>>>>>> A passagem pela presidência dos seus países de Uribe e de Bush deixará apenas memória de atos sombrios e de crimes contra a humanidade. A Marcha Contra o Paramilitarismo e pela Paz na Colômbia, a realizar-se no dia 6 de março na Colômbia e em diferentes capitais da Europa e da América Latina, assume também agora o significado de uma homenagem póstuma a Raul Reyes. A solidariedade com aqueles que se batem e morrem por uma Colômbia democrática e progressista é, mais do que nunca necessária.
- Por Miguel Urbano Rodrigues (*) http://www.fazendomedia.com/index.htm
O governo de Álvaro Uribe assassinou na madrugada de sábado (1/3), em território do Equador, o comandante Raul Reyes das FARC numa operação concebida e executada com o apoio dos EUA.
A notícia foi inicialmente divulgada pelo ministro da Defesa de Uribe num comunicado triunfalista que deturpa grosseiramente os acontecimentos, ocultando o caráter criminoso da ação terrorista.
Segundo Juan Manuel Santos, Raul Reyes teria sido abatido num acampamento situado no Equador a 1.800 metros da fronteira durante um bombardeio realizado pela Força Aérea do seu país a partir de território colombiano, para “não violar a soberania” dos países vizinhos. Mas logo esclarece que, posteriormente, tropas do exército atravessaram a fronteira para recolher o corpo de Raul Reyes e trazê-lo para Bogotá, afim de evitar que os guerrilheiros das FARC o sepultassem.
A nota do ministro apresenta assim, pelo absurdo, um toque surrealista. É inimaginável que qualquer avião possa despejar bombas sobre um acampamento, encontrando-se a quase dois quilômetros de distância. E grotesco que essa mentira seja seguida da confissão de que, afinal, forças do exército colombiano violaram pouco depois a soberania equatoriana. As coisas passaram-se de outra maneira.
Através de satélites norte-americanos, Uribe teve conhecimento da presença de um grupo de guerrilheiros das FARC do lado equatoriano do Departamento Colombiano Amazônico do Putumayo.
Bogotá soube através de delação que Raul Reyes se encontrava no local. O dirigente revolucionário tinha a cabeça a prêmio, vivo ou morto, por 2,7 milhões de dólares. A denúncia foi paga e aviões Super Tucan da Força Aérea – a mais poderosa e bem equipada da América Latina – despejaram uma chuva de bombas sobre o acampamento. No criminoso ataque de pirataria aérea morreram, além de Reyes, o cantor revolucionário Julian Conrado (o grande artista da rádio clandestina Voz de la Resistência) e 16 guerrilheiros. Foram massacrados enquanto dormiam, em condições ainda mal conhecidas.
Uribe, ao receber a notícia, felicitou a Força Aérea e o corpo de Reyes, mutilado pela metralha, foi levado para Bogotá. Logo fotografias do cadáver ensanguentado do herói apareceram em televisões e jornais de dezenas de países. Quase o mesmo ritual macabro que envolveu o assassinato do Che em 1967.
A notícia foi inicialmente divulgada pelo ministro da Defesa de Uribe num comunicado triunfalista que deturpa grosseiramente os acontecimentos, ocultando o caráter criminoso da ação terrorista.
Segundo Juan Manuel Santos, Raul Reyes teria sido abatido num acampamento situado no Equador a 1.800 metros da fronteira durante um bombardeio realizado pela Força Aérea do seu país a partir de território colombiano, para “não violar a soberania” dos países vizinhos. Mas logo esclarece que, posteriormente, tropas do exército atravessaram a fronteira para recolher o corpo de Raul Reyes e trazê-lo para Bogotá, afim de evitar que os guerrilheiros das FARC o sepultassem.
A nota do ministro apresenta assim, pelo absurdo, um toque surrealista. É inimaginável que qualquer avião possa despejar bombas sobre um acampamento, encontrando-se a quase dois quilômetros de distância. E grotesco que essa mentira seja seguida da confissão de que, afinal, forças do exército colombiano violaram pouco depois a soberania equatoriana. As coisas passaram-se de outra maneira.
Através de satélites norte-americanos, Uribe teve conhecimento da presença de um grupo de guerrilheiros das FARC do lado equatoriano do Departamento Colombiano Amazônico do Putumayo.
