quarta-feira, junho 11, 2008

PRA INVENTAR UMA POLÍTICA DE REDEMOCRATIZAÇÃO PARA OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA


CONTRA TODOS OS DISCURSOS DE CHORORÔ: temos é de INVENTAR uma sociologia democrática da comunicação social democrática e uma POLÍTICA DE DEMOCRATIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO SOCIAL, no Brasil.
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Concordo com quase tudo se lê abaixo, em "DEBATE ABERTO: "Brizola e a poética do desengano", do Prof. Gilson Caroni Filho

Concordo integralmente com "Enganam-se os que pensam que a UDN e as vivandeiras fazem parte do passado, como peças de um museu dos horrores. Atualmente, com novas vestes, cerram fileiras na grande imprensa, no PSDB e no DEM."
 
Dificilmente eu poderia concordar mais: tá perfeita, na minha opinião, esta avaliação. Acrescento que também são udenistas o PSOL e a parte do PT que não sabe ver que Lula é mais complexo do que o PT. As "vestais udenistas", suuuuuuuuuuper 'éticas', são hoje as vestais psolistas e petistas que, em matéria de discurso político progressista e libertário são... udenistas super 'éticas'!
 
O conversê dito 'ético' no Brasil-2008 (e que é só moralista, típico de classe média brasileira que teme, porque não as estuda nem as quer estudar, as disputas políticas; e que foge do poder -- quando deveria aprender a lutar democraticamente por um poder democrático de democratização) converte parte muito grande do PT em ONG.
 
Dado que organizações-não-governamentais e governos-governamentais são conceitos antípodas, mutuamente excludentes, o PT atrapalha-se quando tem de governar e, ao mesmo tempo, onguifica-se e dessossa-se, para a luta política. E tudo vira chororô e lamentação, ou vira auto-afirmação fundamentalista, à moda daquela Marina Silva, a Insuportável.
 
Assim como o PT enreda-se no DES-problema de não entender 'por que' o PT não é amado, assim também os udenistas sempre se enredaram no DES-problema de não entenderem 'por que' não são obedecidos. Ao "por que não nos amam?!" dos petistas-de-chororô, faz eco, à moda corvo, o "por que não nos obedecem?!" da tucanaria tucano-uspeano-pefelista.
 
Brizola sempre foi diferente destes dois extremos: jamais esperou ser amado por todos; e jamais aspirou a ser obedecido por todos. Nesta posição intermédia complexíssima, Brizola lutou todos os dias de sua vida. Brizola sempre soube que estava empenhado numa luta muito difícil. Brizola sempre soube que teria de lutar sem parar durante toda a vida e mais outra vida, se tivesse, lutaria.
 
NÃO CONCORDO, portanto, absolutamente não, com a idéia nostálgico-suicidária, de que o Brasil estaria preso em alguma poética do desengano e  que alguma história ainda estivesse à espera de ser parida. A história está andando -- não a história narrada de algum brizolismo ou de algum getulismo ou de algum petismo, mas a história profundíssima dos pobres, no Brasil. Lula é mais um movimento-monstro desta mesma história, não de 'outra história'.
 
Por isto, exatamente -- porque há uma história-monstro em andamento, enquanto os petistas supõem que o Brasil tenha sido fundado em 1980, depois de alguma impossível 'tabula rasa' 'ética' que o petismo operaria na história do Brasil --, nem os petistas sabem defender Lula, nem a USP-tucanaria-pefelista também udenista, por outro lado, consegue destruí-lo. Quanto a isto, afinal, até que demos sorte! LULA É MUITOS!
 
É indispensável entender, por baixo das historiografias merrecas, superficiais, circunstanciais, quase só ficção, uma espécie de palpitar constante da multidão dos pobres, no Brasil. Lula (não o PT) é uma espécie de manifestação-monstro dos pobres, no Brasil.
 
Mas Lula não é um passo 'evolutivo' da história de algum getulismo ou de algum brizolismo (e de janguismos, então, nem se fala!). Lula (não o PT) é uma potência da multidão, que, hoje, afinal, depois de 500 anos, encontra manifestação-expressão histórica no Brasil que começa a ser pós-colonial. É disto, afinal, que se trata. De defender Lula. Não, é claro, de defender algum PT ou de inventar alguma "sociologia do desengano".
 
SOU TOTALMENTE CONTRA toda a sociologia do desengano. A qual, afinal, nem é sociologia do desengano: é sociologia do engano, só, tout-court. Sociologia ainda presa nas historicidades circunstanciais, superficiais, de classe, de USP, de 'mídia' ou de ghetto branco (e dá praticamente na mesma), que se manifestam no ONGo-chororô dos petistas paulistas (e cariocas, sim, também, muito).
 
