domingo, fevereiro 12, 2006

Artigo de Nelson Breve sobre filme e macartismo

Senhores,

Tomo a liberdade de lhes enviar o texto abaixo, em que se lêem frases que eu gostaria de ter escrito.

Todos os colunistas e editorialistas da página 2 da Folha de S.Paulo (e inúmeros outros jornalistas brasileiros que inventaram, construíram, operaram, executaram e festejaram do modo mais sórdido, a degola do Ministro José Dirceu) fizeram, então, e continuam fazendo, em pleno século 21, o mesmo 'jornalismo' imundo que, nos anos 50, nos EUA, INVENTOU o horror que, hoje, se conhece como macartismo.

No Brasil de 2005-6, esses jornalistas macartistas 'ensinaram' o leitor-eleitor brasileiro a condenar sem provas e a degolar deputados eleitos por mais de meio milhão de votos entre os quais o MEU VOTO democrático, legítimo e perfeito.

Nem pensem, os senhores, que os colunistas e editorialistas dessa página 2 da Folha de S.Paulo (e inúmeros outros jornalistas brasileiros) tenham algo a ver com o digno e belo jornalismo de Edward R. Murrow. Não se atrevam! O 'jornalismo' que os senhores fizeram e ainda fazem será julgado pela história. E, sim, há provas desse crime, hectares delas, todas publicadas.

O digno e belo jornalismo de Edward R. Murrow morreu com ele, em boa medida, em todo o mundo, na medida em que se alastrou pelo mundo o jornalismo de propaganda de desdemocratização do mundo, inventado pela e para a Guerra Fria -- que, hoje, se ensina e se pratica, no Brasil, AINDA.

Dos anos 50 em diante, em todo o mundo, só sobreviveu o jornalismo imundo que continua a inventar macartismos de jornal, onde os macartismos de jornal colaborem para esterilizar todas as democracias, onde quer que brotem.

O Brasil há de saber julgar e condenar, para sempre o jornalismo macartista da chamada 'mídia' brasileira, durante o primeiro governo do presidente Lula, no Brasil.

Esse jornalismo imundo ainda será conhecido, com nomes e datas, como "o imundo jornalismo da degola do Ministro José Dirceu".

Todos os jornalismos e jornalistas macartistas já começaram a ser condenados, no mundo.

Dirceu vive! Lula 2006! Lula é muitos!

[assina] Caia Fittipaldi (dos Lingüistas Brasileiros para a Democracia/ Universidade Nômade / Campanha “Nenhum Brasileiro sem Resposta-na-ponta-da-língua, pra Responder à Folha de S.Paulo" / Tricoteiras Unidas / Mães do Planalto / Gaviões da Fiel) [para vários destinatários, campanhistas e outros]
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Por Nelson Breve
10 de fevereiro de 2006

O filme "Boa Noite e Boa Sorte" mostra que o macartismo não é só uma atitude anticomunista, é um distúrbio perigoso para a democracia, pois atropela o processo e inverte a responsabilidade, com a disseminação irresponsável de acusações irresponsáveis.

Na entrevista que concedeu à revista Caros Amigos, no fim do ano passado (publicada na edição de Janeiro), o ex-ministro José Dirceu disse que o país está vivendo uma fase macartista. Quem estranhou a referência dele não pode deixar de assistir ao filme "Boa Noite e Boa Sorte" (Good Night and Good Lucky), de George Clooney, lançado na semana passada no circuito nacional de cinema.O filme conta como o jornalista Edward R. Murrow, âncora de um programa da Rede CBS, enfrentou o senador Joseph McCarthy, político que transformou uma Comissão de Investigação do Congresso dos Estados Unidos (Comitê de Atividades Antiamericanas) em palco de uma campanha anticomunista falaciosa, baseada em acusações levianas, usadas para constranger e desmoralizar milhares de cidadãos norte-americanos ou estrangeiros, na década de 1950.Para dicionários da língua portuguesa, "macartismo" - ou "macarthismo" - é uma atitude anticomunista radical. O filme de Clooney mostra que se trata de um distúrbio muito mais complexo e perigoso para as democracias. A disseminação irresponsável de acusações irresponsáveis é um atentado aos direitos humanos. "Era uma época triste, em que bastava alguém ser suspeito para que fosse condenado", lembrou Clooney nas entrevistas concedidas para promover o filme.Foi mais do que isso. Foi uma época na qual era perigoso divergir da opinião e das atitudes de quem tinha o poder de espalhar acusações (e até insinuações) por intermédio da mídia.