Bogotá soube através de delação que Raul Reyes se encontrava no local. O dirigente revolucionário tinha a cabeça a prêmio, vivo ou morto, por 2,7 milhões de dólares. A denúncia foi paga e aviões Super Tucan da Força Aérea – a mais poderosa e bem equipada da América Latina – despejaram uma chuva de bombas sobre o acampamento. No criminoso ataque de pirataria aérea morreram, além de Reyes, o cantor revolucionário Julian Conrado (o grande artista da rádio clandestina Voz de la Resistência) e 16 guerrilheiros. Foram massacrados enquanto dormiam, em condições ainda mal conhecidas.
Uribe, ao receber a notícia, felicitou a Força Aérea e o corpo de Reyes, mutilado pela metralha, foi levado para Bogotá. Logo fotografias do cadáver ensanguentado do herói apareceram em televisões e jornais de dezenas de países. Quase o mesmo ritual macabro que envolveu o assassinato do Che em 1967.
Os bastidores do crime
O atentado terrorista ocorre num momento em que a campanha para a libertação da franco-colombiana Ingrid Bettancourt inspira as manchetes da chamada grande imprensa internacional. Nunca se mentiu tanto sobre a realidade colombiana como nestes dias em que, a pretexto do sofrimento da ex-candidata à Presidência, as FARC são alvo de uma montanha de calúnias.
Um dia ficará evidente que no debate em torno do intercâmbio humanitária, as FARC atuaram sempre com transparência e autenticidade revolucionária, movidas por um objetivo humanista e Uribe com hipocrisia e intenções inconfessáveis.
Correspondendo a insistentes apelos de Hugo Chavéz e da senadora Piedad Córdoba, as FARC decidiram numa primeira fase libertar unilateralmente Clara Rojas e a ex-deputada Consuelo Perdomo. A operação foi aliás adiada por alguns dias porque Uribe intensificou a concentração de tropas na área onde presumivelmente ambas deveriam ser entregues à Cruz Vermelha Internacional e transportadas para Caracas em helicópteros venezuelanos.
As FARC estavam conscientes dos enormes riscos que a operação envolvia. Só quem conhece a geografia da Colômbia - um país com 1.140.000 quilômetros quadrados e 45 milhões de habitantes, sulcado por três cordilheiras, rios gigantescos e em grande parte coberto pela densa floresta amazônica - pode avaliar o que significou conduzir as duas mulheres do desconhecido acampamento em que se encontravam até o Departamento do Guaviare, perto da fronteira venezuelana. É útil, aliás, recordar que o exército colombiano violou o compromisso de cessar fogo e começou a bombardear o local uma hora após os helicópteros terem levantado vôo.
Os satélites americanos transmitiram obviamente a Bogotá minuciosas informações sobre o percurso seguido pelo comando guerrilheiro incumbido de entregar Clara e Consuelo à Cruz Vermelha.
Insistiram posteriormente as FARC pela desmilitarização dos municípios de Pradera e Florida como condição indispensável ao intercâmbio humanitário, exigido pelo povo colombiano – operação que previa a troca de 40 reféns em poder das FARC – entre os quais Ingrid Bettancourt – por 500 guerrilheiros encarcerados em presídios do governo.
Uribe negou-se a atender todas as propostas internacionais recebidas com o objetivo de se chegar a um acordo que permitisse a troca. Não obstante essa atitude intransigente do presidente neofascista da Colômbia, as FARC, correspondendo a um novo apelo de Hugo Chavez, tomaram a decisão de libertar, também em gesto unilateral, quatro deputados em seu poder.
Mais uma vez a operação foi adiada porque o Exército, nas vésperas da data prevista, mobilizou poderosas forças, concentrando-as nos Departamentos do Caquetá, do Meta e do Guaviare, onde as FARC estão bem implantadas, e por onde, presumivelmente, os parlamentares poderiam passar.
Era duplo o objetivo dessa iniciativa. Se houvesse um choque direto, Uribe responsabilizaria as FARC pela morte dos deputados. Simultaneamente, os aviões espiões, equipados com uma tecnologia que Washington somente proporciona a Israel, estiveram ativíssimos.
Os satélites americanos transmitiram informações valiosas a Bogotá. Mas as FARC cumpriram, mais uma vez, o que não impediu uma intensificação da campanha pró-libertação imediata de Ingrid Bettancourt. Essa exigência era, nas condições existentes, de impossível concretização. Uma mulher fragilizada, doente, não podia em hipótese alguma caminhar durante dias através de regiões selváticas, onde as tropas colombianas poderiam interceptar o comando por ela responsável.
