Roubini e o fracasso do jornalismo econômico
Atualizado em 23 de fevereiro de 2009 às 15:58 | Publicado em 23 de fevereiro de 2009 às 15:50
Nos próximos dias vamos testemunhar todo tipo de contorcionismo verbal e intelectual para tentar negar um fato, especialmente no Brasil, onde nossa mídia só vai reconhecer que o consenso de Washington acabou em alguns anos: Barack Obama vai nacionalizar os bancos americanos.
Não se trata de uma opção ideológica. É o reconhecimento puro e simples da falência do sistema financeiro. Ou isso ou, dentro de alguns meses, o óbvio assaltaria o governo Obama com um estilete, de madrugada, e ele seria obrigado a declarar toque de recolher para evitar quebra-quebra diante das instituições financeiras, feito aconteceu na Argentina.
A nacionalização, pois, é o mal menor. Nouriel Roubini, que era tratado feito maluco pela mídia dos Estados Unidos há alguns meses (quando, aliás, é preciso registrar, já era ouvido pela Carta Capital) chegou às páginas do Wall Street Journal. Quando o Murdoch vai ouvir o Roubini isso significa que, definitivamente, as coisas não andam bem nos Estados Unidos.
Alguns trechos da entrevista de Roubini ao Journal:
"Daqui a seis meses mesmo firmas que hoje parecem solventes se tornarão insolventes. A maioria dos grandes bancos -- quase todos eles -- parecerão insolventes. Nesse caso, se você assumir o controle deles de uma vez, causa menos danos do que se fizesse isso com apenas alguns, agora, criando muito mais confusão e pânico e nervosismo".
"Entre garantias, apoio de liquidez e capitalização o governo já deu de 7 a 9 trilhões de dólares para ajudar o sistema financeiro. De fato, o governo já controla um bom pedaço do sistema bancário. A questão é se você quer ou não tornar isso oficial".
"Começamos com bancos que já eram muito grandes para falir mas o que aconteceu, no processo, é que esses bancos se tornaram ainda maiores-para-falir. O JP Morgan assumiu a Bear Stearns e o Washington Mutual. O Bank of America assumiu o Countrywide e a Merrill. O Wells Fargo ficou com o Wachovia. Não funciona! Você não pode pegar dois bancos-zumbis, juntá-los e fazer um banco forte. É o mesmo que colocar dois bêbados um ajudando o outro a ficar em pé".
"Eu acredito na economia de mercado. Para parafrasear o Churchill -- que disse isso sobre a democracia e regimes políticos -- a economia de mercado pode ser o pior regime econômico existente, com exceção de todos os outros".
"As duas coisas em que o (Alan) Greenspan errou completamente são em suas crenças: um, de que o mercado se auto-regula; dois, de que o mercado nunca erra".
"Nos mercados financeiros, sem as devidas regras institucionais, é a lei da selva -- já que existe a cobiça. Não há nada de errado com a cobiça em si, e as pessoas não cobiçam mais hoje do que há 20 anos. Mas a cobiça precisa ser temperada, primeiro, pelo medo das perdas. Se você resgatar as pessoas, haverá menos medo. E segundo, a regulamentação prudente e a supervisão evitam certos excessos".
"Nos anos de bolha todos se tornam cheerleader, inclusive a mídia. É a hora em que os jornalistas deveriam fazer as perguntas duras, e acho que houve um fracasso aqui. Os Masters do Universo estavam sempre na capa, na primeira página -- os caras dos hedge-funds, os executivos imperiais. Eu gostaria que tivesse havido mais jornalistas de finanças e de negócios, nos anos bons, que perguntassem: "Peraí, esse cara, essa empresa, tem um lucro de 100% por ano, como fazem isso? Será que eles são mais inteligentes que os outros, ou estão assumindo tantos riscos que vão falir em dois anos?".
"Um bom jornalista tem que ser o cara que, nos tempos bons, desafia o pensamento convencional. Se você não fizer isso, está fracassando em suas obrigações".
http://www.viomundo.com.br/opiniao/roubini-e-o-fracasso-do-jornalismo-economico/
EUA preparam uma envergonhada estatização de instituições financeiras privadas
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19/02/2009 -
Os EUA vão nacionalizar seus bancos?
