Os Pré-Cogs estão chegando! Caiu o diploma!
Os Pré-Cogs estão chegando!
Fim da exigência do Diploma de jornalista abre novas formas de lutas pós mídias digitais (Ivana Bentes para Carta Capital)
Finalmente caiu o diploma de jornalista! Em votação histórica no Supremo Tribunal Federal.
O fim da exigência do diploma para se exercer o jornalismo no Brasil (como em tantos paises do mundo inteiro) abre uma série de novas questões e debates sobre o campo da Comunicação pós-midias digitais, bem mais interessantes que o velho muro das lamentações corporativas. Agora, será necessário constituir novos “direitos” para jornalistas e não-jornalistas, free-lancers, blogueiros e midialivristas terão que inventar novas formas de lutas, comuns.
O fim do diploma tira da “invisibilidade” a nova força do capitalismo cognitivo, as centenas e milhares de jovens free-lancers, autônomos, midialivristas, inclusive formados em outras habilitações de Comunicação, que eram impedidos por lei de fazer jornalismo e exercer a profissão e que, ao lado de qualquer jovem formado em Comunicação, constituem hoje os novos produtores simbólicos, a nova força de trabalho “vivo”.
Vamos finalmente sair do piloto automático dos argumentos prontos “de defesa do diploma” que sempre escamotearam alguns pontos decisivos:
1. O fim da exigência de diploma para trabalhar em jornalismo não significa o fim do Ensino Superior em Jornalismo, nem o fim dos Cursos de Comunicação que nunca foram tão valorizados. Outros cursos, extremamente bem sucedidos e disputados no campo da Comunicação (como Publicidade) não tem exigência de diploma para exercer a profissão e são um sucesso com enorme demanda. A qualidade dos cursos e da formação sempre teve a ver diretamente com projetos pedagógicos desengessados, com consistência acadêmica, professores de formação múltipla e aberta, diversidade subjetiva e não com “especificidade” ou exigência corporativa de diploma.
2. As empresas de jornalismo e comunicação são as primeiros a contratarem os jornalistas com formação superior. NA UFRJ, por exemplo, os estudantes de Comunicação e Jornalismo são “caçados” pelas empresas que dão preferência aos formados, com nível superior em Comunicação, por que mudariam?
3. Esse papo de “quem é contra o diploma faz o jogo do patrões”, é uma velha ladainha, repetida no piloto automático da frases feitas. Raciocínio que é bem mais conservador e retrógrado que o próprio discurso das empresas/mercado que precisa empregar quem tem formação de qualidade. Que precisa de profissionais qualificados,capazes de entender os novos ambientes pós-digitais, capazes de fazer redes e de inovar em diferentes campos.
4. Os jornais já burlam a exigência de diploma pagando os MAIORES salários da Redação aos não-jornalistas, cronistas, articulistas, editorialistas, muitos SEM diploma (a exigência de diploma nunca alterou esse quadro!). As Universidades não precisam formar os “peões” diplomados, mas jovens capazes de exercer sua autonomia, liberdade e singularidade, dentro e fora das corporações, não profissionais “para o mercado”, mas capazes de “criar” novos mercados, jornalismo público, pós-corporações.
5. Nada justificava a “excepcionalidade” do diploma para os jornalistas que criou uma “reserva de mercado” para um pequeno grupo e que diminuía a empregabilidade de jovens formados em cinema, rádio e TV, audiovisual, publicidade, produção editorial, etc. proibidos pelo diploma de exercer…..jornalismo.
Até agora, nenhuma entidade corporativa defendeu nem pensou em uma SEGURIDADE NOVA para os free-lancers, os precários, os que não tem e nunca terão carteira assinada. É hora das associações, federações, sindicatos mudarem o discurso do século XIX e entrarem no século XXI buscando uma nova forma de SEGURIDADE PARA OS PRECÁRIOS, OS NÃO DIPLOMADOS, OS MIDIALIVRISTAS, o fim do diploma aponta para essas novas lutas.
O raciocínio corporativo constituiu até hoje uma espécie de “vanguarda da retaguarda”, discurso, fabril, estanque, de defesa da “carteira assinada” e “postos de trabalho “, quando no capitalismo cognitivo, no capitalismo dos fluxos e da informação o que interessa é qualificar não para “postos” ou especialidades (o operário substituível, o salário mais baixo da redação!), mas para CAMPOS DO CONHECIMENTO, para a produção de conhecimento de forma autônoma e livre, não o assujeitamento do assalariado, paradigma do capitalismo fordista.
