segunda-feira, março 13, 2006
Zé, depois que li seu artigo : E o Brasil?
Iniciei dentro de mim um processo de rememorar qual era o meu Brasil...
e me vi assim...como porta-bandeira, aos 7 anos, na escola primária do bairro, num subúrbio carioca, nos anos 60, com a faixa verde-amarela transpassada no corpinho magro, o auri-verde pendão apoiado na cintura, marchando no pátio da escola, diante do público composto de professores e pais de alunos, entre os quais eu podia ver os olhinhos orgulhosos da minha mãezinha, enquanto eu iniciava o processo de entendimento do que fosse representativo por aquela bandeira.
aí, um ano depois da responsabilidade em hastear diariamente a bandeira, chegou o dia em que eu devia passar o cargo ao novo pimeiro aluno da primeira série, e esse era o meu irmão Paulo ( que eu chamava Paulinho, hj é engenheiro, tem 54 anos).
em casa, decoramos por dias seguidos, repetidamente um texto em que eu lhe dizia coisas sobre o símbolo nacional e ele respondia assumindo a guarda de honra daquela flâmula.
no dia 19 de novembro, com luvinhas brancas, eu e ele, nossa mãe emocionada e chorosa a postos, eu falei tudinho e ele engasgou... eu soprei sua parte, ele foi repetindo, too o público percebendo seu nervosimo, talvez por ter naquele tempo, ele só seis anos e eu oito, e por estarmos ambos aprendendo a ser cidadãos brasileiros.
dali em diante, estudamos muito e sempre em colégios públicos, até a universidade.
ele fez engenharia na UFRJ e eu jornalismo na UFF.
somos muito unidos e conscientes, trabalhadores e incansáveis, como todos os brasileiros costumam ser.
já fiz muito discurso, pela vida afora, homenageando o Brasil, me orgulhando dele ou mesmo me lamentando o atraso do seu caminhar, entre tapas e beijos, quando me deparo no dia a dia do meu trabalho com tanta desigualdade e injustiça.
mas, não perdi o foco, sei que há muito a conquistar, e luto por isso, no meu modo de fazer as coisas, procurando conscientizar as pessoas da responsabilidade que é tocar este país para um patamar superior, ao que se encontra ainda.
identifico isso em vc, um sonho de Brasil melhor com um crescimento real que não seja esse maquiado conjunto de números que não reflete a realidade do olhar justaposto nas periferias das grandes cidades.
não basta escrever e enumerar... é preciso sair a pé, nas ruas dos pobres, e ver. só isso.
quando se vê essas vielas por onde brasileirinhos descalços e descamisados teimam em sobreviver, é que se tem a certeza de que falta patriotismo nos homens e mulheres que estão com a faca e o queijo nas mãos e se empenham muito pouco pela mudança real e necessária.
no Chile, quando caminhei nas ruas dos suburbios e vi o nível de vida das pessoas, pensei que era assim que eu gostaria de ver o meu Brasil, sem lixo e com cara de saúde.
vi isso no Japão, há 30 anos, vi nos EUA, vi na Argentina ( antes da crise) , vi na Espanha...
quero ver no Brasil, como sei que vc quer ver tb.
o Brasil do Zé, eu tenho certeza, é como o da Cida: justo, crescido, maduro, com educação básica para todos, sem analfabetismo, com dignidade...
nosso Brasil é sonho por enquanto, mas há de ser real um dia, e nesse dia, mesmo longe, teremos a lembrança feliz de havermos segurado bem a bandeira, nas marchas dos pátios das escolas, e nas plenárias para discutir as demandas que podem mudar o curso lento da mudança na vida nacional.
vou lhe dar de presente, de aniversário, uma Bandeira do Brasil.
e... luvas brancas, para que a conduza, sempre...
beijo e feliz aniversário...
Cida
Aparecida Torneros
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