Os Estados Unidos parecem caminhar para a nacionalização [a rigor, estatização] de grande parte do seu sistema bancário. Porém Obama prefere prefere não ouvir falar do tema, e parece que sua equipe mestá proibida de pronunciar as palavras malditas: na-cio-na-li-za-ção.
Por Alejandro Nadal, no La Jornada*
Ocorre que em matéria de bancos esta pode ser a única saída, pois até agora nada parece estar funcionando. Ontem, os mercados desmoronaram por temerem que nenhum dos planos de Obama dê resultado0: é provável que o seu pacote de estímulo fiscal (de US$ 787 bilhões) não seja suficiente para dar à economia estadunidense os eletrochoques de que ela precisa.
A verdade é que o crédito continua travado: é claro que o primeiro pacote não de resgate bancário não teve o resultado desejado. Era de se esperar, pois a ajuda não tinha condicionantes: os banqueiros poderiam fazer o que quisessem com o dinheiro. E como operações de crédito em plena crise são arriscadas, não surpreende que os afortunados banqueiros tenham feito de tudo, exceto emprestar.
Mas a explicação mais importante é que o estado das finanças dos bancos está contaminado até a medula por activos tóxicos. O significado é uma maravilha hoje, os grandes bancos dos EUA estão insolventes. Estimativas confiáveis indicam que as perdas no sector financeiro atingiram US$ 1,8 trilhão. Se esses números estiverem corretos, a espinha dorsal do sistema bancário estadunidense está quebrada. Restaurar o quadro clínico requer quantias astronómicas da capital devido à forte alavancagem destas actividades.
Em 9 de fevereiro o secretário do Tesouro apresentou o seu plano para resgatar os bancos e colocadar a economia de novo nos trilhos. O ponto importante é que Geithner seguiu o mesmo caminho do seu antecessor Paulson, propondo um plano muito amistoso para o sector financeiro, com um pesado fardo para o fisco.
Geithner sugeriu a criação de entidades público-privadas encarregadas de promover a compra de ativos tóxicos (inadimplência e seus derivados) em poder dos bancos para suprimi-los das tabelas de seus balancetes. Mas esse plano tem vários problemas. Para começar, ninguém sabe quem vai comprar os ativos, porque o pacote também promete reduzir os pagamentos das hipotecas. Ou seja, o valor dos ativos embasados em hipotecas de segunda categoria cairia ainda mais.
Obviamente, a raiz do problema é que o preço real desses ativos tóxicos está a zero. Vende-los por tal valor significaria que muitos dos grandes bancos passariam a registrar capital social negativo, e desapareceriam.
Os bancos evidentemente não concordam em vender estes ativos por um preço de mercado tão castigado. Mas comprá-los pelo preço nominal, uma dádiva desmedida para os bancos, seria um escândalo político. Geithner preferiu deixar as coisas como Bush as passou. O mercado de ações não se deixou nimpressionar e no dia seguinte desabou.
Mas o plano Geithner deixa entrever que a nacionalização não é a prioridade de Obama. Este poderia ser o seu erro histórico, pois hoje parece que só uma nacionalização poderia romper o nó górdio dos ativos tóxicos, limpar a contabilidade desses estabelecimentos e reiniciar o a atividade bancária convencional (tanto na captação como na concessão de empréstimos).
Obama pode até oferecer uma nacionalização temporária. Dentro de alguns anos, quando existir um novo sistema de regulamentação, os bancos teriam reprivatizados. E seria possível recorrer a esquemas distributivos muito interessantes ao repassar os bancos para o setor privado. Um deles consistiria em distribuir o valor das aações desses bancos entre os correntistas; afinal, foi com o dinheiro deles que a banca teria podido se recapitalizar e sanear os estabelecimentos.
Mas Obama é contra, dizendo que o custo de uma nacionalização seria muito elevado. Isso é discutível.
De fato, se formos falar de custos, é preciso registrar que entre setembro e janeiro o Fed [Dederal Reserve, o banco central dos EUA] aumentou sua folha de despesas em US$ 1,2 trilhão e agora se recusa a revelar os nomes das instituições beneficiadas. Está claro que os custos do resgate já superaram o que foi autorizado pelo Congresso e transparência é nula. Vários circuitos da economia dos EUA receberam uma forte injeção de liquidez naqueles meses. Em algum momento, tudo isso vai se reverter, criando pressões inflacionárias de difícil controle. Obama pode vir a lamentar não ter nacionalizado os bancos quando podia.
