O SR. EMILIANO JOSÉ (PT-BA. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, é um prazer estar aqui em uma sessão presidida por V.Exa. Quero, em primeiro lugar, para dar como lido este pronunciamento, situar a nossa posição em defesa da liberdade de expressão no Brasil; em segundo lugar, defender também a democratização das comunicações no Brasil; e, em terceiro lugar, manifestar o nosso repúdio, a nossa profunda indignação com os crimes cometidos pela revista Veja.
Ela não se cansa de cometer crimes, não se cansa de invadir privacidade sem qualquer direito de fazê-lo, não se cansa de invadir. E agora, acompanhando as técnicas de Rupert Murdoch, estácometendo ilegalidades a olhos vistos, como fez nessa última semana com a matéria que publicou.
E não importa a matéria, mas especialmente, Sr. Presidente, os métodos que utilizou para obter essa matéria, métodos nitidamente criminosos, contra a Constituição, contra a lei. Isso de modo nenhum se pode admitir, e a Nação brasileira é quem deve se insurgir contra esse tipo de coisa, como fez a nação inglesa ao se insurgir contra os crimes de Murdoch.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) - A Presidência cumprimenta o nobre Deputado Emiliano José pelo seu pronunciamento, esperando que a matéria objeto de seu discurso seja apreciada pela Casa e, no que diz respeito à publicação aludida, que se façam os reparos necessários.
PRONUNCIAMENTO ENCAMINHADO PELO ORADOR |
O SR. EMILIANO JOSÉ (PT-BA. Pronuncia o seguinte discurso.) - Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, temos dito aqui, Senhor Presidente, da necessidade de caminhar no sentido da democratização da comunicação no Brasil.
E nunca no sentido de converter muitos dos grandes atores midiáticos à democracia, já que vários deles têm uma compreensão já consolidada sobre o Brasil, têm projeto político para o Brasil, e têm uma posição absolutamente contrária ao projeto que desenvolvemos no País desde 2003, que segue agora sob a direção da presidenta Dilma.
Quando falamos em democratização falamos, primeiro, no sentido de regulamentar os artigos da Constituição referentes à comunicação e, segundo, de modo a garantir a emergência das muitas vozes silenciadas país afora.
Temos falado sobre os descaminhos, os erros crassos da imprensa, e os climas artificiais de crise que são montados, face à posição da maioria dos grandes grupos midiáticos.
Repito sempre Paulinho da Viola: tá legal, eu aceito o argumento, mas não me altere o samba tanto assim. Se há tudo o que eu disse acima, há o paroxismo, há o exagero, há o absoluto descaminho, háa mentira, de parte da revista Veja, que eu tenho denominado uma autêntica usina de idéias da extrema-direita.
Não apenas por ser uma usina de idéias da extrema-direita, seria um direito dela ser simplesmente isso. Éque ela se utiliza de todos os meios para tentar atingir o PT e o nosso projeto político. Não ataca ministros à toa o faz na perspectiva de desestabilizar o governo da presidenta Dilma.
E a revista sabe que esse projeto político foi quem seriamente começou a combater a corrupção, com a criação da Controladoria Geral da União. Mas, não adianta argumentar. A revista Veja não ouvirá. Continuará a tentar pautar o resto da mídia, e sempre contra o nosso projeto político.
Só que agora Veja extrapolou. Ultrapassou todos os limites. Flertou com o crime.
Melhor, cometeu crimes. Utilizou-se de meios criminosos na tentativa de desqualificar o ex-ministro e dirigente do PT, José Dirceu. Queria, com a matéria que publica esta semana, desqualificá-lo e condená-lo previamente, sabendo que o processo que o envolve e a outros está próximo de ser julgado.
Tentou invadir o apartamento em que se hospeda num hotel de Brasília, instalou câmeras no hotel para flagrar pessoas que o visitavam, entre outros crimes. A liberdade de imprensa não inclui esse tipo de procedimento. O bom jornalismo não usa o crime. No jornalismo, como, aliás, em nenhuma atividade humana, os fins não justificam os meios, ainda mais quando o fim, o objetivo, não tem nada de nobre, como neste caso.
A revista Veja vai se caracterizando, de modo cada vez mais consistente, como um Rupert Murdoch à brasileira, um Murdoch convertido em partido político, um Murdoch que utiliza quaisquer meios para testar suas hipóteses, para garantir a consecução de suas pautas previamente orientadas, tal e qual o império midiático britânico fazia.
