Em
artigo, o professor e doutor em psicologia Marcos Danhoni diz: “Freud teria
hoje um país inteiro como amostra psicanalítica para suas teorias sobre a
psiquê e suas perversões! Uma Nação quase inteira no divã da loucura”
Por Marcos Cesar Danhoni Neves*
Depois de uma brutal campanha presidencial como a de 2018,
com evidentes sinais de fraude eleitoral (impulsionamento bilionário de fake
news via redes sociais e um suposto falso atentado contra Jair Bolsonaro, além
do impedimento do principal candidato e virtual vencedor do pleito, Luiz Inácio
Lula da Silva pelo então juiz e hoje ministro, Sérgio Moro), e com mais
de 60 dias de (des)governo, cabe a este que vos escreve fazer uma análise sobre
as perversões que impregnam Bolsonaro & Sons e aqueles que lhes deram apoio
e garantiram a vitória do fascismo graças ao jogo muito sujo das inverdades
propaladas mediante uso abusivo do Caixa 2 na campanha presidencial de 2018.
Sigmund Freud, em sua extensa obra psicanalítica, trata do
conceito de perversão, fundamentando-a em sua estrutura analítica mais ampla: a
neurose, cujo domínio concentra-se no reino da psicanálise; a psicose, no reino
da psiquiatria; e as perversões que se encontram no reino das sociopatias,
compreendidas pelo estudo da sociologia.
O estudo das perversões, substituindo o conceito original de
“instintos”, passa a descrever aquilo que foi denominado de “pulsões”,
especialmente as pulsões de morte, ou Tânatos. São desvios sérios de
comportamentos que se baseiam em inversões ou aberrações e que passam à margem
da normalidade da vida. Em geral, em todas as sociedades, de todas as épocas,
as perversões foram marginalizadas e enquadradas em códigos de leis ou
canônicos. No entanto, em determinadas épocas históricas, elas foram toleradas
ou mesmo valorizadas. Como exemplo, os desvios na corte de Nero ou Calígula, no
antigo Império Romano.
Desde metade da década de 1910, Freud começou a compreender
as perversões a partir de uma reorganização do ego e, quase na década de 1930,
chega ao conceito de Verleugnung, quando a pessoa começa a negar a
existência do pênis nas meninas. Daí, nascem as psicoses no ego ou as neuroses
no id. O superego não consegue compensar e resolver conflitos e daí nascem as
perversões, caracterizadas pelo recalque (neurose), por alucinações de uma
realidade inexistente ou distopia (psicose) e pela fixação na sexualidade
infantil que nunca se desenvolve (perversão em si).
Outros psicólogos desenvolveram as noções freudianas: Jung,
Lacan, Klein, entre outros, mas é Lacan que criará a noção da “Versão do Pai”,
sintetizando a noção da castração, num jogo de tapeação entre o real e o
imediato simbólico e sufocante.
Com este preâmbulo psicanalítico podemos compreender agora o
que se passa na corte bolsonariana, a começar por Bozo-pai (a completa
descrição da “Versão do Pai”, lacaniana). O patriarca da família está em seu
terceiro ou quarto casamento. Duas de suas ex-mulheres o acusaram de violência,
chantagens e roubos. A misoginia de Bozo-pai é de longa data e provavelmente
maturada em seus anos de caserna quando a convivência aquartelada deve tê-lo
levado ao desejo e à repressão do desejo que Freud tanto descreve em sua obra
máxima “A Interpretação dos Sonhos”. Se dermos crédito às mensagens de sua
então namorada, Rita, de que ele estava mais interessado no amigo dela que
propriamente nela, então fechamos o cerco na construção de uma mente totalmente
pervertida em eterno conflito entre ego e id, sem nenhuma resolução pelo
superego. Outras manifestações de Bozo-pai confirmam esta suspeita. Sua fissura
no coronel Brilhante Ustra, um conhecido assassino do aparato militar do Estado
Brasileiro e em Alfredo Stroesner (que violentou mais de 150 meninas menores de
idade), ditador do Paraguai, demonstra sua fixação em pessoas que se
notabilizaram pela tortura, especialmente envolvendo sexualidade até o estupro
como arma letal.
Bozo-pai foi inclusive condenado pela incitação ao estupro
contra a deputada Maria do Rosário. Em sua cabeça pervertida, o estupro nasce
como uma recompensa à mulher que sofre tal violência: “Não te estupro porque
você é feia e não merece”, afirmou diante de vários jornalistas.
Last but not least em relação a Bozo-pai devemos
lembrar que ele treinou seus rebentos a atirar a partir dos cinco anos de
idade, como ele próprio declarou. Uma criança educada no ódio e no amor às
armas, passa a vê-las como símbolos de macheza e do falo que terão: nasce uma
simbologia fálica que, anos depois, não se materializará porque sucumbirá aos
desejos de atração pelo pai (que é o desejo de relação com pessoas do mesmo
sexo, num complexo de Édipo e Electra misturados) e, portanto, à estrutura
quase pronta da perversão que se tornará dia a dia cada vez mais acentuada e
destrutiva.
