segunda-feira, julho 23, 2007
















O povo que não conhece sua história repete os mesmos erros...
Como Quartéis e Redações Se Articulam Para Derrubar Lula
Mauro Carrara

À beira da Marginal do Tietê, na redação do jornal O Estado de S. Paulo, no sábado, dia 21, um alto hierarca da redação pronunciou a frase, ao fim de uma reunião com os editores:
- O engraxate vai voltar para Garanhuns. E eu acho que não vai ser de avião...

Nessa e em outras redações, a ordem tem sido selecionar TUDO que seja desfavorável ao governo no episódio do acidente da TAM. O clima de pressão e constrangimento tem feito com que vários jornalistas chorem as pitangas no ambiente privado.
O Estadão, por exemplo, controla meticulosamente a inserção de novas matérias em seu site "ão", buscando construir uma imagem de terror e associá-la diretamente ao presidente da República.
Debaixo das informações sobre a tragédia, há uma "enquete" em que se pergunta ao leitor sobre o que "marca" o governo Lula.
É óbvio. Os condoídos, os desesperados e os oportunistas cedem à pulsão de encontrar um culpado e, sobre ele, soltar seus demônios.
A Rede Globo, capitaneando o golpe, deu para desconsiderar o laudo do respeitado Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Colocou na tela a imagem do excêntrico comandante Brosco, aquele que quase se acidentou com o MESMO avião na noite anterior, no mesmo aeroporto.
Brosco disse, conforme desejo de Ali Kamel, que a culpa é da "pista". Livrou a cara da empresa e cuspiu na opinião de outros dezenas de colegas que pousaram, sem problemas, na mesma pista.
Em 31 de Março passado, a Internet recebeu uma chuva de mensagens apócrifas sobre um golpe de estado, levado a efeito para devolver o poder àqueles que o detinham durante o período militar. Nesse dias, não por acaso, houve grandes atribulações nos aeroportos.
De lá para cá, recrudesceu a atitude de certos fardados e ex-fardados contra o governo legitimamente eleito. A estratégia tem sido a seguinte:
- Desabilitar, sempre que possível, os sistemas de controle de vôo, de forma a aprofundar o caos aéreo e fornecer munição à imprensa.
- Agir nas áreas estratégicas de informação e controle, provocando ruído nos sistemas de informação do governo. Nos sistemas de investigação, vazar o que for negativo ao governo.
- Atuar na doutrinação intensiva de jovens oficiais, de modo que o novo tenentismo sirva à causa golpista, vide site Ternuma.
Uma fonte me confessou na noite de sábado, dia 21:
- A chance de um problema deste acontecer (pane no Cindacta-4) é de uma em um bilhão, especialmente do modo que foi e no momento em que foi.
Enquanto todos esses fatos ocorrem, há imobilidade total do governo e das forças democráticas. No máximo, há um ou outro que expõe sua indignação no meio digital.
Chegou a hora de se criar uma resistência midiática efetiva, que comece pelo governo. Lula precisa sair da toca, ligar o vídeo e aprender com o falecido Leonel Brizola a encarar a Rede Globo.
As forças democráticas precisam agir, e rapidamente, para divulgar massivamente a informação não contaminada. É preciso haver defesa, enquanto ainda há o que se defender.

