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Resposta a um mero Melo difamador
Prezados amigos e leitores
Em abril ou maio, se não me engano, aceitei um convite do advogado Washington Torres para jantar no Spand do bairro do Calhau, em São Luís, com dois profissionais da Pública, a agência contratada pelo Governo do Estado para elevar sua imagem e de seus candidatos e desfazer a dos adversários. Gente inteligente e simpática, um se chamava Barata, o outro Mendonça.
Fizeram-me perguntas. A tudo respondi com simplicidade e franqueza. O que mais lhes chamou atenção foi a minha frase de que, ao contrário do suposto pela maioria, no Maranhão quem é forte não é Sarney, é o Governo. Qualquer governo, disse, querendo bater e gastar, facilmente conquista a maioria da “elite” do Maranhão, dos políticos aos jornalistas, passando por outras categorias e corporações, inclusive corporações de Estado. Citei que mesmo os governos mais impopulares dos últimos 40 anos, o de Nunes Freire (1974-78) e o de Luiz Rocha (1983-86), tinham ambos tranqüila maioria na Assembléia, o primeiro deles contra Sarney.
Um dos dois, Barata ou Mendonça, repetiu várias vezes: “Isso é muito, muito importante, vai ser muito útil”, referindo-se à minha frase sobre a força do Governo no Maranhão. Hoje, depois de tudo que ocorreu na campanha, sinto até um certo remorso...
Indagado, opinei ainda que Roseana cobriria no interior qualquer vantagem que porventura lhe impusessem na capital (na época era impossível imaginar que perderia em São Luís de 66% a 33%). Vai ser então a primeira vez, disse, que um candidato de oposição ao governador, ao prefeito de São Luís e à presidência da Assembléia vence a eleição no Estado. Expliquei ainda, por minha livre iniciativa, que votaria em Vidigal se fosse ele contra Roseana (desde que Vidigal estivesse com Lula), mas não em Jackson, por quatro ou cinco razões que acentuei. Se Jackson e Roseana estivessem com Lula, votaria nulo, embora considerasse que ela teria melhores condições de governar bem.
Nunca mais conversei com o pessoal da Pública, mas continuei em contato com outras pessoas ligadas ao grupo do governador, entre elas o advogado Washington Torres, de Vidigal, e o publicitário Daniel Mendes, da Imagine. Com o primeiro trocava impressões sobre a campanha, prognósticos etc; o segundo discutia comigo sobretudo a interpretação e avaliação das pesquisas, e alguma vezes mandou mensagens para o meu blogue, que nunca deixei de publicar.
Do lado da Roseana, ligou-me inúmeras vezes o empresário Eduardo Lago, aqui valendo dizer que raro é o dia em que não me telefona ou manda emeios, mesmo em circunstâncias normais. Fiz tantas críticas ao programa de TV e à campanha de Roseana que ele mais de uma vez convidou-me para assessorar a candidata, sempre ouvindo a mesma recusa. Uma dessas conversas, na casa dele, derrapou até para uma certa rispidez, na presença do amigo Salgueiro. Ambos são testemunhas de como reiterei, enfaticamente, que não desejava por dinheiro nenhum do mundo vincular-me a nenhuma candidatura maranhense, até porque isso seria para mim um suicídio espiritual. Do mesmo modo que declinei dos convites para trabalhar no Estado do Maranhão, no Veja Agora e na TV Difusora, apesar de que minha situação pessoal, há mais de um ano, poderia recomendar-me o contrário. No dia do último debate, ligou-me também a colega Darcimeire Coelho, recém-engajada na campanha, pedindo-me em caráter pessoal sugestões de tema. Dei-lhe duas, nenhuma das quais foi usada, e nem sei se as apresentou. Dediquei-lhe a centésima parte do tempo que meses antes houvera gasto, conversando desarmado com o pessoal da Pública.
Na última segunda-feira, entretanto, encontro n’O Imparcial a seguinte cafajestagem, de autoria de um certo Antônio Melo, “diretor de marketing político da Pública”:
“Imagino o desconforto do professor Antônio Lavareda, da Tânia Fusco, do Antônio Martins, do Walter Rodrigues, na leitura do artigo do presidente José Sarney deste domingo, no seu O Estado do Maranhão. Todos eles reconhecidos entre os melhores profissionais do marketing. Se a intenção do presidente era nos atingir, atingiu com a mesma contundência os profissionais que a ele e à governadora Roseana Sarney Murad prestam serviços.”
Digo-lhes com todas as letras da minha indignação: é mentira. Mentira torpe e covarde, porque se finge de elogio (“um dos melhores...”). Mentira encomendada, sabe-se lá por quem. É mais um dos “factóides” em que esse sujeito se gaba de ser especialista. Mas comigo não. Por mais dinheiro e poder que ele possua, por maior que seja a sua jagunçada midiática, comigo não ficará sem resposta, sejam quais forem as conseqüências.
Não sou e nunca fui profissional de marketing. Não integrei a equipe do professor Lavareda, cujo trabalho nesta campanha (supondo-se que fosse dele a diretiva) considero pífio. Nunca falei com Laverada, nem por telefone. Nunca falei com Antônio Martins, a quem só conheço de foto, assim mesmo porque amigos comuns fizeram-me notar nossa extraordinária semelhança fisionômica. Não sei quem é Tânia Fusco.