A idéia de que para ter “direitos” é preciso se ‘assujeitar” a uma relação de patrão/empregado, de “assalariamento”, é uma idéia francamente conservadora!
O precariado cognitivo, os jovens precários das economias criativas estão reinventando as relações de trabalho, os desafios são enormes, a economia pós-Google não é a Globo fordista, não vamos combater as novas assimetrias e desigualdades com discursos e instrumentos da revolução industrial.
Devemos lutar não por cartórios do século XIX, mas pelos novos movimentos sociais de organização e defesa do precariado, lutar pela AUTONOMIA fora das corporações, para novas formas de organização e seguridade do trabalhador livre do PATRÃO E DA CORPORAÇÃO.
A General Motors nos EUA e as fábricas fordistas não vão falir sozinhas, levarão juntos o capitalismo fabril, patronal, corporativo e o arsenal conceitual, os discursos, que não conseguem mais dar conta, nem explicar, as mudanças.
Acabou o diploma de Jornalismo, mas o diploma/formação de Comunicação nunca foi tão importante! Vamos agora pensar o jornalismo público, o jornalismo do comum! E, antes que eu me esqueça: isso não tem nada a ver com “neoliberalismo”, vamos parar de repetir duas ou três frases clichês!
Existem hoje “revoluções do capitalismo” (titulo do belo livro de Mauricio Lazaratto, inspirado em Antonio Negri e Gilles Deleuze).
Não é a toa que a garotada prefere ir para as Lan Houses ao invés de entrarem para as corporações.
A Comunicação e o jornalismo são importantes demais para serem “exclusivas” de um grupo de “profissionais”. A Comunicação e o jornalismo hoje são um “direito” de todos, que será exercido por qualquer brasileiro, com ou sem diploma.
O capitalismo cognitivo está constituindo um novo processo de acumulação globalizado, que tem como base o conhecimento, as redes sociais, a comunicação, o “trabalho vivo” (Negri. Lazaratto. Cocco), existem, claro, novas formas de exploração e assujeitamento, mas também novas formas de luta!
Adeus ao proletariado fabril, diplomado ou não, viva o precariado cognitivo, os Pré-Cogs que estão chegando e são a base da comunicação, base das tecnologias da informação, base da economia do conhecimento, que alimenta a inovação e as novas lutas.
Viva a formação superior em Comunicação, em Jornalismo, viva as Escola Livres de Jornalismo e as novas dinâmicas mundanas de ensino/aprendizado e trabalho “vivo”.
Ivana Bentes é professora e diretora da Escola de Comunicação da UFRJ, é formada em Comunicação com habilitação em jornalismo, especialização em Filosofia, autodidata em audiovisual e estuda novas mídas on-line. Twitter @ivanabentes
http://www.trezentos.blog.br/?p=1839Lula e a greve dos jornalistas: "mania de status"
publicada terça, 31/03/2009 às 13:44 e atualizado quarta, 01/04/2009 às 19:52 | 8 Comentários
O Sindicato dos Jornalistas de São Paulo acaba de publicar material precioso: um
encarte especial sobre os 30 anos da greve dos jornalistas de São Paulo. Foi a última greve da categoria.
Rubens Marujo, reponsável pela edição, fez um trabalho primoroso: ouviu jornalistas, sindicalistas, donos de jornais.Gente que foi pra porta de jornal fazer piquete, como Ricardo Kotscho. Gente que permaneceu nas redações, e ajudou a produzir os jornais mesmo durante a greve, como Boris Casoy.
Marujo colheu depoimentos de quem considera ter sido a greve de 79 "um desastre", como Alberto Dines (hoje, responsável pelo Observatório da Imprensa). Dines acha que a greve serviu apenas para unir o patronato (que criou naquele momento a ANJ - Associação Nacional de Jornais), e não trouxe benefícios para a categoria.
Juca Kfouri, na época um dos mais ativos no movimento grevista, diz que a greve foi uma "aventura". Apesar de não se arrepender da participação no movimento, acha que o melhor era "não ter feito aquela greve".
Os jornais não deixaram de circular durante a greve, que teve como consequência dezenas de demissõs. Porgramas de TV não deixaram de ir ao ar.
Alguns avaliam que os patrões - ao manter as publicações mesmo com mais da metade da categoria parada - perceberam que as redações estavam inchadas. Partiram para cortes sucessivos, reduzindo os quadros após a greve.Claro que, em muitos casos, as demissões foram retaliação pura e simples.
