sábado, dezembro 30, 2006

Isso é jornalismo



ALGO NO AR

Por trás do caos aéreo, os rumos da política de Defesa Nacional

A todo momento surge um novo culpado pelos transtornos nos aeroportos. Mas a raiz dos problemas está na resistência dos militares em compartilhar com o governo civil a prerrogativa de construção de um novo paradigma de Defesa Nacional.

Nelson Breve e Maurício Hashizume - Carta Maior

BRASÍLIA – Quem pergunta a sentinelas fardados em qual dos prédios da Esplanada dos Ministérios fica o gabinete do ministro da Defesa, a autoridade máxima no organograma das Forças Armadas, ouve o seguinte questionamento:

- Gabinete de qual ministro?

A reação espontânea dos soldados desnuda a continuidade do estranhamento existente entre a corporação militar e o Ministério da Defesa, instituído em 1999. Esse é o pano de fundo da sucessão de transtornos experimentados pelos usuários do transporte aéreo desde o mais grave acidente da história da aviação brasileira, que acabou com a vida de 154 pessoas. De tempos em tempos desde outubro, as confusões nos aeroportos voltam à cena, insuflados pelos meios de comunicação que não demonstram a mesma disposição na cobertura jornalística do oceano de carência da maioria da população que depende de outros serviços públicos muito mais básicos. E a cada feriado, surgem nas páginas de publicações e nas telas dos informativos eletrônicos um novo culpado: controladores do vôo, "ponto cego" de radares, incompetência e falta de planejamento por parte do governo, práticas indevidas de empresas, etc. Existe, de fato, uma série de explicações diferentes, interdependentes e complementares para o caos no setor aéreo, mas todas levam a uma mesma raiz: o resquício da ditadura militar que ainda não desencarnou das Forças Armadas.

O recente período democrático do País já supera em mais de 300 dias os 20 anos, 11 meses e 14 dias do regime autoritário (1964-1985), mas os militares ainda resistem em transferir para o governo civil, mesmo com as atribuições da pasta hoje comandada pelo ministro Waldir Pires, o papel de protagonista no processo amplo e de longo prazo, ainda pouco discutido pela sociedade, de construção de um novo paradigma de política de Defesa Nacional.

Na prática, isso impede que o Brasil tenha um sistema integrado de Defesa, que não sirva apenas para assegurar a soberania nacional e territorial por meio da utilização das Forças Armadas, mas que esteja sintonizado com uma estratégia mais ampla de desenvolvimento econômico e social, participando e interagindo com o planejamento, estímulo e apoio às políticas industriais e tecnológicas do País. Esse é o papel de um Ministério da Defesa nas nações que desejam ter alguma relevância no mundo. Se o Brasil quiser se tornar um pólo de influência na segunda metade do século XXI, precisa se preparar como outras nações estão fazendo. É isso o que pensa o ministro da Defesa, Waldir Pires, que anda estudando com entusiasmo o modelo francês.

Na França, o Ministério da Defesa é comandado há quatro anos por uma advogada, etnóloga e professora universitária. A ministra Michèle Alliot-Marie é uma líder expressiva da direita francesa. Dirigente desde o início da década passada da Rassemblement pour la Republique (RPR, União pela República), o partido do atual presidente Jacques Chirac, ela já foi secretária de Estado encarregada do Ensino e ministra da Juventude e dos Esportes. Dos três principais cargos da cúpula do Ministério da Defesa, apenas um é ocupado por militar, o de chefe do Estado Maior das Forças Armadas. Os outros dois são ocupados por civis. Um cuida de toda a Administração do Ministério, como uma espécie de secretário-executivo e o outro executa a política de Armamentos, que faz a integração com as políticas industrial e tecnológica (exemplo: a demanda militar por modernos mísseis balísticos intercontinentais impulsiona a indústria aeroespacial francesa).

No entanto, o ministro Waldir Pires tem consciência de que a história se faz passo a passo e não é encostando os militares contra a parede que eles entregarão os nacos de poder que ainda mantêm nas estruturas do Estado. Para não criar um ambiente de atrito com áreas importantes do comando das Forças Armadas, ele vem assumindo todo o desgaste da crise no setor aéreo, que mistura problemas de gestão, incompatibilidades, interesses e precipitação das empresas.

Um dos caminhos paralelos encontrados pelo governo foi a formação de um grupo de trabalho interministerial (GTI) sobre controle de vôo, com participação de representantes de entidades da sociedade civil ligadas ao transporte aéreo. Concebido como o principal fórum de negociação na busca por soluções para o caos na aviação, o GTI concentrou esforços e apresentou, um mês antes da previsão de encerramento dos trabalhos, 13 sugestões de caráter estrutural (leia nota do Ministério da Defesa) para o governo. A principal delas aparece no item número 2: “A criação de um organismo civil, subordinado ao Ministro da Defesa, com gestão própria, o qual será o responsável pela gerência das operações aéreas da Aviação Civil no Espaço Aéreo Brasileiro, e pela interatividade com os demais elos da atividade”. O sistema integrado de controle de vôo em vigor hoje conta com a participação de civis, mas as principais decisões continuam sendo tomadas dentro da hierarquia militar.

Também participou das reuniões do GTI Álvaro Pinheiro da Costa, o chefe da área técnica do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), órgão que coordena o gerenciamento do espaço aéreo. Contrariando as resoluções, porém, os militares apresentaram uma ressalva ao documento do GTI. "A adequação dos recursos, salários e estruturas das organizações existentes é solução para as deficiências conjunturais no Sistema de Controle do Espaço Aéreo, portanto, o Comando da Aeronáutica não concorda com a criação de uma nova organização", sustenta o documento proposto pela caserna. "É importante que esta ressalva seja mantida, sob pena de sermos imputados a pecha de omissos", segue a ressalva.

Na audiência realizada pela Comissão de Defesa do Consumidor (CDC) da Câmara dos Deputados, o comandante da Aeronáutica, Luiz Carlos Bueno deu duas justificativas para a adoção do sistema integrado. A primeira é a tradição militar, traduzida em figuras emblemáticas como o brigadeiro Eduardo Gomes. A segunda é econômica: a implantação de sistemas totalmente separados de controle da aviação civil e da aviação militar demandaria a aquisição de novos equipamentos e uma contratação significativa de quadros capacitados. “Não temos problema em ceder o controle [da aviação civil] para civis”, afirmou Bueno na ocasião.

O comandante enfatizou, porém, que uma decisão desse porte precisaria partir de uma decisão governamental e ainda ser aprovada no Congresso [a responsabilidade pela regulação do controle do espaço aéreo, diga-se, foi retirada do projeto que criou a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac)]. Sublinhou também que o sistema integrado brasileiro continua sendo uma referência mundo afora e que os controladores de vôo militares (dos 2,7 mil profissionais, 2,2 mil são militares e apenas 500 são civis) garantem o funcionamento do sistema.

Para o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Proteção ao Vôo (SNTPV), Jorge Carlos Botelho, a definição sobre a gestão da aviação civil está no cerne dos distúrbios recorrentes no setor. “A questão estrutural já foi colocada. Agora depende do governo”, coloca. “Se isso não for resolvido, até questões importantes como a da definição da carreira de controladores ficam em segundo plano”.

Opinião muito semelhante tem Célio Eugenio de Abreu Junior, do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA). “Há um distanciamento entre a gestão pública [que hoje está sob a alçada do Comando da Aeronáutica] e a gestão privada das concessionárias [empresas]”. Ele aponta a necessidade de um novo planejamento da aviação civil, que deveria começar por uma auditoria profunda sobre o sistema. Para Abreu, a lógica de relacionamento com base no poder e a da realização de tarefas por meio da força, características da gestão militar, precisa dar espaço para uma relação com base no diálogo em que a autoridade seja resultante do reconhecimento. “A sociedade precisa se aproximar mais do setor”.

Botelho nega a ocorrência de ações deliberadas dos controladores de vôo civis para prejudicar o tráfego aéreo. “Seria uma sabotagem contra nós mesmos. É um terror ter que colocar um avião no chão quando há pane, por exemplo. E todos têm atuado de forma exemplar mesmo com toda pressão psicológica”, salientou na mesma audiência na CDC no Parlamento. Uma das cobranças mais veementes do presidente do SNTPV recai sobre as resoluções do Conselho de Aviação Civil (Conac), que se reuniu durante do ano de 2003 e traçou as diretrizes de uma política para o setor. “O crescimento previsto ocorreu, mas as determinações não foram cumpridas”, realça.

Em entrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo ainda em fevereiro de 2005, em plena crise da Varig, o atual presidente do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (SNEA), Marco Antônio Bologna já lamentava o rarefeito encaminhamento dado às resoluções do Conac. “Infelizmente, a última reunião do Conac foi em outubro de 2003. Baixou 18 resoluções determinando uma série de ações em diversos ministérios do governo. Nada aconteceu”, cravara. “O fato é que não há mais tempo. Existem entraves importantes de curto prazo. Ficamos discutindo solução para empresas individuais e não focamos no que interessa: o ambiente de regularização. Se essas medidas tivessem sido implantadas há mais tempo, talvez hoje não viveríamos situação tão crítica”, declarou, antevendo o caos que veio a se confirmar nos últimos meses deste ano. Bologna, que é presidente da TAM, também defende uma modificação no modelo de gestão de todo o setor.

Relatório da Câmara e posição do governo

O relatório final aprovado pela comissão externa da Câmara dos Deputados que acompanhou a crise no setor aéreo, assinado pelo deputado federal Carlos Willian (PTC-MG), responsabilizou o Ministério da Defesa em conjunto com o Comando da Aeronáutica por terem descumprido resoluções do Conac, em especial a que recomendava a apresentação, por parte do Departamento de Aviação Civil (DAC) e do Decea, de uma proposta de ampliação das atividades do Programa de Formação de Recursos Humanos (015/2003). Como sucessora do antigo DAC, a Anac também é co-responsabilizada. E até o próprio Congresso Nacional é responsabilizado pelo relator, por não ter cumprido seu papel fiscalizador.

Nos últimos anos, a Aeronáutica tem formado apenas controladores militares, que ingressam na carreira por meio de concurso público para graduação de terceiro-sargento. A formação do militar controlador do trafego aéreo é realizada na Escola de Especialista de Aeronáutica (EEAR). Até 2000, eram formados, em média, 70 controladores por ano. De 2001 para cá, o número praticamente dobrou, chegando a 158 formados em 2005. No entanto, neste ano, por exigência do Ministério da Educação, a duração do curso de formação aumentou de um ano e meio para dois anos, o que deve reduzir o número de formandos à metade. Além disso, a categoria convive com uma alta rotatividade de oficiais militares e há controladores mantendo um segundo emprego como motoristas e seguranças de shopping centers.

A comissão externa isentou o presidente da República de responsabilidade, mas criticou duramente o Comando da Aeronáutica, por falta de previsão, planejamento, coordenação, controle de pessoal e de equipamentos, evidenciando a incapacidade gerencial do órgão para acompanhar o crescimento e o desenvolvimento das atividades da aviação civil. Durante a audiência pública da Comissão de Defesa do Consumidor, o brigadeiro Bueno citou planejamentos elaborados pelo Decea para o setor de aviação com horizontes de 5, 10 e 15 anos. A reportagem de Carta Maior entrou em contato com a assessoria de imprensa da Aeronáutica para solicitar cópias desses documentos, mas não recebeu nenhum retorno até o fechamento desta reportagem.

A despeito de todas as responsabilizações, o relator Carlos Willian considera ainda prematura a proposta de desmilitarização do sistema, que demoraria cerca de 20 anos para ser concluída. Mas não descarta a medida. Propõe, inicialmente, estudos mais detalhados sobre plano de carreira, custos de pessoal, material e instalações, riscos de greve, treinamento e formação do pessoal civil, bem como a integração com o controle militar do espaço aéreo. De acordo com o relatório aprovado, não ficou evidenciado que os problemas que levaram à crise estariam vinculados especificamente à gestão militar do sistema, mas, sim, à má gestão.