Renovaram portanto as FARC a sua proposta para desmilitarização de Pradera e Florida, sem a qual o intercâmbio humanitário é inviável.
Um dia ficará evidente que no debate em torno do intercâmbio humanitária, as FARC atuaram sempre com transparência e autenticidade revolucionária, movidas por um objetivo humanista e Uribe com hipocrisia e intenções inconfessáveis.
Correspondendo a insistentes apelos de Hugo Chavéz e da senadora Piedad Córdoba, as FARC decidiram numa primeira fase libertar unilateralmente Clara Rojas e a ex-deputada Consuelo Perdomo. A operação foi aliás adiada por alguns dias porque Uribe intensificou a concentração de tropas na área onde presumivelmente ambas deveriam ser entregues à Cruz Vermelha Internacional e transportadas para Caracas em helicópteros venezuelanos.
As FARC estavam conscientes dos enormes riscos que a operação envolvia. Só quem conhece a geografia da Colômbia - um país com 1.140.000 quilômetros quadrados e 45 milhões de habitantes, sulcado por três cordilheiras, rios gigantescos e em grande parte coberto pela densa floresta amazônica - pode avaliar o que significou conduzir as duas mulheres do desconhecido acampamento em que se encontravam até o Departamento do Guaviare, perto da fronteira venezuelana. É útil, aliás, recordar que o exército colombiano violou o compromisso de cessar fogo e começou a bombardear o local uma hora após os helicópteros terem levantado vôo.
Os satélites americanos transmitiram obviamente a Bogotá minuciosas informações sobre o percurso seguido pelo comando guerrilheiro incumbido de entregar Clara e Consuelo à Cruz Vermelha.
Insistiram posteriormente as FARC pela desmilitarização dos municípios de Pradera e Florida como condição indispensável ao intercâmbio humanitário, exigido pelo povo colombiano – operação que previa a troca de 40 reféns em poder das FARC – entre os quais Ingrid Bettancourt – por 500 guerrilheiros encarcerados em presídios do governo.
Uribe negou-se a atender todas as propostas internacionais recebidas com o objetivo de se chegar a um acordo que permitisse a troca. Não obstante essa atitude intransigente do presidente neofascista da Colômbia, as FARC, correspondendo a um novo apelo de Hugo Chavez, tomaram a decisão de libertar, também em gesto unilateral, quatro deputados em seu poder.
Mais uma vez a operação foi adiada porque o Exército, nas vésperas da data prevista, mobilizou poderosas forças, concentrando-as nos Departamentos do Caquetá, do Meta e do Guaviare, onde as FARC estão bem implantadas, e por onde, presumivelmente, os parlamentares poderiam passar.
Era duplo o objetivo dessa iniciativa. Se houvesse um choque direto, Uribe responsabilizaria as FARC pela morte dos deputados. Simultaneamente, os aviões espiões, equipados com uma tecnologia que Washington somente proporciona a Israel, estiveram ativíssimos.
Os satélites americanos transmitiram informações valiosas a Bogotá. Mas as FARC cumpriram, mais uma vez, o que não impediu uma intensificação da campanha pró-libertação imediata de Ingrid Bettancourt. Essa exigência era, nas condições existentes, de impossível concretização. Uma mulher fragilizada, doente, não podia em hipótese alguma caminhar durante dias através de regiões selváticas, onde as tropas colombianas poderiam interceptar o comando por ela responsável.
Renovaram portanto as FARC a sua proposta para desmilitarização de Pradera e Florida, sem a qual o intercâmbio humanitário é inviável.
O herói caído em combate
O comandante Raul Reyes era, depois de Manuel Marulanda, o membro mais destacado do Secretariado e do Estado-maior Central das FARC. Revolucionário desde a juventude, tinha atualmente 60 anos e travou as primeiras lutas políticas como sindicalista. Elas foram uma iniciação para outras batalhas. Há mais de trinta anos, Luís Edgar Devia embrenhou-se nas montanhas, aderiu às FARC e tornou-se Raul Reyes.
Conheci-o em maio de 2001. Recebi um convite para passar algumas semanas no seu acampamento, próximo de San Vicente del Caguan, capital da então Zona Desmilitarizada. Aceitei com prazer.
