sábado, junho 02, 2007






Desmascarando a mídia

por Eduardo Guimarães
http://edu.guim.blog.uol.com.br/

Continuam as mentiras da mídia "nacional" sobre o que acontece na Venezuela. O caso da não-renovação da concessão da TV venezuelana RCTV continua sendo deturpado pelos meios de comunicação, mas sobretudo pelas televisões, com destaque para a RCTV brasileira (que designo assim por sua natureza historicamente golpista e pela falsidade das "notícias" que propaga há décadas), a Globo. Apesar da censura que a maior parte da mídia "brasileira" impõe a quem quer que os brasileiros sejam informados de todos os fatos sobre o golpismo da mídia venezuelana, não pretendo desistir tão cedo de desmascarar tanto a daqui quanto a de lá. E como não gosto de fazer afirmações sem provas, reproduzirei, aqui, resultado de uma pesquisa que fiz no arquivo do jornal Folha de São Paulo, o único arquivo de jornal ao qual tenho acesso. As notícias que pincei do arquivo da Folha contam uma história de falsidades, de uma indústria de mentiras que trabalha diuturnamente em sua tentativa vil de desinformar os brasileiros. Contam, também, como foi perpetrado um golpe de Estado e como foi sustentado pelos meios de comunicação venezuelanos, como esse golpe foi desmontado e quais foram os setores da sociedade venezuelana que tramaram a derrubada do presidente constitucional da Venezuela e quais foram os que o reconduziram ao poder num dos momentos mais sublimes da história da humanidade, no qual os desvalidos, humilhados e espoliados de uma nação foram às ruas para restabelecer a democracia. A crônica do golpismo que construo aqui poderia começar em qualquer momento depois da eleição de Hugo Chávez em 1998, mas começarei pelo mês de janeiro de 2002, ano em que a elite venezuelana, respaldada pela SUA mídia, pela mídia "brasileira" e pelas de várias outras partes, estuprou a vontade do povo da Venezuela e seqüestrou o presidente Chávez. Uma das desculpas mais esfarrapadas e abjetas usadas para derrubar Chávez, foi a de que ele já não era mais popular. E o que provaria isso seriam pesquisas de opinião, do mesmo tipo das que estão sendo divulgadas agora para "provar" que a maioria esmagadora dos venezuelanos é contrária à não renovação da concessão pública da RCTV. A partir daqui, você lerá, passo a passo, as "notícias" publicadas pela Folha de São Paulo entre janeiro de 2002 e agosto de 2004. Essas "notícias" davam conta de uma suposta "impopularidade" de Chávez. Pretendo provar que pesquisas foram falsificadas até poucos meses antes do referendo revogatório de 15 de agosto de 2004, quando os golpistas daqui e da Venezuela foram desmascarados.