Por ora, o governo permanece analisando as propostas estruturais do GT. O ministro Waldir Pires não mede esforços para assegurar a importância estratégica e a essencialidade das Forças Armadas, que merecem ser “prestigiadas e bem equipadas” e são “indispensáveis” para que seja cumprida “a natureza do poder republicano”, firmada no Parágrafo Único do Artigo 1º da Carta Magna: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.

A soberania dentro do sistema republicano, adverte o ministro, já não se baseia mais em lideranças pessoais e assume um caráter de destaque para o desenvolvimento do País, na medida que cresce a relevância da integração regional no cenário global de hoje, marcado por incertezas. E as lições do passado que deixaram rastro da exclusão e da opressão confirmam a necessidade da mudança processual na natureza das relações entre civis e militares, preservando a comunhão entre os diferentes setores da sociedade e evitando atritos inconvenientes. “Não existem saltos institucionais”, conclui Pires.

Fotos: Fabio Pozzebom

http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=13211&boletim_id=192&componente_id=3742

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quinta-feira, dezembro 28, 2006

"O Brasil foi terceirizado"



Vencendo a tempestade neoliberal

José Dirceu, ex-ministro Chefe da Casa Civil

Em seu relato Juventude, Joseph Conrad menciona a cumplicidade entre o pão e as tempestades, na luta pela sobrevivência de trabalhadores portuários ingleses do século 19. Quando uma embarcação avariada pela fúria implacável da chuva e do vento aportava no cais, era como se a visita da morte ressuscitasse o metabolismo exaurido do lugar. O reparo da montanha flutuante de madeira assegurava trabalho e comida a toda uma comunidade, durante meses. Ainda hoje, costuma-se dizer que a construção de um navio equivale à implantação de uma fábrica no coração de uma economia, tal a transfusão de demandas e empregos que ela injeta.


Por isso, é uma vitória que o Congresso tenha, finalmente, no dia 20 de dezembro, conseguido liberar a Transpetro (Petrobras Transporte S.A.) para contratar, imediatamente, a fabricação de 26 navios de um total de 42 embarcações a serem construídas por estaleiros nacionais até 2015. A Transpetro precisava da aprovação do Senado para elevar seu limite de endividamento e tomar recursos junto ao Fundo da Marinha Mercante, que tem US$ 2,6 bilhões ociosos. Só com essa autorização, afinal votada, poderá deslanchar as licitações já aprovadas pelo Tribunal de Contas da União.


A oposição impediu a votação, durante quase cinco meses. Uma das restrições alegadas para esse embarreiramento dá a exata noção do descompromisso de certos setores com o desenvolvimento. Argumentava-se, entre outras coisas, que a criação de um novo estaleiro nordestino, para a fabricação de 10 dessas embarcações, tornaria o programa caro, sendo preferível adquirir navios no exterior. Raciocínio típico de quem se aliou à tempestade e esqueceu as famílias que aguardam no cais.


A Petrobras trabalha com 110 petroleiros, 63 fretados e 47 de frota própria - boa parte envelhecida. A compra de novos navios permitirá à estatal economizar US$ 200 milhões em frete por ano. Além de gerar 22 mil novos empregos, a encomenda inclui exigências de 65% de nacionalização de equipamentos, o que adiciona um novo degrau tecnológico ao setor naval e intensifica o treinamento da mão-de-obra brasileira.


A demora enfrentada pela Transpetro não é um fato isolado. O neoliberalismo, hegemônico nos anos 90, montou um verdadeiro cipoal de restrições e terceirizações que dificultam sobremaneira a indução pública do crescimento. Pouco depois de sua posse, em 2003, ao perceber esse ardil, o presidente Lula fez um desabafo premonitório: "O Brasil foi terceirizado".

Nos últimos meses, Lula tem dado demonstrações de que pretende destravar os gargalos do crescimento nesse segundo mandato. Há inúmeras barreiras a atacar. Encabeça a lista esse acanhamento imposto ao Estado, que impede o país de aglutinar energias para mudar suas circunstâncias. Assim, para fazer acelerar o projeto de desenvolvimento é preciso, antes de mais nada, recuperar o papel indutor do Estado no processo de crescimento. Entre as medidas já anunciadas, várias perfilam em torno desse novo centro de gravidade: a desoneração do capital destinado a novos equipamentos produtivos (máquinas ou edificações), a mobilização de fundos públicos para subsidiar a habitação popular (a exemplo do que foi o BNH nos anos 60/70), a isenção de impostos para fundos de infra-estrutura, bem como a reconstituição do comando estratégico da Eletrobrás na área de energia. Não há nada de radical nisso. Ao contrário. São sinais de que o governo entendeu o recado das urnas e se prepara para dar um basta ao Estado mínimo e sua fracassada tentativa de equilibrar a economia sem crescimento nem distribuição de riqueza.

As forças que vão espernear são as mesmas que tentaram barrar o programa de modernização e expansão da frota da Transpetro no Congresso. Houve, de sua parte, uma motivação adicional nesse caso específico. A Petrobras é o espinho mais incômodo atravessado na goela neoliberal. O desempenho da empresa, inatacável, reduz toda narrativa privatizante a blá-blá-blá ideológico de má qualidade. No ano passado, a Petrobras registrou o maior lucro líquido da história econômica nacional: R$ 23,7 bilhões. No segundo mandato de Lula, seu portfólio prevê investimentos de US$ 87 bilhões. E mais 800 mil novos empregos.

em: http://jbonline.terra.com.br/editorias/pais/papel/2006/12/28/pais20061228014.html

Quem quiser ler o conto (em inglês, mas de grátis), está em http://etext.library.adelaide.edu.au/c/conrad/joseph/c75y/

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quarta-feira, dezembro 27, 2006

Protocolo de Intenções de Valorização do Salário Mínimo


Lula propõe política permanente para aumento do mínimo

Quarta, 27 de dezembro de 2006, 13h11

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa da assinatura do Protocolo de Intenções de Valorização do Salário Mínimo. Com a nova política acertada entre governo e centrais sindicais, de 2008 a 2011, o reajuste do mínimo deverá ser feito com base na reposição da inflação com o Produto Interno Bruto (PIB) dos dois anos anteriores. A cada ano, o aumento seria antecipado em um mês e em 2010 ele será pago em janeiro.
Por exemplo, em 2008, a correção do mínimo passa a vigorar a partir de 1º de março. Tradicionalmente, o reajuste era concedido em 1º de maio, e este ano o mínimo já foi antecipado para abril. A partir de 2011, será feita uma revisão do acordo. A proposta de valorização do mínimo será enviada ao Congresso Nacional.
Segundo estimativas do Ministério do Trabalho o aumento do salário mínimo de R$ 350 para R$ 380 em 2007 vai significar mais R$ 8,5 bilhões na economia e também R$ 2,1 bilhões de arrecadação extra de tributos.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que, em 2005, dos 87,1 milhões de pessoas ocupadas no mercado de trabalho, 26,5 milhões (30,5%) ganhavam até um salário mínimo, sendo 48,5% na Região Nordeste.

Agência Brasil

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Rebatendo

Prezados,

Nos últimos meses vem circulando um spam atribuído a mim, sob o título “Elite Privilegiada”. Vai contra tudo o que eu penso. Meus leitores habituais sabem disso; os não leitores, não.

Por isso, solicito a quem puder que divulgue a resposta abaixo aos seus conhecidos. E que sites e publicações em geral que quiserem, publiquem a resposta como uma maneira de rebater o spam.

Um abraço,

Luís Nassif


Elite Privilegiada
Por Luís Nassif

Foi em novembro, enfim,
Pouco após as eleições
Que circulou um spam
Eivado de imperfeições
No começo, meio e fim.
Com dose de preconceito,
De arrogância e mal feito
Escrito sem muito jeito
Mas atribuído a mim.

Como a asa da graúna
Falava mal do nordeste
Terra de João Pernambuco
De Patativa do Agreste
Do choro que vem dos Turunas
Do frevo pernambucano
Do batuque afro-baiano
De Bomfim, o sergipano,
Dos sons do sertão e das dunas.

De quem era o palavreado?
Pus-me então a imaginar
Talvez o ectoplasma
De um rentista secular
Um dandy afrescalhado
Que nasceu escravocrata
Que abusava da mulata
Que gastou toda a prata
E terminou estropiado.

Ou então um senhor de engenho,
Sem fazenda e compostura
Guardando dos velhos tempos
A arrogância e a usura
E total falta de empenho
Para assuntos do trabalho,
Que sempre achou ato falho
Quem na vida dava o malho
Atrás da boa procura.

Lembrei do deslumbramento
Com que tratavam o Edemar
Sujeito esperto e tinhoso,
Um malandro secular.
De como era um tormento
Quando dava suas festanças
Ócio, deslumbre, gastança
Malandragem e lambança
De um tempo crepuscular.

A elite mega-store
Saia atrás do convite
Disputando a boca livre
Arroz de festa de extirpe
Como um penetra-mór
Edemar fez muito mais
Palácio nas marginais
Rei da elite, ex do cais,
Soberano do “offshore”

A elite deu Edemar
E os esquemas da Daslu
O povo deu dona Ivone
Maxixe, choro e lundu
E o poder de sonhar
Com uma terra irmã
Sem essa febre malsã
Que corrói o amanhã
Desse elitismo sem par.

Mas a elite eficiente
Prescinde da arrogância
É o empresário e o empregado,
Que buscam a relevância
A melhora permanente
Programas de qualidade,
Eficiência, lealdade,
Trabalho e brasilidade
Olhando sempre em frente.

Por isso, aqui, nessa hora
Solicito ajuda vossa
Para que espalhe o poema
Esclarecendo a quem possa
Que esse spam é uma desforra
Escrito baixo, rasteiro,
De quem não é brasileiro,
E passa o ano inteiro,
Querendo sempre ir à forra.

Por certo é leitor de “Veja”,
Um viúvo da Daslu,
Que arrota camembert
Depois de comer angu.
E que o bom Deus o proteja
Pois sendo tão recalcado
Só consegue andar de lado
Falando mal do empregado
Por mesquinho que isso seja.

O Falso Spam

Elite privilegiada

Muitos se dizem aviltados com a corrupção e a baixeza de nossos políticos. Eu não, eles são apenas o espelho do povo brasileiro: um povo preguiçoso, malandro, e que idolatra os safados. É o povo brasileiro que me avilta !

Não é difícil entender porque os eleitores brasileiros aceitam o LULA e a quadrilha do PT como seus líderes. A maioria das pessoas deste país fariam as mesmas coisas que os larápios oficiais: mentiriam, roubariam, corromperiam e até matariam. Tudo pela sua conveniência. Com muitas exceções, os brasileiros se dividem em 2 grupos : 1) Os que roubam e se beneficiam do dinheiro público, e 2) Os que só estão esperando uma oportunidade de entrar para o grupo 1.

Por que será que o brasileiro preza mais o Bolsa Família, que a moralidade? Fácil : Com a esmola mensal do bolsa família não é preciso trabalhar, basta receber o dinheiro e viver às custas de quem trabalha e paga impostos.

Por que será que o brasileiro é contra a privatização das estatais? Fácil: Em empresa privada é preciso trabalhar, ser eficiente e produtivo; senão perde o emprego. Nas estatais é eficiência zero, comprometimento zero e todos a receber o salário garantido, pago com o imposto dos mesmos idiotas contribuintes. Para mim chega! Passei minha vida inteira trabalhando, lutando e tentando ajudar os outros. Resultado : Hoje sou chamado de "Elite Privilegiada" . Hoje a moda é ser traficante, lobista, assaltante e excluído social.

Por isso, tomei a decisão de deixar de ser inocente útil, e de me preocupar com este povo que não merece nada melhor do que tem.

Daqui pra frente, mudarei minha postura de cidadão. Vou me defender e defender os direitos e interesses da nossa "Elite Privilegiada"

1) Ao contrário dos últimos 20 anos, não farei mais doações para creches, asilos e hospitais. Que eles consigam os donativos com seu querido "Governo voltado para o Social".

2) Não contribuirei mais com as famosas listinhas de fim de ano de porteiros, manobristas, faxineiros e outros. Eles já recebem a minha parte pelo Bolsa- Família.

