MARVILHA! Prof.Moniz
Bandeira é querido amigo cá da Vila Vudu,
amizade q muito nos lisonjeia! Grande Moniz
Bandeira! Grande Luis Nassif! (VV, Twitter, 10/3/2016)
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Jornal GGN – Mais
de cinco anos se passaram desde o início dos protestos no Oriente Médio, que
ficaram conhecidos como Primavera Árabe. As revoltas foram desencadeadas contra
presidentes que estavam entre 20 e 40 anos no poder. Mas as condições para os
conflitos tinham motivações sociais: alto desemprego e economias estagnadas.
Terreno ideal para o incentivo norte-americano, estrategista no investimento de
milhões de dólares na disseminação de sua ideologia.
Zine al-Abidine Ben Ali estava há mais de 20
anos no poder da Tunísia, Hosni Mubarak há 30 no Egito, Muammar Khadafi
governou a Líbia por 42 anos, e Bashar al-Assad sucede o governo de 30 anos de
seu pai na Síria, país que até hoje é palco de guerra civil, obrigando ao
deslocamento de boa parte de sua população, agora na condição de refugiados
pelo mundo.
Mas não foi pelo meio bélico que os Estados
Unidos defendeu seus interesses nos países orientais em 2011. A essa outra
forma de "ataque", o estrategista militar norte-americano Thomas
Barnett denominou antecipadamente "sistemas administradores", na
apresentação da Technology, Entertainment, Design (TED) 2005, intitulada
"The Pentagon’s New Map for War & Peace". O "ataque" é
efetivado em países alvos de desestabilização econômica ou social, e ocorre por
meios de comunicação, jornais, ONGs, redes sociais, ativistas, empresários,
organizações.
Se condições similares são encontradas,
atualmente, no Brasil, há quem defenda que não são coincidências.
Para entender como a geopolítica dos Estados
Unidos atua, o GGN conversou com o cientista político Luiz Alberto Moniz
Bandeira, autor de mais de 20 obras, entre elas "A
Segunda Guerra Fria - Geopolítica e dimensão estratégica dos Estados Unidos" (2013, Civilização Brasileira). Aos 80 anos, lança mais um livro
em maio deste ano, "A Desordem Internacional".
"A crise hoje no Brasil é dimensionada
de forma tão absurda como está ocorrendo porque os Estados Unidos não admitem a
emergência de outra potência na América do Sul", afirmou. O pesquisador
trouxe detalhes de como instituições norte-americana trabalham:
"não é somente a CIA. (...) As ONGs,
financiadas pelo dinheiro oficial e semioficial, como a USAID e a National
Endowment for Democracy, atuam comprando jornalistas, treinando ativistas. O
programa da Primavera Árabe foi elaborado, ainda, no tempo de George
Bush", contou.
Para o Prof. Moniz Bandeira, o mesmo está
sendo feito no Brasil.
GGN – Sobre essa nova geopolítica americana
nas guerras nos países árabes, de que maneira que se dava a estratégia de
insuflação, o uso de redes sociais?
Moniz Bandeira – Os Estados Unidos têm como objetivo os neoconservadores.
São eles que hoje compõem o principal segmento do partido republicano, infiltrado
no partido democrata também, porque o [presidente Barack] Obama manteve esses
neoconservadores no seu Departamento de Estado. O objetivo é o domínio
completo, espaço, área de todo o universo. O domínio total.
E é preciso compreender que a crise hoje no
Brasil é dimensionada de forma tão absurda como está ocorrendo, porque os
Estados Unidos não admitem a emergência de outra potência na América do Sul. A
questão básica hoje está na moeda.
A Rússia, assim como a China, estão
empenhados em acabar com a predominância do petrodólar. Criar outro sistema
financeiro internacional. Estão a fazer isso. Estou expondo isso com detalhe no
meu novo livro, que vai sair em maio, A Desordem Internacional.
Os Estados Unidos, quando não podem dominar,
criam um caos. Agora, é preciso compreender que isso não é somente a CIA.
A CIA gasta cerca de 80% do seu orçamento – que aliás, ninguém sabe,
porque além do que há da ação oficial, ela tem empresas, até de agências de
viagens, então tem um dinheiro muito diluído -, mas 80% que gasta do dinheiro
oficial é em operações secretas. Isso já há muito tempo. Ao invés de coletar
inteligência.
Porém, hoje, os Estados Unidos usam outras
instituições. As ONGs, financiadas não só pelo dinheiro oficial e semi-oficial,
como a USAID [United States Agency for International Development] e a NED
[National Endowment for Democracy], comprando jornalistas, treinando ativistas,
pesquisadores. Há programa sobre isso. Esse da Primavera Árabe foi elaborado,
ainda, no tempo de Bush.
Na Ucrânia, os cursos foram dados dentro da
Embaixada dos Estados Unidos. Isso está tudo documentado.
GGN – Que tipo de conteúdo eles davam nesses
cursos?