Raul Reyes não impressionava pela aparência física. Baixo, levemente grisalho, tinha um timbre de voz suave. Mas logo na primeira noite, após o jantar, quando conversamos no seu posto de comando – um austero escritório, com uma mesa e duas cadeiras, instalado sob uma tenda oculta pelas altas copas da mata amazônica – percebi que aquele guerrilheiro frágil era uma personalidade excepcional. Falamos do mundo em crise antes de me oferecer livros e documentação como prólogo indispensável à abordagem da luta das FARC.
Era o responsável pelas conversações de paz que transcorriam nessas semanas no vilarejo de Los Pozos com os representantes do governo do presidente Pastrana.
Corriam então os tempos em que Pastrana saudava Manuel Marulanda com abraços de Judas, dias em que vi embaixadores de países da União Européia a disputar as palavras e o sorriso do legendário Tirofijo, comandante supremo das FARC.
Viajei com Reyes para La Macarena, onde as FARC libertaram unilateralmente 304 soldados e policiais, prisioneiros de guerra, e tive o privilégio de manter com ele, nas madrugadas mornas da floresta, longos diálogos sobre a sua organização revolucionária, a América Latina e a estratégia do imperialismo estadunidense, o grande inimigo da humanidade. E também sobre a vida.
Escrevi no próprio acampamento artigos para o "Avante!" sobre os combatentes das FARC e uma entrevista também publicada pelo órgão do PCP [Partido Comunista Português].
A atmosfera tinha algo de irreal, porque os próprios textos eram transmitidos pela secretária de Raul para um destinatário que depois os encaminhava ao jornal. A Internet, paradoxalmente, podia funcionar como instrumento a serviço de uma guerrilha revolucionária. Para honra e proveito meu, Raul Reyes manteve o contato comigo. Com frequência recebia mensagens suas, por intermédio de comandantes amigos, por vezes agradecendo artigos que publicara sobre a luta das FARC.
Recordo que pouco antes do sequestro no Equador do comandante Simon Trinidad – depois entregue por Uribe aos EUA – sugeriu que voltasse à selva colombiana. O projeto foi então a pique porque a fronteira equatoriana se havia tornado muito insegura.
Até ao seu último dia, Reyes foi a voz das FARC no diálogo destas com o mundo. Mas o comandante guerrilheiro, incumbido de incontáveis tarefas, encontrava ainda tempo para escrever artigos, alguns sobre complexas questões ideológicas, para a revista Resistência, órgão internacional das FARC, e para dar entrevistas a jornais da Europa, da América Latina, dos EUA. Nelas o saber e a firmeza do comunista de têmpera tinham como complemento harmonioso a cultura do intelectual humanista.
Uribe festeja agora a morte do combatente que, nas palavras de homenagem de Jaime Caicedo, o secretário-geral do Partido Comunista Colombiano, foi um revolucionário exemplar que “entregou a vida pela causa em que acreditava”.
O triunfalismo do presidente neofascista da Colômbia que financiou o paramilitarismo quando governador de Antioquia e tem o seu nome na lista dos narcotraficantes elaborada pela Drug Enforcement Agency dos EUA, mas é hoje o melhor aliado de Bush no Continente, não tem o poder de fazer História.
A passagem pela presidência dos seus países de Uribe e de Bush deixará apenas memória de atos sombrios e de crimes contra a humanidade. A Marcha Contra o Paramilitarismo e pela Paz na Colômbia, a realizar-se no dia 6 de março na Colômbia e em diferentes capitais da Europa e da América Latina, assume também agora o significado de uma homenagem póstuma a Raul Reyes. A solidariedade com aqueles que se batem e morrem por uma Colômbia democrática e progressista é, mais do que nunca necessária.
Raul Reyes entra ao desaparecer, assassinado, no panteão dos heróis da América Latina. Como Sucre, como Bolívar, como Artigas, o Che, Raul Reyes ultrapassa a fronteira da única forma de eternidade possível – dos homens que viveram para servir a humanidade e contribuir para que ela continue.
Conheci-o em maio de 2001. Recebi um convite para passar algumas semanas no seu acampamento, próximo de San Vicente del Caguan, capital da então Zona Desmilitarizada. Aceitei com prazer.
