por Eduardo Guimarães
Em 1994, logo depois da vitória de Fernando Henrique Cardoso sobre Lula na eleição presidencial daquele ano, tive minha primeira carta publicada por um jornal brasileiro. O jornal O Estado de São Paulo me publicou em sua seção Fórum dos Leitores. A publicação de uma opinião minha sobre o país me fez sentir cidadão. Minha manifestação foi no sentido de reconhecer a derrota de meu candidato, Lula, e de pregar que o novo governo fosse apoiado para que conseguisse colocar em prática suas propostas róseas, que, como registra a história, ficaram longe de ser cumpridas, apesar de os quatro anos iniciais de FHC terem se transformado num virtual mandarinato de oito anos.
Nos anos seguintes, eu me tornaria um dos leitores mais publicados pelos maiores jornais do país. E, com o advento da internet, minha freqüência na imprensa escrita cresceu exponencialmente. Em jornais como o Estadão e a Folha de São Paulo cheguei a figurar entre os leitores mais publicados. Mantive, durante mais de uma dezena de anos, intensa interlocução com jornalistas entre os mais famosos do país. Também fui convidado algumas vezes pela Folha para participar de eventos como o de comemoração de seus oitenta anos, em 2000, e para sabatinas de candidatos à Presidência da República e ao governo de São Paulo, em 2002. E cheguei até a ser citado em colunas políticas e até numa reportagem da Folha.
Todos os que me lêem bem sabem que minhas queixas à imprensa vêm se solidificando sobretudo de três anos para cá, após a assunção do governo da República pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Atingi um grau de insatisfação e até mesmo de revolta com a imprensa nacional que não tenho mais como tolerar. Sinto-me agredido pela constante manipulação e supressão de fatos e opiniões pela imprensa. Sinto-me violentado inclusive e principalmente até por mentiras que as imprensas eletrônica e escrita contam aos brasileiros com uma freqüência cada vez maior e com uma desfaçatez que tampouco pára de aumentar.
Tomei uma decisão: devo parar de me dirigir à grande imprensa. Não só porque não adianta nada, pois praticamente toda ela me colocou em sua lista negra, como também porque cada vez mais sou tomado pela sensação de que ela chega a rir de minha indignação. Acho que veículos como Folha, Estadão, Veja, O Globo etc. riem do que escrevo. Devem me chamar de trouxa por achar que tenho como denunciá-los. É assim que me sinto tentando ponderar com aqueles que descaradamente adotaram a censura e a mentira como forma de fazerem prevalecer seus discursos sórdidos, parciais e covardes.
Assim, despeço-me da imprensa. Mas quero dizer-lhe que, lá no fundo de minh'alma, continuará ardendo uma chama de esperança de que um ou mais jornalistas algum dia tenham a decência de iniciar um movimento pela democratização e higienização da imprensa brasileira. Até lá, porém, manter-me-ei distante dessa imundice em que chafurda a imprensa do país num momento tão triste de nossa história, no qual nossa neófita democracia brasileira está ameaçada como poucas vezes esteve e justamente por aqueles que deveriam estar entre os seus maiores guardiões.