segunda-feira, março 19, 2007


OS FACTÓIDES REQUENTADOS DO JORNAL NACIONAL


Manchete alarmista de William Bonner, no Jornal Nacional, hoje à noite: Ameaça à liberdade de imprensa se espalha na América Latina. Uau! Grande expectativa para o conteúdo da matéria logo após os comerciais. Jornais, rádios e TVs devem estar sendo fechados em massa em vários países, jornalistas presos, expulsos de seus países....


Que nada. A matéria era um requentado dos mais ordinários, daqueles que você faz quando chega com fome em casa à noite, abre a geladeira e coloca o que encontra lá em uma panela, com um pouco de requeijão. A única novidade da matéria era uma frase do presidente da Bolívia, Evo Morales, que teria ameaçado nacionalizar o jornal La Razón, pertencente a um grupo espanhol.


Em seguida, veio o requentado: as ameaças de Chávez contra a RCTV, "empresa mais popular da Venezuela", segundo o Jornal Nacional, "acusada de ter uma suposta participação no golpe contra Chávez". Nenhuma observação, obviamente, sobre o fato de que a RCTV teve, não uma suposta, mas sim uma ativa e explícita participação na tentativa de golpe, em ligação direta com a Casa Branca, pisoteando as leis do país de vários modos.


A cereja no pudim foi o presidente Rafael Correa, do Equador, que também estaria ameaçando a liberdade de imprensa, com direito a imagens de furiosos manifestantes pró-Correa que estariam querendo fechar o parlamento. No final, um cientista político argentino sacado do bolso diz que "faz parte da cultura do continente a imposição de governos em relação a meios de comunicação".


O Jornal Nacional e a Rede Globo entendem bem desse assunto. Sua postura servil durante a ditadura militar rendeu ótimos negócios à emissora que estendeu seus braços por todo o país. Sua cumplicidade com a repressão, a tortura e os assassinatos políticos pavimentaram o seu caminho de sucesso. Nada surpreendente que, agora, siga comprando e alimentando a pauta do governo Bush na região, produzindo factóides contra os governos de esquerda do continente.


Escrito por Marco Weissheimer às 21h20


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