domingo, fevereiro 19, 2006


"Eu tenho pavor de político desonesto"

Para ler e registrar, saiu no blog do Noblat, portanto...


http://noblat1.estadao.com.br/noblat/visualizarConteudo.do?metodo=exibirEntrevista&codigoPublicacao=17367

Ele é acusado pela oposição de bandido e estelionatário. Está envolvido com a lista que traz os nomes de 156 políticos beneficiados em 2004 com R$ 36,5 milhões de um suposto caixa dois de Furnas. E diz estar disposto a contar tudo na CPI dos Correios.
A convocação dele foi aprovada, mas ainda não foi marcada a data do depoimento. A oposição quer vê-lo pelas costas e ameaça convocar o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.
O lobista mineiro Nilton Monteiro é um sujeito enrolado. Tem vida obscura. Já falsificou a assinatura do próprio pai em um documento de aposentadoria. Mas é inegável que sabe muitas coisas sobre corrupção.
Sente-se perseguido desde que denunciou no ano passado o esquema de caixa dois do senador Eduardo Azeredo para a campanha ao governo de Minas em 1998.
Foi ele que entregou à Polícia Federal documentos que comprometem Azeredo e seu ex-caixa de campanha, Cláudio Mourão. Logo depois, entregou também a suposta lista de Furnas feita, segundo ele, por Dimas Toledo, ex-diretor da empresa.
Monteiro alega que Dimas o contratou para ajudá-lo a se manter no emprego depois que começou o governo Lula. E que lhe pagaria R$ 3 milhões pelo serviço.
O repórter do blog Leandro Colon encontrou Monteiro ontem na casa de um irmão dele no bairro Cachoeirinha, em Belo Horizonte. Abaixo, os principais trechos da entrevista gravada:
Por que você entregou essa lista na Polícia Federal?
Primeiramente, eu não entreguei essa lista. A única pessoa que teve acesso a ela, que ficou com o original e com a cópia fiel autenticada chama-se Augustinho Valente (ex-deputado federal). Eu confiei nele. Eu entreguei para ele no ano passado. Ele foi à Brasília e mostrou para o pessoal do PT.
E depois eu cobrei e ele me trouxe a cópia autenticada e o original. E me devolveu. E fui surpreendido quando a lista vazou na imprensa, na internet, até de uma forma para queimar o documento. Dizendo que o documento era falso. Isso me aborreceu muito.
Até que chegou o momento onde eu fui surpreendido, um dia, terminando meu depoimento ao doutor Zampronha (delegado da PF) sobre o caso do Cláudio Mourão. Quando entreguei os documentos a ele para que fossem examinados para perícia, ele chegou com a cópia da lista, jogou na mesa e pediu que eu desse informação sobre ela.
Eu não estava preparado para falar sobre isso. Estava tomando remédio. Mas já que ela estava na internet, com o xerox do xerox do xerox, eu resolvi dar a informação. E fiquei surpreso. Me senti traído. Não achava que isso iria vazar e todo mundo tirasse proveito. Eu iria guardar para o mês de maio.
Por que?
Porque eu queria desmascarar as pessoas que estão naquela lista. Que o Dimas falou para mim que cansou de ajudar. Que tinha tomado uma facada nas costas e ninguém queria olhar por ele. E que prestou serviços ao país, apesar de ter levado dinheiro para muitos políticos. E ele se sentiu traído.
Mas a lista apresenta vários problemas. Por exemplo: aparecem os nomes de pessoas que estão lá e não eram candidatas em 2002, e o uso do termo “recursos não contabilizados”, que o Delúbio usou pela primeira vez no ano passado....
Eu não entendo esse termo “recurso não contabilizado”. Essa lista, o Dimas preparou de acontecimento em 2002, acontecimento em 2004, e acontecimento antes de 2001. Ele deixou no alto uma interrogação porque ele sempre contribuiu.
Nas duas eleições do Fernando Henrique, ele contribuiu com recursos. Em 2002, ele contribuiu, em 2004 também. E as pessoas que estavam ali, que realmente não são deputados, ele disse que são pessoas que receberam para repassar para deputados. Ele tinha um relatório.
Dava o recurso e tinha um controle. A lista foi feita nessas datas, mas assinada em 2005. Eu até falei para ele: por que você pode assinar como se fosse em 2002? Ele disse: Nilton, isso aconteceu em 2002. Ele deixou no ar.