3) Não comprarei mais CDs e não assistirei a filmes e peças de teatro dos artistas que aderiram ao Lulismo (lembra, tem que por a mão na merda!). Eles que consigam sua renda com as classes c e d, já que a classe média que os sustentou até hoje não merece consideração.

4) Não terei mais empregados oriundos do norte-nordeste (curral eleitoral petista). Por que eles não utilizam um dos "milhões de empregos gerados por este governo"?

5) Depois de 25 anos pagando impostos , entrarei no seleto grupo de sonegadores. Usarei todos os artifícios possíveis para fugir da tributação, especialmente dos impostos federais (IR). Assim, este governo usará menos do meu dinheiro para financiar o MST, a Venezuela, a Bolívia e as "ONG´s fajutas dos amigos do Lula".

6) Está abolida toda e qualquer "gorjeta" ou "caixinha" para carregadores, empacotadores, frentistas, e outros "excluídos sociais". Como a vida deles "melhorou muito com este governo de esquerda", não precisam mais de esmolas.

7) Não comprarei mais produtos e serviços de empresários que aderiram ao Lulismo. É só consultar a lista da reunião de apoio ao Lula, realizada em Set/06. Como a economia está "uma beleza", eles não estão precisando de clientes da "Elite Privilegiada" .

8) As revistas, jornais e tv´s que defenderam os corruptos em troca de contratos oficiais estão eliminadas da minha vida (Isto É, Carta Capital, etc). A imprensa adesista é um "câncer a ser combatido". As tv´s que demitiram jornalistas que incomodaram o governo (lembra da Record com o Boris Casoy?) já deixaram de ser assistidas em casa.

9) Só trabalho com serviços públicos privatizados. Como a "Elite Privilegiada" defende a Privatização, usarei DHL ao invés dos Correios, não terei contas na CEF, B.Brasil e outros Órgãos Públicos Corruptos.

10) Estou avisando meus filhos : Namorados petistas serão convidados a não entrar em minha casa. E dinheiro da mesada que eu pago não financia balada e nem restaurante com petista. Sem Negociação.

11) Não viajo mais para o Nordeste. Se tiver dinheiro, vou para o exterior, senão tiver vou para o Guarujá. O Brasil que eu vivo é o da "Elite Privilegiada" , não vou dar PIB para inimigo.

12) Não vou esquecer toda a sujeira que foi feita para a reeleição do "Sapo Barbudo", nem os nomes dos seus autores. Os boatos maldosos da privatização (Jacques Vagner, Tarso Genro, Ciro Gomes), a divisão do Brasil entre ricos e pobres (Lula, José Dirceu), a Justiça comprada no STF Nelson Jobin), a vergonha da Polícia Federal acobertando o PT (Tomás Bastos), a virulenta adesão do PMDB (Sarney, Calheiros, Quércia), a superexposição na mídia do Lula (Globo).

Sugiro que vocês comecem a defender sua ideologia e seu estilo de vida, senão, logo logo, teremos nosso patrimônio confiscado pela "Ditadura do Proletariado" .

Estou de luto ! O meu país morreu domingo.

EU DESISTI DO BRASIL !!!

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terça-feira, dezembro 26, 2006

jornalista com o sentimento de povo


"A política salvou o país, enquanto o mercado teimava em destruí-lo".



O BC e a responsabilidade fiscal

por Luís Nassif

Coluna Econômica – 26/12/2006

Uma das características mais marcantes de sociedades em desenvolvimento costuma ser a incapacidade da opinião pública em geral de estabelecer relações corretas de causalidade.

Desde o início dos anos 90, sabia-se que a questão social caminhava para uma situação explosiva. Vários alertas foram feitos, em vão. Hoje em dia, tem-se no Rio de Janeiro uma praça de guerra, na periferia de São Paulo várias guerrilhas urbanas.

Quando a guerra explode, desvia-se a análise da causa para questões periféricas, como a falta de leis punitivas.

A inclusão social tornou-se prioridade nacional por várias razões. Uma delas, é para permitir um combate efetivo à criminalidade. Outra, é para fornecer os alicerces para políticas educacionais universalistas e includentes.

Sem elas, não haverá mão de obra suficiente para futuros processos de crescimento acelerado, nem mercado para sustentar a oferta, nem cidadania para garantir a constituição de uma nação forte e justa. Ou seja, a inclusão social é pré-requisito para resolver a questão da violência, do desenvolvimento e da coesão nacional.

A decisão de Lula de seguir a sua intuição para conceder o reajuste adicional do salário mínimo, e não reduzir nenhum programa social, muda completamente a discussão econômica – conforme salientei na coluna de ontem.

É evidente que se terá que cuidar da responsabilidade fiscal. Mas, observando as repercussões do episódio, de repente cai a ficha sobre quão ridículo é o terrorismo em cima de qualquer aumento de gasto que reverta para a população – justamente aquele gasto que garante avanços definitivos no processo civilizatório brasileiro.

O que Lula fez foi redefinir as prioridades orçamentárias. Antes, o Banco Central definia uma fatia ilimitada para os juros. O que sobrasse era rateado pelas demais despesas. O que salvou o país de uma hecatombe social foi a sensibilidade da classe política na Constituinte de 1988, ao definir recursos carimbados para educação, saúde e Previdência. A política salvou o país, enquanto o mercado teimava em destruí-lo.

Agora que se voltou ao primado da política. É essa nova realidade que terá que ser absorvida daqui para frente. Não se venha com acusações de populismo contra Lula. Não se venha com a história de que o salário mínimo vai impedir o crescimento. Não cola, não tem respaldo nos grandes números da economia. Não tem respaldo na visão histórica sobre o desenvolvimento nacional.

Daqui para frente, inclusão social passa a ser a determinante; os juros pagos, a variável de ajuste. É evidente que essa guinada na política econômica não poder ser feita de orelhada.

Agora, mais do que nunca, será necessário balizar o investimento social com indicadores de eficiência. Ao mesmo tempo, se terá que tratar com cuidado redobrado as contas públicas. E Lula não conseguirá segurar a peteca se mantiver no Banco Central a ortodoxia cômoda de quem não tinha limites de responsabilidade fiscal para tratar com juros.

Para a obra ficar completa, Lula tem que olhar com atenção redobrada o BC, e colocar à sua frente pessoas comprometidas com a responsabilidade fiscal.

enviada por Luis Nassif

http://luisnassifeconomia.blig.ig.com.br/

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quinta-feira, dezembro 21, 2006

FACADA NA FOLHA

Uma louca convicta

A “Folha” publicou uma manchete temerária de primeira página: “Revoltada com supersalários, mulher esfaqueia ACM Neto na rua”. É o tipo da manchete que não se deve dar, nem se em cima de notícia verdadeira, por obviamente induzir qualquer maluco a fazer justiça com as próprias mãos.

O texto de primeira página dá como primeiro motivo a revolta da moça com os supersalários; como segundo motivo, o fato do deputado não tê-la auxiliado a liberar seu FGTS.

O “Estadão” foi comedido na manchete, e dá outra explicação no texto: “ACM Neto leva facada nas costas em Salvador”. O texto informa que o motivo teria sido a não ajuda dele para a agressora liberar o FGTS.

No texto interno, com manchete de quatro colunas, a “Folha” insiste na motivação: “Mulher esfaqueia ACM Neto e se diz revoltada com o reajuste”. Na matéria, vê-se uma inversão da motivação. “Presa em flagrante, Rita de Cássia disse que há um ano esteve no escritório de ACM Neto pedindo ajuda para a liberação de parte do seu FGTS que estaria retido em uma empresa prestadora de serviços para a Prefeitura de Ipiaú (353 km de Salvador). "O deputado não fez nada para liberar o meu dinheiro, mas apóia o aumento para os parlamentares, esta vergonha em um país de tantas vergonhas", disse a pensionista, antes de ser levada para o Presídio Feminino de Salvador”. Ou seja, a motivação principal era o FGTS dela que o deputado não teria ajudado a liberar?

Motivação de doida? Segundo a matéria, de meia doida apenas. “O delegado Wilson Gomes, que autuou a acusada por tentativa de homicídio, disse que Rita de Cássia apresentou "desequilíbrio emocional" em seu depoimento. "Mas quando ela falou sobre o aumento dos deputados apresentou muita convicção e segurança.

"Ué, e quando falou sobre o seu FGTS não mostrou nem convicção nem segurança? Conheço muitos loucos absolutamente convictos e seguros de suas afirmações loucas.

enviada por Luis Nassif

http://luisnassif.blig.ig.com.br/

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em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/inde19122006.htm e
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1912200612.htm

Almiro Lopes/"Correio da Bahia"

A pensionista Rita de Cássia Sampaio de Souza,
que esfaqueou ontem à tarde, em Salvador, o deputado ACM Neto

entrevista
Deputados têm tudo e eu, nada, diz agressora
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR


Presa em flagrante e autuada por tentativa de homicídio por esfaquear o deputado federal Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), a pensionista Rita de Cássia Sampaio de Souza, 45, disse ontem, antes de ser encaminhada ao Presídio Feminino de Salvador, "que os deputados têm tudo" e ela nem consegue sacar seu FGTS.

PERGUNTA - Por que a sra. esfaqueou o deputado ACM Neto? RITA DE CÁSSIA SAMPAIO DE SOUZA - Estou muito revoltada com a classe política. Eles têm tudo, altos salários, mordomias, e eu nem sequer consigo sacar o meu FGTS.

PERGUNTA - Quando começou a revolta da sra.? RITA DE CÁSSIA - Faz tempo que detesto deputados, porque eles não fazem nada. Mas este aumento [salarial de 91% aos parlamentares] aumentou a minha revolta.

PERGUNTA - A sra. já esteve no escritório do deputado? RITA DE CÁSSIA - Duas vezes. Ele prometeu me ajudar e nada fez. Os assessores também prometeram a liberação, mas até agora, nada.

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quarta-feira, dezembro 20, 2006

A GLOBO VIROU NOTÍCIA



Repórter denuncia parcialidade da TV Globo nas eleições 2006

Rodrigo Vianna, após questionar a cobertura da emissora das eleições, foi afastado do noticiário político. Nesta terça-feira (19), foi informado de que a Globo, após 12 anos, pretendia não renovar seu contrato. Em carta enviada aos colegas, obtida pela agência Carta Maior, ele acusa a parcialidade da empresa.- por Bia Barbosa e Gilberto Maringoni – Carta Maior

O repórter especial da Rede Globo de Televisão em São Paulo, Rodrigo Vianna, foi informado nesta terça-feira (19) que a empresa não pretende renovar seu contrato de trabalho, que expira em 31 de janeiro próximo. Profissional experiente, Vianna trabalha na rede desde 1995 e produziu mais de duas dezenas de matérias para o Globo Repórter, além de cobrir seis processos eleitorais. Vianna também mediou debates eleitorais para a prefeitura de Belém (2004) e para o governo do Mato Grosso (2006).

Segundo colegas, Vianna já estava decidido a também não renovar seu contrato em função do que ocorreu desde o início do processo eleitoral. Ao lado de outros jornalistas da emissora, ele foi um dos que questionou a parcialidade da cobertura realizada pela Globo. Nos últimos meses, foi afastado da cobertura política e destacado para atuar nos jornais locais. Procurado pela reportagem da Carta Maior, Vianna informou que não pode se manifestar por exigências do seu contrato, ainda em vigor. O chefe de jornalismo em São Paulo, Luiz Cláudio Latgé, também foi procurado, mas não foi encontrado para comentar o assunto.

Imediatamente após a conversa com a chefia no início da tarde desta terça, Rodrigo Vianna teve seu correio eletrônico interno e seu crachá bloqueados. Antes, no entanto, conseguiu enviar aos colegas uma mensagem em que explica as razões de seu afastamento e externa sua insatisfação com a cobertura da última disputa presidencial.