Moniz Bandeira – O tema é defesa da democracia, combater a corrupção.
São temas que sensibilizam a classe média, mobilizam. Essas instituições não
atuam no vazio. Sempre, claro, as condições existem. No Oriente Médio, há um
desemprego muito grande, as economias estagnadas, desemprego, sobretudo, para os
jovens, que se formam, se educam, mas não encontram emprego.
GGN – Nessa intervenção por meio de ONGs e
ativismo político, todas as pessoas que eram ensinadas ou Organizações tinham
conhecimento ou era uma forma de manipulação não explícita?
Moniz Bandeira – Eles financiam a criação dos jornais e blogs na
internet, e rádios. Uma rádio foi criada em 2009, na Síria, mas funcionava na
Inglaterra, com dinheiro americano. Os Estados Unidos destinaram na Síria, isso
tudo documentado, entre 2005 e 2010 cerca de US$ 12 milhões. O orçamento de
2005 para 2006 foi de US$ 5 milhões.
GGN – A partir de 2002, após o atentado das
Torre Gêmeas, teve a chamada Cooperação Internacional, que juntou o Ministério
Público e as Polícias Federais de todos esses países para combater o crime
organizado. Você chegou a analisar de que maneira os Estados Unidos estão se
valendo disso, também, para as suas estratégias geopolíticas?
Moniz Bandeira – Eles faziam treinamentos
como os militares na Academia do Panamá. Hoje eles não contam mais com os
militares. Depois das ditaduras, eles viram que elas não deram certo. Por um
lado, desmoralizaram os Estados Unidos, por causa dos direitos humanos. Por
outro, os militares, de uma forma ou de outra são patriotas. Eles não estavam
muito para o comunismo, mas não queriam ser submissos aos Estados Unidos. No
Brasil, principalmente, no Peru, e mesmo na Argentina.
Eu tenho uma pesquisa em um dos livros meus
sobre o voto do Brasil desde 1968 até o fim da ditadura. O Brasil votou muito
mais vezes com os países neutros, e a União Soviética, a favor dos Estados
Unidos. Eu tenho isso listado no livro "Brasil – Estados Unidos: a
rivalidade emergente", quando eu estudo o regime militar. Inclusive, não
obstante à custa dos direitos humanos, a Argentina também votou contra.
Eu não tenho dúvida de que no Brasil os
jornais estão sendo subvencionados. De uma forma ou de outra, não sei como, mas
estão. Não posso provar, mas é possível que por trás disso estejam as fundações
de George Soros, que dão dinheiro aos jornalistas. Há jornalistas honestos. Mas
há outros que estão na lista de pagamentos. Muitos desses jornalistas que eu
sei estão nos Conselhos Fiscais de várias empresas estrangeiras. Ganham
dinheiro com isso, escrevem no O Globo e em outros jornais.
Outro dia, o diretor geral da Polícia Federal
declarou que muitos policiais, comissários e outros recebiam dinheiro da CIA
diretamente em suas contas. Este é um conluio que devia acabar.
Por detrás disso tudo, não tenha dúvida que
estão os recursos da USAID, que é um instrumento da National Endowment for
Democracy, e das Fundações, que são várias, dos Soros e outras, por exemplo,
que se opõem a certas construções de hidrelétricas no Brasil. Elas estão a
serviço de empresas alemãs e usam como pretexto, sempre, a proteção da
natureza, meio ambiente. A USAID, onde ela trabalha? Trabalha fora da
embaixada. É uma organização "semi-oficial". A National Endowment for
Democracy é financiada pelo Congresso, mas é também fora, recebe dinheiro do
Congresso americano.
GGN – Se a gente pega a estrutura de poder
dos Estados Unidos, falando da CIA, etc, não tem diferenças de
orientação entre, por exemplo, o FBI, o Departamento de Estado, Departamento de
Justiça?
Moniz Bandeira – Os Estados Unidos é um país muito complexo e
contraditório. Isso está evidente na campanha eleitoral onde Sanders é dado
como progressista, enquanto que, por parte dos republicanos, você vê a
decadência. O Trump, em primeiro lugar, por que? Porque os outros são de Bush
para pior. O Trump é maluco. Porém, a figura é o retrato da situação.
Quando recebi o Doutor Honoris Causa da
Universidade da Bahia, eu disse que uma potência é muito mais perigosa quando
está a perder a hegemonia do que quando constrói o seu império. Quando constrói
o império, ela necessita ser aceita. Mas quando está perdendo...
Como agora, os Estados Unidos não dominam
mais, não têm mais o poder que tinham antes. Eu digo poder, porque, por
exemplo, não influi mais sobre Israel. Os assentamentos continuam, não obstante
a oposição dos EUA. Porque o lobby judaico dos Estados Unidos não deixa.
E o governo de Israel mantém os assentamentos porque, realmente, não admite que
haja dois estados. Isso, ideologicamente, já vem de muitos anos. Os Estados
Unidos querem que todas as ideias sucumbam. *****