(artigo publicado no Jornal do Brasil, em 10 de julho de 2009)
O que vemos nas comemorações dos 15 anos do Plano Real é mais do que uma campanha explícita a favor dos tucanos. A mídia está reescrevendo a história do país nesse período, ocultando o desastre do segundo governo FHC e os erros cometidos na implementação do Real, o que não significa desconhecer seu sucesso como plano anti-inflacionário que superou os erros e falhas dos anteriores, e apagou a memória inflacionária introjetada na economia pela indexação obrigatória imposta ainda no governo militar.
Há um esquecimento proposital da chamada herança maldita de FHC, cuja lista inclui dívida interna em dobro, dolarizada e, a curto prazo, juros reais altos, carga tributária 7% maior com relação ao PIB, ausência de reservas cambiais, a desastrada paridade cambial que quase quebra o país e o risco de desindustrialização, sem falar na ausência de investimentos na infraestrutura, desregulamentação da economia, privatizações com desnacionalização, ausência total de política de inovação tecnológica dentro de uma política industrial, dependência do FMI e desmantelamento do Estado brasileiro e dos bancos públicos como agentes do desenvolvimento do país, e perda do sentido de soberania e presença no mundo.
Mais grave é a tentativa de desmoralizar o governo Lula, com uma pregação ideológica e política sobre a continuidade do Real, como se toda política econômica do atual governo decorresse daquele plano. Querem apagar nosso esforço fiscal e monetário nos anos 2003-04, que desdolarizou a dívida interna e a alongou, repôs nossas reservas cambiais, controlou a inflação e criou as condições para a retomada do crescimento e dos investimentos públicos. Sem essas medidas não teríamos condições de enfrentar a crise internacional e fazer as reformas tributária, previdenciária e do judiciário; nem teria sido possível toda a legislação sobre mercado de capitais, imobiliário, recuperação das empresas, incluindo o estatuto da pequena e média, muito menos transformar os bancos públicos em bancos de fomento ou retomar os investimentos em infraestrutura, em saneamento e habitação, tampouco promover mudanças na educação e adotar programas sociais como o Bolsa Família e o Luz para Todos. E, principalmente, não teríamos as condições para criar 11 milhões de empregos em menos de sete anos, quando na era tucana perdemos milhões de postos de trabalho e criamos apenas 800 mil formais no segundo governo FHC.
Vemos uma campanha histérica sobre o aumento dos gastos públicos, seja via desonerações fiscais ou rajuste salarial do funcionalismo, seja via programas sociais, tratados como simples repasses de recursos públicos, sem efeito social e econômico. Ignoram que nossa economia resistiu à crise internacional, entre outras razões, pela força de seu mercado interno, gerada pelo aumento dos salários, da renda familiar, dos investimentos públicos e do crédito sustentados pelo governo e pelos bancos públicos. Escondem que nos tiraram R$ 40 bilhões da CPMF (que 95% da população não pagava) e, apesar disso e do aumento dos gastos, ainda temos um superávit de 2,5% e a dívida interna de cerca de 42% do PIB, com a inflação dentro da meta e os juros em queda, hoje 4,5%, os mais baixos dos últimos 15 anos.
Protestam, ainda, pelo aumento do salário mínimo na proporção do crescimento do PIB, logo, abaixo deste. Inventam medidas que o governo não apóia - pelo contrário, são reivindicações inclusive de seus governadores (como renegociação da dívida dos estados e municípios), ou de seus congressistas (que apóiam medidas que aumentam, sem apoio do governo, os benefícios e gastos da previdência) e por fim o escandaloso calote nos precatórios, outra reivindicação dos seus governadores e prefeitos, mas atribuída ao governo Lula. Outra tese é que o governo quer reduzir os juros na marra ou por decreto e não respeita a independência do Banco Central,. Escondem, aí, a defesa tucana do capital rentista e financeiro quando os fatos provam que tanto os juros podem cair que os bancos públicos os estão reduzindo, sem perder eficiência e lucratividade.
Nossos neoliberais tupiniquins, ancorados na mídia, insistem em uma suposta crise fiscal para os próximos anos, desconhecendo que todos os países do mundo aumentaram suas dívidas internas e gastos públicos, desonerando a produção e estimulando o consumo, como tem feito o governo Lula. Na ausência de uma agenda para 2010, só podem fazer terrorismo e tentar impingir sua agenda do passado neoliberal, enterrada nos escombros da crise financeira internacional.
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