“O que fizemos na véspera da eleição foi incrível”, diz ele, ao comentar o desequilíbrio da cobertura. “Ninguém na redação queria poupar os petistas (...) O que pedíamos era isonomia. Durante duas semanas, às vésperas do primeiro turno, a Globo de São Paulo designou dois repórteres para acompanhar o caso dossiê: um em São Paulo, outro em Cuiabá. Mas, nada de Piracicaba, nada de Barjas [Negri, ex-ministro da Saúde]!

”Vianna destaca ainda “aquele episódio lamentável do abaixo-assinado, depois das matérias da Carta Capital”. Segundo ele, “foi um abaixo-assinado em defesa da Globo, apresentado por chefes!”

Leia abaixo a íntegra da mensagem, obtida pela agência Carta Maior.

Lealdade

Rodrigo Vianna

Quando cheguei à TV Globo, em 1995, eu tinha mais cabelo, mais esperança, e também mais ilusões. Perdi boa parte do primeiro e das últimas. A esperança diminuiu, mas sobrevive. Esperança de fazer jornalismo que sirva pra transformar - ainda que de forma modesta e pontual. Infelizmente, está difícil continuar cumprindo esse compromisso aqui na Globo. Por isso, estou indo embora.

Quando entrei na TV Globo, os amigos, os antigos colegas de Faculdade, diziam: "você não vai agüentar nem um ano naquela TV que manipula eleições, fatos, cérebros". Agüentei doze anos. E vou dizer: costumava contar a meus amigos que na Globo fazíamos - sim - bom jornalismo. Havia, ao menos, um esforço nessa direção.

Na última década, em debates nas universidades, ou nas mesas de bar, a cada vez que me perguntavam sobre manipulação e controle político na Globo, eu costumava dizer: "olha, isso é coisa do passado; esse tempo ficou pra trás".

Isso não era só um discurso. Acompanhei de perto a chegada de Evandro Carlos de Andrade ao comando da TV, e a tentativa dele de profissionalizar nosso trabalho. Jornalismo comunitário, cobertura política - da qual participei de 98 a 2006. Matérias didáticas sobre o voto, sobre a democracia. Cobertura factual das eleições, debates. Pode parecer bobagem, mas tive orgulho de participar desse momento de virada no Jornalismo da Globo.

Parecia uma virada. Infelizmente, a cobertura das eleições de 2006 mostrou que eu havia me iludido. O que vivemos aqui entre setembro e outubro de 2006 não foi ficção. Aconteceu.

Pode ser que algum chefe queira fazer abaixo-assinado para provar que não aconteceu. Mas, é ruim, hem! Intervenção minuciosa em nossos textos, trocas de palavras a mando de chefes, entrevistas de candidatos (gravadas na rua) escolhidas a dedo, à distância, por um personagem quase mítico que paira sobre a Redação: "o fulano (e vocês sabem de quem estou falando) quer esse trecho; o fulano quer que mude essa palavra no texto".

Tudo isso aconteceu. E nem foi o pior.

Na reta final do primeiro turno, os "aloprados do PT" aprontaram; e aloprados na chefia do jornalismo global botaram por terra anos de esforço para construir um novo tipo de trabalho aqui.

Ao lado de um grupo de colegas, entrei na sala de nosso chefe em São Paulo, no dia 18 de setembro, para reclamar da cobertura e pedir equilíbrio nas matérias: "por que não vamos repercutir a matéria da "Istoé", mostrando que a gênese dos sanguessugas ocorreu sob os tucanos? Por que não vamos a Piracicaba, contar quem é Abel Pereira? "Por que isso, por que aquilo... Nenhuma resposta convincente. E uma cobertura desastrosa. Será que acharam que ninguém ia perceber?

Quando, no JN, chamavam Gedimar e Valdebran de "petistas" e, ao mesmo tempo, falavam de Abel Pereira como empresário ligado a um ex-ministro do "governo anterior", acharam que ninguém ia achar estranho?

Faltando seis dias para o primeiro turno, o "petista" Humberto Costa foi indiciado pela PF. No caso dos vampiros. O fato foi parar em manchete no JN, e isso era normal. O anormal é que, no mesmo dia, esconderam o nome de Platão, ex-assessor do ministério na época de Serra/Barjas Negri. Os chefes sabiam da existência de Platão, pediram a produtores pra checar tudo sobre ele, mas preferiram não dar. Que jornalismo é esse, que poupa e defende Platão, mas detesta Freud! Deve haver uma explicação psicanalítica para jornalismo tão seletivo!

Ah, sim, Freud. Elio Gaspari chegou a pedir desculpas em nome dos jornalistas ao tal Freud Godoy. O cara pode ter muitos pecados. Mas, o que fizemos na véspera da eleição foi incrível: matéria mostrando as "suspeitas", e apontando o dedo para a sala onde ele trabalhava, bem próximo à sala do presidente... A mensagem era clara. Mas, quando a PF concluiu que não havia nada contra ele, o principal telejornal da Globo silenciou antes da eleição.

Não vi matérias mostrando as conexões de Platão com Serra, com os tucanos.

Também não vi (antes do primeiro turno) reportagens mostrando quem era Abel Pereira, quem era Barjas Negri, e quais eram as conexões deles com PSDB. Mas vi várias matérias ressaltando os personagens petistas do escândalo. E, vejam: ninguém na Redação queria poupar os petistas (eu cobri durante meses o caso Santo André; eram matérias desfavoráveis a Lula e ao PT, nunca achei que não devêssemos fazer; seria o fim da picada...). O que pedíamos era isonomia. Durante duas semanas, às vésperas do primeiro turno, a Globo de São Paulo designou dois repórteres para acompanhar o caso dossiê: um em São Paulo, outro em Cuiabá. Mas, nada de Piracicaba, nada de Barjas.!

Um colega nosso chegou a produzir, de forma precária, por telefone (vejam, bem, por telefone! Uma TV como a Globo fazer reportagem por telefone), reportagem com perfil do Abel. Foi editada, gerada para o Rio. Nunca foi ao ar!

Os telespectadores da Globo nunca viram Serra e os tucanos entregando ambulâncias cercados pelos deputados sanguessugas. Era o que estava na tal fita do "dossiê". Outras TVs mostraram o vídeo, a internet mostrou. A Globo, não. Provava alguma coisa contra Serra? Não. Ele não era obrigado a saber das falcatruas de deputados do baixo clero. Mas, por que demos o gabinete de Freud pertinho de Lula, e não demos Serra com sanguessugas?

E o caso gravíssimo das perguntas para o Serra? Ouvi, de pelo menos 3 pessoas diretamente envolvidas com o SP-TV Segunda Edição, que as perguntas para o Serra, na entrevista ao vivo no jornal, às vésperas do primeiro turno, foram rigorosamente selecionadas. Aquele diretor (aquele, vocês sabem quem) teria mandado cortar todas as perguntas "desagradáveis". A equipe do jornal ficou atônita. Entrevistas com os outros candidatos tinham sido duras, feitas com liberdade. Com o Serra, teria havido, deliberadamente, a intenção de amaciar.

E isso era um segredo de polichinelo. Muita gente ouviu essa história pelos corredores...

E as fotos da grana dos aloprados? Tínhamos que publicar? Claro. Mas, porque não demos a história completa? Os colegas que estavam na PF naquele dia (15 de setembro), tinham a gravação, mostrando as circunstâncias em que o delegado vazara as fotos. Justiça seja feita: sei que eles (repórter e produtor) queriam dar a matéria completa - as fotos, e as circunstâncias do vazamento. Podiam até proteger a fonte, mas escancarando o que são os bastidores de uma campanha no Brasil. Isso seria fazer jornalismo, expor as entranhas do poder.

Mais uma vez, fomos seletivos: as fotos mostradas com estardalhaço. A fita do delegado, essa sumiu!

Aquele diretor, aquele que controla cada palavra dos textos de política, disse que só tomou conhecimento do conteúdo da fita no dia seguinte. Quer que a gente acredite?

Por que nunca mostraram o conteúdo da fita do delegado no JN?

O JN levou um furo, foi isso? Um colega nosso, aqui da Globo ouviu a fita e botou no site pessoal dele... Mas, a Globo não pôs no ar... O portal "G-1" botou na íntegra a fita do delegado, dias depois de a "CartaCapital" ter dado o caso. Era noticia? Para o portal das Organizações Globo, era.

Por que o JN não deu no dia 29 de setembro? Levou um furo?

Não. Furada foi a cobertura da eleição. Infelizmente.

E, pra terminar, aquele episódio lamentável do abaixo-assinado, depois das matérias da "CartaCapital". Respeito os colegas que assinaram. Alguns assinaram por medo, outros por convicção. Mas, o fato é que foi um abaixo-assinado em defesa da Globo, apresentado por chefes!

Pensem bem. Imaginem a seguinte hipótese: a revista "Quatro Rodas" dá matéria falando mal da suspensão de um carro da Volkswagen, acusando a empresa de deliberadamente não tomar conhecimento dos problemas. Aí, como resposta, os diretores da Volks têm a brilhante idéia de pedir aos metalúrgicos pra assinar um manifesto em defesa da empresa! O que vocês acham? Os metalúrgicos mandariam a direção da fábrica catar coquinho em Berlim!

Aqui, na Globo, muitos preferiram assinar. Por isso, talvez, tenhamos um metalúrgico na Presidência da República, enquanto os jornalistas ficaram falando sozinhos nessa eleição...

De resto, está difícil continuar fazendo jornalismo numa emissora que obriga repórteres a chamarem negros de "pretos e pardos". Vocês já viram isso no ar? Sinto vergonha...

A justificativa: IBGE (e, portanto, o Estado brasileiro) usa essa nomenclatura. Problema do IBGE. Eu me recuso a entrar nessa. Delegados de policia (representantes do Estado) costumavam (até bem pouco tempo) tratar companheiras (mesmo em relações estáveis) como "concubinas" ou "amásias". Nunca usamos esses termos!

Árabes que chegaram ao Brasil no início do século passado eram chamados de "turcos" pelas autoridades (o passaporte era do Império Turco Otomano, por isso a nomenclatura). Por causa disso, jornalistas deviam chamar libaneses de turcos?

Daqui a pouco, a Globo vai pedir para que chamemos a Parada Gay de "Parada dos Pederastas". Francamente, não tenho mais estômago.

Mas, também, o que esperar de uma Redação que é dirigida por alguém que defende a cobertura feita pela Globo na época das Diretas?

Respeito a imensa maioria dos colegas que ficam aqui. Tenho certeza que vão continuar se esforçando pra fazer bom Jornalismo. Não será fácil a tarefa de vocês.

Olhem no ar. Ouçam os comentaristas. As poucas vozes dissonantes sumiram. Franklin Martins foi afastado. Do Bom dia Brasil ao JG, temos um desfile de gente que está do mesmo lado.

Mas sabem o que me deixou preocupado mesmo? O texto do João Roberto Marinho depois das eleições. Ele comemorou a reação (dando a entender que foi absolutamente espontânea; será que disseram isso pra ele? Será que não contaram a ele do mal-estar na Redação de São Paulo?) de jornalistas em defesa da cobertura da Globo:

"(...)diante de calúnias e infâmias, reagem, não com dúvidas ou incertezas, mas com repúdio e indignação. Chamo isso de lealdade e confiança".

Entendi. Ele comemora que não haja dúvidas e incertezas... Faz sentido. Incerteza atrapalha fechamento de jornal. Incerteza e dúvida são palavras terríveis. Devem ser banidas. Como qualquer um que diga que há racismo - sim - no Brasil. E vejam o vocabulário: "lealdade e confiança". Organizações ainda hoje bem populares na Itália costumam usar esse jargão da "lealdade".

Caro João, você talvez nem saiba direito quem eu sou. Mas, gostaria de dizer a você que lealdade devemos ter com princípios, e com a sociedade. A Globo, infelizmente, não foi "leal" com o público. Nem com os jornalistas.

Vai pagar o preço por isso. É saudável que pague. Em nome da democracia!

João, da família Marinho, disse mais no brilhante comunicado interno:

"Pude ter certeza absoluta de que os colaboradores da Rede Globo sabem que podem e devem discordar das decisões editoriais no trabalho cotidiano que levam à feitura de nossos telejornais, porque o bom jornalismo é sempre resultado de muitas cabeças pensando".