Por que parece tão amarga a pílula da nacionalização de bancos estadunidenses? Marx diria que nos EUA só imperou um único modo de produção, o capitalista. Nem o escravismo (a economia sulista pertence a outra categoria), nem o feudalismo, apenas o mundo do capital. Isso conduz a uma visão a-histórica do mundo. Só o capital existe, natural e eterno. Nacionalizar? Oh, não, que horror!
* Professor de Economia Comparada no Colégio do México; fonte, La Jornada, México (http://www.jornada.unam.mx)
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23/02/2009
Antes absurda, estatização dos bancos nos EUA ganha adeptos a cada dia
As especulações em torno da eventual nacionalização dos grandes bancos norte-americanos são crescentes. Na sexta-feira (20), as ações de Bank of America (-3,56%) e Citi (-22,31%) despencaram, sob o temor de estatização.
Nesta segunda-feira, matéria do Wall Street Journal traz a possibilidade de um aporte público no Citigroup, levando a participação do Estado no banco a 40% do capital social.
Em resposta, Fed, FDIC e Treasury publicaram comunicado conjunto pela manhã confirmando a realização de testes de estresse sobre os níveis de capitalização das instituições financeiras e, caso necessário, a disponibilidade de mais capital estatal. Contudo, as autoridades lembraram que uma das premissas fortes do plano de assistência ao setor financeiro é manter a administração dos bancos sob mãos privadas.
Se antes a ideia da nacionalização dos bancos soava como extremada, a perspectiva agora ao menos divide a opinião de analistas, dada a crescente dificuldade para a limpeza da folha de balanço dos bancos.
Na semana passada, Alan Greenspan, ex-chairman do Fed, reconheceu que talvez seja necessária uma estatização temporária de alguns bancos, com intuito de facilitar as mudanças fundamentais e promover uma reestruturação.
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18 de fevereiro de 2009
Agência Estado
Greenspan defende estatização de bancos, segundo FT
Para ele, EUA teriam de ser cuidadosos para não impor alguma perda aos credores de bancos
O ex-presidente do Federal Reserve, Alan Greenspan, defendeu que poderia ser necessário estatizar, temporariamente, alguns bancos do país para corrigir o sistema financeiro e restaurar o fluxo de crédito, de acordo com o jornal britânico Financial Times.
Ele disse que isto "permitiria ao governo transferir ativos tóxicos para um 'banco ruim' sem a preocupação de ter de estabelecer um preço para eles", afirmou o jornal.
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Partilhando da visão de Greenspan, o prêmio Nobel de Economia Paul Krugman publicou artigo no New York Times nesse domingo julgando correta a opção pela nacionalização. A opinião de Krugman fundamenta-se em três pilares.
Primeiramente, "alguns bancos estão perigosamente perto do limite - na realidade, eles já teriam falido se os investidores não esperassem pelo socorro governamental em caso de necessidade".
Além disso, o colapso do Lehman Brothers praticamente ruiu o sistema financeiro mundial e seria muito arriscado permitir algo semelhante com instituições do porte de Citigroup e Bank of America.
Para completar, muito embora os bancos precisem de fato do resgate, o governo dos EUA não poderia, fiscal e politicamente, dar grandes benefícios aos acionistas dos bancos.
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23/02/2009 -
UOL Economia , Com informações da AFP
EUA abrem caminho para estatizar bancos a partir de quarta-feira
O Tesouro americano anunciou nesta segunda-feira as novas modalidades de socorro aos bancos em crise. Se o setor privado não tiver interesse ou dinheiro suficiente, o governo vai emitir ações para ter controle sobre os bancos - um caminho aberto para a estatização.
Essas modalidades de socorro, que explicam como o Tesouro levará adiante o plano de estabilidade financeira votado pelo Congresso em outubro, serão aplicadas a partir desta quarta-feira.
As autoridades americanas consideravam nesta segunda-feira a possibilidade de uma nacionalização dos bancos que enfrentam maiores dificuldades, uma eventualidade há muito tempo discutida, mas que o Tesouro quer evitar fazendo um apelo aos capitais privados.
O "Plano de Assistência em Capital", sobre o qual foram anunciados detalhes, oferece o esperado esclarecimento, já que a questão da nacionalização dos bancos foi intensamente debatida nos Estados Unidos nas últimas semanas.
