terça-feira, junho 12, 2007



RECORDAR É VIVER: PECADOS DA MÍDIA



No dia 28 de setembro de 1970, o general Emilio Garrastazu Médici cassou a concessão da TV Excelsior, emissora que foi líder de audiência nos anos 60 e que apoiou o governo de João Goulart. A Excelsior deu partida às telenovelas na tv brasileira e introduziu um padrão técnico que mais tarde seria copiado pela Globo. Atravessando dificuldades financeiras, a Excelsior teve sua concessão cassada pela ditadura. Depois do dia 28 de setembro de 1970, a programação continuou por mais dois dias em São Paulo e no Rio de Janeiro, até que o Ministério das Comunicações retirou o cristal responsável pelas transmissões. A maioria dos artistas que trabalhava na Excelsior foi para a Globo, que ainda engatinhava nas novelas. Com o fim da Excelsior e a crise da Tupi, a Globo passou a reinar praticamente sozinha. Inútil procurar por um editorial da Globo criticando a cassação da concessão da Excelsior. Aliada da ditadura militar, a empresa aproveitou o episódio para crescer.

A Excelsior chegou a deter 50% da TV Gaúcha de Porto Alegre, em composição com a família Sirotsky. É desnecessário também procurar algum editorial do jornal Zero Hora, da RBS, criticando a cassação da concessão da Excelsior. Fundado em 1964 para substituir o jornal Última Hora, também fechado pelo regime militar, Zero Hora apoiou a ditadura militar, inclusive com editoriais destacando o papel cívico do golpe de 1964. Seguindo os passos da Globo, a RBS lançou as bases para seu império empresarial no sul do país, beneficiando-se de suas relações com o regime militar. Ao final do período da ditadura, a RBS havia se tornado a principal empresa de comunicação da região Sul, em estreita parceria com a Globo.

Escrito por Marco Weissheimer

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Publicado em: 11/06/2007, em "Direto da Redação" (blog do Eliakin Araújo), em http://www.diretodaredacao.com/

A RCTV E O CORREIO DA MANHÃ

A cassação da concessão de funcionamento da emissora de televisão RCTV, de Caracas, em decisão previamente anunciada pelo presidente Hugo Chávez, da Venezuela, provocou enorme impacto na mídia brasileira. A rigor, não há um único e escasso noticiário – principalmente das tevês – que não massacre diariamente os telespectadores com cenas de protestos populares nas ruas da capital venezuelana.

Há 33 anos, porém, no Rio, a morte por inanição do Correio da Manhã (1901-1974), perpetrada maquiavelicamente pelos homens que comandaram o golpe militar desfechado no Brasil em 1964, não teve a menor repercussão.

O grande matutino da Rua Gomes Freire – situado a dois passos do temido DOPS – morreu porque teve a audácia de combater os arbítrios perpetrados pelos militares após a derrubada de João Goulart (1918-1976), que sucedeu Jânio Quadros (1917-1992) na presidência.

A partir de 1965, quando o Correio da Manhã – que apoiara o golpe desfechado pelo Exército – decidiu denunciar censura, prisões, mortes e torturas praticadas pelos militares, o plano de liquidar o matutino começou a ser executado. Primeiro, através de cuidadosa censura de matérias supostamente subversivas. Depois, recolhendo as tiragens do jornal antes que os exemplares chegassem aos caminhões para serem distribuídos.

Quem comandava a apreensão era o ex-zagueiro-direito do Vasco da Gama e da Seleção Brasileira de 1950 Augusto da Costa (1922-2004). Antigo integrante da Polícia Especial de Getúlio Vargas (1882-1954), Augusto só não conseguia prender os jornalistas, que fugiam por uma passagem secreta que os levava à Tribuna da Imprensa, na Rua do Lavradio, jornal ironicamente fundado pelo jornalista Carlos Lacerda (1914-1977), adepto da derrubada de João Goulart.

Mas o Correio da Manhã resistiu heroicamente. Seus exemplares, contrabandeados, chegavam a ser vendidos em Recife por mil cruzeiros, hoje, aproximadamente, cerca de 100 reais. Mas o golpe definitivo veio quando os militares chamaram as agências de publicidade e as proibiram de anunciar no Correio da Manhã. Aí o jornal caiu de joelhos. E Niomar Muniz Sodré (1916-2003) foi obrigada a alugar o título do jornal aos irmãos Alencar – Maurício, Marcello (que seria prefeito do Rio) e Mário – testas de ferro dos empreiteiros que ganhavam obras e mais obras em concorrências surgidas em Brasília.

As matérias da redação tinham que fazer referências elogiosas, por exemplo, à Belém-Brasília, à Ponte Rio-Niterói e outras. Eu estava na redação e testemunhei tudo o que relato. Em 1972, entretanto, as verbas encolheram e em 1974 o jornal, ex-fantástico matutino, concorrente direto do gigantesco Jornal do Brasil (o da Avenida Rio Branco, claro), foi a nocaute. E hoje é um prédio mal aproveitado na Gomes Freire, diante da TV-Educativa. A mídia brasileira insiste em chorar o fim da RCTV, mas não acendeu uma única, escassa e barata vela em homenagem póstuma à morte do Correio da Manhã em 1974.

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