Você acha que é possível provar que o conteúdo é verdadeiro?
Quem tem que provar é o Dimas. Ele assinou e rubricou. E eu reconheci a firma. Fui ao cartório e autentiquei. Fiquei com duas cópias fieis do original. Ele fez três para o grupo e ficou com uma de controle dele, original.
Quantas listas originais existem?
São quatro originais, assinados por ele.
Onde estão?
Mais cedo ou mais tarde, a PF vai apresentar. A corda vai roer.
Você ficou com alguma original?
Eu prefiro deixar para ter uma oportunidade na CPI.
Mas a CPI tem dito que se você não apresentar nenhum indício de que tem prova...
Isso é uma covardia. O Cláudio Mourão foi lá, disse que eu era um bandido e um estelionatário. E provei tudo o contrário. Até hoje ninguém tomou providência. Por que? Porque querem proteger o senhor Azeredo. O escândalo do Azeredo a cada dia que passa vai se descobrindo mais. Vai passar de R$ 100 milhões.
Só nesse caso do Cláudio Mourão, eu já tinha direito de ir à CPI. Agora, o Cláudio Mourão baseou a lista dele na do Dimas. Porque eu dei uma cópia a ele. Eu tirei as rubricas e as assinaturas e ele achou aquilo interessante. Então a cópia da lista do Cláudio é parecida com a de Dimas, mas relativa à questão de Minas. E ali é verdade e muito coisa vai aparecer ainda.
O quê, por exemplo?
Vai ser um escândalo. Na área da saúde, remédio dos transplantados, da Aids, do fundo nacional dos estudantes.Vai aparecer muito coisa. Eu quero ir à CPI mostrar o escândalo com a Loyd do Brasil (empresa responsável por construção de navios extinta em 1997). Aonde foi parar o dinheiro? Na conta de quem foi parar? Venderam a Loyd e vou mostrar onde o dinheiro foi parar.
Qual sua ligação com isso?
Eu fui procurado. Vou mostrar para o Brasil o que eles fizeram. Roubo. Venderam navio para Nova York, desembolsaram o dinheiro e jogaram numa conta. Foi passada para uma pessoa do Fernando Henrique.
Quem?
Eduardo Jorge. Vou apresentar isso na CPI.
E como você teve acesso a esses documentos?
Eu tenho acesso a vários documentos. Não sou esse escroque, esse bandido que eles falam não. E esse dossiê que eles montaram contra mim é montado. Vou desmantelar um por um.
O PSDB e o PFL falam que você um bandido, um estelionatário. Um enganador. Como provar que não? O que você tem a dizer?
Estelionatário é quem fala isso. Primeiramente, no Espírito Santo eu falei a verdade. Acabei com o crime organizado lá. O Paulo Hartung (governador do Espírito Santo) deve a chave do governo a mim. Acabamos com aquela corrupção que era do PSDB. Fundador do PSDB, um bandido, o José Inácio Ferreira.
O que você fez lá?
Eu denunciei o esquema que tinha. Dessa máfia com o governo do Estado. Ela patrocinou vários deputados. Eu denunciei em 2001. E quando foi em 2003, o Ministério Público pediu a prisão de vários deputados. E agora estou passando o rodo em Minas Gerais na maior quadrilha da história.
Qual seu interesse nisso?
Eu tenho pavor de político desonesto. Eles ficam lá igual a mocinho e por trás fazendo as coisas.
Você vive do quê?
Eu vivo de meu trabalho.
Qual o seu trabalho?
Eu vivo de consultoria. Eu vou mostrar quem eu sou. Dou consultoria para grandes empresas.
Você não acha que é muito obscuro tudo isso?
Meu trabalho é trabalho. As pessoas falam que é lobista. Mas no Congresso não se faz lobby? Lá é a casa do lobby.
Você não é lobista?
Eu me considero lobista. Eu faço intermediações de negócios com grandes empresas. Eu tenho procuração e vou mostrar que não sou escroque. E acho que tem que regulamentar essa profissão. Porque o que mais tem no Brasil é lobista.
Você diz que teve três encontros com o Dimas. Como provar?
Não vai ser difícil. Porque eu pedi e gostaria muito de uma acareação com ele. Ele mente. A assinatura dele está mudando. Mudando os padrões. Ele é um grande mentiroso. Ele é um capo. Um cara que lesa uma empresa para fazer corrupção. Eu vou mostrar na CPI. Por que eu não posso? Todo mundo pode ir lá e me atirar pedra. Se eu sou bandido, vem cá e me prende. Já era para eu estar preso.
