quinta-feira, dezembro 07, 2006

APAGÃO DA MÍDIA



COCAÍNA NA MAMADEIRA???
Do sensacionalismo nasce a barbárie

Por Eduardo Moraes em 6/12/2006

Hoje acabaram-se toda a minha capacidade de tolerância e compreensão face à liberdade de imprensa e todo o meu conceito sobre o assunto, ainda que mal formado, posto que não é de meu costume e princípio dar atenção à insuportável exploração pela mídia da banalidade e da desgraça alheia, ora criando transtornos irreversíveis na vida de pessoas comuns, ora simplesmente destruindo suas vidas, famílias e patrimônios.
Aos fatos: vimos por semanas e semanas no noticiário de todo o país, inclusive no horário nobre da TV brasileira, o caso da mãe que em Taubaté (SP) envenenou o filho com a administração de cocaína no leite da mamadeira. Agora, estarrecido, leio que as informações não tinham fundamento, não existia cocaína alguma. E a mãe, rotulada de ex-viciada, psicótica e alienada, presa e surrada por colegas de cela, perdeu parte da audição depois de ter um dos ouvidos perfurado por uma caneta, introduzida pelas detentas como forma de vingança e repúdio ao ato da mãe – afinal inocente e totalmente fragilizada pela perda irreparável de seu bebê, a perda de um filho.
A única palavra
Com isso não se brinca! Não achei uma forma de ignorar mais um bizarro fato do cotidiano deste país de sensacionalismo e circo, e por isso escrevo para a redação deste Observatório da Imprensa. Não consigo imaginar como seria possível aos responsáveis pela difusão e exploração de um caso tão delicado e trágico como este chegarem a suas casas com a sensação de dever cumprido em nome da imprensa e da liberdade que lhes foi dada.
Justiça é a única palavra que vem à cabeça: que a justiça seja feita. A mim, como mero espectador deste circo, só me resta sonhar que um dia não tenha que ser cúmplice indireto de tamanha barbaridade.

No Observatório da Imprensa

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