segunda-feira, novembro 06, 2006

do jornalista Walter Rodrigues

Carta sobre Veja Agora e os arquivos da Secom

Caros amigos e leitores
Estou mandando esta mensagem a cerca de 200 pessoas, autorizando que a reproduzam da maneira que melhor acharem.
Hoje fui surpreendido com duas publicações desagradáveis, ambas no matutino Veja Agora, de São Luís, pertencente ao deputado Ricardo Murad, do PMDB.
A primeira é uma carta que distribuí via Internet a centenas de endereços, inclusive aos jornais, rádios e TVs, em resposta às difamações de um marqueteiro oficial. A segunda, um arquivo de despesas copiado clandestinamente de um computador da Secretaria de Comunicação Social do Governo do Maranhão, no qual meu nome consta duas vezes, numa delas em situação esquisita.
A carta do anexo, dirigida à secretária Flávia Regina, detalha a questão do arquivo da Secom. Aguardo a resposta dela. Quanto ao meu contra-ataque ao marqueteiro difamador, que você certamente já leu, peço-lhe atentar para o seguinte.
Veja Agora, no mesmo instante em que tenta misturar-me aos que porventura tenham vendido suas consciências ao Governo do Maranhão, e mesmo sabendo que não participei de nenhuma campanha midiática orientada pelo Palácio dos Leões, publica minha carta ao marqueteiro difamador numa página inteira, intitulando-a “encarte especial”, e ainda acrescentado-lhe uma foto minha, de arquivo.
Quero que todos saibam que não contratei nem autorizei nenhum encarte, “especial” ou não, no Veja Agora. Nada tenho a ver com Veja Agora. Insistentemente convidado para assumir responsabilidades nesse jornal, nunca hesitei na recusa, embora não tenha, a respeito dele, nenhum tipo de preconceito, sobretudo considerando-se a situação atual da imprensa maranhense.
Considero mais que simples coincidência que Veja Agora, no exato momento em que me lança na vala comum dos aliciados — sem fazer a devida ressalva de meu comportamento em nenhum momento governista, seja neste governo ou nos governos Roseana Sarney — dê a entender que me “encartei” no diário de Ricardo Murad.
Isso me autoriza a revelar que, na última quinta-feira, fui informado pelo próprio Ricardo Murad e por outra pessoa que meu nome constava duas vezes do arquivo subtraído a Flávia Regina, numa delas com a informação de um pagamento não esclarecido. Estranhei, por duas razões: 1) por que eu também recebera uma cópia digital dos arquivos, e deles não constava meu nome; e 2) porque tampouco encontrei meu nome no blogue de Décio Sá, onde a lista dos pagamentos já fora publicada.
Explicaram-me, então, que meu nome fora deliberadamente suprimido para me “evitar constrangimentos”, até que pudessem me ouvir a respeito. Respondi que aquilo fora um erro, que não desejava de ninguém esse tipo de proteção, que só havia recebido o pagamento de anúncios perfeitamente caracterizados e que, diante daquela informação, escreveria imediatamente a Flávia Regina, cobrando-lhe esclarecimentos.
Não gostaria de fazê-lo, mas, nas circunstâncias, vejo-me forçado a acrescentar que, vencida essa etapa da conversa, fui alvo de novos e insistentes convites para integrar uma frente de oposição ao governo Jackson Lago, do que decorreria, desde logo, a solução de meus problemas mais imediatos. Convite este, acrescento, que nada teve de ilegal ou imoral, mas que não pude aceitar.
O motivo é simples. Durante muitos anos, empenhado no combate às administrações do grupo Sarney, de certo modo fechei os olhos para as mazelas da oposição, em suas várias facções. Hoje sei que não há diferença essencial entre as duas correntes, que o governador de um grupo pode ser o governador do outro, que a oligarquia é um sistema de mandar e usufruir que pode ser operado por diferentes personagens, que a corrupção é sistêmica, e que, numa eleição maranhense, não se vai além de escolher entre o ruim e o menos ruim. Portanto, o fato de não haver votado no governador eleito nem por um momento me conduziria a transformar em heróis libertadores os governistas de anteontem.
Dito isso na quinta-feira, com reiteração por telefone na manhã de sexta, eis que Veja Agora me surpreende com o duplo desconforto deste domingo: o “encarte” enganador e o arquivo outrora publicado pelo Décio Sá, agora com introdução ou reintrodução do meu nome.
Vou requerer direito de resposta ao Veja Agora. É um inferno, mas não tenho alternativa. Quando tudo isso passar, com ajuda de amigos e admiradores sinceros e honestos, em breve erguerei novamente minha trincheira de jornalismo engajado, porém independente, insubmisso às facções dominantes, capaz de errar, mas incapaz de falsificar. Eu morreria se acreditasse que já não há mais espaço para isso entre nós.