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Golpe no Chile

Em 11 de setembro de 1973, há 34 anos, um golpe de Estado realizado pelas classes dominantes chilenas derrubou o governo da Unidade Popular, presidido por Salvador Allende. A ponta de lança do golpe foram as Forças Armadas sob a direção do general Pinochet, que teve o apoio do imperialismo, do governo dos EUA, e foi articulado e financiado pela CIA e pelas transnacionais norte-americanas. E contou também com o apoio dos governos ditatoriais latino-americanos, inclusive o Brasil, associados com o imperialismo norte-americano na "Operação Condor". O aparelho militar-policial do Estado chileno realizou um dos maiores banhos de sangue contra um povo nas últimas décadas na América Latina.
Durante o governo da Unidade Popular, eleito em 1970, intensifica-se a luta de classes no Chile, a luta antiimperialista e a mobilização popular pela reforma agrária e a nacionalização de empresas estrangeiras, como as minas de cobre. Houve uma significativa melhoria nas condições de vida dos trabalhadores, e os interesses econômicos da grande burguesia do país e das empresas imperialistas foram atingidos. Apoiados e incentivados pelo imperialismo norte-americano, as classes dominantes chilenas e as forças políticas reacionárias desencadeiam sabotagens, boicotes (como a conhecida greve dos caminhoneiros financiada pela CIA e transnacionais, como a ITT), gerando desabastecimento de gêneros de primeira necessidade, com intento de amedrontar e colocar a população, principalmente as camadas médias, contra o governo de Allende, com o objetivo de desestabilizá-lo, preparando as condições para o golpe.
A trilogia “A Batalha do Chile”, do cineasta Patricio Guzmán, é um documento histórico com imagens de época que resgata, por um lado, a experiência do governo de Salvador Allende, a crescente organização e mobilização popular, a participação destacada do proletariado e, por outro, toda a orquestração do golpe de Estado, com a cínica manipulação das camadas médias pelas forças mais conservadoras do Chile e pelo imperialismo. O documentário se constitui de uma apaixonada defesa da Unidade Popular, pois segundo Guzmán “O cineasta não é um observador neutro e desapaixonado da realidade. É um participante ativo.” e “No Chile, demoliu-se tão sistematicamente a imagem do governo Allende nos últimos 30 anos que tenho a impressão de que o filme é a única prova de que aquilo existiu”.
FAB suspeita de sabotagem no apagão do Cindacta-4
A Força Aérea Brasileira (FAB) está investigando a possibilidade de ter ocorrido sabotagem no sistema de energia elétrica do Cindacta-4. A sindicância, que deve durar 40 dias, foi aberta porque o comando da Aeronáutica considerou “muito estranho” ter havido uma falha da proporção da ocorrida ontem no sistema de geradores reservas, provocando um apagão - literal, desta vez - durante uma inspeção de rotina.
Os Cindactas de Manaus e de Brasília são os mais resistentes ao enquadramento determinado pela Aeronáutica, que tem sido rígido no tratamento com controladores. Em dezembro, quando houve uma queda no sistema de comunicações no Cindacta-1, em Brasília, paralisando o tráfego aéreo no País, também houve suspeita de sabotagem. Na época, os oficiais não entendiam como um técnico em comunicações poderia ter colocado uma placa de forma errada no sistema, provocando a pane. Depois, foi afastada a hipótese de sabotagem.
O Cindacta-4, por sua vez, foi um dos focos do motim de 30 de março, que paralisou completamente aeroportos do País. O levante fez a Aeronáutica afastar seis sargentos. E o Inquérito Policial-Militar (IPM) que investiga o caso pediu o indiciamento de 20 controladores. Insatisfeitos com o IPM, os militares ameaçaram no início do mês cruzar os braços durante os Jogos Pan-Americanos.
“É uma situação muito estranha. Se esse problema tivesse ocorrido em Curitiba (onde são mínimos os problemas com os controladores), a desconfiança em relação a uma sabotagem seria muito menor”, comentou um oficial. Técnicos e engenheiros foram deslocados para Manaus e estão fazendo uma inspeção.


A BATALHA DO CHILE

Por João Moreira Salles

Existem várias razões para um cineasta se dedicar ao documentário. Uma delas é o desejo de servir de testemunha, de estar presente para mais tarde poder dizer: "Foi assim que aconteceu". Talvez A Batalha do Chile seja o mais importante documentário já realizado na América Latina precisamente pela força do que Patrício Guzmán testemunhou naqueles prodigiosos anos de 1972 e 1973. O resultado é um filme inegavelmente belo, decididamente épico e certamente trágico. A Batalha do Chile cobre o período em que a Guerra Fria chegou às nossas portas. Trata-se da ascensão e queda de Salvador Allende, o presidente socialista que, pela via democrática, tentou implantar um regime marxista no Chile. Divido em três partes, o filme acompanha passo a passo todos os eventos que levaram ao golpe de estado de Augusto Pinochet em 11 de setembro de 1973, o primeiro 11 de setembro sombrio da história. Guzmán filmou tudo, até o último momento. Greves, eleições, passeatas, comitês populares, manobras parlamentares, nacionalização de fábricas e de minas, manifestação de estudantes, desassossego da classe média, articulação militar e golpe de estado - Batalha do Chile mostra o país como um organismo vivo cujas células, todas elas, estão em convulsão. Entre tantas seqüências históricas, o filme de Guzmán traz a cena do câmera que, alvejado por um policial militar, filma a própria morte. Poucos dias depois do golpe, Guzmán foi detido em casa, levado ao Estádio Nacional e ameaçado de fuzilamento. Milagrosamente, foi solto. Já o seu notável cinegrafista, Jorge Müller Silva, foi seqüestrado pela polícia militar e nunca mais foi visto. As latas com o material bruto de Batalha do Chile foram embarcadas clandestinamente num navio e chegaram intactas a Cuba. Dois anos depois, Batalha do Chile estreava nos festivais de cinema. Ganhou quase todos. Na Espanha, o jornal Cambio 16 escreveu: "A Batalha do Chile é o filme mais impressionante exibido em Cannes este ano". Na França, o Le Monde acompanhou: "É a primeira obra de arte a encarnar uma nova forma de analisar a história." O Los Angeles Times concordou: "Um documentário admirável sobre um país que é lançado no caos com a inevitabilidade de uma tragédia grega". E Pauline Kael, a mais influente crítica de cinema dos Estados Unidos, se perguntou: "Como uma equipe de cinco pessoas, algumas delas sem nenhuma experiência prévia, conseguiu produzir uma obra dessa magnitude?" Minha resposta a Pauline Kael: ao longo daqueles anos, a história estava em marcha e havia alguém com a férrea disposição de não desligar a câmera. A Batalha do Chile nunca foi exibido no Brasil. Pela primeira vez, o público brasileiro poderá assistir a um dos grandes filmes políticos da história do cinema.

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