sexta-feira, maio 18, 2007




Michael Moore denuncia desastre da saúde e é perseguido por Bush



Novo filme é sobre os “45 milhões de americanos sem sistema de saúde no país mais rico do mundo”. Michael levou para tratamento em Cuba 10 bombeiros heróis do Marco-Zero que estavam há 5 anos aguardando cuidados médicos nos EUA
No dia 19, no 60º Festival de Cannes, o maior festival de cinema do mundo, Michael Moore está lançando seu novo filme, “Sicko” (“Doente”), sobre o fracasso do sistema de saúde essencialmente privado dos EUA, suas corporações farmacêuticas e a rede de trapaças e propinas. Na foto de divulgação do filme, o estilo provocador e irônico de Moore: “A espera está quase no fim”, em que é visto em um precário consultório médico, ao lado de dois esqueletos. Para Moore, “é uma comédia sobre os quase 45 milhões de pessoas sem sistema de saúde no país mais rico do mundo” – como afirmou em 2006 -, acrescentando que seu trabalho se baseava nos depoimentos de 19 mil pessoas. Mas W. Bush não achou a menor graça – ainda mais quando o cineasta levou a Cuba, onde a assistência médica é universal, para todos, e gratuita, dez bombeiros de Nova Iorque, que ficaram doentes na operação de resgate nos destroços tóxicos das torres gêmeas do World Trade Center, e há cinco anos e meio penavam por atendimento.
É o jeito de Moore levar à discussão um dos maiores problemas que afeta o povo norte-americano. A desvairada privatização do sistema de saúde, o achaque dos monopólios dos remédios, que causam um custo per capita de saúde nos EUA, e um percentual do PIB, muito maior inclusive aos dos demais países imperialistas, onde vingou a implantação de um sistema mais coletivo, como no vizinho Canadá, na Inglaterra, na França, na Alemanha, para não comparar com a assistência médica que vigorou durante décadas nos países socialistas europeus. Situação que piora sempre que o desemprego se agrava nos EUA e mais milhões de pessoas, e suas famílias, perdem os convênios médicos. E o pouco que existe de sistema público é sistematicamente sangrado em favor dos monopólios privados e da máquina de guerra.



“SEM INSULTO”



Sobre o filme, Moore relatou que, no primeiro dia das filmagens, ele se reuniu com sua equipe e alertou: “não vamos insultar a audiência lhe dizendo que o sistema de assistência médica está quebrado. Vamos partir da assunção de que as pessoas sabem isso. Que tipo de filme nós podemos então fazer?”. E eis “Sicko”. Através do secretário do Tesouro, aliás uma indicação da corretora de títulos Goldman Sachs, W.Bush resolveu ameaçar Moore, invocando a “lei” do bloqueio, numa carta que deu o prazo de “vinte dias” para que o cineasta dedure quem foi com ele e outras sandices ao estilo macar-tista. Esse tipo de coisa já tinha sido um fracasso quando Bush tentou chantagear o filme de Moore “Fahrenheit 9/11”, sobre o ataque ao World Trade Center e outros alvos, e sobre as conexões da família Bush. Serviu para criar uma divulgação fantástica, que de outro modo possivelmente teria sido abafada em muito pela mídia. Inclusive o produtor do “Fahrenheit” agradeceu bastante a Bush pelo reforço. E mais - o filme foi o vencedor da Palma de Ouro de Cannes em 2004. Em 2002, ele recebeu um Oscar pelo filme “Tiros em Columbine”, sobre as tragédias dos tiroteios em escolas dos EUA.
Em uma entrevista esta semana, Moore disse que “pela sabedoria convencional, a coisa mais inteligente a ser feita pelo governo Bush seria não dizer nada, ignorar “Sicko” e deixar passar”. Mas, acrescentou, “eles não conseguem ajudar a si mesmos, eu acho”. “Então alguém deve ter dito na semana passada, ‘hei, vai ser a pré-estréia em Cannes. Nós realmente temos de fazer alguma coisa. Então vamos nos jogar contra ele de verdade e ninguém vai ver o filme’”.



BLOQUEIO



A “lei” do bloqueio é uma excrescência, um atestado da falta de democracia nos EUA e da incapacidade do império de conviver com a soberania alheia, mas um monte de norte-americanos já foi a Cuba e a vida continuou, como o diretor de cinema Oliver Stone. Até o McNamara. Então, a carta do Departamento do Tesouro ao também cineasta Moore não é, senão, gritaria. Moore tomou a precaução de enviar previamente uma carta, em outubro de 2006, que não foi respondida porque não quiseram. Então Moore, sua equipe e seus convidados foram à Ilha e foram muito bem recebidos.
Quanto à ameaça de Bush, uma resposta direta e contundente. “Durante cinco anos e meio, o governo Bush ignorou e negligenciou os heróis de 11 de setembro”, afirmou Moore. “Estes primeiros heróis que trabalharam no resgate foram abandonados à própria sorte, sem cobertura de saúde e nenhum cuidado médico. Eu entendo o porquê do governo Bush investir contra mim - eu tentei ajudar as muitas pessoas que eles se recusaram a ajudar, mas até que George W. Bush passe uma lei determinando que é ilegal ajudar seus conterrâneos, eu não estou infringindo a lei e nada tenho a esconder”, reiterou.
Mas não é apenas a medicina barata, ampla e eficiente de Cuba que Bush e sua máfia temem. Daquele modo engraçado de Moore, também vêm à tona as generosas doações do cartel farmacêutico e do cartel hospitalar para as campanhas de Bush e dos republicanos. Também as drogas que a FDA aprova, baseando-se nos “estudos” dos próprios laboratórios fabricantes, e que depois matam gente e têm de ser proibidas. Os preços na estratosfera dos novos remédios criados. Já em 2004 surgiam as notícias de que as corporações farmacêuticas norte-americanas estavam em pânico, com os rumores de que “vinha aí” um filme do Michael Moore sobre a assistência à saúde nos EUA. Funcionários receberam instruções para evitar dizer qualquer coisa ao cineasta. Pois é. O filme chegou.



ANTONIO PIMENTA



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