São Luís, 5 de novembro de 2006
WALTER RODRIGUES

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Carta do anexo, dirigida à secretária Flávia Regina

São Luís, 5 de novembro de 2006
Prezada Flávia Regina
Permita-me dispensar as formalidades, apesar da natureza do assunto em pauta.
Acabo de ler no Veja Agora deste domingo (5) matéria sobre arquivos supostamente capturados de seu computador pessoal. Um deles relaciona pagamentos efetuados pela Secretaria da Comunicação Social não só a veículos, mas também a jornalistas, num determinado mês. Meu nome aparece ali duas vezes, numa seção intitulada “Patrocínios”. Na primeira, assim:
Colunão — R$ 4.000,00 — Walter Rodrigues.
Na segunda, apenas assim:
Walter Rodrigues — 5.000,00
Reproduzo como está. Meu nome é o único que aparece duas vezes. Na primeira, como diretor do semanário Colunão. Na outra, sem nenhuma explicação, fazendo supor um pagamento a pessoa física.
Quando meu Colunão ainda circulava, tanto na fase de encarte autônomo do Jornal Pequeno, quanto na curta fase do vôo solo, mais de uma vez publiquei anúncios que me foram encaminhados pela Secom, vale dizer, por você. Anúncios perfeitamente caracterizados e posteriormente pagos à editora Visual, empresa do meu amigo Nelson Nogueira, representante comercial do semanário, com emissão da respectiva nota fiscal. Não há, portanto, nada a estranhar que o Colunão conste de alguma planilha de custos mensais de publicidade.
Já a segunda referência não faz o menor sentido. Nunca recebi um centavo da Secom ou de qualquer outra repartição governamental a título de serviços prestados. Nunca lhes prestei serviço nenhum, nem jamais participei de nenhuma campanha midiática de construção ou desconstrução do que quer que seja.
Note que estou falando apenas em próprio nome. Não ignoro a existência de jornalistas que prestam “assessoria” clandestina (relativamente a seus leitores), assim como há jornais e outros segmentos da mídia cuja opinião oscila ou dá cambalhotas conforme a origem da receita. Que se danem. Não posso é ser misturado a esse tipo de gente, nem tampouco meu Colunão jamais se deixou influenciar pela publicidade. Nem sequer fui ou sou correligionário do governador José Reinaldo ou de seu candidato nas últimas eleições, assim como não me alisto entre os militantes do grupo da senadora Roseana Sarney ou qualquer outro. Disse-o com todas as letras, numa entrevista ao Chico Viana (TV São Luís), pouco depois do rompimento do meu contrato com o Jornal Pequeno — muito antes da confecção da planilha estampada em Veja Agora. Quando, por exceção, engajo-me temporariamente num movimento — como o da reeleição do presidente Lula — ajo às claras e nunca por dinheiro, que desse pecado estou em livre.
Conversamos umas poucas vezes durante a campanha, mas, assim como nunca lhe pedi um favor que fosse, apenas informações. Até mesmo quando anúncios publicados estavam com o pagamento em atraso, nunca lhe toquei no assunto. Tampouco você alguma vez me insinuou alguma intenção de influir na linha editorial do Colunão. Como é natural, sempre defendeu o Governo das críticas que eu porventura lhe fizesse, com a obrigação de secretária e a liberdade de amiga, mas sem jamais se afastar do respeito e da decência.
Diante do que, em meu próprio interesse e no interesse da opinião pública, solicito-lhe que me esclareça o que significa aquela segunda referência ao meu nome no arquivo publicado em Veja Agora, supondo-se que seja autêntico.
Neste instante, e exclusivamente para os fins desta carta, por favor, esqueça qualquer consideração de amizade. Seja até cruel, se necessário, mas diga a verdade, e com todos os detalhes que forem necessários.

Atenciosamente,
Walter Rodrigues

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