Os ecos do massacre no Peru e o silêncio sepulcral da mídia |
Mais de 55 indígenas e camponeses mortos à bala. Mais de 225 feridos. Mais de 105 presos. Sob a névoa da repressão, da pólvora e da mordaça, são esses os números do massacre provocado pelas tropas do governo peruano, que abriram fogo com 5 helicópteros contra 5 mil manifestantes da região norte do país, dia 5 de junho, às 5 horas da manhã. Centrais sindicais, movimentos sociais e partidos de oposição se somaram à população da região e exigem a revogação de decretos legislativos enviados ao Congresso como parte da implementação do Tratado de Livre Comércio (TLC) com os Estados Unidos. Conforme denunciam as entidades populares, o governo peruano está de mãos dadas - e atadas - com grandes grupos econômicos nacionais e internacionais, a quem entregou ilegalmente nos últimos anos 44 milhões de hectares, o equivalente a 68% do território amazônico do país. Com cheque em branco para a sua covardia, as tropas não economizaram munição e abriram fogo contra civis desarmados. Muitos deles mulheres, crianças e idosos. Todos eles pobres. Todos eles invisíveis para os grandes meios de comunicação. Apertando o gatilho, inoculadas com o vírus do entreguismo, as forças governamentais investiram ferozmente contra os manifestantes porque não podiam mais ouvir o patriotismo daquela gente, os reclamos contra leis que esquartejam a Amazônia para as transnacionais petroleiras e mineiras, sangrando as riquezas do país e de seu povo para o exterior. Seu chefe não agüentava mais o eco daquelas vozes dizendo não à liberação de formidáveis extensões da floresta à exploração da madeira e de sua rica biodiversidade. Assim, lá do alto, os gendarmes pensavam em resolver a questão, confiantes na impunidade dos anos em que a "globalização" e o "neoliberalismo" ditavam a justiça no Continente suprimindo o direito à vida e à soberania. A magnitude do repúdio popular fez com que a estatal Petroperu - instrumentalizada para repassar os hidrocarbonetos às transnacionais -voltasse atrás e suspendesse temporariamente os serviços do único oleoduto que transporta o petróleo da região até o Pacífico. Multiplicam-se as denúncias contra o consórcio estrangeiro formado pela Pluspetrol (Repsol), Hunt Pipeline Company of Peru (Texas) e SK Corporation (Coréia do Sul), que ali atua, contamina e assassina. A verdade grita, verte sangue e alimenta consciências, apesar das grotescas manipulações e do silêncio sepulcral de boa parte da mídia sobre o fato. A humanidade condena a matança e compara os crimes de Alan Garcia aos de Álvaro Uribe. Com práticas terroristas, ambos aceleram na contramão das mudanças que cobrem de orgulho e de futuro a nossa América. Ser solidários à luta dos povos peruano e colombiano contra seus respectivos desgovernos é contribuir para que o trem da história não descarrilhe em opressão e barbárie. Mais, é permitir que sigam em frente, rumo a uma nova sociedade mais justa e solidária, socialista, com os países libertos de sua condição neocolonial, onde os homens exerçam, criativamente, seu protagonismo. A data é propícia para reflexões. Afinal, foi num 14 de junho (próximo domingo) de 1894 que nasceu José Carlos Mariátegui, um dos maiores pensadores marxistas latino-americanos. É dele a frase "Certamente não queremos que o socialismo na América Latina seja cópia e decalque. Deve ser uma criação heróica. Temos de dar vida, com nossa própria realidade, em nossa própria linguagem, ao socialismo. Eis aqui uma missão digna de uma geração nova". João Felício é secretário nacional Sindical do PT e secretário de Relações Internacionais da CUT ,,, |