Era uma época em que a imprensa publicava o que lhe caía nas mãos, sem questionar a fragilidade de denúncias, a falta de consistência das evidências alegadas. "Se o senador Álvaro McCarthy afirma, nós publicamos na primeira página". Sem questionar seus interesses. Afinal, ele tem acesso a informações que podem alavancar a carreira de um jornalista.Em determinada cena do filme, um assessor do senador McCarthy aparece tentando "plantar" na imprensa a versão de que Murrow fora comunista na juventude e ainda teria relações com os "vermelhos". O mesmo dossiê que chega às mãos do repórter, chega ao dono da emissora de TV. A "prova" mais consistente apresentada é que um intelectual comunista europeu dedicou um livro ao jornalista da CBS, que tinha conhecido durante a guerra.Isso me chamou a atenção porque no ano passado percebi esse mesmo tipo de comportamento nas CPIs do Congresso Nacional, que deveriam investigar fatos determinados, mas transformaram-se em amplificadores de qualquer denúncia que possa desgastar o governo Lula. Pessoas com acesso a documentos sigilosos da CPI dos Correios entregaram aos jornalistas uma relação de empresas e entidades que teriam depositado quantias sistemáticas de R$ 2 mil a R$ 3 mil na conta bancária do então deputado José Dirceu.Em circunstâncias normais de temperatura e pressão políticas, ninguém daria crédito a uma tolice daquelas. Mas, no calor do denuncismo, com dólar na cueca e deputado sacando dinheiro do caixa-dois com a identidade parlamentar, tudo parecia plausível. Para alguns jornalistas, bastou a palavra do deputado (que transmiti como seu assessor de imprensa na época) de que os créditos eram os proventos recebidos da Câmara dos Deputados, seu salário parlamentar.Mas o macartismo não se contenta com a palavra de quem está na berlinda. Ele atropela o processo e inverte a responsabilidade. Se fulano está sendo acusado, é porque tem culpa. Se tem culpa, qualquer coisa serve para justificar a condenação. E todo mundo quer colocar seu tijolo na sepultura.Com exceção de um ato falho do deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) - disse que o Banco do Brasil tentava desmoralizar os parlamentares enviando documentos com erros para eles "divulgarem" -, os integrantes da CPI jamais falaram abertamente sobre os tais lançamentos estranhos na conta de José Dirceu. Mas instigaram a imprensa o tempo todo. A cada semana, um jornalista vinha com o assunto.O paradoxo é que muitos não acreditavam, e para evitar a publicação de uma informação falsa tivemos de provar, com documentos oficiais da Câmara e do Banco do Brasil, que os créditos eram o salário dele. Mesmo assim, teve gente que publicou ou mencionou em telejornal como algo estranho.Vejam o absurdo. O denunciado não sabe quem o está acusando e a base da acusação é totalmente falsa. Mas ele é coagido a gastar boa parte do seu tempo reunindo provas de que é inocente. Se não fizer isso, vai aparecer nas manchetes como culpado. Isso está acontecendo de forma generalizada na política e na imprensa brasileira. E vale tanto para as denúncias contra petistas, como para a lista de Furnas.Esses atentados aos direitos fundamentais ficam bem claros em "Boa Noite e Boa Sorte". Seja quando o senador Efraim McCarthy estranha o fato de uma senhora ser promovida da lanchonete do Pentágono para o setor que distribui documentos ou quando o tenente da Força Aérea é enquadrado na Lei de Segurança Nacional porque o pai dele assinava um jornal sérvio (da Iugoslávia comunista). Este, aliás, foi o pretexto para que Murrow, um jornalista identificado como herói por suas transmissões de rádio na Segunda Guerra Mundial, tomasse a iniciativa de enfrentar o poderoso senador americano, a direção da emissora e os anunciantes de seu programa (See It Now).O oficial foi reincorporado à Força Aérea depois das reportagens que revelaram as arbitrariedades. Murrow se transformou em uma espécie de Zola moderno. No fim do século XIX, o escritor francês enfrentou a opinião hegemônica de seu país para defender o capitão Alfred Dreyfus, condenado injustamente por traição. "Sou fã de Murrow e dos discursos que ele fazia no programa dele desde pequeno. Guardo o incidente entre Murrow e McCarthy, e o período em que ele ocorreu, porque é um dos poucos momentos da história da TV americana que pode ser indicado como exemplo de como o jornalismo pode mudar o mundo e a cabeça das pessoas. McCarthy permaneceu intocável até que Murrow o enfrentou. Um momento em que se tinha que ser corajoso", analisou George Clooney em entrevista ao jornal Valor.No início deste ano, a Secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, anunciou o lançamento do Programa Edward R. Murrow de bolsas em Jornalismo, que levará cem jornalistas de todo o mundo aos Estados Unidos para estudo e treinamento. Não faço idéia do que possa estar por trás dessa iniciativa, mas ela mostra que nadar contra a corrente é também um caminho para fazer a história ou alcançar a glória - ambições que antigamente estimulavam carreiras jornalísticas.Os jornalistas e políticos brasileiros, especialmente de Brasília, não podem deixar de assistir "Boa Noite e Boa Sorte" (exibido na capital federal nas salas da Academia, Cinemark e Pakshopping). E devem prestar atenção na citação de Shakespeare, que Murrow usou para se contrapor a McCarthy. Quando a Era de Escândalos terminar, será muito educativo refletir sobre as palavras de Júlio César: ''Os homens, em certos momentos, são senhores de seus destinos. A culpa (ou o erro), caro Brutus, não está nas estrelas, mas em nós mesmos".
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