quarta-feira, março 17, 2010

Quem precisa de opinião de Merval ou de William Waack?!




  
 Mesmo incidentes gravissimos, como o bombardeio aereo e o ataque maritimo do navio estadunidense Liberty (08.06.67), matando 34 tripulantes e ferindo 111 outros, nao abalam os apoios ostensivos dos EUA a Israel. Aos navegantes que leem no idioma ingles basta recorrerem a "USA X Israel ship bombing"... Arnaldo C.

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A intransigência de Israel enfurece os militares norte-americanos 


16/3/2010, Jim Lobe, Asia Times Onlinehttp://www.atimes.com/atimes/Middle_East/LC17Ak01.html  
A crise desencadeada pelo anúncio, semana passada, dos planos do governo israelense de construir 1.600 novas casas exclusivas para judeus na parte árabe de Jerusalém, anúncio feito durante visita muito divulgada e fartamente coberta pela imprensa, do vice-presidente Joseph Biden, parece estar-se ampliando muito rapidamente.
Para Michael Oren, embaixador de Israel em Washington e historiador que escreveu muito sobre os laços entre EUA e Israel, tratar-se-ia da “pior crise [bilateral] entre as duas nações em 35 anos”, como disse em teleconferência com outros diplomatas israelenses baseados nos EUA no sábado à noite, segundo vários jornais.
24 horas depois, o poderoso AIPAC (Comitê EUA-Israel de Relações Públicas), que se autodefine como “a mais influente organização de política exterior ativa na colina do Capitólio” distribuiu declaração segundo a qual “a condenação das ações de Israel pelo governo Obama é tema de nossas mais graves preocupações”.
“O governo Obama deve empreender sério esforço para não insistir em exigências feitas publicamente e para não impor prazos a Israel” – diz o AIPAC, cuja declaração foi divulgada pouco depois das 21h do sábado. A hora ajuda a destacar o sentimento de alarme que se estabeleceu entre os apoiadores norte-americanos do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Netanyahu e a secretária de Estado Clinton são esperados no encontro anual da AIPAC nos EUA, no próximo final de semana.
Outras vozes do chamado “lobby israelense” também se apressaram a manifestar-se.
Os editorialistas neoconservadores do Wall Street Journal acusaram o presidente Barack Obama de ter deliberadamente “escolhido esse momento para disparar uma grave crise diplomática com seu mais confiável aliado no Oriente Médio”. E alertaram que os israelenses estarão mais predispostos a atacar unilateralmente o Irã, “se sentirem que o governo dos EUA está em busca de qualquer pretexto para deteriorar as relações com Israel”.
Ao mesmo tempo, o Israel Project mobilizou seus membros para que escrevessem a deputados, senadores e jornais exigindo que o governo Obama – nos termos de uma das cartas recebidas pelo Inter Press Service, "RECUEM JÁ!!!" Os Sionistas Cristãos, inclusive o ex-candidato republicano à presidência Gary Bauer, também se uniram à mesma onda.
Mas o governo Obama parecia determinado, na 2a.-feira, a não ceder. O portavoz do Departamento de Estado Philip Crowley disse a jornalistas que Washington está esperando “uma resposta formal do governo de Israel” às exigências que a secretária Clinton apresentou diretamente a Netanyahu durante conversa por telefone que os dois lados descreveram como “tensa”, feita por ordem expressa do presidente Obama e que durou 45 minutos, na 6ª.-feira.
Embora Washington não tenha ainda comentado o conteúdo dessas exigências, o jornal israelense Ha'aretz informou que há três principais exigências: que Israel desminta o anúncio das novas construções em Jerusalém Leste; que ofereça algo “de peso” aos palestinos, como a libertação de prisioneiros; e um arranjo que permita o início de conversações efetivas de paz, com atenção às questões de fundo: o destino dos refugiados palestinos e Jerusalém Leste, além da definição de fronteiras.
Embora Crowley tenha confirmado que o enviado especial de Obama para Israel-Palestina, senador George Mitchell, ainda tenha intenção de viajar à Região essa semana para iniciar as “conversações indiretas” mediadas pelos EUA, com as quais os dois lados haviam concordado há duas semanas, o portavoz não quis indicar data provável para a viagem; em suas palavras, a situação continuaria muito “fluida”.
Netanyahu pediu desculpas a Biden e, pelo que se sabe, também à secretária Clinton pelo mau momento em que ocorreu o anúncio das novas construções, se não, também, pelos próprios planos. Mas não parecia arrependido em encontro com membros de seu Partido Likud, de direita, no Parlamento, na 2ª.-feira.
“As construções em Jerusalém e em outros pontos continuarão do mesmo modo como sempre foram aceitas nos últimos 42 anos”, disse ele, em referência à “anexação” por Israel – jamais reconhecida pelos EUA nem por qualquer outra das potências mundiais – de Jerusalém Leste, depois da guerra de 1967.
Embora a atual crise tenha sido claramente detonada pela coincidência entre a visita de Biden e o anúncio das novas construções exclusivas para judeus – que todos os grandes jornais dos EUA descreveram como “uma bofetada” no vice-presidente e, por extensão, no próprio Obama –, a crise é mais séria, de fato, porque parece ter raízes no que Biden disse privadamente a Netanyahu e a outros altos funcionários israelenses.
 