Caro João, em que planeta você vive? Várias cabeças? Nunca, nem na ditadura (dizem-me os companheiros mais antigos) tivemos na Globo um jornalismo tão centralizado, a tal ponto que os repórteres trabalham mais como bonecos de ventríloquos, especialmente na cobertura política!

Cumpro agora um dever de lealdade: informo-lhe que, passadas as eleições, quem discordou da linha editorial da casa foi posto na "geladeira". Foi lamentável, caro João. Você devia saber como anda o ânimo da Redação - especialmente em São Paulo.

Boa parte dos seus "colaboradores" (você, João, aprendeu direitinho o vocabulário ideológico dos consultores e tecnocratas - "colaboradores", essa é boa... Eu não sou colaborador, coisa nenhuma! Sou jornalista!) está triste e ressabiada com o que se passou.

Mas, isso tudo tem pouca importância.

Grave mesmo é a tela da Globo - no Jornalismo, especialmente - não refletir a diversidade social e política brasileira. Nos anos 90, houve um ensaio, um movimento em direção à pluralidade. Já abortado. Será que a opção é consciente?

Isso me lembra a Igreja Católica, que sob Ratzinger preferiu expurgar o braço progressista. Fez uma opção deliberada: preferiram ficar menores, porém mais coesos ideologicamente. Foi essa a opção de Ratzinger. Será essa a opção dos Marinho?

Depois, não sabem porque os protestantes crescem...

Eu, que não sou católico nem protestante, fico apenas preocupado por ver uma concessão pública ser usada dessa maneira!

Mas, essa é também uma carta de despedida, sentimental.

Por isso, peço licença pra falar de lembranças pessoais.

Foram quase doze anos de Globo.Quando entrei na TV, em 95, lá na antiga sede da praça Marechal, havia a Toninha - nossa mendiga de estimação, debaixo do viaduto. Os berros que ela dava em frente à entrada da TV traziam uma dimensão humana ao ambiente, lembravam-nos da fragilidade de todos nós, de como nossa razão pode ser frágil.

Havia o João Paulada - o faz-tudo da Redação.

Havia a moça do cafezinho (feito no coador, e entregue em garrafas térmicas), a tia dos doces...

Era um ambiente mais caseiro, menos pomposo. Hoje, na hora de dizer tchau, sinto saudade de tudo aquilo. Havia bares sujos, pessoas simples circulando em volta de todos nós - nas ruas, no Metrô, na padaria.

Todos, do apresentador ao contínuo, tinham que entrar a pé na Redação. Estacionamentos eram externos (não havia "vallet park", nem catraca eletrônica). A caminhada pelas calçadas do centro da cidade obrigava-nos a um salutar contato com a desigualdade brasileira.

Hoje, quando olho pra nossa Redação aqui na Berrini, tenho a impressão que estou numa agência de publicidade. Ambiente asséptico, higienizado. Confortável, é verdade. Mas triste, quase desumano.

Mas, há as pessoas. Essas valem a pena.

Pra quem conseguiu chegar até o fim dessa longa carta, preciso dizer duas coisas...

1) Sinto-me aliviado por ficar longe de determinados personagens, pretensiosos e arrogantes, que exigem "lealdade"; parecem "poderosos chefões" falando com seus seguidores... Se depender de mim, como aconteceu na eleição, vão ficar falando sozinhos.

2) Mas, de meus colegas, da imensa maioria, vou sentir saudades. Saudades das equipes na rua - UPJs que foram professores; cinegrafistas que foram companheiros; esses sim (todos) leais ao Jornalismo. Saudades dos editores - que tiveram paciência com esse repórter aflito e procuraram ser leais às minúcias factuais. Saudades dos produtores e dos chefes de reportagem - acho que fui leal com as pautas de vocês e (bem menos) com os horários! Saudades de cada companheiro do apoio e da técnica - sempre leais. Saudades especialmente, das grandes matérias no Globo Repórter - com aquela equipe de mestres (no Rio e em São Paulo) que aos poucos vai se desmontando, sem lealdade nem respeito com quem fez história (mas há bravos resistentes ainda).

Bem, pelo tom um tanto ácido dessa carta pode não parecer. Mas levo muita coisa boa daqui. Perdi cabelos e ilusões. Mas, não a esperança.

Um beijo a todos.

Rodrigo Vianna.

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terça-feira, dezembro 19, 2006

Sou petista e participo do projeto político do partido que reelegeu Lula

Vou participar dos debates do PT

Com a decisão do Diretório Nacional do PT de convocar o 3º Congresso Nacional para junho de 2007, considero que devo encerrar meu período de silêncio sobre o partido. Fui cassado pela Câmara dos Deputados, uma violência política que me tirou um mandato dado pelo povo de São Paulo. Poderia tê-lo reconquistado, se tivesse renunciado e, novamente, submetido-me ao julgamento das urnas no dia 1º de outubro. Não o fiz porque sou inocente, jamais aceitaria fugir do enfrentamento com a direita e, acima do meu mandato, estava a defesa do PT e do governo.

Essa luta continua. Vou provar minha inocência na Justiça. Quero ser processado e julgado o mais rápido possível. Também voltarei a combater por meus direitos nas ruas e no Parlamento: aceito, com gratidão e honradez, os pedidos por minha anistia e o apoio que tenho recebido dos movimentos sociais, dos partidos de esquerda, dos sindicatos, de setores intelectuais e empresariais. A Câmara dos Deputados cassou o meu mandato sem provas. Foi uma cassação política, um desrespeito à Constituição, uma trama cujo único objetivo, ao me condenar, era golpear o PT, a esquerda e o governo do presidente Lula.

Tenho o direito, que conquistei durante 40 anos de luta política e social, partidária e parlamentar, de continuar contribuindo com a luta do povo brasileiro por sua libertação e soberania. Acumulei experiência como militante, profissional, parlamentar, dirigente partidário e, por fim, ministro de Estado. Quero continuar colocando meus conhecimentos à disposição do desenvolvimento nacional. Sou petista e participo do projeto político do partido que reelegeu Lula, com um programa que representa a nossa luta, a luta de várias gerações pela democracia e pelo socialismo.

Quanto ao PT, quero deixar claro que não abro mão da minha filiação. Nessa condição, vou participar do 3º Congresso Nacional do PT. Não vou participar de chapas ou da disputa de cargos, mas da avaliação dos últimos dez anos e do debate sobre futuro do partido, assumindo minha responsabilidade política sobre os 12 anos decisivos em que fui secretário geral e presidente do PT.

Não abro mão de meu compromisso com o governo do presidente Lula, de minha militância socialista e internacionalista. Não renunciarei, jamais, à herança da esquerda brasileira, da qual participei intensamente nos últimos 40 anos, na luta estudantil, na clandestinidade, na resistência armada, na luta pela democratização, na construção do PT e na chegada de Lula à Presidência da República.

Participarei do 3º Congresso Nacional do PT com a disposição de reconhecer meus erros políticos, e de contribuir para que o PT se reforme, como sempre o fez, e se prepare para os próximos 20 anos. Não há dúvidas -- se existiam, o PED, em 2005, e os resultados das urnas, em 2006, as superaram - de que o PT está consolidado como o maior partido do Brasil, com profundas raízes populares e com uma extraordinária experiência de luta social, parlamentar e de governo.

Somos parte importante da história recente do Brasil. Na construção de nossa democracia, dos movimentos sociais e suas entidades -- como a CUT, o MST e a CMP, entre tantas outras. Construímos políticas públicas universais na educação, na saúde, na habitação e nos transportes públicos. Lutamos e implantamos políticas de democratização da gestão pública, e somos responsáveis, ao lado de outras forças políticas e sociais, pela maioria dos direitos políticos e sociais que nosso povo tem hoje.

Nosso patrimônio não é apenas nossas lutas e nossas conquistas, mas, principalmente, os petistas. Eles são a militância e a base social e eleitoral que nos apóia e nos fiscaliza, nos elege ou nos derrota. Com o povo petista, temos uma cumplicidade de ideais e programa. Mudar o PT e reformá-lo, portanto, não é uma tarefa para seus dirigentes e suas correntes, mas para toda a militância. Daí a necessidade de consultar as bases e os dirigentes nas cidades e na luta social, de construir um diálogo com a base não-militante, com as entidades que sempre marcharam conosco na luta social e democrática e com os partidos aliados.

Reformar o PT significa ter um instrumento mais forte e coeso para as grandes lutas transformadoras. Estarei sempre ao lado dos que rejeitam qualquer tentativa de domesticar nosso partido às pressões das elites conservadoras, de torná-lo um agrupamento dócil e apático, destituído das heranças e compromissos de esquerda que estão na base de sua fundação.

O período que se abre com a convocação do 3º Congresso Nacional do PT é um momento de grandes oportunidades, mas também de riscos. Toda a experiência do primeiro mandato do presidente Lula nos recomenda cautela e unidade frente à ação desestabilizadora da oposição. Precisamos, por outro lado, cumprir compromissos que assumimos nas eleições passadas. Isso significa fazer o país crescer mais aceleradamente; realizar reformas como a política e a tributária; aumentar os investimentos em infra-estrutura e educação, nas grandes cidades e nas áreas críticas da segurança e da Justiça; aprofundar e consolidar a reforma agrária, avançar na distribuição de renda e riqueza. Nada disso se faz sem contrariar interesses, e sem mobilizar as forças sociais que nos apóiam. Nada será realizado sem enfrentamento com a oposição de direita.

O programa vitorioso nas urnas, especialmente no segundo turno, representa a defesa do governo, mas também um voto pelo aprofundamento e pela aceleração das mudanças estruturais. O período do 3º Congresso Nacional do PT coincidirá com a formação do segundo governo e as tarefas para a implementação de uma política desenvolvimentista. Seguramente, exigirá, de todos nós, capacidade de combinar a disputa interna com o apoio ao governo na implantação desse programa. Tenho dito, e repito, que, da formação de uma maioria, não apenas parlamentar, mas também social, depende a construção de um novo modelo de desenvolvimento, capaz de consolidar uma aliança de caráter nacional, democrático e popular, que fortaleça a soberania nacional, amplie a influência político-cultural dos trabalhadores e faça avançar a consolidação da unidade latino-americana.

É com esse espírito que estou disposto a participar, como militante, da vida partidária. Sem, no entanto, deixar a trincheira da luta política pela minha anistia e pela minha absolvição, e sem abandonar a luta social, na defesa do governo Lula e ao lado daqueles que acreditam ser possível transformar o Brasil.

enviada por Zé Dirceu
http://blogdodirceu.blig.ig.com.br/

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quinta-feira, dezembro 14, 2006

Sobrevivemos satisfatoriamente democráticos e assim vivemos hoje, continuando a nos redemocratizar, nós a nós mesmos




Vá pro tanque, D. Eliane, façavôr. Os tempos de Lula, no Brasil, são complexos demais pro seu DES-jornalismo de lambança __________________________________________

Ontem, 13/12/2006, fez 38 anos que foi assinado o Ato Institucional n. 5 (13/12/1968), que ‘legalizou’ o assassinato da democracia brasileira, iniciado em 1964. O AI 5 foi dito ‘esgotado’, e veio a dita ‘Anistia’ à moda Tancredo. Há alguns meses, dia 28/8/2006, fez 28 anos a Lei n. 6.683, chamada “Lei da Anistia”.[1]

Entre o AI 5 e a Anistia passaram-se 10 anos dificílimos. Erra brabamente quem disser que a direita venceu aquela guerra, assim como erra brabamente quem disser que a oposição àquela direita perdeu aquela guerra. Mas parece que se pode dizer, sim, que alguma direita (ainda não perfeitamente identificada nem para ela mesma) derrotou, sim, de fato, todo o Brasil, quando, no início dos anos 80, construiu-se aquela tal de ‘redemocratização’ de araque, cria daquela ‘anistia’ de araque. Os anos anteriores haviam sido anos de guerra, não de convescote.

