sábado, novembro 07, 2009

Haja lenço para tanta amargura!

O artista e o homem

Sonia Montenegro - 6 de novembro de 2009
 
No meu entender, está-se dando a Caetano (pessoa) uma importância que ele não tem. Sua importância se resume à sua qualidade de compositor, que vem em decadência já há algum tempo.
 
Caetano (pessoa) é um é um narciso-oportunista.
 
Seu caráter ególatra não carece de maiores comentários. Todo mundo sabe que Caetano “se acha”, e chegou inclusive a afirmar que era mais importante do que o Chico Buarque, o Milton Nascimento e o Gilberto Gil, juntos. Haja pretensão!!!
 
O oportunismo pode ser facilmente visto porque, na época que compôs suas melhores obras, todo mundo era contra a ditadura, o que pareceu ser ideologicamente correto, tanto quanto inúmeros outros exemplos como Nelson Mota, Jô Soares, Carlos Vereza, etc.
 
Já de muito tempo para cá, Caetano vem usando a mesma tática do alcaide Cesar Maia: “falem mal, mas falem de mim”, visando exclusivamente espaço na mídia para não ser esquecido.
 
Segundo Paulo Henrique Amorim, “Antes de trabalhar na Globo, Caetano Veloso dizia que assistia ao jornal nacional não para saber o que aconteceu, mas para saber o que o jornal nacional queria que você pensasse que aconteceu”.
 
Em 4 de outubro de 2002, a colunista do jornal Folha de São Paulo, Mônica Bérgamo divulgou a nota: "Caetano Veloso sempre surpreendendo: declarou voto em Lula (PT-SP) no primeiro turno, e em José Serra (PSDB-SP) no segundo”. Como se pode ver, a coerência de Caetano é muito peculiar.
 
Não é uma questão de cobrar coerência acima de tudo. Como Raul Seixas, eu também prefiro ser uma “metamorfose ambulante”, mas como dizia o grande Paulo Freire: “Mudar sim, mas reconhecer a mudança. Preciso ser coerente com o direito que tenho de mudar”.
 
Mas o problema de Caetano com o governo Lula nesse exato momento, diz respeito a um interesse particular dele: a mudança da Lei Rouanet, e o veto do Ministro da Cultura ao patrocínio de sua turnê, alegando que, por ter grande bilheteria, não precisa de subvenção.
 
Com a recente morte do saudoso Augusto Boal, canais de TV reproduziram antigas entrevistas dele, e assisti uma da época da criação da Lei Rouanet, na qual ele a criticava, e estamos falando de um incontestável defensor das artes.
 
Boal explicava que as empresas escolhiam os espetáculos que iriam financiar, tendo portanto o interesse em escolher artistas de grande sucesso, quando seus anúncios teriam maior visibilidade, e posteriormente se ressarciam de seus gastos, no imposto de renda. Resumo da ópera: faziam propaganda custeada pelo dinheiro da população, em detrimento de grupos de cultura popular.
 
Acabo de receber um texto da jornalista Ana Helena Tavares que demonstra bem o que disse acima: “’O Globo’, além de ignorar mais um prêmio recebido por Lula, tratou de ir mais longe, dando chamada de capa e página interior inteira a Caetano Veloso que, em entrevista ao ‘Estadão’, ‘no sol de quase Dezembro’, resolveu destilar preconceito ao chamar Lula de ‘analfabeto’. Haja lenço para tanta amargura!”.

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