Concordo também, integralmente, com incluir a tal de "mídia" na falange golpista.
 
A 'mídia' é outra instituição que, no Brasil, como a universidade, sempre foi elitista. E, a partir dos movimentos lacerdistas, de antes de 54, a mídia tornou-se TOTALMENTE golpista, até o golpe. Quando, então, a partir de 1964, tornou-se totalmente fascista e fascistizante. E assim permanece, intacta, até hoje.
 
Sim, a tal de 'mídia' foi construída, no Brasil, desde 62, com a constituição da Rede Globo como hoje a conhecemos, foi feita para ser golpista, sempre foi e ainda é. 
 
Não se entende, portanto, que, no movimento para buscar o poder pelas vias democráticas, que o PT iniciou em 1980, ninguém jamais tenha cuidado de dar especial atenção ao problema 'mídia', e o PT só tenha, a oferecer, esta sociologia do desengano, do desencantamento, da paixão-zero, em matéria de paixão democratizatória. Perseu Abramo escrevia sobre isto, desde muito antes de o PT ser fundado.
 
Em 1982, Roberto Schwarz escreveu UM PROGRAMA para a luta contra a mídia, para o PT. Neste programa, disse, com todas as letras, que seria preciso INVENTAR -- e chamou atenção para a palavra "inventar" -- uma política democrática para os meios de comunicação de massa:
“A verdade é que a conquista de uma cultura democrática hoje não depende só de lutas econômicas e políticas, mas também da invenção – e a palavra invenção está aqui de propósito, para sublinhar a novidade do problema – da invenção de uma política democrática em relação aos meios de comunicação de massa. É certo que eles são inimigos do trabalhador, na medida em que servem o interesse do capital (...). Mas serão também um elemento de vida e um aliado indispensável, pois sem eles é impensável a democracia na escala presente. Portanto, é preciso lutar pelo acesso a eles, conhecê-los e estudá-los”. (SCHWARZ, Roberto. 1987. Política e Cultura (subsídios para uma plataforma do PT em 1982). Que horas são?. São Paulo: Companhia das Letras, pp. 83-85. ) 
Preso na pautação pelos DES-jornalões e na doença infantil da fiscalização obcecada de planilhas de gastos e despesas (em enorme medida PAUTADO, também o PT, pelos DES-jornalões e por seus vícios estruturais constituintes genéticos, pode-se dizer, de partido de classe média e paulista), tudo isto chamado de 'ética'... e preso, também, o PT em alguma espécie de "sociologia do chororô"... o PT esqueceu que teria de CONHECER E ESTUDAR A MIDIA BRASILEIRA, PRA INVENTAR UMA POLÍTICA DE REDEMOCRATIZAÇÃO PARA OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA. 
 
Isto, verdade seja dita, NINGUÉM fez, no Brasil, até hoje: nem os petistas, nem os comunistas. Todos, provavelmente, embalados por sociologias uspeanas pressupostas muuuuuuuuuuuuuuuuuito sociológicas, e por estudos 'de comunicação' uspeanos pressupostos 'sociologíssimos' e, de fato, embalados, só, sempre, pela arrogância pretensiosa e fátua (embora muito 'ética') das elites letradas brasileiras, comunistas e petistas supuseram que 'já sabiam' tudo o que seria preciso saber, sobre MCM, mídia, jornalismo, disputas sociais, luta política em tempos de comunicação de massa. Besteira. Autismo. Arrogância de elite metida a besta. Ninguém sabe fazer isto no Brasil-2008.
 
Não há qquer impasse "de desengano", no Brasil. Vivemos, só, ainda, presos na arapuca que tooooooooooooooooooooooooooda a elite letrada propôs a toooooooooooooooooooooooooooooooooda a elite letrada que, hoje, está organizada seja no PSDB, seja no PT, seja também, em boa parte, também no PCdoB. De diferente, que o PCdoB sabe que não sabe (e agarra-se ao passado) e o PT pensa que sabe... e entrega-se à nostalgia e ao chororô, com saudade de uma democracia que, no Brasil, jamais existiu. E que ainda terá de ser inventada.
 
Assim, eu acho, se homenageia Brizola: denunciando a Rede Globo, denunciando os DES-jornalões e, muito, denunciando o chororô e os "desenganos" dos 'inteligentes'. Brizola DETESTAVA os professô-dotô.
 
Só a luta ensina. No pasarán! LULA É MUITOS!

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DEBATE ABERTO

Brizola e a poética do desengano

Há quatro anos, nesse mesmo mês de junho, a política brasileira perdia uma de suas maiores figuras. A maior homenagem que se pode prestar à memória de Brizola é lutar com todas as forças contra os que só têm como objetivo impor o eterno retorno como sina da história brasileira.