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Folha de São Paulo, 09/01/2002Origem do texto: DA REDAÇÃO; DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAISEditoria: MUNDO Página: A11"(...) Uma pesquisa realizada em dezembro pelo instituto privado Consultores 21 e divulgada ontem pelo "Nacional" mostra que a popularidade do presidente [Hugo Chávez]está caindo. Segundo a pesquisa, 54% dos entrevistados votariam contra Chávez num plebiscito para revogar o mandato do presidente. Em agosto, apenas 36% apoiavam a idéia (...)"Folha de São Paulo, 24/01/2002Origem do texto: DA REDAÇÃO; DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIASEditoria: MUNDO Página: A10"(...) De acordo com as últimas pesquisas, realizadas em dezembro, Chávez conta com o apoio de apenas 35% dos entrevistados (...)"Folha de São Paulo, 19/02/2002Origem do texto: DA REDAÇÃO; DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAISEditoria: MUNDO Página: A12"(...) Chávez, coronel do Exército que participou de uma tentativa frustrada de golpe militar em 1992, foi eleito presidente em 1998 e assumiu o governo com mais de 90% de aprovação. De acordo com as últimas pesquisas, sua popularidade já caiu abaixo de 30% (...)"Folha de São Paulo, 13/04/2002Origem do texto: DA REDAÇÃOEditoria: MUNDO Página: A15"(...) O apoio popular a Chávez, que chegou a cerca de 90% na época de sua posse para o primeiro mandato, no início de 1999, caiu para menos de 30%, segundo as últimas pesquisas, em razão principalmente da sua incapacidade em cumprir com suas principais promessas eleitorais (...)"Folha de São Paulo, 13/04/2002Origem do texto: ENVIADO ESPECIAL A CARACASEditoria: PRIMEIRA PÁGINA Página: A1Militares depõem Chávez; civil toma posse e dissolve Poderes"Depois de derrubarem na madrugada de ontem Hugo Chávez Frías, 47, os militares venezuelanos empossaram como presidente interino o principal líder empresarial do país, Pedro Carmona Stanga, 60.Carmona dissolveu o Congresso, destituiu todos os membros da Suprema Corte e prometeu convocar em até um ano eleições presidenciais e, em prazo menor, legislativas (...)"Folha de São Paulo, 14/04/2002Origem do texto: DE NOVA YORKEditoria: MUNDO Página: A29" 'Estou maravilhado', diz o economista Jeffrey Sachs (...)"Folha de São Paulo, 14/04/2002Origem do texto: DO ENVIADO ESPECIAL A CARACASEditoria: MUNDO Página: A25Emissoras censuram cenas de protesto "(...) Após apoiarem ostensivamente as manifestações que precipitaram a queda do presidente Hugo Chávez, as principais emissoras privadas de TV da Venezuela fizeram ontem um acordo para não exibir nem mencionar os protestos a favor do presidente deposto.Nove pessoas morreram e 45 ficaram feridas ontem em protestos contra o golpe que derrubou Chávez, segundo o prefeito de Caracas Alfredo Peña, adversário do presidente deposto. Seis delas teriam morrido quando um caminhão esmagou um carro pouco depois de favelados chavistas fecharem a estrada que liga Caracas ao aeroporto Simon Bolívar (...)"Folha de São Paulo, 14/04/2002Origem do texto: DO ENVIADO ESPECIAL A CARACASEditoria: MUNDO Página: A24Ricos festejam queda do presidente "Chuca Taberna de Obregón, 50, mulher de um dos maiores empresários do ramo imobiliário de Caracas, é a típica venezuelana por trás da deposição do presidente Hugo Chávez.Católica fervorosa e descendente de espanhóis, Chuca deixou que suas duas filhas fossem às manifestações de dezembro passado e a da última quinta-feira "desde que levassem celular e se o motorista as levasse e as trouxesse de volta".O ódio de Chuca a Chávez é tamanho que, ao voltar de uma temporada em Miami na última sexta-feira, juntou-se a outros venezuelanos que hostilizaram o ex-chanceler Luis Alfonso Davila no aeroporto Simon Bolívar, nos arredores de Caracas (...)"
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Faço uma pausa na reprodução das reportagens para anunciar que o que você lerá a seguir é um texto histórico que estratagemas que me parecem haver no sistema de busca da Folha dificultaram muito sua localização. O texto, do enviado da Folha à Venezuela para cobrir os desdobramentos do golpe, retrata um momento sublime da democracia. Esse texto sempre me emociona; agora o disponibilizo a vocês. Em seguida, retomo o fluxo de notícias golpistas e mentirosas.
