"A rataria rateja em tempo integral"
Em breves 3 minutos, uma gangue de escroques – mais conhecidos pela competência na corrupção, que na administração – jogaram aos cachorros, literalmente, a jovem mas vibrante democracia brasileira.
Sem votos individuais – para que os traidores não fossem nominalmente identificados – o Partido do Movimento Democrático (sic) Brasileiro, PMDB, abandonou a coalizão que apoia a presidenta Dilma Rousseff, aumentando, em tese, as chances de que um processo – kafkeano – de impeachment contra Rousseff venha a ser aprovado em abril.
O PMDB é o maior partido do Brasil, com 69 dos 513 assentos com voto no Parlamento. No curto prazo, o partido estaria contribuindo para que um dos seus, o atual vice-presidente Michel Temer, 75 – advogado constitucionalista, com folha corrida de serviços não precisamente brilhantíssima – assuma a presidência até as próximas eleições em 2018, realizando a mudança de regime dos sonhos dos agentes da Guerra Híbrida no Brasil e seus vassalos e subalternos em geral.
A Constituição brasileira admite a figura do impeachment; mas no caso da presidenta Rousseff jamais se provou qualquer "crime de responsabilidade", exigência da lei para que o impeachment seja acolhido legalmente como possível. A alegada acusação – de que teria havido mau uso de dinheiro público e desvio fiscal – é, do começo ao fim, conversa fiada.[1]
E só piora. Esse processo de mudança de regime/golpe branco correrá paralelamente a um acordo imundíssimo construído para acobertar feitos criminosos do próprio presidente da Câmara de Deputados em Brasília, escroque conhecido, Eduardo Cunha, e impedir que seja destituído por crime de corrupção. Cunha "renunciaria" – sob o pretexto de que o 'novo governo' Temer precisaria articular uma nova maioria no Parlamento.
Tribunal de escroques
Essa nova fase da vasta crise político-econômica do Brasil privilegia a oposição de direita [e extrema-direita], insuflada pela gangue PMDBista, todos dedicados a criar a impressão de que já teriam a maioria qualificada de 2/3 (342 votos) necessária para levar as acusações contra Rousseff ao Senado.
Deve-se esperar massiva PSYOP (Operação Psicológica, no jargão da CIA), pela qual o combo doentio constituído de direita política/mídia-empresas dominantes/velha elite comprador operará para impor à maioria da população a ideia de que "já ganhamos". De fato, ainda não ganharam coisa alguma, porque os tais 342 votos essenciais para que se realize o cenário de mudança de regime/golpe branco absolutamente ainda não existem.
Alguns deputados e senadores do PMDB – diga-se a crédito deles – continuam a apoiar a presidenta Rousseff. E a Polícia Federal já mostrou que vários outros membros do PMDB estão diretamente envolvidos no escândalo massivo na Petrobrás, que está no coração da Operação Car Wash – entre os quais o próprio Temer.
Corrupto conhecido, Cunha, presidente da Câmara de Deputados, já teria de ter sido preso há muito tempo. Nesse caso exemplar de Guerra Híbrida Soft – sobre o qual já escrevi ["Guerra Híbrida no Brasil"], tudo foi armado para derrubar presidenta contra a qual não há nenhuma acusação de qualquer crime ou malfeito: presidenta mulher que não cometeu crime algum, "julgada" por uma gangue de escroques.
Supondo que algum governo Temer que brote do golpe branco/mudança de regime algum dia assuma, a plataforma política já anunciada, e na avaliação de insiders bem informados em Brasília, será a mesma que a atual oposição de direita apresentou às eleições presidenciais e foi fragorosamente derrotada nas eleições presidenciais.
Temer será, no máximo, tampão. Não lhe permitirão concorrer em 2018. Será 'persuadido' a formar equipe ministerial de notáveis direitistas. E nada fará para impedir que a investigação da Operação Car Wash seja dissolvida numa banheira cheia de ácido, porque, afinal, o projeto inicial jamais foi investigar notáveis de direita derrotados em eleições limpas e livres: só os candidatos eleitos do Partido dos Trabalhadores.
Não percam de vista a lata do lixo da história
Se a mudança de regime/golpe branco for bem-sucedido/a, a Operação Car Wash estará desmascarada e exposta, afinal, pelo que realmente é. Esse simulacro tropical das "Mãos Limpas" da Itália nos anos 1990s jamais visou a varrer a corrupção do sistema político brasileiro; qualquer um que se beneficie dela é corrupto até a medula e, pelo golpe, estará assinando seu 'atestado de corrupção'.
A Operação Car Wash foi concebida, isso sim, como incansável máquina de uma Neo-Inquisição, para operar sempre a favor das velhas elites comprador que já celebram o impeachment da presidenta Dilma, plus a sempre sonhada pelos mesmos destruição da aura de Lula, se conseguirem impedir que se candidate às eleições presidenciais de 2018.
Quanto a toda a ação com vistas ao impeachment de Rousseff, repousa integralmente sobre um muito duvidoso procedimento encaminhado por ex-deputado da oposição, o qual – adivinhem –é investigado por crime de corrupção.
Golpes militares são tão Pinochetescos! Nunca será suficiente chamar a atenção de todos para as evidências de que o que se vê acontecer hoje no Brasil é operação de Guerra Híbrida avançada, operação de golpe branco/mudança de regime organizada pelo/no Ministério Público Federal, na/pelas empresas de mídia (no Brasil, a indústria da mídia é monopólio de quatro famílias) e parte significativa do Congresso.
Todas as apostas estão ainda abertas. Os 'mudadores-de-regime' estão nervosos, porque, em situação extremamente fluida, em país paralisado e polarizado, sempre será muito difícil impedir que venham à tona até as mais danosas verdades sobre os golpistas; a rataria rateja em tempo integral; e mais de um mudador-de-regime pode ainda ser descartado como dano colateral não buscado.
E se, por alguma elaborada volta da roda do destino os senadores brasileiros decidirem que Rousseff não cometeu "crime de responsabilidade" – afinal, não há prova alguma de coisa alguma contra ela –, a presidenta voltará ao comando do país. E o 'governo' pressuposto dos 'mudadores-de-regime' será oficialmente despachado para uma fedida lata de lixo da História.*****
[1] Hoje, o próprio Miguel
Reale Jr., que encaminhou o pedido de impeachment da presidenta, já
modificou o próprio discurso e a causa petenti ("causa de pedir"): as chamadas 'pedaladas fiscais', sim, ok, acontecem sempre;
mas "neste governo, seja em 2014, seja 2015, alcançaram valores
extraordinários, por longo tempo". É tolice, repetida e promovida incansavelmente, viciosamente,
pela Rede Globo. Ontem, o senador Lindemberg Faria
desmascarou, no Plenário, a falcatura que há no discurso dos golpistas [NTs].