Tanto quanto lá, no entanto, um dia a casa cai, um dia os crimes são descobertos, um dia, digamos assim, a tecnologia murdochiana criminosa vem à tona, como aconteceu agora, no caso de Veja.
Não há nada de mais que um jornal, que uma revista, que uma tevê, tenha posição política. Nada de mais que qualquer órgão de imprensa defenda uma posição política.
Melhor, se defender, devia deixar clara sua posição política, e não escondê-la, como o faz a maior parte de nossa mídia. O que não se admite são práticas antidemocráticas, contrárias à lei, que afrontem a Constituição, que desrespeitem os direitos dos cidadãos, que invadam a sua privacidade sem qualquer permissão legal.
Agora, foi José Dirceu. Amanhã, quem mais? Qualquer cidadão está exposto a isso.
Veja acha-se no direito de agir como se não tivesse que prestar contas a ninguém. Como se estivesse inteiramente acima da Constituição e das leis do País. São necessárias providências enérgicas para punir esse comportamento, punir esses procedimentos, garantir que o Estado de Direito não seja desrespeitado como o foi neste caso.
Trata-se até de resgatar o bom jornalismo. De levar os fatos a sério. De fazer coberturas jornalísticas sem a necessidade de utilizar-se de meios criminosos.
Não vamos sequer lembrar o volume de matérias mentirosas, caluniosas, cheias de invencionices contra o PT uma delas recentemente desmascaradas pelo Wikileaks, aquela que acusava o PT de ter ligações com as FARC da Colômbia e de receber dinheiro da organização.
Não dá para aceitar isso passivamente. Este não é um problema do PT. É um problema da democracia brasileira, que não pode se render a atitudes criminosas por parte de quem quer que seja. Seja quem for. Ninguém pode estar acima da lei, muito menos a revista Veja.
Muito obrigado.
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Viomundo cobre caso Veja
Viomundo
Polícia Federal já está no caso Veja/Hotel Naoum
Viomundo
Paulo Teixeira, deputado federal (PT-SP) e líder do PT na Câmara, repudia jornalismo marrom de Veja: Provocação e delinquência
Viomundo
Escritório de advogados diz que Veja é versão tupiniquim de tablóide inglês
R7
Balaio do Kostcho
Repórter não é Polícia; Imprensa não é Justiça - por Ricardo Kotscho
[Desta vez, repórter e Veja deixaram digitais no crime cometido]
Não tenho procuração para defender o ex-ministro José Dirceu, nem ele precisa disso. Escrevo para defender a minha profissão, tão aviltada ultimamente pela falta de ética de veículos e profissionais dedicados ao vale-tudo de verdadeiras gincanas para destruir reputações e enfraquecer as instituições democráticas.
Convém lembrar que repórter não é Polícia e a Imprensa não é Justiça, e também não deveria se considerar inimputável como as crianças e os índios. Vejam o que aconteceu com Murdoch, o ex-todo-poderoso imperador. Numa democracia, ninguém pode tudo
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Veja, Marilena Chaui e o verdadeiro crime organizado
30 de agosto de 2011 às 12:11
A Fórum que fechamos na noite de ontem por ser comemorativa dos 10 anos da publicação vai trazer as 10 entrevistas mais importantes da história da revista. Entre elas, uma da filósofa Marilena Chaui concedida em 2006, pouco antes da reeleição do presidente Lula.
Num dado momento a entrevista com Chaui se direciona para a questão da violência, da segurança, da criminalidade e a filósofa faz a seguinte ponderação:
“A minha tendência é fazer uma análise da estrutura autoritária hierárquica da sociedade e desvendar em cada aspecto da sociedade brasileira o exercício da violência. Você tem o racismo, o machismo, o preconceito de classe, o preconceito religioso, todas as formas de preconceito, a enorme desigualdade econômica, a exclusão social, política e cultural. Se vier a analisar cada um desses aspectos, vai ver que eles têm como mola propulsora e como núcleo estrutural a violência.”
E depois segue seu discurso indo ainda mais diretamente ao ponto:
“Crime organizado mesmo é aquele do fabricante de armamento, do fabricante da droga, do cara que mora no Morumbi num palácio com guarda na porta e cachorro latindo. Esse é o crime organizado. O crime organizado é o Bush, são as companhias de petróleo, são as companhias de fabricação de arma, isso é o crime organizado. (..) E muito bem organizado, tanto que não é chamado de “crime”.