No universo da família bolsonariana devemos lembrar o
conhecimento recente de que o filho Carlos, ou Carluxo para os íntimos, foi
emancipado por Bozo-pai aos dezessete anos para poder concorrer à vereança do
Rio de Janeiro, em disputa eleitoral contra a própria mãe e então ex-esposa de
Bolsonaro. Este fato, na cabeça de um adolescente deve ter gerado eventos
traumáticos comparáveis, em pequena escala, a tsunamis cerebrais e
cataclísmicos para a psiquê. Só aí já podemos compreender os rompantes, a
linguagem chula, a violência verbal gratuita e até a manipulação digital de
fotos para mostrar um corpo que não possui. A Associação Psiquiátrica
Norte-Americana, em seu DSM-IV sobre Transtornos Mentais enumeraria, só nos
elementos aqui lembrados: exibicionismo; fetichismo; masoquismo; sadismo;
escatologia.
O outro filho envolvido com um laranjal do tamanho do
universo gravou recentemente alguns vídeos que nos chocam desde o início: um em
que finge chorar e assoa o nariz na bandeira do Brasil e outra em que rasga
jornais dentro de um banheiro e mergulha os papéis (que certamente não desceram
ralo abaixo pela textura diferente da do papel higiênico…) dentro do vaso
sanitário. Estes sintomas psicóticos mostram o mesmo transtorno de Carluxo:
exibicionismo, fetichismo, sadismo, escatologia.
Já Eduardo Bolsonaro está sendo processado por ameaçar a
ex-namorada Patrícia Lélis. Em registro telefônico que Patrícia fez durante uma
troca de mensagens de whatsapp é constrangedor o rol infindável de misoginia: ameaças,
sadismo, exibicionismo e outras demências ligadas à perversão. Recentemente,
segundo a ex-namorada, soube-se que ele não tem muita atração pelo órgão sexual
feminino num cunilingus e teria seu próprio órgão sexual em tamanho
inadequado ao que ela esperaria. Aqui temos a síntese de todos os “brothers”
(como eles gostam de ser tratados) num só, confirmando a herança perversa
passada pelo pai desde seus dias de confinamento no quartel, durante a
convivência forçada com uma legião de homens.
Toda essa tragédia psíquica familiar foi agravada com a
proximidade da família com um megapervertido chamado Olavo de Carvalho. Este
astrólogo com instrução somente do 3º. ano primário construiu um castelo de
Fake News que ele deu o nome de “Filosofia”. O filósofo nolano Giordano Bruno
(o filósofo do Infinito, queimado vivo em 1600) teria chamado Olavo de
“Filasafo”, como ele se referia aos pseudofilósofos e sofistas. Olavo de
Carvalho tem fixação por palavras de baixo-calão especialmente pelo
orifício-anal. Essa fixação é sintoma muito claro da perversão de que nos fala
Freud. Deste orifício nasceram muitas das falas dos filhos de Bolsonaro e dos
pensamentos expressos pelo seu séquito fascista.
Neste círculo de aberrações podemos elencar ainda Janaína
Paschoal, Joice Hasselmann, Alexandre Frota, Sérgio Moro, Rosângela Moro,
Hardt, Lebbos, Deltan Dallagnol, Witzel, Bretas, Urach, Feliciano, Miss Bumbum,
Rodrigo Amorim, Danilo Campetti, Damares etc.
Para sintetizar cada um destes personagens tenebrosos que se
classificam como “quanta” de perversidades no imaginário sexual distorcido de
bolsonaristas, podemos lembrar a ambiguidade sexual de Alexandre Frota, que
conseguiu se eleger diante de um público privilegiado de eleitores evangélicos.
Esta afirmação da ambiguidade sexual irmana Frota a seus eleitores que sofrem
das mesmas perversidades sexuais. Não devemos nos esquecer também do joguinho
durante um programa televisivo passado tentando mostrar, através de uma suposta
brincadeira, um affair amoroso entre Frota e o pastor evangélico Feliciano
(acusado de cárcere privado de uma jornalista, entre outras coisas horríveis
envolvendo sexo em sua forma degenerada).
Em relação a pastores é digno de nota o emprego da
ex-“modelo” Urach e da ex-vice Miss Bumbum por deputados recém-eleitos. O
emprego destas mulheres voluptuosas e cheias de sex-appeal dá a seus
empregadores uma falsa noção de potência sexual graças ao voyeurismo,
exibicionismo e masoquismo.
O ex-Juiz Sérgio Moro, por exemplo, sempre demonstrou sua
submissão à sua esposa Rosângela Wolf (que quer dizer “A Loba”), o que o
apequena como a figura do “macho” de Direita que ele não pôde ser. É natural,
pois, passar a ver que a amizade e o carinho que ele tem com Deltan Dallagnol
signifique outra coisa que vá além do conceito de “amigos”. A ambiguidade aqui
se superpõe e revela a perversidade neste imaginário de bestialismos.
