BRASÍLIA – As elevadas taxas de juros, utilizadas pelo Banco Central para conter a inflação, são o principal entrave para o crescimento econômico brasileiro, na opinião unânime dos participantes do seminário sobre a Agenda Nacional de Desenvolvimento. O encontro serviu como apresentação pública da agenda, aprovada ano passado pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, órgão consultivo da Presidência da República.
A atividade reuniu representantes do governo e da sociedade civil, além de economistas, como Antonio Delfim Neto e Maria da Conceição Tavares, o sul-coreano Ha-Joon Chang e o norte-americano Jan Kregel.
Kregel, economista-chefe do Setor de Financiamento para o Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas (ONU), sustenta que taxas elevadas de juros tornam as aplicações financeiras mais atraentes que investimentos produtivos, os quais geram crescimento. Ele diz que a contenção da inflação deveria ser feita de uma forma "racional, o que não ocorreu até hoje" na história brasileira. "Temos que ter uma política monetária mais inteligente", afirmou no painel O Desenvolvimento em Perspectiva Histórica e Internacional. "Taxa de juro é um preço como qualquer outro da economia e é um paradoxo que se suba um preço para os demais baixarem", destacou.
Delfim Neto, que já foi ministro da Fazenda e do Planejamento, culpa os juros altos pela valorização excessiva do Real frente ao dólar. "Fixou-se uma taxa de juros interna tão maior que as taxas externas que o Real se supervalorizou, o mundo vem aqui comprar Real", disparou. Ele defendeu, inclusive que os votos dos membros do Comitê de Política Monetária (Copom), que decidem sobre a evolução da taxa básica de juros, sejam justificados e publicados.
Os dois economistas deram suas sugestões para a Agenda Nacional de Desenvolvimento. Kregel diz que um dos elementos básicos de uma agenda nacional de desenvolvimento deve ser a expansão de emprego e renda. "Taxas de crescimento próximas do potencial de produção não são garantia de emprego, renda e serviços sociais", alertou o economista. Segundo ele, é preciso ajustar as políticas macroeconômicas a partir no seu impacto sobre o desenvolvimento.
Já Delfim acredita que, para impulsionar o desenvolvimento, é necessário um "choque de gestão, com redução dos gastos do Estado. O ex-ministro diz que a carga tributária, hoje, é de 37% do Produto Interno Bruto, contra 25% há 20 anos. "O estado se apropriou de 12% do PIB, que antes ficava na mão do setor privado para realizar investimento", denunciou. "Isso claramente reduz o ritmo de crescimento do país".
Maria da Conceição Tavares aponta o combate à pobreza como prioridade da agenda nacional de desenvolvimento. "Não se quer desenvolvimento com subdesenvolvimento", afirmou. E criticou aqueles que acreditam que o Brasil deve trilhar o mesmo caminho de desenvolvimento de outros países: "A China cresce como um cavalo e tem uma taxa de distribuição de renda igual à do Brasil. "Não estou de acordo que se deve crescer em qualquer condição", disse.
A síntese das discussões será encaminhada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "A economia não é uma ciência exata e estamos fazendo esse debate justamente para contribuir com a reflexão daqueles que conduzem a economia", declarou o ministro chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Jacques Wagner, também secretário executivo do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
Agência Brasil