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Folha de São Paulo, 15/04/2002Origem do texto: DO ENVIADO ESPECIAL A CARACASEditoria: MUNDO Página: A9Pobres exigiram volta de 'seu' presidente "Eles desceram dos morros ao redor de Caracas a pé, de bicicleta, em motos e caminhões. Alguns usavam chinelos, outros cruzaram descalços os bairros de classe média que separam seus bairros pobres do palácio presidencial Miraflores. A maioria era mestiça, tinha pele e cabelo de índio. Traziam cartazes e faixas com inscrições como "Devolvam nosso presidente", "Quero ver meu presidente", "Viva a Revolução Bolivariana" e "Chávez não renunciou".Outras faixas traziam ameaças aos que chamam de "ricos", um grupo heterogêneo de cerca de 20% da população formado por trabalhadores de classe média ou empresários que concentraram propriedades e bens de consumo durante o boom do petróleo na Venezuela nos anos 70. Para eles, essas elites tentaram arrancar seu presidente do poder. Uma das inscrições ameaçadoras dizia "Viva Chávez e morte aos porcos esganiçados", numa referência à expressão usada pelo presidente para denominar os endinheirados.Foram se juntando ao redor palácio na manhã de sábado para protestar contra a deposição de Chávez. No início, havia só cem ou 200 deles. Também havia opositores do presidente, mas eles logo saíram. No fim da tarde, quando tropas leais a Chávez tomaram o palácio, eram de 10 mil a 15 mil.Às 22h, quando a multidão quase bloqueava todos os portões de acesso à área interna do palácio, eram dezenas de milhares. Às 2h56 de domingo, quando um helicóptero trouxe o presidente Hugo Chávez, já eram centenas de milhares de pessoas. Era impossível contar. Por questões de segurança, os portões do palácio foram fechados. Ninguém podia sair, ninguém podia entrar.Na área entre a grade de proteção e o palácio, cerca de três mil pessoas dividiam um espaço para 500. Eram soldados leais a Chávez da Guarda Nacional, jornalistas estrangeiros (os locais ficaram com medo de sair por medo de serem hostilizados) e populares.O helicóptero de Chávez pousou atrás do palácio. O presidente veio caminhando, cercado de seguranças. Usava roupas civis, uma camisa azul. Fez um trajeto de 40 metros em quase uma hora.Começaram a cantar a "Glória ao Bravo Povo", hino da Venezuela. Parou para conversar com cada soldado. Não se podia ouvir tudo que dizia, mas o que era possível entender se chocava com o discurso conciliatório que fez oficialmente ao ser reempossado horas depois. "A grande campanha de manipulação acabou e agora precisamos mostrar a eles a seriedade da revolução bolivariana.""Os meios [de comunicação] são a maior corrupção do mundo. É preciso fazer alguma coisa, pois eles funcionam com licenças que são do povo, desse povo que deu uma lição histórica a essa elite. Há dois mundos na Venezuela, o real e o que aparece nas TVs privadas. Hoje o mundo real deu uma lição ao mundo de fantasia."Chávez exibiu seu carisma habitual. Beijou o crucifixo que, segundo ele, manteve sua paz nas 48 horas em que esteve preso. Soldados perguntaram a ele como fora tratado. Contou que, enquanto detido, lavou as próprias cuecas e, em conversas com seus carcereiros, teve uma aula de vida. "Estive detido, mas com companheiros. Refleti muito."Chávez conversou com um radialista colombiano e mandou beijos para o público do lado de fora. Despediu-se e entrou (...)"Folha de São Paulo, 15/04/2002Editoria: MUNDO Página: A8POR QUE CHÁVEZ CAIU"Incapaz de cumprir suas principais promessas de campanha _o combate à corrupção e à pobreza que atinge 70% da população_ Chávez perde popularidade. Dos 90% de apoio que tinha após sua primeira eleição, em 1998, conservava apenas 30%, segundo as últimas pesquisas de opinião"[nota do editor: Apesar de a sociedade venezuelana ter se levantado contra o golpismo da elite, a Folha falava da impopularidade de Chávez no exato momento em que os fatos a desmentiam]Folha de São Paulo, 17/11/2002Origem do texto: DA REDAÇÃOEditoria: MUNDO Página: A21"Anteontem, o Conselho Nacional Eleitoral decidiu que a proposta feita noinício do mês pela opositora Coordenação Democrática para um referendo, numabaixo-assinado que recolheu 1,5 milhão de assinaturas, é legal. (...) Seessa consulta fosse feita hoje, Chávez seria rechaçado por cerca de 65% dosvenezuelanos, segundo as últimas pesquisas (...)"Folha de São Paulo, 21/11/2002Editoria: MUNDO Página: A17Edição: São Paulo Nov 21, 2002"Pesquisa de opinião do instituto Consultores 21, divulgada ontem, indica que 60% dos venezuelanos votariam pela saída do presidente Hugo Chávez caso houvesse um referendo no país (...)"Folha de São Paulo, 03/12/2002Editoria: MUNDO Página: A10"(...) Chávez perdeu apoio popular _segundo as pesquisas, caiu de 90%, logo após aposse, para menos de 30% (...)"Folha de São Paulo, 03/12/2002Editoria: MUNDO Página: A10 Popularidade em queda"(...) Popularidade [de Chávez cai] dos 90% que tinha após a eleição para menos de 30%Folha de São Paulo, 06/12/2002Editoria: MUNDO Página: A12Popularidade em queda"(...) Chávez vê sua popularidade cair dos 90% que tinha após a eleição de 1998para menos de 30% (...)"Folha de São Paulo, 08/12/2002Editoria: MUNDO Página: A23Edição: São Paulo Dec 8, 2002Apoio popular"(...) Chávez perdeu apoio popular _segundo as pesquisas, caiu de 90%, logo após aposse, para menos de 30% (...)"Folha de São Paulo, 11/12/2002Origem do texto: DA REDAÇÃO; DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAISEditoria: MUNDO Página: A11"(...) Segundo as pesquisas, cerca de 65% dos venezuelanos votariam contra Chávezem um referendo (...)"Folha de São Paulo, 21/02/2003Editoria: MUNDO Página: A11Popularidade em queda"(...) A aprovação a Chávez cai de 90%, em 1998, para menos de 30% (...)"Folha de São Paulo, 21/08/2003Origem do texto: DA REDAÇÃO; DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAISEditoria: MUNDO Página: A16"(...) Ainda que o referendo ocorra antes do ano que vem, os analistas vêem grandes dificuldades para que a oposição consiga afastá-lo [Chávez], apesar de as pesquisas indicarem que entre 65% e 70% dos venezuelanos rechaçam sua administração (...)"
Folha de São Paulo, 11/03/2004Autor: OTAVIO FRIAS FILHOEditoria: OPINIÃO Página: A2Ditadura em gestação "(...) Pesquisas de opinião indicam hoje que Chávez não é respaldado por mais de um terço da população (...)"Folha de São Paulo, 12/07/2004Origem do texto: DA REDAÇÃO; DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAISEditoria: MUNDO Página: A10"(...) Diversas pesquisas de opinião indicam que Chávez perderá no referendo (...)"Folha de São Paulo, 31/07/2004Origem do texto: DA REDAÇÃO; DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAISEditoria: MUNDO Página: A12"(...) A duas semanas de um plebiscito convocado pela oposição que pode tirar Hugo Chávez do poder, duas pesquisas eleitorais divulgadas ontem mostram que o presidente venezuelano sairia vencedor (...)"
Folha de São Paulo, 09/08/2004Origem do texto: DA REDAÇÃO; DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAISEditoria: MUNDO Página: A8Ato pró-Chávez reúne centenas de milhares "A uma semana da realização do plebiscito sobre a retirada ou não de Hugo Chávez do poder, Caracas assistiu ontem a uma manifestação que reuniu centenas de milhares de pessoas em apoio ao presidente (...)"Folha de São Paulo, 15/08/2004Editoria: OPINIÃO Página: A2A VENEZUELA DECIDE"CERCA DE 14 milhões de venezuelanos estão habilitados para votar hoje no plebiscito que vai decidir o destino do presidente Hugo Chávez. Se a oposição conseguir reunir mais de 3,8 milhões de escrutínios, Chávez deverá deixar o posto, e um novo pleito será convocado para escolher quem concluirá o restante de seu mandato, previsto para acabar em janeiro de 2007.Embora o quadro esteja indefinido, a evolução das pesquisas de intenção de voto sugere que Chávez tem boas chances de conservar-se no poder (...)"Folha de São Paulo, 17/08/2004Origem do texto: ENVIADO ESPECIAL A CARACASEditoria: PRIMEIRA PÁGINA Página: A1Chávez vence plebiscito e fica no poder"(...) O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, venceu o plebiscito de anteontem, convocado pela oposição para abreviar seu mandato. A vitória foi anunciada oficialmente pelo Conselho Nacional Eleitoral.De um total de 94,49% dos votos apurados, Chávez obteve 58,25%, contra 41,74% que votaram a favor de sua saída (...)"

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O que você acaba de ler demonstra, com clareza insuperável, como agem os meios de comunicação latino-americanos. Financiados pelas elites golpistas que deram dezenas de golpes de Estado na história deste continente, e que o atiraram na maior desigualdade de todo o planeta, esses arautos da censura, do autoritarismo e da mentira vociferam a palavra democracia, que em suas bocarras arreganhadas torna-se sacrilégio.

Termino aqui este grito indignado contra os golpistas da elite midiática latino-americana pedindo a todos os que têm ecoado as mentiras deles que reflitam sobre o mal que estão fazendo a este país, à democracia, à verdade e à justiça. Recuperem vossas dignidades! Parém de ajudar os criminosos da mídia!





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