Por que você acha que a CPI está demorando para chamá-lo?
Porque tem medo de debater com a verdade. Eu vou falar a verdade. Não vou para falar mentira.
Que documentos você levará para a CPI?
Não é só com documentos. Tem nove meses que sustento a imprensa. Eu prefiro me reservar. Eu faço o desafio: a CPI me aceite. Eu desafio essa CPI: eu quero olhar olho no olho. Se eles têm moral para me desqualificar assim...
Qual a última vez que você falou com o Dimas?
No ano passado. No trabalho que fiz para mantê-lo no cargo. Mas não consegui. Porque quando fui fazer fiquei preocupado. Vou receber R$ 3 milhões? Achei aquilo esquisito.
Você achou muito dinheiro?
Eu achei. E depois fui descobrindo as coisas e fiquei mais apavorado ainda. E falei: tô fora.
Você saiu porque era muito dinheiro? Não é difícil convencer as pessoas disso?
Não sei. Muito dinheiro e outra coisa: não tive sucesso. Achei muito grave usar uma lista daquela para se beneficiar. É corromper. É corrupção. Facilitar o cargo.
O Dimas te entregou o original e nunca pediu de volta?
Ele acha que perdeu o controle. Não quero falar disso agora. Ele não tem o controle dos documentos. Quando fui fazer o trabalho, fiquei com o original e um recibo. Quando ele fez, fez quatro blocos. Eu fiquei com um. Um ficou com o Dimas que depois passou para o advogado. E os outros dois com o doutor Felipe.
Você ficou com um original e com recibos?
É. Mas isso está sob segredo de Justiça.
Os recibos vão aparecer?
Eu creio que sim.
Você viu os recibos?
Eu estive com eles nas mãos. Cheguei a ter 28. Mas escolhi os oito melhores. Para quê ficar com tanto? Eram 28 recibos. Eram 20 e fiquei com oito.
Quando você vai entregar isso para a PF?
Está muito próximo.
De entregar o original e os recibos?
Tudo. O original e o acordo que tínhamos. Para a Polícia Federal. Igual ao que fiz no caso Mourão.
Onde você está guardando o original?
Isso é segredo de Justiça. Não quero falar.
Você sabe que se isso não aparecer, nada ficará provado...
Vai provar, sim. Mas olha como é a Justiça. Vamos supor: se não aparecer o original, pelo menos um, quer dizer que hoje cartório não serve para nada?
Você não tem medo de entregar o original e desaparecer?
Eu confio na Polícia Federal.
Você disse que é consultor de grandes empresas. Não é estranho uma pessoa que tem toda a influência que você diz que tem ter uma vida modesta assim?
Eu fui roubado pelo crime organizado do Espírito Santo. Tiraram meu dinheiro para pagar o crime organizado. De 1999 a 2001. Perdi a comissão que tinha no contrato. Eu vivo do meu trabalho, das comissões. Um pouquinho aqui. Um pouquinho ali. Está tudo declarado no Imposto de Renda. É o momento oportuno para quebrar meu sigilo.
Você recebeu ameaças?
Muita ameaça. Eu recebi de Cláudio Mourão. E estou recebendo agora. Acho que é do grupo de Dimas.
Alguém do PSDB ou do PFL te procurou?
Não. Apenas para acordo. Muito recentemente.
Quem?
Não vou falar o nome. Mas falou “vamos parar com isso, tal, tal. Isso é ruim para o Estado”.
Ofereceu dinheiro?
Sim. Mas não vou falar. Só na CPI.
Mas dizem também que você procurou pessoas para um acordo...
Prova... Prova que eu procurei o PSDB para alguma coisa.
O que você tem aí nas suas coisas é a cópia fiel do original?
Isso (Nilton mostra a cópia). É a cópia fiel original. Eu quero que eles provem que eu falsifiquei os selos. Eu entreguei uma dessa à Polícia Federal.
Você tem alguma ligação com o PT?
Eu me filiei ao PTB via Max Mauro no Espírito Santo. Queriam que eu me candidatasse a deputado estadual. Não tenho nada com o PT não.
Qual sua ligação com o Roberto Jefferson?
Só o conheço pela mídia. Mas tenho simpatia porque acho ele um homem de coragem. Gostaria de encontrar com ele porque acho que tiraram o mandato dele covardemente.

Tem também um novo blog...

http://monteironacpiurgente.blogspot.com/

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