Sobre o casal Moro-Rosângela devemos lembrar de uma clássica
foto veiculada pela Sra. Wolf dos dois com roupas de gala, um de costas para o
outro, numa cena muito semelhante registrada entre Brad Pitt e Angelina Jolie
no filme “Sr. e Sra,. Smith”. Este simulacro de pseudo-sensualidade revela
também o universo da perversão sexual (voyeurismo, fetichismo e exibicionismo).
A manifestação fotográfica do Juiz Bretas com uma
metralhadora ou fuzil, demonstra a falácia fálica de substituir o próprio pênis
por outro de grande potência de letalidade como uma arma de fogo. O governador
eleito do Rio de Janeiro, Witzel, também adora ter seu nome associado às armas
de grosso calibre, igualando-o ao juiz Bretas. Assim também como o brucutu
Rodrigo Amorim que se notabilizou pela vergonhosa destruição da placa da Rua
Marielle. Ali, no alto de um palanque, segurando a placa destruída, e mostrando
sua anencefalia substituída por um bíceps desmesurado, deixou claro sua
bestialidade, voyeurismo, exibicionismo e sadismo.
Ainda nesse estrato da psique, devemos lembrar o recente
caso do brucutu e soldado da P.F. Danilo Campetti, que com um potente fuzil nas
mãos, escoltou com requintes de brutalidade (especialmente a cara enfezada) o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante sua estada no velório de seu
netinho Arthur. A exibição de uma grande insígnia de “MIAMI POLICE – SWAT”,
contribuiu em muito para deixar claríssimo seus níveis de perversão: sentia-se
como um ator do seriado sensualizado norte-americano BAY WATCH (afinal tinha
sido adestrado em Miami mesmo…): exibicionismo e sadismo à n-ésima potência.
Sobre a ex-jornalista e agora deputada federal Joyce
Hasselmann, quem a conheceu aqui no Paraná sabe que ela começou a despontar no
cenário estadual com uma inserção política num jornal televisivo intitulado “de
salto alto”: ela aparecia, à época, de forma sensualizada, com um sedutor close
num sapato de salto, quase agulha. Hasselmann queria mostrar-se como a sedutora
letal. À medida que ganhou notoriedade, passou a trabalhar em redações de
jornais e na própria Veja onde plagiou 65 reportagens de mais de 40
jornalistas. Conforme roubava ideias e textos de amigos jornalistas ganhava
rapidamente incômodos quilogramas a mais. Durante a campanha eleitoral do ano
passado, mesmo com estes quilos incômodos, protagonizou uma peça de campanha
eleitoral em que, mesmo obesa, demonstrava sua “potência sexual” agora perdida,
engatilhando e empunhando armas de grosso calibre. Armas letais como simulacros
de pênis gigantes num exemplo clássico de perversão à la Freud. Parecia
divertir-se como um dos personagens “A Laranja Mecânica” executando uma vítima
com um pênis de porcelana gigante.
Janaína Paschoal, mesmo com sua tentativa de
autodesfeminização e assexualidade, tenta demonstrar-se como um macho que a
coloca num patamar muito próximo da Lady Hasselmann. As juízas Lebbos (cujo
nome se assemelha a de uma famosa Ilha grega…) e Hardt (sobrenome alemão famoso
no staff nazista da década de 1940) demonstraram um apego ao “Mestre” Moro que
as desfeminalizam ao ponto de parecerem generais armados com sua fálica
linguagem de potência militar, exibicionista e sádica.
Para terminar este pequeno ensaio sobre o bestialismo
bolsonariano, não deveríamos deixar de falar na Ministra da Goiaberia, Damares.
Conhecemos suas histórias: zoofilia, masturbação de bebês, pedofilia, mamadeira
de piroca, kit gay etc. Sabemos que Damares é a ideóloga das Fake News que deram
a vitória a Bolsonaro, graças aos 30% do estrato eleitoral feminino evangélico,
como demonstrou brilhantemente Marcos Coimbra, da Vox Populi, em recente
análise das pesquisas de seu Instituto sobre a eleição de 2018. Damares é
acusada de ser sequestradora de uma menina indígena de 6 anos, que ela nunca
adotou formalmente. Com seu passado, suas manifestações e seu imaginário
bestial, Damares pode ser igualada, em perversão sexual a dois outros
personagens que, juntos, formam o tripé da destruição da Democracia e da Razão
brasileira: Bozo-pai, Olavo de Carvalho e a Dama da Goiabeira. Juntos compõem a
estrutura de Tânatos: a pulsão de morte que recaiu tragicamente sobre o Brasil.
Freud teria hoje um país inteiro como amostra psicanalítica
para suas teorias sobre a psiquê e suas perversões! Uma Nação quase inteira no
divã da loucura…
P.S. Este artigo foi escrito horas antes do tuíte
pornográfico de Bolsonaro
*Marcos Cesar Danhoni Neves é doutor em Psicologia
Educacional pela Unicamp, professor titular da Universidade Estadual de
Maringá, autor do livro “Do Infinito, do Mínimo e da Inquisição em Giordano
Bruno”, entre outras obras