Mas a ‘redemocratização’, essa, foi puro convescote. De fato, foi tão difícil sobreviver àquela guerra quanto foi (e ainda é) difícil sobreviver àquele convescote. Mas, sim, o Brasil sobreviveu. O melhor de tudo: sobrevivemos satisfatoriamente democráticos e assim vivemos hoje, continuando a nos redemocratizar, nós a nós mesmos, contra tooooooooooooooooooooooooda a mídia de jornalão, sob o governo do presidente Lula.

A opinião pública no Brasil – eterno país sem-jornalismo e sem-universidade democráticos –, conheceu de todas essas missas muito menos que a metade. E, assim como conhecemos dessas missas muito menos que a metade, continuamos ainda meio que desentendidos de nós mesmos, ainda, em pleno século 21. E, em pleno século 21, também continuamos perfeitamente sem jornalismo e sem universidade democráticos. A sobrevivência da democracia, no Brasil, é um fenômeno ainda não explicado. E é claro que nenhum brasileiro sério está à espera de que alguma ‘sociologia’ uspeano-pefelista consiga explicá-la.

Eu, pessoalmente, já não cultivo sequer a ilusão de que a ‘sociologia’ uspeana sequer QUEIRA explicar alguma coisa que interesse mais ao Brasil do que à UDN-PSDB-PFL (e sempre uspeana). Mas, em matéria de democracia, o que importa à democracia é tê-la, muito mais do que explicá-la ou entendê-la. E a tucanaria-uspeana-pefelista, bem francamente, que se dane!

O caso é que, sem nenhuma sociologia que sequer QUEIRA (ou tente) explicar alguma coisa, o lambancismo que tudo confunde, hoje travestido de ‘jornalismo’ no Brasil, já está convertido em meio de vida para todos quantos, entendam ou não entendam de alguma democracia brasileira, só querem, mesmo, é acabá coa raça dela. D. Eliane Cantanhede, se quiser, pode reinvindicar para ela mesma a coroa de “Rainha do Lambancismo Vendido aos Consumidores-Leitores de Jornais (eleitores!) como se Fosse Jornalismo”, no Brasil do presidente Lula.

Sim, sim, eu sei: a disputa será dura. Mas, sim, me parece que D. Eliane Cantanhede, na Folha de S.Paulo, é sempre mais dedicadamente lambancista do que D. Dora Kramer, D. Lucia Hippólito. (Mêo! Ia-me esquecendo da Miriam Leitão! Que lambancista!) O caso é que, de algum modo que não entendemos ainda, ainda há sobreviventes dos golpistas de 64, assim como há sobreviventes da ‘resistência’ daqueles anos, e todos estão ativos na política brasileira.

Todos esses são grupos complexos. Os golpistas de 64 sobreviventes sabem com alguma certeza o que eles não querem (eles não querem ‘comunismo’, por exemplo, seja lá o que for o ‘comunismo’, pra eles, ou o ‘esquerdismo’), mas são totalmente incompetentes para ver claramente o que eles querem e como chegar lá. Sorte, portanto, dos eternos resistentes democráticos, pq nossos inimigos só sabem, deles mesmos, apenas, algumas vagas idéias-gerais, muito primitivas, tipo “farinha pouca, meu pirão primeiro”, “pobre é burro”, “preto é ladrão”, “Daslu é lindo”, “FHC é sociólogo”, “D. Eliane Cantanhede é jornalista” etc.

Nada disso é simples como parece. E, o pior pra eles e o melhor pra nós: nada disso funciona hoje, como funcionava antes. “Farinha pouca, meu pirão primeiro” é muito mais fácil de dizer, do que de fazer. No que dependa de mim, por exemplo, é claro que hoje o negócio é o MEU pirão primeiro, não o deles, e eu vou a luta, e ninguém tasca. Todos já viram que há pobres inteligentíssimos (por exemplo, os que aprendam a rir dos ricos e riam muito, na cara deles, e os que se elejam presidente da República, no Brasil, na Venezuela, na Bolívia, ou em qquer lugar do planeta).

“Preto é ladrão” é coisa que ofende, mas, afinal, já não protege nenhum branco rico; hoje, os brancos ricos já temem, igualmente, e muito, tanto os pretos ladrões quanto muuuuuuuuuuuuuuuuuitos brancos ladrões. “Daslu é lindo” já é frase que nenhum Alckmin atreve-se a dizer em voz alta, de medo de, só por dizer, ser preso por crime de sonegação de impostos e ladroagem generalizada e ter de pagar aquela baita multa.

E “FHC é sociólogo”, afinal, já virou piada-total, ou já está identificado como pura ‘verdade de igrejinha’, daquelas de que até deus duvida, a começar por D. Ruth.

Os que viveram aqueles duros anos, do AI 5 à ‘anistia’, seja num seja no outro campo, e que, então, estavam em luta de vida ou morte, distribuem-se hoje, em 2006, em 4 grupos: (i) os que lembram, querem lembrar e insistem em fazer lembrar aqueles anos; e, de outro lado, em campo ainda diametralmente oposto, em 2006, (ii) os que insistem em tentar obrigar os outros esquecer, ou, no mínimo, a fingir, uns prôs outros, que todos (eles) já esqueceram.

Curiosamente, todos eles vivem conversando uns com os outros, pra demonstrar, precisamente, que NÃO ESQUECERAM. E a Folha de S.Paulo vive de perguntar ao Jarbas Passarinho o que ele diz que esqueceu, mas tá na cara que ele não esqueceu, pq, se esqueceu... pra que entrevistar o cara?! [risos, risos]. Além desses, sempre há, é claro, também, (iii) os perfeitos imbecis de sempre, que, lembrando ou esquecendo, sempre pensam que sabem tudo, porque, esses, afinal, sempre há, feito os Jabores e os Mainardis e as D. Danuza Leão e as Lucia Hippólito e o Jô e D. Eliane, e D. Dora Kramer e o Clóvis Rossi e tal & tal.

Esses três grupos, hoje, ainda convivem, no Brasil – porque são generacionalmente contemporâneos. Estão vivos e ativos na sociedade brasileira, ainda, em 2006, tanto o General Meira Mattos (92 anos) – que está incluído no grupo (i), acima – quanto o deputado Babá, dito ‘trotskista’ (de algum trotskismo que ele, diz ele, teria aprendido da senadora HH, a qual, diz ela, tê-lo-ia aprendido na Bíblia, durante um curso de enfermagem).

Nesses dois extremos, em que habitam personagens já completamente inviáveis para o mundo histórico real, o negócio está sossegadíssimo: o General Meira Mattos ainda sonha com prender-matar-e-arrebentar o deputado Babá, o qual sonha também com prender-matar-e-arrebentar o general Meira Mattos. O general Meira Mattos ainda lembra de tudo, mas já ninguém lembra do general Meira Mattos. E o Babá não sabe, sequer, se há alguma coisa de que ele deveria lembrar, mas ele sesqueceu. Não há, portanto, nenhum risco, em matéria de esquecer ou de lembrar seja lá o que for. Nem há perigo algum de o general conseguir jeito de acabá coa raça do Babá ou de o Babá conseguir jeito de acabá coa raça do general. A boa e bela democracia brasileira, sob o governo do presidente Lula, os mantêm bem afastados um do outro – em perfeita segurança, portanto, seja a deles seja a nossa.

No meio do campo, a tranqüilidade também reina. Os comunistas, é claro, não querem que os seus heróis sejam esquecidos. E, mesmo que esses heróis sejam os mesmíssimos que o general prendeu, matou e arrebentou em 64-68, todos os comunistas deram jeito de lembrar os seus heróis, em 2006, apesar da específica ordem que o general deu, no sentido de que todos esquecessem tuuuuuuuuuuuudo.

De interessante, que, em 2006, cada grupo de heróis comunistas encontrou seus legítimos lembradores. Cada grupo lembrou quem quis e o que quis – e, em vez de uma solenidade emocionante, tivemos duas. Prova disso foram as duas solenidades que lembraram, mês passado, os 37 anos do assassinato, pela ditadura, de Carlos Marighella, fundador da ANL[2] (, emboscado e assassinado dia 4/11/1969, na Al. Casa Branca, em São Paulo)[3]; e, ontem, as solenidades que lembraram os 30 anos da Chacina da Lapa, em que Pedro Pomar e Ângelo Arroyo, militantes comunistas, foram também emboscados e assassinados pela ditadura (17/12/1976)[4].

Três heróis da democracia brasileira, democraticamente festejados, em 2006, aí, nas barbas do general. O PT vive lá os seus problemas, sim, mas nenhum problema do PT é grave. E, afinal, os problemas do PT são do PT, e cabe ao PT resolvê-los. Não fosse o lambancismo da D. Eliane Cantanhede, qualquer criança de escola já teria entendido, pelo menos, essa evidência simples: os problemas do PT NADA TÊM A VER COM OS PROBLEMAS do governo Lula nem – e muito menos – têm a ver com os problemas do Brasil. É o PT que tem de crescer para acompanhar a democracia brasileira – e todos devemos trabalhar para que o PT cresça e acerte-se.

Não fosse lambancista obsessiva, D. Eliane Cantanhede estaria trabalhando, como jornalista, para ajudar o PT a crescer e democratizar-se.

Não. D. Eliane Cantanhede DECIDIU que ela, sozinha, vai ser juíza e carrasco do PT e, isso, mediante o mais empenhado lambancismo, inventando, ela, para o PT, a maior quantidade possível de rolos insanáveis.

Tivéssemos jornalismo e jornalistas, no Brasil, todos poderíamos estar festejando a evidência de que o Brasil vai bem, dentre outros motivos, porque estamos conseguindo sobreviver lindamente até à falta TOTAL de jornalismo democrático.

Essas questões históricas de fundo, esse negócio todo de o que lembrar e o que esquecer, ou de quem ‘pode’ lembrar e quem ‘deve’ esquecer o quê, em cada caso, são sempre complexíssimas, sobretudo se discutidas no calor da hora. Mas não há dúvidas de que temos MUUUUUUUUUUUUUUUUUUITO a festejar, em boa democracia, se se vê que (i) um Jarbas Passarinho manda esquecer tudo; (ii) a Folha de S.Paulo publica a ‘ordem’... e ninguém liga pro que diga nenhum Jarbas Passarinho; e cada comunista faz lá a solenidade que queira fazer e lembra o que queira lembrar; e, entre a ordem de ‘esqueça’ e a solenidade do ‘eu lembro’... ainda reelegemos o presidente Lula.

Tudo isso aí acima me vem à cabeça, hoje, ao ver a TOTAL LAMBANÇA que D. Eliane Cantanhede tentou armar, na ‘coluna’ de hoje[5]. Não sei de onde D. Eliane pode ter tirado a idéia de que ela (lambancista militante) seria autoridade para saber o que é esquerda ou direita, sobretudo abaixo do Equador, em nação pós-colonial, em pleno século 21, em tempos de crise do capitalismo senil.

Quanto a nós, os sobreviventes democráticos de 1964 e 1968... Acho que, enquanto não acharmos meio para dar uma saneada geral no lambancismo que o DES-jornalismo brasileiro e a DES-sociologia tucano-uspeana e pefelista implantaram na opinião pública ao longo dos últimos 40 anos, não saberemos discutir, com alguma consistência, o que, exatamente, o presidente Lula disse, quando ele disse que não é de esquerda.

Se ele pensava na esquerda à Babá, o presidente faz muito bem em não ser de esquerda, e eu tb não sou de esquerda-à-Babá e deusnoslivre desses esquerdismos doença-infantil.

Se ele pensava na esquerda academizada que há no Brasil... que deusnoslivre também dessa esquerda academizada. Se ele pensava na esquerda petista... Bom, essa, o presidente deve conhecer melhor do que eu. Se ele não quer saber dessa esquerda.. eu tendo, aí, mais a concordar do que discordar do presidente Lula.

CONTUDO, Lula defende com unhas e dentes o deputado Aldo Rebelo e, esse sim, é de esquerda, da boa e velha cepa da esquerda leninista que nunca fugiu dos riscos do poder, no poder, para construir o poder dos pobres. Aliás, o nosso presidente da Câmara dos Deputados, deputado comunista, orgulho do Brasil, lá estava, ontem, presente, perfilado e emocionado, na solenidade que marcou os 30 anos da Chacina da Lapa, em que Pedro Pomar e Ângelo Arroyo, militantes comunistas, foram emboscados e assassinados pela ditadura.

