A “cobertura” da Folha de ontem sobre o Fórum Social Mundial, que começou ontem em Belém, é uma piada.
A matéria dividia ¾ de página com a publicidade de um cruzeiro, e o centro dela era a marcha de abertura do Fórum, que tradicionalmente abre as atividades do evento. Uma parte era um texto corrido, sobre a marcha (com foto), e outra parte eram drops.
A meta é, visivelmente, desqualificar o Fórum Social Mundial. Para isso, o texto se utiliza de ironias sobre a relação dos(as) participantes do evento com o McDonald’s, sobre ser entoado o hino da Internacional Socialista, sobre a sede da Globo (TV Liberal, no caso da afiliada lá) estar no trajeto da marcha.
Nenhuma palavra sobre as atividades do Fórum, os países representados, os movimentos sociais reunidos, os objetivos da reunião, a atualidade do debate desde 2001.
Entre os drops, um satiriza o fato de a Federação Nacional dos Farmacêuticos ter como “lema” (sic) a idéia de “Palestina livre”. Muito engraçado, não? Totalmente fora da realidade, da conjuntura, da cabeça das pessoas. Por que diabos farmacêuticos(as) deveriam se preocupar com a Palestina??? Só porque está acontecendo uma guerra sanguinária lá? E eles estão no Fórum Social MUNDIAL, não no Fórum Farmacêutico Local? Ora, deveriam, isso sim, se preocupar com medicamentos e substâncias químicas dessas que fazem efeito quando jogadas no corpo das pessoas. Pra quê mais?
Depois, a reportagem destacou que adolescentes estrangeiras (reparem no gênero) compravam frutas típicas no Mercado Ver-o-Peso por até o dobro do valor normal. Também registrou que viu com os próprios olhos uma “visitante” ter sua carteira furtada. Poxa! E em vez de escrever uma matéria dispensável dessas, podia ter ajudado a menina a recuperar a carteira hein! Ok ok... temos que perdoar a reportagem. Devem ter ficado paralisados tamanha surpresa diante de um furto de carteira, algo que sempre lhes pareceu tão distante da realidade.
Mas, pra mim, o pior foi a forma como o jornal tratou a alegria dos participantes do Fórum. Afirma que a marcha de abertura foi uma manifestação “com jeito carnavalesco”. Citou as baterias que tocavam samba, grupos fantasiados de palhaços e o fato de que as pessoas “pulavam”. Era uma tentativa de dizer que a coisa não é séria. Lembrei do Eduardo Galeano:
“Na parede de um botequim de Madri, um cartaz avisa: Proibido cantar. Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro um aviso informa: É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagens. Ou seja: ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca”.
Esse pessoal nos quer, a nós, a esquerda, carrancudos. Nos quer choramingando, rotuláveis, esteriotipáveis. Nos quer com úlceras e gastrites nervosas, nos quer enlouquecendo, nos quer sem amores, sem sorrisos, sem motivos pra festejar. Mas nós os temos. Uma luta que é por justiça, por liberdade, não tem como ser rancorosa. É alegre. E porque a revolução é alegre, eles têm medo de nós. Porque nosso sorriso pode contagiar.
Que bom que Belém estava sorridente naquela tarde. Viva o Fórum Social Mundial!
Alessandra Terribili é vice-presidente do PT São Paulo e integrante da Secretaria Nacional de Mulheres do PT.
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