Mauro Carrara
Nas padarias e botecos do Brás, a disputa agora é para ver quem leva a maior sacolada.
Os palestrinos mostram-se ansiosos por estabelecer uma derrota que supere os 4 x 1 impostos pelo Fluminense ao São Paulo.
Verdes e tricolores lutam para impedir que o Corinthians, o rival doméstico, obtenha seu quinto título máximo nacional.
Ora, no ano passado, não foi diferente.
Muitos alvinegros torceram para que o Corinthians "entregasse" o jogo contra o Flamengo, justamente para prejudicar o São Paulo.
Naquela ocasião, em Campinas, o rubronegro venceu por 2 x 0 e pavimentou seu caminho rumo ao título.
Ou seja, a fórmula atual do campeonato paradoxalmente prêmia derrotas e induz os torcedores a "secarem" seus próprios times.
Logicamente, em 2009, os jogadores corinthianos não entraram em campo focados em perder, repassando mentalmente táticas facilitadoras do fracasso.
Tampouco os sampaulinos este ano.
No entanto, é certo que ouviram temerosos inúmeras e assustadoras ameaças dos torcedores da própria agremiação.
Sentiram também, nos bastidores, a indisfarçavel fascinação dos cartolas pela derrota.
Dessa forma, escapou-lhes inevitavelmente o zelo, a concentração e a energia fundamental à busca da vitória.
Num campeonato equilibrado, ganhar já é difícil em condições normais. Quando o pensamento de fanáticos e dirigentes segue na direção contrária, torna-se quase impossível.
Há, porém, como se evitar essa vergonha.
Bastaria que a tabela reservasse como jogos finais os clássicos estaduais.
Santos, São Paulo, Corinthians e Palmeiras disputariam os jogos das rodadas decisivas, assim como Botafogo, Vasco, Flamengo e Fluminense.
A última rodada teria outros confrontos espetaculares, como Coritiba x Atlético-PR, Cruzeiro x Atlético-MG e Internacional x Grêmio.
Nesse caso, mesmo os já desesperançados teriam uma oportunidade de alegria: tirar o título do rival.
E com vitória, nunca com derrota.
A solução é simples, mas muitos de nossos dirigentes esportivos somam a teimosia ao gosto pelo delito.
Afinal, nessas ocasiões de desespero, é possível comercializar malas brancas (ou pretas), negociar arbitragens, mediar trocas de favores políticos e alimentar falsas polêmicas nos programas esportivos, com suas audiências turbinadas.
Na Itália, onde acompanhei vários campeonatos, a conduta dos organizadores do "calcio" foi a mesma, por muitos anos. Até que os escândalos desmoralizaram o negócio-futebol.
O resultado (pouco divulgado pela mídia) é que muitos cidadãos sentiram-se humilhados, usados, feitos de bobo. Afastaram-se dos estádios e desligaram a TV. Foram eles próprios brincar de bola, em praças, quadras, terrenos e praias.
Aqui, não tardará reação semelhante.