CARTA CAPITAL: MÍDIA SOFREU DUAS DERROTAS
Como queríamos demonstrar
por Redação
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O estrondoso silêncio de sempre acolhe a pesquisa Doxa sobre a atuação da mídia no pleito de 2006. Mas tudo isso coincide com a previsão dos analistas
A imprensa reagiu com o silêncio aos resultados do estudo realizado pelo Laboratório de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião, o Doxa, sobre o desempenho dos meios de comunicação na campanha das eleições presidenciais de 2006. Divulgado por CartaCapital (edição 450), o trabalho focalizou, principalmente, os jornais O Globo, do Rio, e os paulistas Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo. O resultado da avaliação foi “predominantemente negativo para o presidente/candidato Lula” e, tomados em conjunto, os jornais “dedicam mais espaço positivo para Geraldo Alckmin”.
O silêncio, provocado pela constatação de um anti-lulismo que, pela unanimidade, comprometeu a pluralidade “fundamental para a saúde da democracia”, não surpreendeu os autores do trabalho coordenado pelo professor Marcus Figueiredo. O próprio estudo previa, de uma certa maneira, a reação ao registrar que “há uma certa resistência, da parte dos jornalistas, em admitir a legitimidade da análise da mídia”.
CartaCapital colheu depoimentos sobre o trabalho do Doxa. Abaixo, as análises dos cientistas políticos Wanderley Guilherme dos Santos e Marcus Figueiredo, do sociólogo Marcos Coimbra e do antropólogo Otavio Velho.
Wanderley Guilherme dos Santos: “A resposta é tão simples que alguns vão achar simplória. Lula jamais será confiável às elites tradicionais brasileiras e nem mesmo às elites modernas beneficiadas, agora, pela política econômica do governo. Pesquisa como essa sempre provocará controvérsias, pela subjetividade de algumas questões. Não importa. Ela coloca elementos sérios, concretos, sobre o comportamento da imprensa brasileira. Por isso, pensando na imprensa como empresa, é o caso de se perguntar: o que ela ganha com o anti-lulismo? Eu me refiro à relação do risco jornalístico com o benefício do negócio”.
Marcus Figueiredo: “É difícil demonstrar, mas, pela opção sistemática entre um e outro assunto que vai para a primeira página, algo me diz que a elite brasileira não agüenta ver um nordestino retirante, metalúrgico, de esquerda, ser presidente e ter o sucesso político que Lula tem”.
Marcos Coimbra: “A chamada ‘grande imprensa’ sofreu dois tipos de derrota em 2006. A primeira e mais óbvia foi a da imprensa de direita, como a revista Veja. Perder e ganhar, no entanto, é parte do jogo político que ela faz. Na luta ideológica, ela ganha um dia, na defesa das armas de fogo, e perde outro, com a vitória de Lula. Ossos do ofício. A outra derrota começou em 2005 e muitos a sofreram. Perdeu, por exemplo, quem tinha entendido, na época do dito mensalão, ser o santo combate contra o mal. Com ingenuidade angelical, ruborizada pelo ‘escândalo’, muita gente boa entrou nessa, com sinceridade. Outros sabiam perfeitamente que era conversa fiada, mas usaram os episódios para externar velhas simpatias e antipatias. Para muitos, era apenas competição profissional, saber quem dava o maior furo. Uma coisa puxa a outra e, dali a pouco, qualquer jornalista que se prezasse tinha de ter ‘investigado’ alguma falcatrua do PT. A sobrevivência de Lula tornou-se uma afronta para quem achava que a imprensa havia tido papel exemplar em 2005. Assim, jornalistas e veículos, não necessariamente conservadores, acabaram ficando parecidos”.
