Brasil
de 200 bilhões de barris
(Veiculado pelo
Correio da Cidadania a partir de 25/02/15)
Paulo Metri – conselheiro do Clube de Engenharia e colunista do Correio da
Cidadania
O setor do petróleo
fornece um farto material para a constatação da ganância humana. Com a
pretensão de trazer alguma explicação para o que acontece nestes dias com o
Brasil, sem existir preocupação alguma da mídia para explicar, defendo a tese
de que ocorreu uma rápida ascensão do nosso país no ranking daqueles
atrativos para o capital internacional. Até 2006, era um país com abundância de
recursos naturais, território e um razoável mercado consumidor. Mas ele não
possuía petróleo em quantidade suficiente para se tornar grande exportador. Era
fornecedor de minérios e grãos não tão valiosos no mercado internacional quanto
o petróleo. Implícito está que o preço do barril irá subir brevemente para
algum valor, pelo menos, em torno de US$80.
A partir dos anos 90,
o Brasil perdeu graus de soberania e passou a ser um exemplar subalterno do
capital internacional. Por exemplo, tem uma lei complacente de remessa de
lucros, permite livre trânsito de capitais, não protege a empresa nacional
genuína, tem uma política de superávit primário e câmbio que tranquiliza
os rentistas, permite a desnacionalização do parque industrial,
oferece a subsidiárias estrangeiras benefícios fiscais e creditícios, tem uma
mídia hegemônica pertencente a este capital, que aliena a sociedade, e possui
uma defesa militar incipiente. Assim, pode-se dizer que, após 1990, a sociedade
brasileira passou a ter uma maior sangria de suas riquezas e seus esforços para
o exterior. Este era o Brasil subalterno, que só tinha 14 bilhões de barris de
petróleo, suficientes somente para 17 anos do seu consumo.
Em 2006, descobre-se
o Pré-Sal, que pode conter de 100 a 300 bilhões de barris de petróleo, dos
quais 60 bilhões já foram descobertos – e em menos de dez anos. Ao mesmo tempo,
começou-se a recuperar a proteção à industria nacional, com a proibição da
compra de plataformas de petróleo no exterior. Também, decidiu-se recompor as
Forças Armadas, com o desenvolvimento de submarinos e caças no país, e, também,
novos equipamentos de defesa para o Exército. Recentemente, decidiu-se
desenvolver um avião militar de transporte de carga.
O Brasil, que já
vinha participando do Mercosul, amplia sua interação soberana em outros fóruns
internacionais, como a Unasul, a Celac e os Brics, contrariando interesses
geopolíticos dos Estados Unidos. Recentemente, um banco e um fundo monetário
dos Brics foram criados. Ocorreu no período, também, a mudança da política
externa do Brasil, que buscou a aproximação com os países em desenvolvimento da
África, do Oriente Médio e de outras regiões, sem hostilizar os Estados Unidos,
a Europa e o Japão. A presidente Dilma propôs aos países da ONU uma ação
conjunta para conter a espionagem internacional, que tem participação da CIA e
da NSA, do governo dos Estados Unidos.
Com a descoberta do
Pré-Sal, abandona-se o modelo das concessões, que permitia a quase totalidade
do lucro e todo o petróleo irem para o exterior. Adota-se o modelo do contrato
de partilha para esta área, que é melhor do que a concessão. No contrato de
partilha, uma parte adicional do lucro, acima do royalty, vai para o fundo
social e parte do petróleo vai para o Estado brasileiro. Decidiu-se também
escolher a Petrobras para ser a operadora única do Pré-Sal, o que é importante
para maximizar a compra de bens e serviços no país. No leilão de Libra, foi
formado um consórcio com a participação de duas petrolíferas chinesas,
fugindo-se ao esquema de só participarem empresas ocidentais. No final do ano
de 2014, quatro campos do Pré-Sal, que somam cerca de 14 bilhões de barris,
foram entregues diretamente à Petrobras, sem leilão, o que contrariou as
petrolíferas estrangeiras que desejavam vê-los leiloados.
