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Extra! Extra! Dinheiro do dossiê veio da Casa da Moeda
As manchetes de Folha e O Globo, tratando do dossiê, são um erro de avaliação jornalística, para ficarmos nas boas intenções. Têm o mesmo valor que destacar na 1ª página: Dinheiro do dossiê veio da Casa da Moeda
Nelson Breve - Carta Maior
BRASÍLIA - Jornalistas costumam perder a racionalidade quando são destacados para acompanhar um escândalo. Ficam cercados por muita tensão por causa da competitividade. O medo de levar um furo - ou seja, de ver o concorrente noticiar na frente uma novidade de impacto - torna o ambiente da cobertura mais esquizofrênico. Da mesma forma, a imprensa, de modo geral, perde o prumo nas coberturas de eleições. Os conflitos internos nas redações deixam todos com nervos à flor da pele.
A mistura de escândalo com eleições, portanto, é quase uma sessão permanente de choques elétricos. Essa talvez seja a explicação para a neurose em torno das investigações sobre a origem do dinheiro que pagaria o dossiê com supostas provas de envolvimento dos tucanos com a "Máfia dos Sanguessugas". Neurose que bloqueia a reflexão sobre as informações que chegam às redações.
Como pode a Folha de S. Paulo estampar manchete de primeira página dizendo "Parte do dinheiro do dossiê veio do jogo do bicho do Rio"? Ou O Globo cravar na capa "Bicheiro Turcão deu dinheiro para dossiê"? Se o objetivo não é ajudar o programa eleitoral do candidato tucano a dar credibilidade para ataques aos adversários mostrando manchetes de jornais, só pode ser resultado de derrame cerebral coletivo.
Em primeiro lugar, o próprio jornal informa que apenas R$ 5 mil, entre mais de R$ 1 milhão teria passado pela banca de um bicheiro do Rio. Isso é menos de 0,5% (meio por cento). Uma proporção que não se aceita em estatística alguma. É como colocar uma colherinha de açúcar em um copo com outras 199 colherinhas de café.
No entanto, o ponto principal das alucinações da imprensa e dos políticos sobre a origem do dinheiro é o fato de que as marcas eventuais encontradas apontam apenas o caminho por onde pode ter passado. Olhando apenas para o dinheiro, não há como saber qual foi o último lugar por onde passou antes de chegar aos emissários que comprariam o dossiê.
A imprensa já caiu no conto de que o dinheiro teria entrado ilegalmente no país, ajudando a campanha tucana a propagar essa versão. Depois foram atrás dos cambistas e agora dos bicheiros. Não conseguem raciocinar que dinheiro passa pela mão de muita gente. Poderia ter passado por empresas de ônibus, que movimentam muito dinheiro. Se fosse de alguma cidade administrada pelo PT, certamente seria manchete escandalosa. Já pensou se alguém encontra entre as notas um fio de cabelo e constata, pelo exame de DNA, pertencer a alguém da Folha ou do Globo? Como seria a manchete? "Dinheiro do dossiê passou pela imprensa"?
Banqueiros do bicho também possuem contas em bancos. Assim como órgãos governamentais, organizações não-governamentais, grandes e pequenas empresas e até as organizações criminosas. Mesmo que parte do dinheiro fosse em notas numeradas, só se poderia levar a sério para investigação o intervalo de tempo desde sua emissão e o primeiro local para onde foi enviada pela Casa da Moeda. Depois o dinheiro se mistura com outros e ninguém fica anotando número de cédulas.
Claro que todas as pistas são importantes em uma investigação. Saber por onde passou o dinheiro é uma informação que será cruzada com outras para montar linhas de pesquisa e operação. Mas a imprensa não pode tratar tais pistas como grandes descobertas. Isso é estelionato jornalístico. Vender uma informação com valor muito acima do que ela vale de fato. Sem contar o estrago político que faz em uma campanha, com um candidato usando o exagero para desacreditar o outro.
As manchetes da Folha e do Globo são um erro de avaliação jornalística, para ficarmos nas boas intenções. Têm o mesmo valor que destacar na primeira página, em letras garrafais: "Dinheiro do dossiê veio da Casa da Moeda". Seria um escândalo. A oposição iria denunciar o uso de dinheiro público para pagar o dossiê e pedir a impugnação da candidatura do presidente Lula por uso da máquina administrativa do governo. Uma confusão danada até alguém esclarecer que todo dinheiro em circulação no país passa pela Casa da Moeda.
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