sexta-feira, agosto 15, 2008

Quem confia em Aécio Neves?


Não há qualquer diferença entre as prioridades do "construtor de pontes" e o ideário neoliberal da cúpula tucana. As reformas estruturais mais importantes - agrária, habitação, educação e a do saneamento básico- não têm lugar na sua agenda. Como não teve nas de FHC, Serra e Alckmin.

Gilson Caroni Filho

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, gosta de aparecer na grande imprensa como o "tucano diferente". Um oposicionista que caminha na contramão da política pequena de seus companheiros de partido, apresentando-se como um homem público preocupado com o desequilíbrio federativo, originado pelo que chama de "hegemonia paulista na política". Sua originalidade residiria no fato de ser um oposicionista com propostas para o país, ave rara no bloco conservador. Nada mais enganoso. Nada mais perigoso.

Suas críticas mais recentes ao governo do presidente Lula desmontam os elementos discursivos empregados na tentativa de produzir sua significação, de elaborar uma persona que o defina como "construtor de pontes" entre partes que, segundo ele, estão "cegas por radicalizados projetos de poder".

Segundo o jornalista Ricardo Noblat, o governador lamenta que Lula desperdice o seu segundo mandato não promovendo reformas na Previdência Social, na área tributária e nas relações trabalhistas. Todas elas, segundo Aécio, "indispensáveis para a fundação de um Estado moderno, ficarão para ser feitas pelo sucessor de Lula. Que ainda será obrigado a enxugar despesas governamentais que não param de crescer". Como se vê, não há qualquer diferença entre as prioridades do "construtor de pontes" e o ideário neoliberal da cúpula tucana. As reformas estruturais mais importantes - agrária, habitação, educação e a do saneamento básico-não têm lugar na sua agenda. Como não teve nas de FHC, Serra e Alckmin.

A reforma da Previdência é uma bandeira cara ao neoliberalismo. Com o "nobre" propósito de combater um falso déficit, o objetivo é a supressão de direitos, principalmente de mulheres e beneficiários do salário mínimo. Aécio finge ignorar que as receitas superam as despesas, mesmo após três anos seguidos de aumentos reais do mínimo.

Simula desconhecer que o presidente já afirmou que a reforma será pautada pelo Fórum de Negociação da Previdência, como proposta amadurecida na sociedade civil, "permitindo que as novas gerações tenham um sistema mais condizente com as necessidades dos trabalhadores". Um foco bem diferente do que reza o receituário mercantil.

Não sabe também que, em fevereiro, o governo encaminhou projeto de reforma tributária que pretende desonerar empresas, gerar mais empregos e acabar com a guerra fiscal entre os Estados. Em que nuvem anda o jovem Aécio? Ou em que praia do litoral fluminense tem surfado o sobrinho de Tancredo? Para o "construtor de pontes", o PAC ( Programa de Aceleração do Crescimento) não passa de uma jogada marqueteira."Rode por Minas. Tente encontrar alguma obra de vulto financiada pelo PAC. Não encontrará", aconselha.

Pena que tenha esquecido de dizer que o Estado que governa tem 114 das 119 prefeituras envolvidas em desvios de verbas do programa. E que o PSDB detém o maior número de prefeitos sob suspeita de fazer parte do esquema de apropriação ilegal dos recursos. Alguém precisa lembrar ao governador que obras de vulto não brotam do chão, ainda mais se no subsolo há dutos duvidosos. E que, como liderança estadual, cabe a ele alertar seus correligionários quanto a esse pequeno deslize ético.

Em visita ao Rio, na manhã de um ensolarado 15 de agosto, Aécio atacou supostas falhas do governo na segurança pública, argumentando que "o governo federal não assumiu a sua responsabilidade na questão da segurança pública, contingenciando recursos do Fundo Penitenciário e do Fundo Nacional de Segurança". É uma pena que a censura da imprensa mineira, praticada em proveito do seu próprio governo, deixe o fenômeno de Minas tão desinformado.

Uma breve leitura do jornal Brasil de Fato, em 14 de maio de 2007, faria com que tomasse ciência de que na sua gestão ", os investimentos em saúde, segurança pública e educação caíram, de R$ 11,6 bilhões para R$ 8,7 bilhões, impactando a vida de milhares de pessoas na capital e no interior do estado.

"Há algum tempo, a vereadora petista Neila Batista, em artigo intitulado "MG: Quase um Estado de exceção" afirmou que "o silêncio da Assembléia Legislativa de Minas, com exceção das poucas vozes do PT e do PC do B, e o pacto da maior parte imprensa regional, que se engajou em sua carreira rumo à Presidência da República confirmam a regra... ou a exceção".