A partir da
descoberta do Pré-Sal, a Quarta Frota da Marinha dos Estados Unidos é reativada
em 2009, o presidente norte-americano Barack Obama vem ao Brasil em 2011 e seu
vice-presidente se transforma em figura fácil de ser encontrada aqui. Ele se
reúne diretamente com a presidente da Petrobras, o que é muito estranho. O
governo norte-americano procura levar a qualquer custo a presidente Dilma para
uma visita oficial aos Estados Unidos, com direito a jantar na Casa Branca,
considerada uma honraria sem igual. Por esta e outras razões, FHC gostaria
muito de o Pré-Sal ter sido descoberto no seu mandato, mas ele só se preocupava
em preparar a Petrobras para a privatização. Surpreendentemente, meu candidato
a um prêmio das Nações Unidas para grandes promotores da paz no mundo, Edward
Snowden, nos informa que até os telefones da presidente Dilma foram
interceptados pela inteligência estadunidense.
O tempo passa e
chega o momento de nova eleição presidencial no Brasil. O capital internacional
de forma geral e, especificamente, o capital do setor petrolífero, com grande
influência na Casa Branca, quiseram aproveitar esta eleição para mudar algumas
regras de maior soberania, estabelecidas nos últimos anos, inclusive as do
Pré-Sal. Além disso, o capital internacional quer eleger um mandatário do
Brasil mais subserviente. Assim, explica-se a campanha de muito ódio e enorme
manipulação executada pela mídia deste capital no período eleitoral.
Possivelmente, a NSA e a CIA, utilizando empresas estrangeiras aqui
estabelecidas, devem tê-las incentivado a contribuir com recursos para eleger
os seus candidatos em 2014, formando uma bancada no Congresso Nacional que é um
misto de entreguistas com alienados corruptos, porém, muito fiéis aos doadores
de campanha.
Com o acontecimento
independente da descoberta dos ladrões na Petrobras, aliás, muito bem-vindo
pelos estrategistas do roubo do petróleo nacional, o terceiro turno da campanha
presidencial tomou corpo na mídia, assim como a tarefa de confundir a população
para acreditar que a Petrobras rouba dinheiro do povo e não são os ladrões
ocupantes de cargos nela que roubam.
Com uma Petrobras
fraca, de preferência até privatizada, fica mais fácil levar o petróleo do
Pré-Sal. Um fato importante é que, no governo FHC, existiram denúncias que a
Polícia Federal e o Ministério Público pareceram ser ineptos e a mídia
criminosamente benevolente com o governo. Uma destas denúncias foi a de compra
de votos para a reeleição, que, mesmo com um réu confesso declarando ter
recebido dinheiro para votar a favor da reeleição, nada teve de apurada; já a
mídia, deu divulgação mínima e o Ministério Público não apresentou denúncia à Justiça.
Enfim, para o bem ou
para o mal, tudo mudou de figura. Morreu o Brasil de só 14 bilhões de barris de
petróleo. Ele terá, brevemente, uma reserva de 200 bilhões de barris, que
corresponderá a uma das três maiores do mundo e irá requerer muitas medidas de
soberania, se é que a sociedade brasileira deve usufruir desta riqueza. Assim,
agora, na visão do capital internacional, o Brasil não chega a estar se
tornando um país antagônico, como China, Rússia, Irã e Venezuela, mas está
criando regras e tomando medidas hostis a este capital. Está-se no estágio da
busca da cooptação dos poderes e do controle da população pela mídia do
capital.
Contudo, a população
não está, na sua imensa sabedoria, acreditando tanto na mídia. Se a população
não der apoio para o plano do impeachment da presidente, novas tramas poderão
acontecer, como uma “primavera brasileira para tirar os ladrões da Petrobras do
governo”. Eventualmente, será um golpe de Estado dado pelo Congresso com o
apoio da mídia. O povo precisa não dar apoio à quebra do regime democrático e
não apoiar também governantes que permitam a perda do Pré-Sal.
Blog do autor: http://paulometri.blogspot.com.br/