Para
entendermos o que está acontecendo, é preciso tomar ao pé da letra a
ideia de Walter Benjamin, segundo o qual o capitalismo é, realmente, uma
religião, e a mais feroz, implacável e irracional religião que jamais
existiu, porque não conhece nem redenção nem trégua. Ela celebra um
culto ininterrupto cuja liturgia é o trabalho e cujo objeto é o
dinheiro. Deus não morreu, ele se tornou Dinheiro. O Banco – com os
seus cinzentos funcionários e especialistas – assumiu o lugar
da Igreja e dos seus padres e, governando o crédito (até mesmo o
crédito dos Estados, que docilmente abdicaram de sua soberania),
manipula e gere a fé – a escassa, incerta confiança – que o nosso tempo
ainda traz consigo. Além disso, o fato de o capitalismo ser hoje uma
religião, nada o mostra melhor do que o titulo de um grande jornal
nacional (italiano) de alguns dias atrás: “salvar o euro a qualquer
preço”. Isso mesmo, “salvar” é um termo religioso, mas o que significa
“a qualquer preço”? Até ao preço de “sacrificar” vidas humanas? Só numa
perspectiva religiosa (ou melhor, pseudo-religiosa) podem ser feitas
afirmações tão evidentemente absurdas e desumanas.
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