Os nossos mortos – os mortos da esquerda brasileira – dependem dos vivos, pra continuarem vivos. Talvez dependam, também, de um metalúrgico. Isso, afinal, só a história dirá. Essa luta está só começando. É possível que, hoje, a atitude mais libertária seja, apenas, qualquer humilde movimento, brotado do coração difuso da multidão, e que vise, apenas a livrar o Brasil do lambancismo dito 'jornalístico' e publicado nos jornalões. Sabe-se lá. Tudo é luta.

Viva o Brasil! LULA É MUITOS.

NOTAS [1] Ler, na íntegra, em http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1979/6683.htm [2] "A Ação Libertadora Nacional (ALN) surgiu como uma dissidência do Partido Comunista Brasileiro (PCB), liderada por Carlos Marighella, que defendia a luta armada contra a ditadura militar. Marighella foi expulso do partido e o comitê estadual em São Paulo rompeu com o PCB formando, em 1967, o Agrupamento Comunista de São Paulo (AC-SP). A dissidência cresceu em vários Estados, constituindo a ALN." (Dos filhos deste solo. N. Miranda e C. Tibúrcio. São Paulo, Fundação Perseu Abramo e Boitempo, 1999, p. 26.) [3] Os que nada saibam sobre isso, aprenderão bastante em http://www.desaparecidospoliticos.org.br/detalhes1.asp?id=85 [4] Os que nada saibam sobre isso, podem informar-se no Portal Vermelho, do PCdoB, em http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=11119 [5] ELIANE CANTANHÊDE, “Evolução da espécie humana”, Folha de S.Paulo, 14/12/2006, p. 2 e na internet em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1412200604.htm

Caia Fittipaldi

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PinoSHIT


Canto Geral
Pablo Neruda

(...) Foi quando as mãos dos chilenos
estenderam os dedos para a pampa,
e com o coração em uníssono
iria chegar a unidade das suas palavras:
quando tu, povo, te preparavas para cantar
uma velha canção onde se misturavam
as lágrimas, a esperança e as dores:
chegou a mão do verdugo
e empapou de sangue a praça! (...)


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No Código Penal Brasileiro



Extorsão

Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa.
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade.
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior.


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Ferro denuncia parcialidade da imprensa

Os principais jornais brasileiros foram parciais na cobertura das eleições presidenciais deste ano. A avaliação é do deputado Fernando Ferro (PT-SP), que sugeriu a realização do seminário "A mídia nas eleições 2006", ocorrido ontem na Câmara. Segundo um estudo apresentado por Ferro durante o evento, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva teve a menor porcentagem de reportagens positivas (21,4%) e a maior percentagem de matérias negativas (65,7%) durante o pleito, enquanto Geraldo Alckmin teve a maior porcentagem positiva (50%) e a menor negativa (16,7%).
Os dados, coletados pelo Observatório Brasileiro de Mídia, referem-se à cobertura dos jornais Folha de S.Paulo, O Estado de São Paulo e O Globo do dia 20 de setembro. Mas, segundo Fernando Ferro, os números demonstram a tendência que orientou todo o processo eleitoral. O petista destacou, no entanto, que atuação da mídia não foi capaz de minar a campanha de Lula à reeleição. "Parece que o povo leu a realidade com uma lente diferente daqueles que produziram a informação", afirmou. O seminário contou com a presença do jornalista Paulo Henrique Amorim, responsável pelo blog Conversa Afiada. Ele também denunciou a parcialidade da imprensa brasileira. "Todos os jornais foram e são contra o presidente Lula. Todas as revistas, com a exceção da Carta Capital, são contra o presidente Lula. Os jornais e a rede Globo trabalharam para derrubar o presidente Lula, da mesma forma como a imprensa agiu para derrubar e matar o presidente Getúlio Vargas; da mesma forma que agiu para derrubar os presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart e o governador Leonel Brizola. Os jornais têm uma inclinação anti-trabalhista que é histórica", afirmou.
Segundo Amorim, a circulação de jornais e revistas caiu nos últimos 10 anos. "O que resta a eles é o poder de gerar crises. É uma força que os jornais não têm em nenhuma outra democracia no mundo", destacou. Ele disse ainda que, com a queda da tiragem, os jornais devem ficar cada vez menos democráticos. "A tendência é que eles comecem a ficar menos pluralistas. À medida em que a circulação cai, diminui a diversidade de opiniões. É a tentativa dos jornais de manter sua clientela", disse.

Paulo Henrique Amorim classificou como "uma praga" a disseminação de colunistas no jornalismo brasileiro. "A figura nefanda do colunismo não existe em lugar nenhum do mundo. O colunista só pode ter a opinião que o dono da empresa aprovar", disse. O jornalista afirmou que a imprensa escrita brasileira "vive uma crise de qualidade". "A qualidade da informação na imprensa brasileira é lastimável, além de não se saber onde começa a notícia e onde começa a opinião. O jornalista perdeu a noção de solidariedade com o próximo. Não existe um único jornalista de origem proletária: é tudo 'mauricinho' de classe média que tem a mesma aspiração do patrão", afirmou.

O diretor de jornalismo do SBT, Luiz Gonzaga Mineiro, também participou do seminário. Ele afirmou que "a mídia perdeu as eleições presidenciais". Ele disse que os jornalistas devem se pautar pelo "bom senso" e evitar a pressão dos veículos de comunicação. "O patrão do jornalista é o bom senso. A pressão que existe na produção do conteúdo não pode interferir na atuação do jornalista. É preciso produzir um conteúdo qualificado."


Greenhalgh propõe "cláusula de consciência" para jornalistas

Os jornalistas brasileiros devem contar com uma "cláusula de consciência", medida para defender os profissionais de imprensa que se recusem a escrever artigos por razões morais. A sugestão foi apresentada nesta quarta-feira pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP). O objetivo da "cláusula de consciência" é impedir que os jornalistas sofram ações disciplinares caso se recusem a escrever, sob pressão de seus superiores ou dos donos das empresas jornalísticas, matérias com as quais não concordem.
Greenhalgh participou da a abertura do seminário "A mídia nas eleições 2006", uma iniciativa das comissões de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática; Direitos Humanos; e Legislação Participativa da Câmara. Defensor de jornais vítimas de censura durante a ditadura militar, o petista disse ter autoridade para questionar a cobertura dispensada aos candidatos nas últimas eleições. "Sou defensor da liberdade de imprensa. Mas basta avaliar o comportamento da mídia nas eleições deste ano para ver que ela tomou partido. Foi uma situação abismal: não há argumentos que expliquem, não há justificativa", afirmou.
O petista disse ter sido prejudicado pela atuação da imprensa na cobertura do chamado caso Celso Daniel. O ex-prefeito petista de Santo André foi assassinado em janeiro de 2002. "Não fui reeleito pelo tratamento eleitoral que se deu ao assunto. Um inquérito da Polícia Civil de São Paulo concluiu, no dia 26 de setembro de 2006, que o assassinato de Celso Daniel se tratava de crime comum, e não de crime político. Mas a mídia só divulgou isso após o segundo turno. Eu pergunto a vocês: se o resultado fosse de que o crime era político, o que teria acontecido neste país a quatro dias das eleições? Seria um escândalo", afirmou.
Luiz Eduardo Greenhalgh criticou ainda a postura dos órgãos de comunicação que tentam evitar o debate sobre a responsabilidade da imprensa. "Se uma morte é provocada pela imprensa, a ressurreição demora uma ou duas décadas para acontecer. Mas, quando você toca neste assunto, a mídia se une para dizer que você é favorável à censura. A imprensa é uma concessão de serviço público, e uma extensão do serviço púbico precisa ter responsabilidade, não pode fazer isso", afirmou.
Schettino criticou o "espetáculo da notícia", perseguido por alguns órgãos de imprensa. "A mídia eletrônica se dedica ao espetáculo da notícia, que mais confunde do que esclarece a sociedade", afirmou. Ele defendeu ainda a aprovação do PL 256/91, da deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que prevê a regulamentação de um artigo da Constituição para garantir a regionalização da produção cultural, artística e jornalística.
Também participou do seminário o jornalista Ricardo Pedreira, assessor de imprensa da Associação Nacional dos Jornais (ANJ). Segundo ele, os veículos trabalharam "da melhor forma" durante a cobertura das eleições. "A ANJ não comenta casos particulares. Casos isolados de mau jornalismo, que certamente ocorreram, não comprometem o plano geral da cobertura", afirmou.

www.informes.org.br - pauta@pt.org.br

Quinta 14/dez/06 - Ano XV - nº 3.645
Fechamento: 13/dez/06 - 21:50

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quarta-feira, dezembro 13, 2006

Conselho Político


Coalizão: Primeira reunião do Conselho Político acontece nesta quarta-feira

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva promove na quarta-feira (13) a primeira reunião do Conselho Político que começou a ser formado após sua reeleição e que tem por objetivo formar um governo de coalizão no segundo mandato.
Compõem o Conselho, por enquanto, dirigentes de oito partidos: PT, PCdoB, PSB, PRB, PMDB, PR, PP e PV. Uma nona agremiação, o PDT, ainda discute internamente se participa ou não da instância.
Segundo anunciou nesta segunda-feira (11) o porta-voz da Presidência da República, jornalista André Singer, serão convidados todos os partidos com os quais o presidente tem conversado nas últimas semanas.
"A primeira reunião é importante porque caracteriza o início do diálogo institucional com os partidos. Será a instalação formal do conselho e a discussão sobre o modo de funcionamento", disse o porta-voz.Como o conselho será um órgão consultivo do presidente da República, Lula poderá convocá-lo quando achar necessário. Seu funcionamento, no entanto, não deve ser sacramentado formalmente com estatuto ou regimento.
O primeiro encontro do conselho foi tema da reunião de coordenação política do governo esta manhã.

Movimentos sociais

Além da reunião do conselho político, na quarta-feira Lula vai se reunir com representantes de movimentos sociais - dando continuidade ao diálogo iniciado no primeiro mandato.
Entre os movimentos estão o MST (Movimento dos Sem-Terra), CUT (Central Única dos Trabalhadores), Força Sindical, UNE (União Nacional dos Estudantes) e Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura).
O objetivo do presidente é reafirmar que as portas continuam abertas nos próximos quatro anos, para que os setores populares levem suas sugestões e reivindicações.

Com agências
http://www.pt.org.br/site/noticias/noticias_int.asp?cod=46800

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NO CONVERSA AFIADA

“CLASSE MÉDIA NÃO PAGA A CONTA DOS POBRES”

A coordenadora do Observatório do Mercado de Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego, Paula Montagner, disse em entrevista a Paulo Henrique Amorim nesta terça-feira, dia 12, que é errado dizer que a classe média paga a conta do crescimento da classe baixa (clique aqui para ouvir).
Segundo ela, o aumento dos salários mais baixos (até três salários mínimos) não provoca uma perda no rendimento da classe média.
“Eu não acredito que a gente tenha uma leitura tão simplificada. Não é o aumento das classes que ganham até três salários mínimos que provoca essa situação. Tem a ver com o tamanho do crescimento econômico”, disse Paula Montagner.
A economista não concorda que haja perda de poder aquisitivo na classe média.
Paula Montagner disse que a média salarial de quem ganhava entre R$ 6,1 mil e R$ 10 mil em 2000 era de R$ 7.726,00 e, em 2005, essa média passou para R$ 7.870,00.
Já a média salarial de quem ganhava entre R$ 3 mil e R$ 6,1 mil em 2000 era de R$ 4.207,00. Em 2005, essa média passou para R$ 4,3 mil.
A economista disse que os dados da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) não mostram que o número de ocupados com renda acima de três salários mínimos caiu. “Nos dados da RAIS a gente tem um crescimento para todas as faixas acima de três salários mínimos”, disse Paula Montagner.
Paula Montagner não aceita a tese da consultoria MB Associados e do jornal Folha de S. Paulo de que nessa faixa acima de três salários mínimos houve uma queda de renda real de 46,3% para a faixa acima de três salários mínimos entre 2001 e 2006 (clique aqui).
“Os nossos dados por faixa salarial não mostram isso”, disse Paula. Segundo ela, todos os segmentos intermediários de renda têm variação positiva. Ou seja, não houve perda e sim ganho salarial.
Paula disse também que 75% dos trabalhadores com vínculo formal são isentos do Imposto de Renda.
Segundo ela há um maior Imposto de Renda, principalmente para as faixas com mais altas rendas. Por isso que o Ministério do Trabalho defende um reajuste da tabela do Imposto de Renda, para que haja uma equidade entre a parte mais alta da contribuição aconteça para os salários de mais alto nível.
Leia a íntegra da entrevista com Paula Montagner:
Paulo Henrique Amorim: Paula, como você deve saber, o jornal Folha de S.Paulo no domingo publicou em manchete, o Jornal Nacional ontem fez uma matéria em cima de uma tese chamada “a renda da classe média cai 46% em seis anos”, a reportagem mostra também que teria havido uma diminuição, uma redução do saldo de ocupados na classe média. A reportagem classifica classe média qualquer um que ganha acima de 3 salários mínimos, cerca de R$ 1.000 por mês. E isso se baseia em um estudo, um comentário quinzenal da MB Associados. Primeira pergunta: o número de trabalhadores da classe média de fato diminuiu?

