quinta-feira, agosto 03, 2006

Com tucanos no fogo

Surto de "nobreza"

Eduardo Guimarães

De repente, vejo vários jornalistas famosos, todos no mesmo dia, tendo um surto de nobreza ao se preocuparem com a "honra das pessoas". E tudo isso num momento em que Emerson Kapaz, o arrecadador da campanha de Geraldo Alckmin, e montes de tucanos e pefelês são flagrados com a boca na botija. E esse surto atinge os jornalistas todos no mesmo dia.

Um desses jornalistas é Luis Nassif, alguém que considero um bom jornalista, sério e que tem se portado com lucidez em meio a essa hidrofobia toda da mídia. Mas, infelizmente, ou por coinicidência ou por azar ele escreveu exatamente o mesmo que escreveram ninguém mais, ninguém menos que a mulher do marqueteiro dos tucanos, Eliane Cantanhêde, e a diva do mensalão, Renata Lo prete, ambas da Folha. Vale registrar, porém, que essa postura responsável de Nassif tem precedentes...

Vejam o que essas pessoas escreveram todas no mesmo dia:

Luis Nassif

"O instrumento da delação premiada é um avanço no sistema de investigações do país. Mas precisa ser tratado com cuidado. O "delator premiado" é um criminoso, que atuava em quadrilha e quer ver sua pena reduzida. Ele é dono do seu depoimento, razão para que tudo o que diga seja devidamente apurado antes de ser divulgado e, de preferência, venha documentado. O que não for documentado serve como pista de investigação e, por isso mesmo, não deve ser divulgado antecipadamente, para não dse cometer injustiças e para não se atrapalhar as investigações. O que impede um criminoso, sem ter que provar suas declarações, envolver adversários na história e poupar aliados?

Lembre-se que o famoso caso das fitas envolvendo Sérgio Motta (o caso das compras de votos) juntava dois picaretas, um grampeando o outro, que nunca tinham estado com o Ministro. Apenas comentavam entre si sobre a possibilidade de Sérgio Motta estar por trás das propostas feitas pelo governador do seu estado"

Eliane Cantanhêde

"(...) é fundamental não pegar a onda e sair por aí surfando com o santo nome de pessoas honestas em vão. Como o Congresso está no chinelo e os envolvidos são tantos e tão disseminados partidariamente, todo mundo perde os cuidados básicos que se tem de ter ao tratar da biografia e da honra alheias. E isso é potencializado em ano eleitoral, quando a disputa política entra em fase do vale tudo, inclusive chute abaixo da cintura e denúncia vazia. Ou seja: é imprescindível haver punição duríssima para os culpados, mas sem culpar precipitadamente inocentes. Inclusive porque, depois de incluído nesta ou naquela lista, o sujeito nunca mais se livra dela. "Não é aquele que tava metido com os sanguessugas?" --eis a pergunta que pode perseguir o pobre coitado a vida inteira. Até agora, há três possibilidades entre os envolvidos: os já comprovadamente culpados; os suspeitos sem provas; os já comprovadamente inocentes. Quantos em cada uma? Eu é que não vou chutar. Espera-se que nem a CPI nem os adversários saiam por aí chutando. Porque enlamear a honra alheia também é crime. "

Renata Lo Prete

"Até agora tratados como verdade absoluta, os depoimentos de Darci e Luiz Antonio Vedoin começam a ser colocados em dúvida pela cúpula da CPI dos Sanguessugas. O cruzamento de informações levou a comissão a concluir que os donos da Planam, beneficiados pela delação premiada, pouparam parlamentares contra os quais há claras evidências. Ao mesmo tempo, carregaram nas tintas contra nomes que não aparecem em outros braços da investigação."

É incrível que a delação premiada foi usada contra o PT até a exaustão e não apareceu um cristão para duvidar das acusações. Agora, de repente, esse surto de "responsabilidade". Estranho, né?