Raul Reyes não impressionava pela aparência física. Baixo, levemente grisalho, tinha um timbre de voz suave. Mas logo na primeira noite, após o jantar, quando conversamos no seu posto de comando – um austero escritório, com uma mesa e duas cadeiras, instalado sob uma tenda oculta pelas altas copas da mata amazônica – percebi que aquele guerrilheiro frágil era uma personalidade excepcional. Falamos do mundo em crise antes de me oferecer livros e documentação como prólogo indispensável à abordagem da luta das FARC.
Era o responsável pelas conversações de paz que transcorriam nessas semanas no vilarejo de Los Pozos com os representantes do governo do presidente Pastrana.
Corriam então os tempos em que Pastrana saudava Manuel Marulanda com abraços de Judas, dias em que vi embaixadores de países da União Européia a disputar as palavras e o sorriso do legendário Tirofijo, comandante supremo das FARC.
Viajei com Reyes para La Macarena, onde as FARC libertaram unilateralmente 304 soldados e policiais, prisioneiros de guerra, e tive o privilégio de manter com ele, nas madrugadas mornas da floresta, longos diálogos sobre a sua organização revolucionária, a América Latina e a estratégia do imperialismo estadunidense, o grande inimigo da humanidade. E também sobre a vida.
Escrevi no próprio acampamento artigos para o "Avante!" sobre os combatentes das FARC e uma entrevista também publicada pelo órgão do PCP [Partido Comunista Português].
A atmosfera tinha algo de irreal, porque os próprios textos eram transmitidos pela secretária de Raul para um destinatário que depois os encaminhava ao jornal. A Internet, paradoxalmente, podia funcionar como instrumento a serviço de uma guerrilha revolucionária. Para honra e proveito meu, Raul Reyes manteve o contato comigo. Com frequência recebia mensagens suas, por intermédio de comandantes amigos, por vezes agradecendo artigos que publicara sobre a luta das FARC.
Recordo que pouco antes do sequestro no Equador do comandante Simon Trinidad – depois entregue por Uribe aos EUA – sugeriu que voltasse à selva colombiana. O projeto foi então a pique porque a fronteira equatoriana se havia tornado muito insegura.
Até ao seu último dia, Reyes foi a voz das FARC no diálogo destas com o mundo. Mas o comandante guerrilheiro, incumbido de incontáveis tarefas, encontrava ainda tempo para escrever artigos, alguns sobre complexas questões ideológicas, para a revista Resistência, órgão internacional das FARC, e para dar entrevistas a jornais da Europa, da América Latina, dos EUA. Nelas o saber e a firmeza do comunista de têmpera tinham como complemento harmonioso a cultura do intelectual humanista.
Uribe festeja agora a morte do combatente que, nas palavras de homenagem de Jaime Caicedo, o secretário-geral do Partido Comunista Colombiano, foi um revolucionário exemplar que “entregou a vida pela causa em que acreditava”.
O triunfalismo do presidente neofascista da Colômbia que financiou o paramilitarismo quando governador de Antioquia e tem o seu nome na lista dos narcotraficantes elaborada pela Drug Enforcement Agency dos EUA, mas é hoje o melhor aliado de Bush no Continente, não tem o poder de fazer História.
A passagem pela presidência dos seus países de Uribe e de Bush deixará apenas memória de atos sombrios e de crimes contra a humanidade. A Marcha Contra o Paramilitarismo e pela Paz na Colômbia, a realizar-se no dia 6 de março na Colômbia e em diferentes capitais da Europa e da América Latina, assume também agora o significado de uma homenagem póstuma a Raul Reyes. A solidariedade com aqueles que se batem e morrem por uma Colômbia democrática e progressista é, mais do que nunca necessária.
Raul Reyes entra ao desaparecer, assassinado, no panteão dos heróis da América Latina. Como Sucre, como Bolívar, como Artigas, o Che, Raul Reyes ultrapassa a fronteira da única forma de eternidade possível – dos homens que viveram para servir a humanidade e contribuir para que ela continue.
(*) Miguel Urbano Rodrigues é jornalista, com experiência em diversos periódicos portugueses e brasileiros, muitos como chefe de redação. Com a repressão em Portugal, se exilou no Brasil, onde editou a revista brasileira “Visão” e o jornal “O Estado de S. Paulo”. É autor de mais de uma dezena de livros. Texto escrito a partir de Serpa, Portugal, em 2 de março de 2008.
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