Lula, há 30 anos:"jornalista tem de começar a se sentir como um trabalhador"
O encarte sobre a histórica greve traz também declarações de Lula sobre os jornalistas. O hoje presidente da República era sindicalista no ABC, e em 1979 compareceu a assembléias dos jornalistas pouco antes da greve.
Veja o que Lula (que hoje diz evitar os jornais pra não sentir "azia") pensava sobre a categoria há 30 anos:
"Jornalista tem de perder a mania de status, tem de começar a se sentir como um trabalhador".
"(...) esse pessoal devia ter consciência do seu papel como jornalista. Se vale a pena ganhar 4 mil, se o salário deveria valer 15, 20 mil. Se vale a pena trabalhar por amor. Isto pra mim é uma bestialidade. Por mais burro que seja um metalúrgico, ele nunca continua trabalhando se encerra o expediente dele (...) e o jornalista por amor trabalha das oito da manhã até meia-noite".
"Será que não há consciência que o dono do Estadão, o dono da Folha, está ganhando aí quatro salárias nas costas dele, que é um só? Então, onde está a consciência que jornalista deveria ter?."
Tudo isso a que Lula se referiu há 30 anos é hoje ainda mais forte. Jornalista não se vê como trabalhador. Muitos acham que esse negócio de reinvindicar é coisa de peão. Eu diria até que, nas últimas décadas essa tendência se acentuou. Ser jornalista virou um símbolo de "status" ainda mais forte do que há 30 anos.
"A Montanha dos Sete Abutres": jornalista pensa que é celebridade
O estudante entra na faculdade com essa idéia na cabeça. Depois, o sujeito encara salário baixo nas redações, condições adversas de trabalho. Mas, o velho modelo segue forte: "não vou brigar, isso não é coisa pra gente como eu".
Os mais antigos, parece, têm mais consciência. Vejam o que diz o Juarez Soares, jornalista esportivo conhecido, que podia se acomodar na condição de "estrela". Ao comentar (no encarte do sindicato) os trinta anos da greve de 79, da qual participou ativamente, Juarez afirma: "jornalista é um tipo metido a intelectual, e intelectual nã faz greve. Quem faz greve e peão. Ainda em tempo: já agora, com muito mais experiência, estou à disposição. Podem contar comigo pra próxima greve".
Em 2006, quando entrei em choque com a direção da TV Globo, por causa da cobertura das eleições, os chefes de Redação queriam que nós, jornalistas, assinássemos um abaixo-assinado defendendo a cobertura da Globo, que fora atacada em reportagem da revista "CartaCapital". Eu e outros colegas nos recusamos a assinar. Fomos minoria ínfima!
Quando saí da TV, alguns dias depois, escrevi uma carta aos colegas, em que tratava de vários pontos. Era uma carta interna que, contra minha vontade, circulou pela internet e tornou-se pública. Nela, eu explicava porque me parecia absurdo defender a posição da empresa num abaixo-asinado:
"Respeito os colegas que assinaram. Alguns assinaram por medo, outros por convicção. Mas, o fato é que foi um abaixo-assinado em defesa da Globo, apresentado por chefes!
Pensem bem. Imaginem a seguinte hipótese: a revista “Quatro Rodas” dá matéria falando mal da suspensão de um carro da Volkswagen, acusando a empresa de deliberadamente não tomar conhecimento dos problemas. Aí, como resposta, os diretores da Volks têm a brilhante idéia de pedir aos metalúrgicos pra assinar um manifesto em defesa da empresa! O que vocês acham? Os metalúrgicos mandariam a direção da fábrica catar coquinho em Berlim!
Aqui, na Globo, muitos preferiram assinar. Por isso, talvez, tenhamos um metalúrgico na Presidência da República, enquanto os jornalistas ficaram falando sozinhos nessa eleição…"
Como diria o Lula, há 30 anos, fazer abaixo-assinado pra defender o patrão é uma "bestialidade". Mas, há muitabgente que age e pensa como se fosse sócia dos Marinho, dos Frias...
Com diz um bom amigo que também saiu da Globo depois das eleições de 2006: "vendo só minha força de trabalho; eles acham que podem comprar meu cérebro, mas esse custa mais caro".
http://www.rodrigovianna.com.br/plenos-poderes/lula-e-a-greve-dos-jornalistas-mania-de-status
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