A chave do esquema
Leandro Colon e Marcelo Rocha
Correio Braziliense
19/8/2008
Intermediário do grupo que fraudava licitações no Senado é flagrado pela Polícia Federal abrindo a porta do gabinete do senador Efraim Morais A investigação da Polícia Federal revela o elo entre as fraudes nas licitações milionárias do Senado e o gabinete do senador Efraim Morais (DEM-PB). O serviço de inteligência da PF flagrou Eduardo Bonifácio Ferreira abrindo, com a própria chave, o gabinete do parlamentar. Oficialmente, ele nunca trabalhou para o senador na Casa.
Ferreira foi denunciado pelo Ministério Público Federal sob a acusação de ter negociado com as empresas Conservo e Ipanema o resultado nas licitações feitas pelo Senado em 2006 para contratação de mão-de-obra terceirizada. De acordo com a investigação, ele se encontrou com os empresários durante o andamento das concorrências. O código das reuniões era “tomar vinho”.
Primeiro-secretário do Senado, Efraim é o responsável pelos contratos da Casa. Ele prorrogou sem licitação até 2009 todos esses serviços suspeitos, que somam R$ 35 milhões. Para os investigadores, Ferreira teria atuado em nome do parlamentar, mas o senador nega. Os relatórios da PF, porém, começam a desvendar esse mistério.
A polícia decidiu seguir os passos de Ferreira em 29 de junho daquele ano, logo após a vitória das empresas para assumir os contratos do Senado. De acordo com relatório do Departamento de Inteligência Policial (DIP) nº 055/06, obtido pelo Correio, Ferreira saiu de casa, na 112 Norte, chegou ao Senado às 11h20, tirou do bolso a chave e abriu uma porta do gabinete 21 da Ala Alexandre Costa, naquela época ocupado por Efraim.
Aceno
Ferreira foi denunciado pelo Ministério Público Federal sob a acusação de ter negociado com as empresas Conservo e Ipanema o resultado nas licitações feitas pelo Senado em 2006 para contratação de mão-de-obra terceirizada. De acordo com a investigação, ele se encontrou com os empresários durante o andamento das concorrências. O código das reuniões era “tomar vinho”.
Primeiro-secretário do Senado, Efraim é o responsável pelos contratos da Casa. Ele prorrogou sem licitação até 2009 todos esses serviços suspeitos, que somam R$ 35 milhões. Para os investigadores, Ferreira teria atuado em nome do parlamentar, mas o senador nega. Os relatórios da PF, porém, começam a desvendar esse mistério.
A polícia decidiu seguir os passos de Ferreira em 29 de junho daquele ano, logo após a vitória das empresas para assumir os contratos do Senado. De acordo com relatório do Departamento de Inteligência Policial (DIP) nº 055/06, obtido pelo Correio, Ferreira saiu de casa, na 112 Norte, chegou ao Senado às 11h20, tirou do bolso a chave e abriu uma porta do gabinete 21 da Ala Alexandre Costa, naquela época ocupado por Efraim.
Aceno
No relato, os policiais não escondem a surpresa. “Na entrada, o alvo (Ferreira), simplesmente, colocou a mão para fora do carro e acenou para o vigilante, este, prontamente, levantou a cancela para a sua entrada sem exigir nenhum tipo de identificação. O alvo entrou e estacionou na parte que fica rente ao gabinete 21 do senador Efraim Morais”, diz o texto, que continua: “O alvo desceu do carro e se deslocou em direção à porta que dá acesso direto do estacionamento ao gabinete 21, tomou umas chaves no bolso, abriu a citada porta e entrou no gabinete”, ressalta.
A PF conclui: “Ou seja, o alvo entrou no estacionamento privativo do Senado Federal, depois entrou no gabinete do senador Efraim Morais”.
O conteúdo da investigação policial compromete o discurso feito pelo primeiro-secretário em 6 de agosto em plenário, quando ele afirmou que não surgiria “nenhum fragmento de informação no contexto da Operação Mão-de-Obra” (leia mais na página 4).
A reportagem tenta localizar o senador desde a sexta-feira passada. A assessoria do parlamentar informou que ele viajou ao Uruguai para participar do Parlamento do Mercosul. Até o fechamento desta edição, não houve qualquer retorno.
Já Eduardo Ferreira foi procurado em sua casa ontem à tarde, mas ele não estava. Foi deixado um recado e nenhuma resposta foi dada. De acordo com o diretor da Secretaria de Comunicação Social do Senado, Helival Rios, ele trabalhou no Senado entre julho de 2004 e junho de 2005 na liderança da minoria, naquela época nas mãos do senador Sérgio Guerra (PSDB-PE). Ou seja, Ferreira não ocupava nenhuma função quando abriu a porta do gabinete de Efraim.
O conteúdo da investigação policial compromete o discurso feito pelo primeiro-secretário em 6 de agosto em plenário, quando ele afirmou que não surgiria “nenhum fragmento de informação no contexto da Operação Mão-de-Obra” (leia mais na página 4).
A reportagem tenta localizar o senador desde a sexta-feira passada. A assessoria do parlamentar informou que ele viajou ao Uruguai para participar do Parlamento do Mercosul. Até o fechamento desta edição, não houve qualquer retorno.
Já Eduardo Ferreira foi procurado em sua casa ontem à tarde, mas ele não estava. Foi deixado um recado e nenhuma resposta foi dada. De acordo com o diretor da Secretaria de Comunicação Social do Senado, Helival Rios, ele trabalhou no Senado entre julho de 2004 e junho de 2005 na liderança da minoria, naquela época nas mãos do senador Sérgio Guerra (PSDB-PE). Ou seja, Ferreira não ocupava nenhuma função quando abriu a porta do gabinete de Efraim.
O senador Sérgio Guerra não se recorda do ex-servidor. Ele alega que as vagas na minoria eram divididas entre PSDB e DEM. Ferreira pode ter sido indicado pelo segundo partido, argumenta o tucano.
A ação da PF
A ação da PF
A Operação Mão-de-Obra foi feita pela PF em 2006 para desmontar uma quadrilha que fraudou concorrências públicas na Esplanada dos Ministérios. Em março deste ano, o Ministério Público Federal denunciou Eduardo Ferreira e os diretores do Senado Dimitrios Hadjinicolaou e Aloysio Brito Vieira por improbidade administrativa, além dos donos das empresas Conservo e Ipanema.
Apesar da denúncia feita pelo MPF, o Senado prorrogou esses contratos até o ano que vem. Ignorou as suspeitas. Após o Correio revelar detalhes e diálogos da investigação, o presidente da Casa, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), anunciou novas concorrências nos próximos meses. Ele promete substituir esses contratos até o fim do ano. Por enquanto, as empresas continuam prestando serviços ao Senado.
Apesar da denúncia feita pelo MPF, o Senado prorrogou esses contratos até o ano que vem. Ignorou as suspeitas. Após o Correio revelar detalhes e diálogos da investigação, o presidente da Casa, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), anunciou novas concorrências nos próximos meses. Ele promete substituir esses contratos até o fim do ano. Por enquanto, as empresas continuam prestando serviços ao Senado.
Cadê o Gabeira?