ativistas”, diz Gonçalves –, a ideia inspirou a campanha “Enviar lixo para a Moody's”, em atividade no Facebook. É a segunda iniciativa de uma outra dupla de indignados com a agência que criou o protesto iniciado no dia 14 e responsável por bloquear o acesso ao site principal da empresa a partir de IPs Portugal – ao qual 77 mil pessoas aderiram.
“Se continuássemos com a mesma forma de protesto, perderíamos a originalidade e o impacto”, explicou um dos integrantes da dupla, identificando-se como Padeira de Aljubarrota – uma heroína portuguesa do século XIV –, ressaltando que “nestes eventos não há um comandante”.
Regulação
Para além de protestos, a Moody's sofre a ameaça indireta da União Europeia, que quer intervir no mercado de ratings. Desde o dia 7, representantes de órgãos comunitários vêm disparando críticas às agências e propondo novas regras para atuação das mesmas.
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O presidente do eurogrupo (que reúne os 17 países da zona euro), Jean Claude Juncker, propôs a criação de uma agência independente para o continente. “Irracionais e desmedidas” foram os adjetivos utilizados para classificar decisões sobre ratings tomadas pelas agências. Dias depois, o presidente do Conselho Europeu, Herman von Rompuy, defendeu a quebra do oligopólio atual e maior controle público, se os governos querem continuar “a ter a última palavra”.
Em declarações à Bloomberg no último dia 11, o comissário europeu para assuntos financeiros Michel Barnier, afirmou que está sendo considerada a possibilidade de exigir “a publicação obrigatória das análises que levam à modificação do ‘rating’ e a obrigação de realizar uma análise mais completa com mais regularidade.”
Essa desconfiança em relação aos critérios de análise das agências já levou a Moody's a perder clientes. Algumas prefeituras, como as de Lisboa e Cascais, e a empresa pública Aeroportos de Portugal suspenderam ou cancelaram os contratos com a empresa, após também terem tido seus ratings rebaixados.
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