segunda-feira, agosto 04, 2008

A GRANDE MENTIRA



Quando Robert Stevens tornou-se o primeiro americano morto pelos ataques do Anthrax, em 2001, eu estava em Miami no funeral de meu pai. Stevens trabalhava na National Enquire em Boca Raton, um pouco mais ao norte, mas minha mulher, na Itália, achava que eu estava muito próximo do local. Falando com ela, pelo telefone, eu lhe disse que não tinha o menor perigo, mas ela queria que eu voltasse pra casa o mais cedo possível.


As cartas com anthrax, que tinham sido enviadas pelo correio a dois senadores democratas, a um famoso jornalista da TV e ao National Enquirer, assustaram muita gente nos Estados Unidos. Enviadas apenas duas semanas depois dos atentados de 11 de setembro, elas pareciam confirmar a idéia de que o terrorismo tinha chegado à América para ficar. De fato, como Glenn Greenwald escreve convincentemente em seu blog Salon.com, http://www.salon.com/opinion/greenwald/2008/08/01/anthrax/index.html , talvez os ataques com o Anthrax tenham sido mais importantes do que os atentados às torres gêmeas e ao Pentágono para garantir o apoio popular à "Guerra contra o terror", da administração Bush e sua eventual invasão do Iraque.


Logo após a morte de Steven, fontes do governo vazaram a informação à rede de TV ABC News sobre uma provável conexão entre os ataques e o governo do Iraque, dizendo que "os testes iniciais com o anthrax pelo Exército dos EUA em Fort Detrick, Maryland, detectaram vestígios de aditivos químicos de bentonite e sílica. "Betonite era o elemento que faltava para associar o anthrax ao programa de armas biológicas do Iraque, do tipo "prova irrefutável" que, de acordo com o falecido Peter Jennings, âncora da ABC, a administração Bush estava procurando, em parte, ele explicou "porque houve muita pressão sobre a administração Bush dentro e fora para ir atrás de Saddam Hussein."


Que é exatamente, como todos sabem, o que os Neocons fizeram. Eles foram atrás de Saddam, matando centenas de milhares de civis iraquianos e destruindo com eficiência o país. Procurar as "armas de destruição em massa" de Hussein foi uma das principais razões invocadas para a nossa blitzkrieg preventiva. As armas, é claro, nunca foram encontradas, mas não importa, a alegação de que o ditador iraquiano estava por trás das cartas com anthrax e que ele ainda tinha um enorme arsenal de horrores químicos e biológicos à espera de serem utilizados contra outros inocentes americanos era mais que suficiente.


O que muitas gente não sabia àquela altura, e provavelmente ainda não tenham consciência, é que nunca foi feito qualquer teste em Ft. Detrick mostrando a presença de betonite nas cartas com anthrax. A ABC News finalmente admitiu o erro em 2007, mas não indicaram quem do governo havia passado a informação falsa. Eles disseram que tinham que "proteger as suas fontes", mas, na realidade, eles continuaram a encobrir uma das muitas mentiras lançada por esta administração num period em que a opinião pública americana estava extremamente vulnerável.


Pior ainda, o recente suicídio na terça-feira de Bruce E. Ivins, um respeitado do anthrax em Ft. Detrick, confirma aquilo que muitos suspeitavam há muito tempo, que as cartas com anthrax não têm nada a ver com o terrorismo islâmico, mas que elas saíram dos próprios laboratórios de pesquisas de armas químicas do Exército. Ivins se matou logo após saber que ele seria indiciado pelo FBI como responsável pelas cinco mortes decorrentes dos ataques com anthrax. O FBI estava certo, embora depois de sete anos, que tinha encontrado o seu homem.


Greenwald em seu blog liga os pontos: as cartas foram enviadas por um pesquisador de anthrax do governo, houve uma intenção clara de ligar as cartas aos ataques ao fundamentalismo islâmico, a ABC News deu a falsa informação vazada por fontes do governo ligando as cartas a Saddam Hussein, a administração Bush repetidamente utilizou este "link" para conquistar o apoio popular para a sua invasão do Iraque nos meses que antecederam a março de 2003.


Eu diria que os fatos falam por si.


John Hemingway




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