terça-feira, agosto 25, 2009

O PT não pode ser ingênuo e entrar nesse joguete


O PT é um partido sem mídia.

O PSDB é uma mídia com partido.

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'O PT não trata a ética como se fosse uma questão isolada da política'
 
ENTREVISTA Ricardo Berzoini
 
O GLOBO: Qual o balanço da crise no Senado e no PT?
 
RICARDO BERZOINI: Foi um episódio difícil porque a bancada no Senado estava com uma visão muito focada no fato em si, desconhecendo a importância de analisar essa questão em um aspecto mais amplo, não verificando que a oposição vinha numa tática de tentar estabelecer um conflito político entre o PT e o PMDB no Senado. Até acreditando que o o Conselho de Ética teria condição de fazer um debate sobre essa questão de maneira isenta. Na verdade, o Conselho de Ética é um foro político e a votação demonstrou isso.
 
O PT fez o certo no Conselho de Ética. O PT não errou.
 
Mas o PT não acabou caindo na armadilha, já que, certamente, entrou em conflito com o eleitorado que defende a ética na política?
 
BERZOINI: O PT defende a ética mas não trata a ética como se fosse uma questão isolada da política. Defendemos investigações no Ministério Público, na Polícia Federal, no Judiciário, que são instrumentos institucionais.
 
Quando se concentra a investigação no Parlamento é porque se quer fazer disputa política.
 
Quando se ignora irregularidades graves cometidas por outros senadores e se concentra só no presidente da Casa é porque se quer fazer disputa política.
 
Como o PT vai explicar isso ao eleitor?
 
BERZOINI: É óbvio que é um debate que temos que fazer com a sociedade. Não é um debate que está feito, que está tranquilo. Ou a gente enfrenta ou a gente se acovarda. E na política quem se esconde normalmente perde. Quem enfrenta tem chance de ganhar.
 
Então a questão é ganhar?
 
BERZOINI: Não. A questão é não cair em armadilha e facilitar o trabalho da oposição. Não reconheço no DEM, que está na 1aSecretaria (da Mesa do Senado) há 14 anos e diz que não sabe dos atos secretos, autoridade política para fazer essa investigação.
 
Não reconheço no PSDB, que nas CPIs do Proer e do Banespa agiu para não ter investigação, autoridade política. Reconheço no Ministério Público.
 
Muita gente diz que o PT trocou a ética pelo pragmatismo.
 
BERZOINI: Eu seria favorável a uma CPI para apurar o conjunto da obra no Senado. Por que a oposição não aceita? Porque, com uma CPI, certamente não conseguiriam pôr o foco só no presidente do Senado.
 
Os atos secretos envolvem mais de 40 senadores dos mais variados partidos. O PT não abandonou a ética. Mas o PT, no governo, precisa ter clareza de qual é o espaço para a defesa da ética. Certamente, não é no Conselho de Ética do Senado. A simplificação só interessa a quem não quer investigar em profundidade. O PT não pode ser ingênuo e entrar nesse joguete.

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