O QUE APAVORA OS JORNALISTAS MAIS CAROS DA GLOBO. POR
PAULO NOGUEIRA
por Paulo Nogueira24 de março de 2016
- Sem recursos públicos, como a Globo vai pagar este jornalista?
O que leva jornalistas graduados da Globo a se engajarem tão
ferozmente na tentativa de golpe comandada por sua empresa?
É uma pergunta fascinante, e de resposta complexa.
Existem as razões miseráveis de sempre, mas há mais que
isso. Bajulação, vassalagem e coisas do gênero contam apenas parte da história.
Há um fator provavelmente mais importante que tudo isso:
medo. Pavor.
Jornalistas como Merval, ou Waack, ou Míriam Leitão, para
citar alguns entre tantos, sabem que seu emprego corre enorme risco caso não se
concretize um golpe que mantenha franqueado o acesso irrestrito da Globo aos
cofres públicos.
A Globo tem uma dependência brutal do dinheiro do
contribuinte. Apenas em publicidade de estatais, e estamos falando somente da
tevê, arrecada cerca de 500 milhões de reais por ano.
A Globo sempre se valeu também de empréstimos indecentes do
BNDES. Sua gráfica – um investimento estúpido dos anos 90, quando a internet já
mostrava sua força – foi financiada pelo BNDES.
Na gestão FHC, um aporte do BNDES salvou a empresa da
bancarrota depois de mais um investimento fracassado, este em tevê a cabo.
FHC devia “favores especiais” à Globo – tirar de cena a
amante perigosa, Mírian Dutra, jornalista da emissora. Tivesse Mírian delatado
FHC e provavelmente não teríamos que suportar hoje suas monocórdias e
farisaicas prédicas pseudomoralistas.
Em outra passagem clássica, a Globo construiu o Projac com
dinheiro do antigo banco estadual do Rio, o Banerj. O empréstimo foi pago com
anúncios, o que levou o Pasquim na ocasião a definir Roberto Marinho como o
maior ladrão de bancos da história do Brasil.
Um macaco teria feito a Globo ser o que é, tantas as mamatas
e tamanhos os privilégios. Isto é, desde que o amigo símio estivesse disposto a
vender a alma.
Este fantástico esquema de irrigação de cofres com recursos
públicos depende de um golpe para prosseguir.
É claro que o governo petista, ainda que com formidável
atraso, não vai mais financiar uma empresa que é capaz de tudo para derrubar
uma democracia.
Se Dilma fica até 2018 e Lula se elege por mais quatro anos,
a Globo estará condenada à morte. Ou, na melhor das hipóteses, a uma agonia
parecida com a da Editora Abril.
Não é só o dinheiro público que vai sumir. Fora isso, a Era
Digital fez da mídia que sustenta a Globo, a tevê, um veículo em acentuada
decadência. O que ocorre hoje com a mídia imprensa é o que aguarda a televisão
amanhã.
Inexoravelmente.
Tudo isso posto, como a Globo vai manter sua estrutura obesa
de jornalistas caros, ainda que recorra a esquemas sonegadores como a prática
do PJ?
Não há milagre.
Os maiores salários são os primeiros a ser eliminados quando
a situação definitivamente se complica. A Editora Abril, por exemplo, acaba de demitir
o diretor de redação da Veja, Eurípides Alcântara, depois de dizimar os
redatores-chefes da revista.
Ali Kamel cabe numa Globo bilionária patrocinada pelo
dinheiro público. Mas e numa Globo sem isso e com os anunciantes migrando para
a internet?
Na Inglaterra, a internet já responde por metade do bolo
publicitário. Todas as demais mídias – tevê, jornais, rádios – disputam o
resto.
No Brasil, isso não vai demorar a acontecer.
Os jornalistas mais caros da Globo ficarão inviáveis. (Não
só eles, aliás: os executivos também.)
Um golpe colocaria um presidente amigo, e isso significaria
para a Globo a manutenção da fábrica fácil de fazer dinheiro.
Os jornalistas da Globo sabem que, sem isso, estarão numa
empresa dinossauro em que terminarão demitidos com cartas bonitas de despedida
pelos serviços sujos prestados.
Por isso, sobretudo, se engajam tão dramaticamente na luta
contra a democracia: pela própria sobrevivência profissional.