Ao abrir a Veja desta semana a primeira coisa que me veio à mente foi a entrevista de Chaui.
Qual é o papel da revista Veja na sociedade brasileira? Qual o segmento da sociedade que ela organiza? Quais são os valores que ela defende? Como ela se relaciona com os movimentos que defendem direitos? Que tipo de contribuição ela tem dado ao jornalismo? Que tipo de contribuição ela tem dado para diminuir o crime, o preconceito, a violência…
A revista Veja se tornou um produto organizador de um pensamento de linha autoritária e com contornos fascistas. Organizador de uma visão de mundo onde o vale tudo permite não só instalar câmeras espiãs em corredores de hotéis, como fazer qualquer outra coisa em nome de atingir os objetivos do grupo que representa.
O que Veja faz hoje não tem nada a ver com um jornalismo de direita. Não é também a necessária “voz do contraditório” que fortalece o processo democrático.
O que Veja faz hoje é próprio de grupos organizados. E de grupos que se organizam com interesses bastante cristalinos, cujo fim é a captura do Estado e o amordaçamento da sociedade.
Não basta mais apenas denunciar o jornalismo esgoto de Veja. É preciso impedir que ele se reproduza. É preciso agir da mesma forma como a sociedade inglesa fez com as organizações Murdoch.
A se provar que Veja usou de artifícios criminosos para em tese fazer jornalismo, é hora de exigir na Justiça que o panfleto dos Civita tenha o mesmo destino do News of the World.
Antes que o esquema de Veja sequestre o processo democrático que é tão caro à sociedade brasileira.
http://www.revistaforum.com.br/blog/2011/08/30/veja-marilena-chaui-e-o-verdadeiro-crime-organizado/
Num dado momento a entrevista com Chaui se direciona para a questão da violência, da segurança, da criminalidade e a filósofa faz a seguinte ponderação:
“A minha tendência é fazer uma análise da estrutura autoritária hierárquica da sociedade e desvendar em cada aspecto da sociedade brasileira o exercício da violência. Você tem o racismo, o machismo, o preconceito de classe, o preconceito religioso, todas as formas de preconceito, a enorme desigualdade econômica, a exclusão social, política e cultural. Se vier a analisar cada um desses aspectos, vai ver que eles têm como mola propulsora e como núcleo estrutural a violência.”
E depois segue seu discurso indo ainda mais diretamente ao ponto:
“Crime organizado mesmo é aquele do fabricante de armamento, do fabricante da droga, do cara que mora no Morumbi num palácio com guarda na porta e cachorro latindo. Esse é o crime organizado. O crime organizado é o Bush, são as companhias de petróleo, são as companhias de fabricação de arma, isso é o crime organizado. (..) E muito bem organizado, tanto que não é chamado de “crime”.
Ao abrir a Veja desta semana a primeira coisa que me veio à mente foi a entrevista de Chaui.
Qual é o papel da revista Veja na sociedade brasileira? Qual o segmento da sociedade que ela organiza? Quais são os valores que ela defende? Como ela se relaciona com os movimentos que defendem direitos? Que tipo de contribuição ela tem dado ao jornalismo? Que tipo de contribuição ela tem dado para diminuir o crime, o preconceito, a violência…
A revista Veja se tornou um produto organizador de um pensamento de linha autoritária e com contornos fascistas. Organizador de uma visão de mundo onde o vale tudo permite não só instalar câmeras espiãs em corredores de hotéis, como fazer qualquer outra coisa em nome de atingir os objetivos do grupo que representa.
O que Veja faz hoje não tem nada a ver com um jornalismo de direita. Não é também a necessária “voz do contraditório” que fortalece o processo democrático.
O que Veja faz hoje é próprio de grupos organizados. E de grupos que se organizam com interesses bastante cristalinos, cujo fim é a captura do Estado e o amordaçamento da sociedade.
Não basta mais apenas denunciar o jornalismo esgoto de Veja. É preciso impedir que ele se reproduza. É preciso agir da mesma forma como a sociedade inglesa fez com as organizações Murdoch.
A se provar que Veja usou de artifícios criminosos para em tese fazer jornalismo, é hora de exigir na Justiça que o panfleto dos Civita tenha o mesmo destino do News of the World.
Antes que o esquema de Veja sequestre o processo democrático que é tão caro à sociedade brasileira.
http://www.revistaforum.com.br/blog/2011/08/30/veja-marilena-chaui-e-o-verdadeiro-crime-organizado/