Não houve uma só linha de minha autoria na campanha de Roseana. Não estou nem estive “a serviço” dela ou do pai. Fui crítico implacável e talvez até exagerado de seus dois governos, no qual mamavam muitos desses que ora se fazem de heróis do anti-sarneísmo. Nesta campanha em que tanto se comprou e se vendeu, não ganhei um único centavo de quem quer que seja. Desafio qualquer canalha, público ou privado, conterrâneo ou alienígena, a provar o contrário.
Nos últimos 30 anos, nunca deixei de anunciar meu voto, que nunca foi no candidato do Governo, salvo no 2o turno de 1990: Renato Archer (1982), Cafeteira (1986), Conceição e Lobão (1990), Jackson e Cafeteira (1994), Cafeteira (1998) e Raimundo Monteiro (2002). Nesse 2002, comuniquei a quantos quiseram ouvir que votaria nulo num eventual segundo turno, que não houve, se Jackson e Zé Reinaldo estivessem ambos com Lula, ou em Zé Reinaldo, se confirmada a tendência de que o adversário fosse ao palanque de Serra ou ficasse neutro. Sempre votei com a minha consciência, indiferente a quaisquer vantagens, sem nunca pedir licença a ninguém.
Corresponde às minhas piores antevisões que justamente agora, quando vence o slogan de “libertar o Maranhão”, um homem como eu seja difamado por exercer o direito de voto em quem achou melhor ou menos ruim. A bem da verdade, isso jamais aconteceu nos 30 anos de meu combate à oligarquia Sarney, salvo nos murmúrios e muxoxos dos puxa-sacos de sempre, a maioria dos quais migrou para o novo situacionismo.
Toda a imprensa maranhense sabe que suportei grandes pressões do Jornal Pequeno para adotar a candidatura Jackson em 2002. Recusei. Vitorioso, José Reinaldo cumprimentou-me pela independência e anunciou que eu teria um amigo em palácio. Respondi-lhe: “Só desejo que faça um bom governo e respeite a imprensa independente”. Nunca lhe fiz um pedido, nem jamais o governador me desrespeitou oferecendo o que outros lhe solicitaram até de joelhos.
Ex-assessor de imprensa de Zé Reinaldo, Udes Cruz confirmará que me procurou no reinício do Governo, em 2003, para informar que Zé Reinaldo adotaria comportamento pluralista na distribuição da publicidade, incluindo meu Colunão, mas excluindo o Jornal Pequeno, que continuava a atacá-lo com a mesma fúria irracional dos meses da campanha. Aprovei e agradeci o gesto, mas fiz a ressalva de que não publicaria um único anúncio do Governo, enquanto não fosse levantada a restrição ao JP. O que só ocorreria três ou quatro meses depois. Mais tarde, como todos sabem, o JP virou ultragovernista e descartou nosso Colunão. (Udes pode também atestar que só aceitei o pagamento dos anúncios depois que ele me provou que o preço fora calculado de acordo com tabela idêntica à do JP).
Deu-se o mesmo quando Manoel Ribeiro concorreu ao 5o mandato de presidente da Assembléia. Salvo engano, fui o único jornalista com algum poder de fogo a não apoiar suas pretensões. Para isso tive até que desatender um pedido pessoal do diretor do JP. Eleito o novo presidente, Tatá Milhomen, nunca lhe fiz nem sequer uma visita. Mas Tatá pode dizer se é verdade ou não é que continuou pagando a maioria dos “mensalões” — e estes não são obra de ficção política, como os de Brasília — àqueles mesmos que outrora se rasgavam em defesa de Ribeiro.
Votei em Roseana porque quis, declarei meu voto porque quis, porque sou um homem livre, isolado e maltratado que seja, mas livre e em paz com a minha consciência. No blogue expus meus motivos. Deixei claro que não fazia opção entre o Bem e o Mal, nem mesmo entre o bom e o ruim, mas somente entre o preferível e o detestável. Somente um imbecil, um tratante ou ambas as coisas verá nisso uma declaração de correligionário. Se tive algum motivo pessoal, foi justamente o de querer evitar esse clima de perseguições e maldades, essa ausência de todo limite, esse retrocesso em nossos hábitos de convivência democrática. Talvez eu seja mesmo inviável na presente situação, mas não me arrependo de ser fiel a mim mesmo.
Se algum consolo me resta é que foi preciso recrutar um forasteiro, um mero Melo qualquer, para escancarar a difamação que alguns outros só se permitem murmurar. Eu sou quem sou — a comunidade me conhece. Esse Melo aí, percebam o detalhe, é tão debochado que chama um jornalista de marqueteiro — a profissão do mero Melo — com a intenção de ofender. É como se admitisse que o marquetismo é uma atividade imoral. Comportamento semelhante a desse diretor da Pública só se encontra nas mulheres públicas dos bordéis, e assim mesmo não são todas.
O Maranhão não é terra de santo. Aqui tem muito moleque e ladrão sem o mínimo escrúpulo. Mas, tudo considerado, ainda prefiro o similar local.
WALTER RODRIGUES
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