quarta-feira, agosto 21, 2019

Não tem dinheiro? A saída é emitir dinheiro

por Gilberto Maringoni

Há poucos dias, o Boçal, da rampa do palácio do Planalto, ao ser perguntado sobre cortes orçamentários, respondeu:
“O Brasil inteiro está sem dinheiro. (…) Em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão. Os ministros estão apavorados. Estamos aqui tentando sobreviver no corrente ano. Não tem dinheiro e eu já sabia disso”.
O que Bolsonaro fala é uma gigantesca empulhação. O que deve fazer um governo quando se vê sem dinheiro?
Emitir.
Imprimir dinheiro.
Rodar a maquininha da Casa da Moeda.
É para isso que existe Banco Central.
País com moeda soberana, com gastos e dívidas em moeda soberana, com imensa capacidade ociosa, com um enorme exército industrial de reserva (desemprego batendo os 14%), tem de imprimir dinheiro para poder gastar. (Atenção: emissão é prerrogativa do Estado. Bancos privados não podem emitir através de mil e um subterfúgios, como usualmente ocorre).
Em uma economia com demanda reprimida, mercado interno em encolhimento e à beira de recessão, o risco inflacionário é mínimo. Um país não funciona como uma casa de família, como o Boçal e todos os políticos empulhadores tentam nos fazer crer. Famílias não emitem dinheiro. Países sim. Famílias têm pouca elasticidade no gasto. Países têm ampla elasticidade, determinam a taxa de juros de suas dívidas e precisam ter solvência no longo prazo.
A austeridade numa situação como a atual é completamente inútil. Austeridade pede sempre mais austeridade, numa espiral descendente sem fim. A saída é interromper o mergulho e crescer. É preciso crescer. É possível crescer para gerar emprego, renda e financiar serviços públicos.
Essa é uma decisão fundamentalmente política e não econômica. Essa é a decisão que Franklin Roosevelt tomou ao assumir o poder, em 1933, diante da grande depressão. Emitiu dinheiro e expandiu o gasto (investimento) público. A crise só foi debelada quando o gasto atingiu seu auge, em 1940, num acelerado esforço de guerra.
Roosevelt seria chamado hoje pelo colunismo econômico pilantra de partidário da gastança.
Governantes em países capitalistas se dividem fundamentalmente entre Roosevelts e Hoovers. A referência é a Herbert Hoover, que governou os Estados Unidos de 1929 a 1933. No auge da depressão, o republicano tomou duas medidas de forma destrambelhada. A primeira foi não fazer nada para ver o que acontecia. A segunda foi iniciar uma política de cortes e redução orçamentária. O desastre foi espetacular.
Infelizmente, nos últimos anos tivemos no Brasil alguns Hoovers e nenhum Roosevelt.
P. S. Utilizei a imagem de “imprimir dinheiro” e “rodar a maquininha” para simplificar a ideia. Na verdade, o BC não precisa mandar produzir notas e moedas fisicamente, pois o grosso do numerário circulante é virtual. São meros registros eletrônicos feitos cotidianamente em computadores do BC e dos bancos.
(A partir de uma conversa com Antonio Martins, Artur Araújo e Diogo Fagundes)

https://jornalggn.com.br/artigos/nao-tem-dinheiro-a-saida-e-emitir-dinheiro-por-gilberto-maringoni/

https://www.brasil247.com/economia/bc-vai-acelerar-queima-de-reservas-e-coloca-em-risco-a-economia-brasileira - Sob o comando de Roberto Campos Neto e contrariando a área técnica, o Banco Central vai leiloar US$ 3,845 bilhões das reservas internacionais do Brasil, entre 21 e 29 de agosto; acumuladas em sua maioria pelos governos Lula e Dilma, as reservas somam US$ 388 bilhões e servem de proteção à economia brasileira contra crises cambiais de grandes proporções - JUNTE A ISSO A SITUAÇÃO DE PARALISIA DO ESTADO EM ÁREAS EXPLOSIVAS COMO RECEITA FEDERAL, SAÚDE, PESQUISA, EDUCAÇÃO, FORÇAS ARMADAS E INSS. NÃO É PRECISO SER UM GÊNIO PRA VER NO QUE VAI DAR...

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