Otávio Velho: “Creio que o mais importante é constatar mais uma vez, e de forma particularmente bem comprovada, a prepotência da chamada ‘grande imprensa’ na defesa de interesses de classe e de discriminação que se torna especialmente chocante num momento em que tanto se brada contra supostas ameaças à sua liberdade. É urgente partir para uma ampla discussão das condições necessárias para que efetivamente se tenha entre nós uma liberdade de imprensa socialmente responsável, que não reforce e busque legitimar os mecanismos de exclusão já existentes na sociedade. É óbvio que nem todos os jornalistas são prepotentes e irresponsáveis. Creio, portanto, que devem se examinar razões complementares para explicar esse comportamento. Uma hipótese que faço é de que a nossa imprensa (e não só ela) em grande parte opera com uma visão do Brasil e do mundo ultrapassada”.
O silêncio, provocado pela constatação de um anti-lulismo que, pela unanimidade, comprometeu a pluralidade “fundamental para a saúde da democracia”, não surpreendeu os autores do trabalho coordenado pelo professor Marcus Figueiredo. O próprio estudo previa, de uma certa maneira, a reação ao registrar que “há uma certa resistência, da parte dos jornalistas, em admitir a legitimidade da análise da mídia”.
CartaCapital colheu depoimentos sobre o trabalho do Doxa. Abaixo, as análises dos cientistas políticos Wanderley Guilherme dos Santos e Marcus Figueiredo, do sociólogo Marcos Coimbra e do antropólogo Otavio Velho.
Wanderley Guilherme dos Santos: “A resposta é tão simples que alguns vão achar simplória. Lula jamais será confiável às elites tradicionais brasileiras e nem mesmo às elites modernas beneficiadas, agora, pela política econômica do governo. Pesquisa como essa sempre provocará controvérsias, pela subjetividade de algumas questões. Não importa. Ela coloca elementos sérios, concretos, sobre o comportamento da imprensa brasileira. Por isso, pensando na imprensa como empresa, é o caso de se perguntar: o que ela ganha com o anti-lulismo? Eu me refiro à relação do risco jornalístico com o benefício do negócio”.
Marcus Figueiredo: “É difícil demonstrar, mas, pela opção sistemática entre um e outro assunto que vai para a primeira página, algo me diz que a elite brasileira não agüenta ver um nordestino retirante, metalúrgico, de esquerda, ser presidente e ter o sucesso político que Lula tem”.
Marcos Coimbra: “A chamada ‘grande imprensa’ sofreu dois tipos de derrota em 2006. A primeira e mais óbvia foi a da imprensa de direita, como a revista Veja. Perder e ganhar, no entanto, é parte do jogo político que ela faz. Na luta ideológica, ela ganha um dia, na defesa das armas de fogo, e perde outro, com a vitória de Lula. Ossos do ofício. A outra derrota começou em 2005 e muitos a sofreram. Perdeu, por exemplo, quem tinha entendido, na época do dito mensalão, ser o santo combate contra o mal. Com ingenuidade angelical, ruborizada pelo ‘escândalo’, muita gente boa entrou nessa, com sinceridade. Outros sabiam perfeitamente que era conversa fiada, mas usaram os episódios para externar velhas simpatias e antipatias. Para muitos, era apenas competição profissional, saber quem dava o maior furo. Uma coisa puxa a outra e, dali a pouco, qualquer jornalista que se prezasse tinha de ter ‘investigado’ alguma falcatrua do PT. A sobrevivência de Lula tornou-se uma afronta para quem achava que a imprensa havia tido papel exemplar em 2005. Assim, jornalistas e veículos, não necessariamente conservadores, acabaram ficando parecidos”.
Otávio Velho: “Creio que o mais importante é constatar mais uma vez, e de forma particularmente bem comprovada, a prepotência da chamada ‘grande imprensa’ na defesa de interesses de classe e de discriminação que se torna especialmente chocante num momento em que tanto se brada contra supostas ameaças à sua liberdade. É urgente partir para uma ampla discussão das condições necessárias para que efetivamente se tenha entre nós uma liberdade de imprensa socialmente responsável, que não reforce e busque legitimar os mecanismos de exclusão já existentes na sociedade. É óbvio que nem todos os jornalistas são prepotentes e irresponsáveis. Creio, portanto, que devem se examinar razões complementares para explicar esse comportamento. Uma hipótese que faço é de que a nossa imprensa (e não só ela) em grande parte opera com uma visão do Brasil e do mundo ultrapassada”.
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