Gilson Caroni Filho

Há quatro anos, nesse mesmo mês de junho, a política brasileira perdia uma de suas maiores figuras. O presidente nacional do PDT e ex-governador do Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro morria, aos 82 anos, de complicações cardíacas decorrentes de uma infecção pulmonar. O corpo foi velado no Palácio Piratini, sede do governo gaúcho, e de lá transportado para São Borja, interior do Estado,onde foi sepultado. Terminava uma história de luta, mas reconhecer sua importância é obrigação de todos os que atuam no campo democrático-popular.

O cemitério Jardim da Paz, em São Borja, deve ser visitado com a reverência que se dedica a solos sagrados que abrigam combatentes. Nele, entre tantos de saudável memória, estão três lideranças e um verso. Três figuras emblemáticas de uma inflexão abortada. Uma história que, sempre que ousou ser promissora, foi assassinada pelas elites.

Entre lápides e jazigos, crepita estridente a desde sempre protelada alforria de um povo. Ali, onde estão enterrados Getúlio, Jango e Maria Tereza, Brizola e Neusa, não há finitude. No aparente silêncio dos mortos, uma história grita para ser parida. Onde se imagina ponto final, o devir se insinua como lembrança e proposta de ação. Não pede preces, exige práxis. Talvez, em poucos lugares, a morte se mostre tão provisória. Definitiva é a vida e permanentes os projetos que ela sempre conterá. Epifania libertária que vez por outra muda a geografia das ruas com um mar de gente e bandeiras.

Uma institucionalidade contida nos marcos de uma formação patrimonialista, que por muitos anos, fez do conceito de cidadania uma peça exótica a ser mencionada em situações solenes. Mas, no dia-a-dia da recorrente exclusão de direitos elementares, a inserção do elemento popular sempre foi algo a ser contido por conspiratas, golpes e transições por alto. Estado de direito, nesse cenário, era licença ficcional.

Getúlio foi deposto pelas velhas oligarquias que, em seu segundo mandato, o levariam ao suicídio. As mesmas que hoje se insurgem contra o governo Lula e as possibilidades de um país menos desigual, mais justo.

O velho caudilho, com seu projeto de inclusão do elemento popular no jogo político, aterrorizou as forças do atraso. A afirmação da soberania nacional ameaçou a constelação de interesses que ia do latifúndio à burguesia associada ao capital externo. Um estampido seco adiou por dez anos o golpe tramado por uma classe dominante desprovida de projeto nacional.

Jango e as propaladas reformas de base voltariam a mobilizar os setores mais progressistas do país. Nunca o sentimento republicano havia se mostrado tão visceral. A resposta foi imediata. O golpe militar declarou vago o cargo com o presidente ainda em solo brasileiro. Exilado no Uruguai, sua morte até hoje provoca controvérsias. Sobreveio um regime que, por vinte anos, matou e torturou em nome dos interesses do grande capital.

Vivíamos o momento mais grave da história brasileira. O aprofundamento das desigualdades e a demonização dos movimentos sociais mais organizados tornaram a democracia um sonho distante entre nós. O pacto intra-elites represava demandas seculares e consolidava , no imaginário popular, a política como vocação exclusiva de um bloco de poder predador de riquezas e direitos.

Brizola teve trajetória pródiga. Divergências ideológicas à parte, não há como negar que a história política brasileira se confunde com a de um homem que escreveu a história dos dois Estados mais politizados do país: Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Da Cadeia da Legalidade ao retorno do exílio, culminando com frustradas tentativas de chegar à presidência, nunca calou divergências para evitar confrontos. Um dos poucos político a enfrentar de fato o jogo pesado da grande imprensa, o maragato foi um exemplo ilustre de pragmatismo apaixonado. Morreu no ocaso do seu brilho político com uma legenda esvaziada.

Hoje, a 640 quilômetros de Porto Alegre, o cemitério Jardim da Paz guarda três túmulos de uma mesma história. Que pode ser contada tal como no verso de Manuel Bandeira: como sendo "a vida inteira que podia ter sido e que não foi". Triste república que pode ser resumida a uma poética do desengano. Até quando?

Será preciso lembrar três tragédias para não esquecer como ela são tecidas. Os atores do atraso são os mesmos. Enganam-se os que pensam que a UDN e as vivandeiras fazem parte do passado, como peças de um museu dos horrores. Atualmente, com novas vestes, cerram fileiras na grande imprensa, no PSDB e no DEM.

A maior homenagem que se pode prestar à memória de Brizola é lutar com todas as forças contra os que só têm como objetivo impor o eterno retorno como sina da história brasileira. Até quando?


Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Observatório da Imprensa.

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