Paula Montagner: Olha, a gente tem que lembrar que a estrutura ocupacional do Brasil sempre foi uma estrutura ocupacional calcada em pelo menos 60% dos trabalhadores, entre 6-% e 65% estavam em ocupações cuja qualificação era baixa e que pagavam salários inferiores a R$ 1.000. Então, o que a gente vem observando é que no período recente, com a política de valorização do salário mínimo, de fato há mais contratações na base, que é essa base até 3 salários mínimos. A gente passa algo em torno de 61 para 64%, agora, desde 2002, a gente tem mais ou menos 65% dos trabalhadores recebendo até R$ 919, que seria o valor atualizado do salário mínimo no período. Eu chamaria a atenção que nos últimos dois anos, até porque a economia está melhorando o seu desempenho, ela, apesar dos números de contratações, como em todos os países, ocorrer predominantemente na base, já temos algumas indicações de crescimento entre R$ 900 e os R$ 3.000. O que chama a atenção – estou usando dados da Rais – é que não há diminuição do número de trabalhadores, pelo contrário, eu estou olhando uma série histórica que vai pelo menos de 2000 a 2005, o número de trabalhadores absolutos de fato tinham algum decréscimo até 2002, mas de 2002 pra cá esses números já são superiores àqueles que a gente tinha em 2000 e em 1999.

Paulo Henrique Amorim: Isso dos trabalhadores acima de..

Paula Montagner: Acima de R$ 3.000.

Paulo Henrique Amorim: Três salários mínimos?

Paula Montagner: Acima de R$ 3.000, que são 10 salários mínimos, está certo, nos valores de 2005 porque a gente tem que olhar para a estrutura como um todo. A estrutura ocupacional dos trabalhadores com vínculos formalizados vai aparecer na Rais. A gente sabe que há um movimento de formalização crescente do trabalhador, mas uma parte importante do nosso mercado de trabalho é um mercado de trabalho com muita informalidade, que também compõem esse segmento. Agora, os nossos dados no Pnad também sugerem que gradativamente nós estamos recuperando a possibilidade de gerar postos de trabalho com maiores rendimentos. Veja, é um crescimento que não é tão acelerado quanto na base, mas a gente já nota, pelos três anos que a gente pode observar – 2003, 2004 e 2005 – recuperações nos rendimentos médios, no número de ocupados e o que ainda a gente não observa é uma recuperação plena da percentagem de apropriação da base de salários.

Paulo Henrique Amorim: Agora, tem um ponto que eu gostaria de esclarecer. A reportagem da Folha e o estudo da MB Associados diz que “acima de três salários mínimos, o saldo de ocupados diminuiu em 1,9 milhão de pessoas entre 2001 e 2006”. A senhora tem como confirmar isso?

Paula Montagner: Olha, pelos dados da Rais, não. Pelos dados da Pnad, o pouco que eu consegui avaliar dos dados da Pnad, com trabalhadores com renda, também não. Então, eu acho que seria importante esclarecer melhor esses dados, olhar um pouco melhor porque veja: de fato a gente tem uma rotatividade no nosso mercado de trabalho muito elevada e que sempre é em prejuízo para quem tem melhores salários. Não é uma novidade, é uma realidade associada à quantidade de possibilidade de contratações com menores salários no momento que nós tínhamos muita gente desempregada e que podia ser ocupada. Nos resultados que a gente vem observando pela Rais,é que as pessoas que permaneceram ocupadas tiveram aumentos salariais também, não é que é um processo em que todo mundo é demitido e só tem trabalhadores da base. Não, continuamos tendo uma série de trabalhadores que exercem profissões que envolvem de maior qualificação. Acho que é importante chamar atenção de que a nossa economia teve um processo de modernização que ainda está em curso e muitas atividades de supervisão deixaram de ser relevantes, muitas atividades que envolviam, que hoje envolve a informática, substituíram os postos de trabalho que antes eram bem remunerados. Isso não é algo que deva ser considerado completamente extemporâneo ao que acontece em outros países.

Paulo Henrique Amorim: Agora, só para eu não ter nenhuma dúvida: a afirmação de que o número de ocupados na faixa acima de três salários mínimos caiu ou não caiu? Não caiu?

Paula Montagner: Nos dados da Rais, não. Nos dados da Rais a gente tem um crescimento para todas as faixas acima de três salários mínimos. O ponto mais baixo é 2002 e tem crescimento consecutivo – 2003, 2004 e 2005; 2006 a gente ainda não dispõe.

Paulo Henrique Amorim: Agora, a MB Associados fala em dados do Caged, quando ela fala em saldo de ocupados entre admitidos e desligados por faixa de renda de pessoas acima de três salários mínimos. Esse 1.900.000 que teriam sido desocupados são dados do Caged, segundo a MB Associados.

Paula Montagner: É isso que eu to querendo chamar a atenção. Os dados do Caged vai nos falar de pessoas que estão admitidas e demitidas. É uma rotatividade de mais ou menos 10 a 11 milhões a cada ano, com o que estamos aqui analisando. O que acaba acontecendo, se a gente acaba olhando só os dados de admitidos e demitidos a gente imagina que não acontece nada com quem permaneceu ocupado. Quem permaneceu ocupado tem elevação de postos, na sua trajetória profissional, tem aumentos de salários. Quando a gente vai olhar os resultados da Rais, a estrutura dos postos de trabalho, não apenas olhando aquela variação da mobilidade, que é o que o Caged nos permite olhar, esse dado só é possível de ser olhado considerada a Rais, o que parece que o movimento que está ali descrito não ocorreu pelo menos no período de 2000 a 2005. O dado de 2006, a gente sabe que tem um crescimento de contratações de um salário mínimo porque neste ano o salário mínimo conseguiu ter um aumento real muito maior que nos últimos anos, então, tem uma contratação mais elevada com um salário mínimo, mas as indicações dos acordos coletivos sugerem que, para quem permanece no mercado de trabalho, não há uma elevação de salário idêntica ao salário mínimo, mas também está ocorrendo aumentos salariais que ultrapassam a inflação. Então, a gente, não dá pra falar exclusivamente da eliminação dos postos de trabalho e a gente vai observar que nos postos de trabalho tem elevação salarial.

Paulo Henrique Amorim: Então a senhora também não aceitaria a tese da MB Associados e da Folha de S. Paulo de que nesta faixa acima de três mínimos houve queda de renda real entre 2001 e 2006 de 46,3%?

Paula Montagner: Nossos dados por faixa salarial não mostram isso.

Paulo Henrique Amorim: Mostram o quê?

Paula Montagner: Mostram, de 2000 para cá, que, embora na média a gente tenha uma queda nos rendimentos na ordem de 4,2% , isso no conjunto dos empregados, teve um aumento para quem ganha até três mínimos de 4,8%. Mas houve variação positiva em todos os segmentos: são 2% para quem ganha entre 3 e 5 mínimos; 2,7% para quem recebe entre 5 e 10, e mesmo para o segmento superior a 30 há um crescimento de 9,8%. Os crescimentos menores da renda estão constatados na faixa entre 10 e 30 mínimos. Agora estes segmentos já têm renda... para termos uma noção do que estamos comparando: enquanto a renda média de quem recebe até 3 mínimos está na ordem de R$ 530,00, os segmentos entre 20 e 30 mínimos o salário é de R$ 7,.670,00. São ordens de grandeza muito diferenciadas. Se quisermos diminuir a desigualdade de renda são necessárias políticas de apoio para as classes de renda mais baixa, com menos capacidade de negociação, e para a mais alta renda a capacidade de negociação estará limitada ao crescimento econômico. Por isso é tão importante voltar a crescer em taxas maiores, na ordem de 5%, como o governo vem se esforçando para fazer. Isso vai permitir que ganhos sejam incorporados para as empresas, com redistribuição para todos os segmentos.

Paulo Henrique Amorim: Eu gostaria de perguntar o seguinte, se a senhora me permite: se houve uma queda no conjunto de 4,2%, quem é que perdeu?

Paula Montagner: Aparentemente não conseguimos localizar nos nossos dados segmentos que tiveram perdas significativas. Os dados que observamos mostraram um comportamento de queda mais acentuada até 2002 e crescimentos mais acentuados obviamente em 2005 e 2006, que ainda tem crescimento menor. Certamente os segmentos que tiveram maiores perdas são os segmentos até três mínimos. Esta recuperação posterior ocorreu a partir de 2004 e é mais intensa em 2005. Agora, entre 10 e 20 mínimos houve perdas até 2002 e uma recuperação mais tênue entre 2003 e 2005. O crescimento acumulado é de 2,2%. O que é verdadeiro é que o rendimento deles cresce menos. Mas nós falamos aí de patamares médios elevados.

Paulo Henrique Amorim: Claro. Eu posso dizer que a classe média está pagando a conta do crescimento da classe baixa?

Paula Montagner: Eu acho que é uma situação controvertida. Nós temos hoje, se considerar os dados de 2005, 75% dos trabalhadores com vínculo formal estão isentos do Imposto de Renda. Há um maior impulso de renda principalmente para os segmentos de mais altas rendas. Por isso o Ministério do Trabalho tem sempre repartido para que haja um reajuste da tabela do IR de tal modo que a gente mantenha uma certa eqüidade, em que a parte mais alta da contribuição aconteça para os salários de mais alto nível. A gente sabe que há sonegação no nosso país, principalmente daqueles que não têm seu salário controlado na fonte. E essas ‘subdeclarações’ existem nos segmentos de maior renda. Uma parte importante da contribuição seguramente vem dos segmentos assalariados. Mas é uma briga importante, é uma negociação que precisa ser feita para evitar que o custo maior recaia sobre eles, e para aumentar a progressividade dos impostos para que recaiam sobre as grandes empresas, grandes salários e grandes fortunas, não é?

Paulo Henrique Amorim: Claro. Mas a senhora pode dizer – ou não pode - que hoje esse aumento dos salários mais baixos, de até três mínimos, está provocando uma perda da classe média?

Paula Montagner: Eu não acredito que a gente tenha uma leitura tão simplificada. Eu acho que não é o aumento das classes que recebem até três mínimos que provoca essa situação. Acho que tem a ver com o tamanho do crescimento econômico, com uma série de fatores, e principalmente: estamos lidando com diferenciais de salários muito elevados. Estamos lidando com salários até R$ 900,00 e salários que superam R$ 10 mil. São níveis de grandeza muito grandes. Há países em que as diferenças de renda não são desta proporção e a eqüidade é muito melhor. É importante que se valorize o crescimento dos níveis mais baixos de renda para que a gente tenha mais equidade na nossa sociedade. Essa é uma das principais funções da política do mínimo, porque ajuda a equilibrar renda e aumentar o consumo da população que tem maior número e menor apropriação da massa de salários.

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