Avaliação é da socióloga e cientista política Maria Victoria Benevides, referindo-se ao processo sem provas e sem crime que condenou o ex-presidente em primeira instância no caso do tríplex do Guarujá
Escrito por: Solange do Espírito Santo, especial para a CUT • Publicado em: 22/01/2018 - 12:34 • Última modificação: 22/01/2018 - 12:40
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A cientista política avalia que, independentemente do resultado no TRF-4, a principal consequência de todo esse processo é que ele “divide o País, esgarça o tecido social e é fatal para a democracia”.
“Para nós, que estamos lutando contra esse julgamento, a grande preocupação é a democracia e a renovação do Estado Democrático de Direito e não do Estado de Exceção”, diz ainda.
Para Maria Victoria, que é professora da Faculdade de Educação da USP, a condenação em primeira instância do ex-presidente, pelo juiz Sérgio Moro, mostra a seletividade da Justiça, que se baseia em falsas delações. “Não é questão de falta de provas contra Lula. A questão é que não há crime”, ressalta, ao referir-se ao caso do tríplex do Guarujá que, comprovadamente, pertence à construtora OAS, conforme a recente sentença da 2ª Vara de Execuções de Títulos Extrajudiciais do Distrito Federal, que penhorou o apartamento em função de dívidas da empreiteira com fornecedores.
Ruptura e medo da oligarquia
Na avaliação da professora, o grande momento que deu início à ruptura democrática no Brasil começou quando setores da direita se apropriaram das manifestações de 2013 - iniciadas pelo Movimento Passe Livre, contra o aumento das tarifas de ônibus - e ocuparam as ruas com a bandeira contra a corrupção, ao mesmo tempo em que apoiavam o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que está preso justamente por corrupção.
“Em seguida veio o horror da campanha eleitoral de 2014; e a coroação desse terror foi o golpe do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, legitimamente eleita”, considera Maria Victoria Benevides.
“Avalio que agora o povo está entendendo que os políticos comprovadamente formadores de quadrilha continuam no governo e que todo o esforço deles se volta para a condenação de Lula”, assinala, dizendo também: “Fica cada vez mais claro que a questão da corrupção não é o foco, senão o senador Aécio Neves [PSDB/MG] não estaria solto e nem Michel Temer [MDB] seria presidente”.
Tudo isso, ainda segundo a cientista política, demonstra o medo evidente da oligarquia, dos donos do poder econômico, de verem o Brasil governado novamente por Lula. “Do ponto de vista dos trabalhadores e da inserção do Brasil no cenário mundial, o governo Lula foi o melhor que tivemos”, assegura Maria Victoria.
É por isso, continua, que toda a atenção mundial está voltada para o julgamento do ex-presidente na quarta-feira. “O mundo está ligado neste julgamento e confio muito neste apoio internacional demonstrado a Lula e a tudo o que ele simboliza. Por isso, independentemente do resultado, ele continuará contando com esse apoio em todo o mundo”, finaliza a cientista política.
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