quinta-feira, agosto 09, 2007

A GRANDE MÍDIA ENCURRALADA


NO BLOG DO AZENHA E NO BLOG DO NASSIF



Menos é mais: Rádio parede, minha sugestão aos que cansaram da mídia que omite, distorce e engana o público


http://viomundo.globo.com/

Vi lá em Oaxaca, no México, onde a Associação Popular dos Povos de Oaxaca (APPO) enfrenta um governador do PRI (o Democratas deles), Ulises Ruiz Ortiz, métodos inusitados de mobilização diante de um político que tem apoio de tropas, do governo federal e da grande mídia.

O La Jornada, jornal de esquerda, batizou de rádio parede.

Grafiteiros, alunos de artes plásticas e pessoas que têm talento para o desenho são convocados a criar símbolos para o movimento.

Eles são reproduzidos em camisetas, em faixas, placas e paredes das casas de manifestantes.



Toda cidade do interior do estado parece ter um destes símbolos num lugar de grande movimento popular.

E o dinheiro?

Todo fim-de-semana, na praça central de Oaxaca, a APPO promove uma espécie de quermesse.

Um dos desafios é preencher o chamado "quilômetro do peso", mil metros que as pessoas vão cobrindo com notas e moedas.



Oaxaca tem uns dez jornais.

O Tiempo se promove falando em "periodismo independiente".

Mas é um nojo, como a maior parte da mídia golpista brasileira.

A Televisa não cobre os acontecimentos, a não ser para acusar a APPO de promover "a baderna".

Curiosamente, a "baderna" da APPO já provocou mais de 20 mortes, desaparecimentos e dezenas de prisioneiros políticos.

E as vítimas são todas da APPO.

Quem viaja pela região de Oaxaca vai descobrindo, nas pequenas cidades e nas feiras semanais, cartazes de apoio à APPO aqui e ali.

É a região majoritariamente indígena do México.

E, como vocês sabem, assim como para a mídia brasileira nordestino pobre que vota em Lula não é gente, no México índio que apóia a APPO também não conta.

A Televisa está para o México assim como a TV Globo, especialmente nos últimos meses, está para o Brasil.

Há um tremendo fosso entre o que se vê no ar e o país real.

Como a Televisa não apresenta a versão real dos fatos, o grande hit na praça central de Oaxaca são vídeos produzidos por câmeras amadores que registram a repressão policial e entrevistas sem edição sacana com os líderes e participantes do movimento.

Eles são reproduzidos continuamente em aparelhos de tv e estão à venda por alguns trocados.



E há, ainda, o varal de fotos e jornais.

Traduzindo para a realidade brasileira: quer ler O Globo, mas só a página de esportes?

Tudo bem, leia na praça.

O jornal fica pendurado lá.

Todo mundo pode ler.

É uma forma de boicote aos jornais que mentem e deturpam informação sem privar os leitores de uma leitura diária.

Não quer assinar? Leia o jornal na praça.

Há, também, um varal com as notícias mentirosas ou deturpadas.

Os ativistas destacam os trechos que trazem falsidades e acrescentam, num texto à parte, sua versão para os fatos.



Parece tudo rudimentar, não é mesmo?

Foi o jeito que a APPO encontrou de se comunicar com seus militantes.

Nada de jornais coloridos e vídeos super-editados.

Comunicação caseira.

Afinal, você acha que um zapoteca tem alguma intimidade com o glamour de um estúdio de acrílico ou com as loiras oxigenadas da Televisa?

Tem nada, sente-se mais à vontade lendo um folheto mimeografado.

Quer ver alguns vídeos de Oaxaca?




Publicado em 6 de agosto de 2007

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A notícia órfã
http://luisnassif.blig.ig.com.br/

Ontem o Ali Kamel publicou uma coluna na página de Opinião do “Globo”, “A grande imprensa”.

Sobre a cobertura do acidente da TAM, Kamel se defende: “A grande imprensa se portou como devia. Como não é pitonisa, como não é adivinha, desde o primeiro instante foi, honestamente, testando hipóteses, montando um quebra-cabeça que está longe do fim”.


“Testando hipóteses” é outro nome para falta de discernimento. Em qualquer cobertura competente, enquanto o quadro não está claro montam-se cenários de investigação, análise de probabilidade, linhas de investigação. Evitam-se afirmações peremptórias, e apela-se para a criatividade para produzir manchetes de impacto sem recorrer conclusões taxativas.


De cara, se poderiam alinhavar várias possibilidades para o acidente da TAM, que seriam o ponto de partida. Toda a cobertura seguiria esse roteiro, procurando checar a probabilidade de ocorrência de cada possibilidade ou delas combinadas. A partir daí, o Sr Fato se incumbiria de descartar algumas hipóteses e reforçar outras.


O “testando hipóteses” do Kamel consistia em bancar aposta total na Hipótese A. Dias depois, esquecer a Hipótese A e bancar toda a aposta na Hipótese B. Depois, na Hipótese C, até acertar. Mas não houve acerto. A resposta final – a degravação dos diálogos na cabine – eliminou todas as hipóteses anteriores. E aí se entra no modelo de gestão da notícia adotado pelas Organizações Globo. De alguns anos para cá resolveu-se homogeneizar o entendimentos dos jornalistas em relação aos temas de cobertura.


Esse papel doutrinário coube a Kamel Não sei qual é a experiência de Kamel no front da reportagem. Mas foram dois os resultados.


Primeiro, acabou-se com a diversidade de enfoques, marca de jornalismo plural.


Segundo, perdeu-se o sentimento da rua, o sentido da reportagem. Os repórteres passaram a subordinar a cobertura aos desígnios do “aquário” Houve um divórcio dos pais – o “pai” “aquário” e a mãe reportagem – e o resultado deixou a notícia órfã.


Nem vale a pena comentar as acusações generalizantes e conspiratórias de Kamel, na seqüencia do artigo, contra os críticos da cobertura. Ele não está escrevendo para os leitores. Apenas se justificando para os donos da empresa.


enviada por Luis Nassif


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