O Tesouro explicou que nacionalizará bancos apenas em último caso. A primeira etapa consistirá em avaliar "as necessidades em capitais dos grandes estabelecimentos bancários americanos (...) no contexto econômico mais difícil".
Para os bancos com necessidade de capital, haverá "oportunidade de buscar, primeiro, fontes privadas de capital", explicou o Tesouro. Se a oferta privada não for suficiente, as finanças públicas serão colocadas à disposição.
Se Washington tiver que intervir, "qualquer capital do Estado será de ações preferenciais obrigatoriamente conversíveis, que serão convertidas em ações ordinárias somente se isso se mostrar necessário com o tempo para manter os bancos em uma posição bem capitalizada", indicou o Tesouro.
Até lá, o Estado se contentaria com ações preferenciais não-conversíveis, que não lhe ofereceriam direito de voto.
Se o Tesouro tiver que injetar capital, já se advertiu que "não está previsto que a situação seja mantida permanentemente". O Estado vai continuar a exigir dos bancos que eles readquiram suas ações preferenciais desde que suas finanças os permitam.
Essa novidade política poderá conduzir o Estado a se tornar o acionista de referência dos bancos que estão em dificuldades maiores, nos quais o setor privado não desejar mais investir.
"Por que não arriscar e nacionalizar? (...) O controle de longo prazo pelo Estado não é o objetivo: como os pequenos bancos resgatados pela FDIC (autoridade de regulamentação bancária) a cada semana, os grandes seriam devolvidos ao setor privado quando fosse possível", considerou no domingo o prêmio Nobel de Economia americano Paul Krugman.
Os mercados já consideram essa opção para os dois bancos nos quais Washington injetou mais dinheiro, o Bank of America e o Citigroup, que receberam US$ 45 bilhões cada um.
A queda de seu valor na Bolsa desde o início do ano reflete amplamente a crença de que, para retirá-los de grandes dificuldades, o Estado deve readquiri-los a preços baixos antes de reestruturá-los, como foi o caso da seguradora AIG.
No domingo, o "Wall Street Journal" afirmou que, no Citigroup, as autoridades americanas pretendiam adquirir de 25% a 40% do capital.
Contatado pela agência de notícias AFP, o banco não comentou essa informação, reiterando que tinha "uma base de capitais sólida".
As autoridades americanas se engajaram neste caminho com uma reticência evidente.
"Porque nossa economia funciona melhor quando as instituições financeiras são bem administradas pelo setor privado, o objetivo do Programa de Assistência em Capital é que os bancos permaneçam em mãos privadas", concluiu o comunicado comum do Tesouro, da FDIC, do Federal Reserve, e de duas autoridades reguladoras dos bancos submetidas ao Tesouro.
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Análise: participação dos EUA no Citi não resolverá todos os problemas
Por Megan Davies e Jonathan Stempel
Reuters
Mesmo se o governo ficar com uma grande participação no Citigroup Inc, persistirão as preocupações sobre a habilidade do banco de absorver as crescentes perdas em meio à recessão norte-americana.
O terceiro maior banco dos Estados Unidos por ativos está em conversações com reguladores federais sobre planos do governo de aumentar sua participação na instituição, segundo uma fonte próxima ao assunto.
Depois de caírem cerca de 2 dólares na sexta-feira, as ações do Citigroup subiram 23,1 por cento após o anúncio das conversações e de os reguladores bancários do país dizerem estar prontos para fornecer mais capital para o setor para "preservar a viabilidade dessas importantes instituições financeiras".
Mas os investidores temem que as perdas decorrentes de cartões de crédito, países emergentes e ativos podres possam afundar os esforços do presidente-executivo do banco, Vikram Pandit, para retomar o ritmo fiscal do Citigroup.
Os analistas não acreditam que o Citigroup seja rentável nem em 2009 nem em 2010.
"Ajuda o capital deles, mas não ajuda nos problemas de ativos", disse Walter Todd, administrador de portfólio do Greenwood Capital Associates LLC. "Se o Citi tivesse saído dos problemas, a ação não estaria valendo 2 dólares."
"Não tenho certeza se dar recursos e manter vivas empresas potencialmente insolventes ajuda a economia e o mercado como um todo com o tempo", afirmou Ben Halliburton, chefe de investimentos do Tradition Capital Management.
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