sexta-feira, julho 04, 2008

De volta para o futuro


AS RESERVAS de petróleo iraquianas estão estimadas em 115 bilhões de barris. Recursos dessa ordem fazem das reservas iraquianas as terceiras maiores do mundo. Nesta semana, cada um desses barris estava cotado acima dos US$ 140 no mercado internacional. Além disso, as reservas iraquianas de gás natural são avaliadas em mais de 3,17 trilhões de metros cúbicos.


A Mesopotâmia tem um longo passado. Mas, no moderno Iraque, é o petróleo que ocupa a posição central. Os limites territoriais do país, delineados nos anos 20 do século passado, após o colapso do Império Otomano, foram traçados pelas grandes empresas petrolíferas ocidentais, que negociavam a divisão dos recursos petroleiros iraquianos. De fato, foi um lápis empunhado por um notável empresário e agenciador político, o armênio Calouste Sarkis Gulbenkian, que em 1928 traçou a famosa "linha vermelha" no mapa do Oriente Médio, que criou uma divisão geográfica aceitável para as grandes empresas de petróleo ocidentais e os governos de seus países.


Em 1929, a velha Turkish Petroleum Company teve seu nome alterado para Iraq Petroleum Company (IPC). Até a nacionalização da IPC por Saddam Hussein, no começo dos anos 70, o acordo intermediado por Gulbenkian foi preservado. Havia quatro sócios "maiores" entre as grandes empresas de petróleo: British Petroleum, Royal Dutch Shell, Compagnie Française des Pétroles e o grupo norte-americano Esso Mobil. Cada uma dessas companhias tinha uma participação de 23,75% na IPC.


Gulbenkian era o único sócio "menor" -e reteve 5%. Foi por conta dessa porcentagem na IPC que Gulbenkian -que ficou imensamente rico com o acordo- se tornou conhecido como "Senhor 5%". Nesta semana, quatro grandes empresas de petróleo ocidentais -Exxon Mobil, Shell, Total e BP- estão aparentemente a ponto de assinar contratos concedidos sem licitação pelo governo iraquiano, com o objetivo de explorar os recursos petrolíferos do país. O "New York Times" afirma que uma equipe do Departamento de Estado norte-americano ajudou a preparar os contratos.

Quando, depois da invasão do Iraque em 2003, saqueadores atacaram e despojaram o museu e a biblioteca nacionais do Iraque, que abrigavam os mais preciosos artefatos das mais antigas civilizações do planeta, as tropas norte-americanas não interferiram. Só estavam autorizadas a intervir para proteger o Ministério do Petróleo iraquiano, o ministério que nesta semana vai conceder contratos às mesmas empresas petrolíferas multinacionais que administraram a Iraq Petroleum Company entre 1928 e 1972. A única coisa que falta são os 5% de Gulbenkian.

KENNETH MAXWELL

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