Segundo matéria publicada no Yediot Ahronoth, jornal de ampla circulação popular em Israel, “Biden advertiu seus anfitriões israelenses de que, dado que as massas populares no mundo muçulmano veem direta conexão entre as ações e políticas de Israel e dos EUA, qualquer decisão sobre construções que agrida os direitos dos palestinos em Jerusalém Leste terá repercussão direta nas condições de segurança dos soldados dos EUA que combatem o terrorismo islâmico”.
"Isso está começando a ficar muito perigoso para nós" – palavras de Biden, segundo o jornal. “O que vocês estão fazendo aqui cria novas ameaças à segurança dos nossos soldados que combatem no Iraque, no Afeganistão e no Paquistão. Criam-se riscos novos para nós e para a paz regional.”
Em importante comentário sobre essas palavras, publicado no blog foreignpolicy.com no sábado, Mark Perry, escritor com notórios contatos nos altos escalões militares, disse que as palavras de Biden ditas privadamente aos altos comandantes israelenses refletem exatamente o pensamento coletivo dos principais comandantes militares dos EUA em todo o Oriente Médio.
Em dezembro, aqueles comandantes foram encarregados pelo general David Petraeus, do Comando Central (CentCom), de apresentar relatórios sobre os impactos que tivesse tido, na percepção dos principais líderes árabes, o fracasso de Washington – que não conseguira qualquer avanço em algum possível acordo de paz entre israelenses e palestinos. Em outras palavras, Petraeus teme que o fracasso de Washington como mediador com vistas à paz entre israelenses e palestinos esteja provocando desgaste grave na imagem e no prestígio dos EUA no Oriente Médio.
Resultado dessa demanda do CentCom foi um briefing entregue em janeiro ao almirante Michael Mullen, presidente do conselho do Estado-maior das forças dos EUA e subsequentemente enviado à Casa Branca.
Esse briefing apresentava, como conclusão, que cresce na Região a convicção de que “os EUA não são capazes de enfrentar Israel; que os membros árabes do CentCom começam a perder a fé nas promessas dos EUA; que a intransigência do governo de Israel no conflito Israel-Palestina está pondo em risco a autoridade dos EUA na Região; e que o próprio Mitchell “é lento demais, velho demais” e “chegou tarde demais”.
Pouco depois, Mullen viajou a Israel – para, segundo os jornais, coordenar a estratégia contra o Irã. – De fato, sua missão foi tentar persuadir os altos escalões militares israelenses da importância, para os EUA, de que os acordos de paz evoluam e cheguem a resultados objetivos, segundo Perry.
O anúncio das novas construções em Jerusalém Leste, semana passada, mostrou que a “missão Mullen” nada conseguira. Então, sempre segundo Perry, o governo respondeu, primeiro, com a condenação pública de Israel, feita pelo vice-presidente; depois, com o telefonema de Clinton a Netanyahu; o gesto de convocar o embaixador Oren; o que o embaixador descreveu como “conversa extremamente dura” com o representante de Clinton James Steinberg; e, agora, com a exigência de “resposta formal” às exigências que Clinton fez a Netanyahu.
Nas palavras de Perry: “Há lobbies importantes e poderosos nos EUA: a Associação Nacional do Rifle, a Associação Médica Americana, o lobby dos advogados, e o ‘lobby israelense’, ok, são poderosíssimos. Mas não há lobby mais poderoso nos EUA, que o lobby dos militares.”
Aí está, provavelmente, a real razão – muito mais importante que qualquer incômodo que cause aos militares dos EUA alguma nova construção em Jerusalém Leste – que levou o embaixador Oren, muito visivelmente preocupado, a dizer aos seus colegas embaixadores que a atual crise é “muito grave” e que “estamos vivendo período muito difícil nessas relações”, como noticiou a imprensa israelense.
O fato de Oren ter-se referido a “desde 1975”, quando o então presidente Gerald Ford ordenou “reavaliação” das relações com Israel, porque os israelenses rejeitaram a proposta dos EUA de paz com o Egito –, reforçou a crescente convicção nos EUA de que será difícil superar essa crise, se Netanyahu não fizer importantes concessões.
Daquela vez, o secretário de Estado era Henry Kissinger e ele defendeu a “reavaliação” das relações com Israel, considerando-a “necessária para evitar radicalização na Região, aumento das tensões e, sobretudo, para evitar uma guerra na qual os EUA seriam envolvidos, pelo menos indiretamente, dadas as circunstâncias internacionais”.
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