"Fragilizando instituições caras ao jogo democrático, ignorando a importância do sistema partidário e "fazendo uso de uma máquina de marketing inigualável no país", a "novidade" que vem das alterosas é a melhor expressão do mandonismo risonho que segue à risca os preceitos neoliberais.

Seria interessante que Aécio aproveitasse a segunda metade do mandato para redemocratizar o Estado, dialogar com os movimentos sociais e, se der tempo, conhecer Minas Gerais. É uma das unidades federativas mais ricas do país. Bem mais surpreendente que as noites do Leblon.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Observatório da Imprensa.

>>>

CENSURA TUCANA ATACA DE NOVO EM MINAS

MP alega "indícios de prática de crimes"
e censura site em MG
Por Thaís Naldoni, editora-executiva/Redação Portal IMPRENSA
Nesta quinta-feira (14), foi retirado do ar, pela Promotoria Estadual de Combate aos Crimes Cibernéticos, o site Novo Jornal, de propriedade do jornalista Marco Aurélio Flores Carone, com sede em Belo Horizonte (MG).

A suspensão da página faz parte de uma operação batizada de "Anonymus", encabeçada pela Promotoria, em conjunto com a Polícia Militar do Estado de Minas Gerais. Portando um mandado de busca e apreensão, representantes do Ministério Público Estadual (MPE) confiscaram os computadores da redação e o servidor do site.

Ao acessar o Novo Jornal, lê-se uma mensagem do MPE, afirmando que o site está sendo investigado, em razão de "indícios de prática de crimes". Segundo a assessoria de Comunicação Social do Ministério Público - MG, a investigação acontece em razão de uma representação criminal, na qual a página era acusada de publicar matérias que afetavam a honra de autoridades públicas. "A Promotoria Estadual de Combate aos Crimes Cibernéticos recebeu representação criminal de que o site vinha publicando, desde de o ano de 2007, diversas matérias atentatórias à honra de autoridades públicas federais e estaduais, dentre as quais o procurador-geral de Justiça, Jarbas Soares Júnior, em razão de suas funções de chefe do MPE".

Reprodução

Mensagem do MPE no endereço do Novo Jornal

Com a investigação, ainda segundo o MPE, foi constatado que o site "não estampava o nome de diretor ou redator-chefe responsável, fato que fere frontalmente a Constituição Federal, que prevê no Art. 5°, IV "- é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato". Dessa forma, a suspensão da página e a apreensão dos computadores visam dar "prosseguimento às investigações e a identificar a autoria dos crimes praticados".

"O que você tem a ver com a corrupção?"

O Ministério Público Federal lançou campanha nacional com a marca "O que você tem a ver com a corrupção?". Baseado nesta chamada, o Novo Jornal colocou em sua página editorial a frase, completando com o nome do procurador-geral de Justiça de Minas Gerais, Dr. Jarbas Soares. "Quando clicava no selo, o internauta era direcionado para um editorial, em que nós questionávamos as ações da procuradoria, que barrava toda e qualquer apuração denunciativa", explica Marco Aurélio Carone, responsável pelo site.

Segundo Carone, o Novo Jornal está no ar há três anos e sempre foi um site 100% combativo. "Sempre fizemos denúncias e elas não são ligadas apenas ao Poder Público e ao governo do estado de Minas Gerais. Quando foi tirado do ar, estávamos com uma matéria na manchete que falava sobre o ministro Gilmar Mendes".

O site, de acordo com Carone, conta cerca de 80 mil pageviews por dia e tem quatro jornalistas trabalhando em sua atualização. Sua manutenção é paga por anúncios, sempre conquistados via licitação. "Procuramos não atrelar anunciantes à página sem licitação, exatamente para que não haja amarras políticas".

Para o jornalista, que faz parte de uma tradicional família de políticos mineiros e se considera uma espécie de "ovelha negra", esse tipo de atitude do Ministério Público lhe parecia improvável nos tempos atuais. "Me assusta ver esse tipo de ação no Brasil novamente".
Na Justiça

O processo contra o site corre em segredo de Justiça. Carone já consultou seus advogados, mas ainda não sabe exatamente quais ações legais deve tomar. A investigação segue a cargo da promotora de Justiça Vanessa Fusco, coordenadora da Promotoria Estadual de Combate aos Crimes Cibernéticos.

Quanto à exibição da página do MPE no endereço do Novo Jornal, a promotoria informa que este tipo de página-aviso é "largamente utilizada pelo Serviço Secreto Americano e a decisão do juiz da Vara de Inquéritos é pioneira no Brasil". Trata-se, portanto, do primeiro caso em que se tem autorização judicial para a exibição deste texto.

;;;