domingo, outubro 15, 2006

A IMPRENSA DA FARSA




Neste final de semana, a edição da Revista Carta Capital atinge o momento alto da imprensa praticada no Brasil, com a reportagem, sem omissões, sobre a cobertura dos grandes veículos de comunicação às vésperas do primeiro turno das eleições desse ano.
Parabéns, Raimundo Pereira pela dignidade com que salvou a imprensa brasileira.

Lamentavelmente, sua reportagem aponta para o olho do dragão, demonstrando como grande parte dos profissionais - e quase todos os proprietários dos meios de comunicação, estão vendidos a interesses contrários ao da maioria da população brasileira. Esta eleição do dia 1° de outubro de 2006 foi fraudada, e o mínimo que podemos fazer é retribuir a corajosa reportagem, adquirindo na banca mais próxima um exemplar para guardar e refletir por toda a posteridade.

A reprodução fotográfica, acima, não está à altura da denúncia porque não houve tempo para uma produção melhor. Essa esquina aonde tudo aconteceu é a esquina do pecado, onde teve início a traição à consciência da maioria da população brasileira. A cesta de lixo reciclável é para onde deve ir o tipo de cobertura, realizada pelos grandes veículos de comunicação. O adesivo da campanha do oponente, grudada no cesto de lixo, é tudo o que precisávamos para caracterizar o evento - o mais vergonhoso de tudo que estamos vivendo. Outros dias virão, e esta foto (na esquina da Rua Capitão José Inácio do Rosário) terá a mesma força da fotografia do jornalista Vladimir Herzog, com o corpo arqueado, numa simulação de suicídio, que o tempo mostrou tratar-se de uma farsa.

A brilhante reportagem e sua análise crítica feita por Raimundo Pereira dão pistas da origem de toda articulação para macular a vitória espetacular, já no primeiro turno desse ano.
O triste episódio, como no caso de Herzog que demonstrou a necessidade de um Brasil novo, está sinalizando o nascimento de uma imprensa nova, comprometida com a verdade "doa a quem doer", distante dos mesmos métodos praticados no início da República (século XIX), quando era "legítimo" um jornal defender, acima da verdade, os interesses de uma classe social.

Este episódio de agora lembra as disputas sem fronteiras, entre monarquistas e republicanos, travadas nas páginas dos jornais O Estado de S.Paulo e Commercio de S.Paulo. A diferença é que agora estão todos do mesmo lado, defendendo métodos restritivos ao debate livre e democrático. Essa reportagem de Raimundo Pereira (ex-diretor do Jornal MOVIMENTO e da coleção Retratos do Brasil) marca, na semana da morte de outro valoroso empresário e editor independente (Fernando Gasparian, editor e deputado constituinte que criou e manteve, durante o regime militar, o primeiro jornal independente - OPINIÃO), o início de nossa redenção.

São Paulo, 14 de outubro de 2006

Jair Alves - dramaturgo

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