quinta-feira, junho 22, 2006

Para confirmarmos porque somos Lula de novo... e a midia não nos manipula

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Entrevista que Lula fez à revista Caros Amigos, 2 anos antes de ser eleito
(2000)
http://carosamigos.terra.com.br/outras_edicoes/grandes_entrev/lula.asp

Acho que os meios de comunicação jogam um papel importante, mas confesso
que, na minha vida, prefiro fazer mesmo sem eles do que ficar chorando a
ausência deles. Nunca tive o apoio deles pra nada. Se você fizer uma análise
destes últimos vinte anos, acho que não tem gente mais massacrada na
imprensa do que eu. Entretanto, continuo vivo e com a mesma vontade que
tinha antes. Às vezes fico vendo o jornal Estado de S. Paulo, o jornal Folha
de S. Paulo, jornal O Globo, eles pensam que são jornais nacionais, aí você
anda 200 quilômetros e ninguém nunca ouviu falar. As pessoas vivem outra
realidade. Temos que acreditar cegamente que a participação da sociedade é a
única possibilidade de mudar as coisas. As caravanas, para mim, foram a
universidade que não tive. Não acredito que alguém governe um país deste
tamanho sem conhecer esse país. Tem lugares em que se está vivendo a
terceira revolução industrial e tem lugares em que não chegou a primeira
ainda. Em São Paulo tem o cara que vai no Banespa, pega 50 milhões de reais
e não paga. Fui no Acre agora entregar cheque de Banco do Povo, o homem
pegou 1.200 reais. Eu perguntei: "Mas, companheiro, o que você vai fazer com
1.200 reais pra ficar quatro meses no meio do mato?" Ele falou: "Vou comprar
um burrico para não carregar mais as cargas nas costas, vou comprar charque,
farinha, querosene, semente de arroz, feijão e muda de mandioca pra plantar
e, com isso, tiro por durante quatro ou cinco meses pra trabalhar!" Quer
dizer, se você chegar na avenida Paulista e falar que alguém pegou 1.200
reais emprestados e estava satisfeito, ninguém acredita. Fui no Ceará agora,
lá tem um cartão de crédito de 20 reais. Vai na Paulista dizer que alguém
tem um cartão de crédito de 20 reais. Vão falar: "Isso é piada". É piada pra
nós. Agora, para um cara que chega na segunda-feira e não tem o que dar de
comer para os filhos e pega um cartãozinho com que ele pode comprar 5 quilos
de farinha, 2 quilos de feijão... Pô, aquilo é um manjar dos deuses durante
quatro ou cinco dias. É essa heterogeneidade que precisa ser compreendida
pelos governantes. Se o Fernando Henrique Cardoso – não sou contra o
presidente viajar, ele pode ir para a China, para a Líbia, para onde quiser
– pegasse um barco e fizesse uma viagem como aquela que fizemos para a
Amazônia, descesse em cada lugarejo e visse como vive aquele povo, ele iria
perceber que com pouco dinheiro a gente geraria muito mais emprego, mais
desenvolvimento para a realidade das pessoas ali. Você não pode governar o
Brasil imaginando que todo mundo está vivendo na avenida Paulista.
No começo do ano, logo quando o PT escolheu a Marta para ser candidata.
Confesso que, quando vejo essa gente com essa incompetência para governar,
por Deus do céu que não troco meu conhecimento pelo deles. Obviamente que
levo a desvantagem de não ter um diploma universitário e isso em um país
colonizado como o nosso pesa. Mas as pessoas que governaram São Paulo e
permitiram a ocupação desordenada da cidade, quando vejo a Marginal
Pinheiros e a Marginal Tietê, penso: "Como é que essas pessoas foram
construir as marginais dentro dos rios?" Já se sabia que ali dava enchentes,
pega área de manancial, então... Sobrevoamos a área de manancial ali na
represa e está toda ocupada. E a culpa não é daquele pobre que ocupou.
Porque não tem espaço pra ele, e ele vai sendo empurrado ou para a beira da
represa ou para a beira dos rios ou dos córregos ou para as encostas dos
morros. Vai sendo jogado e o poder público, que deveria se antecipar e tomar
providências, não toma. Até nesse aspecto acho que tivemos uma regressão de
cabeça de gente pública, que pensasse um Brasil para vinte, trinta, quarenta
anos. Nós, do PT, temos um desafio, não podemos daqui pra frente nos
contentar com orçamento participativo, com médico de família. Estamos
desafiados a fazer mais e, se a gente não começar a discutir quais as novas
coisas que temos que fazer, podemos ficar superados.