sexta-feira, março 03, 2006

Estadão, Folha e a contracomunicação

Hélio Fernandes, na Tribuna da Imprensa de hoje.

E lembremo-nos que o Hélio Fernandes nunca morreu de amores pelo PT

Fernando Soares Campos

http://www.tribuna.inf.br/coluna.asp?coluna=helio Estadão, Folha e a contracomunicação Protestam sobre a censura, mas exercem a prática interna.

Desde a publicação da pesquisa CNT/Sensus, que mostrou a ascensão do presidente Lula, tem sido comovente o esforço dos grandes jornais de São Paulo para reverter esse quadro e fortalecer o candidato a ser escolhido pelo PSDB, seja ele José Serra, Geraldo Alckmin ou mesmo Fernando Henrique Cardoso, que Deus nos proteja. Na sexta-feira antes do carnaval, por exemplo, Folha e Estadão deram amplo espaço à notícia de que o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), ingressara com duas representações contra Lula por antecipação de campanha eleitoral. O Estadão chegou a publicar duas páginas inteiras contra a "campanha" de Lula, sem uma só linha em defesa do governo, embora tivesse entrevistado o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini, e o governador petista Jorge Viana, que se reunira com Lula no Planalto. Na entrevista que Berzoini deu ao Estadão (e que não foi publicada), o presidente do PT assim respondeu às críticas de que Lula estaria fazendo campanha antecipada: "O governador e o prefeito de São Paulo inauguram até troca de lâmpadas". É um fato real e irrespondível. Berzoini acrescentou que todo cidadão faz campanha quando defende suas idéias. "Fazer campanha não significa que seja eleitoral, mas para defender pontos de vista", argumentou na entrevista estrategicamente escondida. O Estadão também não publicou a entrevista que fizera com o governador do Acre, Jorge Viana. Ao deixar o Palácio do Planalto, Viana afirmou que foi o PSDB quem inventou a idéia da reeleição e agora está sofrendo as conseqüências da própria criação. "Nós não inventamos a reeleição. Agora, os tucanos estão provando um pouco do veneno que eles próprios criaram", disse Viana (mas não houve espaço para uma só linha de suas declarações nas duas páginas que o Estadão publicou contra Lula). A Folha deu menos espaço à notícia contra Lula, mas também foi parcial, sem dar defesa ao presidente. Aliás, na mesma edição, a Folha caiu na baixaria, dando amplo espaço a uma denúncia do TCU sobre "gastos excessivos com bebidas alcoólicas e alimentos refinados" no Palácio Alvorada e na Granja do Torto. E ilustrou a "matéria" com uma foto enorme de Lula. Entre os jornalões, tenho que reconhecer, somente O Globo deu um noticiário equilibrado, com a notícia e a resposta do PT, desferida por Berzoini e Viana. Ontem, quinta-feira, Folha e Estadão seguiram na escalada da tentativa de desmoralizar o presidente Lula, o governo e o PT-PT. A Folha abriu manchete atribuindo a uma medida do governo (redução do álcool na gasolina) o aumento dos combustíveis. Na primeira página, anunciou também que "a família de Celso Daniel se diz ameaçada e está deixando o País". Na verdade, somente o irmão caçula de Daniel levou a família para fora, "com destino ignorado", segundo a matéria. Por que não ouviram os que ficaram? A reportagem da Folha, editada com grande destaque, mas sem bases concretas, procura disseminar a versão de um complô contra a família Daniel. Neste particular, é bom frisar que a família deve estar em excelente situação financeira, já que, segundo a Folha, estaria em condições de se mudar em bloco para fora do País, e com a maior tranqüilidade. Como só um viajou, ficou sem credibilidade o "reforço" financeiro da família. Ainda ontem, Folha, JB e Estadão destacaram também as críticas ao governo, feitas pelo secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), D. Odilo Pedro Scherer. Mais uma vez, somente O Globo, que abriu a 3ª página com a matéria, reservou também amplo espaço para a defesa do governo, feita pelo deputado Arlindo Chinaglia. Enquanto Estadão, Folha e JB não davam qualquer direito de resposta ao governo. No caso, o Estadão até desconheceu a ética. Não só não deu direito de resposta ao governo, como publicou nota, atribuída a "assessores do Planalto", mandando a "Igreja tomar conta do padre Pinto". Como se dizia antigamente, o velho Estadão continua semeando cizânia, que palavra. Conforme expliquei em artigo semana passada, a diferença de postura entre O Globo e os demais jornalões é que João Roberto Marinho já foi informado de que Lula está com tendência de alta e vai ganhar a eleição. Quem lhe deu a notícia foi o maior especialista brasileiro em pesquisa, Carlos Augusto Montenegro, presidente do Ibope. Cauteloso, João Roberto Marinho mantém a linha editorial de O Globo em posição de imparcialidade. Não confundir com neutralidade. A pesquisa que o Ibope divulgou ontem confirma o que revelamos: há um mês Montenegro já relatara ao novo líder do clã Marinho. Agora, para desespero dos tucanos, o Ibope mostra que Lula já bate Serra até em São Paulo, principal reduto do PSDB. Para consolar José Serra, que passeou em Buenos Aires, só resta fazer como Manoel Bandeira: cantar um tango argentino.

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