Na Internet, encontram-se muitas informações relevantes da biografia profissional de Paul Haggis (canadense, 42, mora em LA desde os 22) diretor de "Crash", que ajudam a entender o filme que, em 2006, ganhou o Oscar.
Nessa página, por exemplo, aprende-se que Paul Haggis é um muito prestigiado diretor de seriados de televisão considerados `cult´ pelos norte-americanos considerados `cult´. O mais citados desses seriados `cult´ criados e dirigidos por Haggis é "EZ Streets" (CBS), apresentado nos EUA de outubro de 96 a abril de 97.
O título desse seriado é intraduzível para o português, pq é um espécie de trocadilho que usa a sigla de uma conhecidíssima empresa de asfaltamento de ruas ("EZ Asphalt"), em expressão que é uma transliteração da expressão "Eis as ruas" ("These are the streets"), pronunciada à maneira dos iletrados ("T´is the streets"); coisa que, em português, daria algo semelhante a "SÃO as rua", onde "SÃO" fosse, também, uma marca comercial conhecidíssima de asfalto ou de lama e sarjetas imundas.
Para o New York Times "EZ Streets", apesar de ter tido vida curta, seria um dos seriados mais influentes de todos os tempos, porque "sem "EZ Streets não haveria Sopranos." É uma opinião, OK. Mas fica-se sem saber por que, diabos, "Sopranos" seria, assim, tão indispensável à vida no planeta e à felicidade dos homens, a ponto de sua importância intrínseca contaminar até o seriado-mãe.
A mesma página informa que Haggis é diretor de televisão premiadíssimo: ganhou "dois Emmys, o Prêmio Humanitas, o Prêmio da Associação de Críticos de Televisão, o prêmio Viewers For Quality Television Founders, o Banff TV Award, o Columbia Mystery Writers Award, seis prêmios Geminis, dois Houston Worldfest Gold Awards e o Prism Award. Mais recentemente, recebeu o EMA Award, o Genesis Award, o Ethel Levitt Memorial Award for Humanitarian Service", além do muito prestigiado Valentine Davies Award, entregue a Harris por "honrar e dignificar os escritores, em todo o mundo".
Além disso, aprende-se aí, também, que Haggis é co-fundador da ONG "Artistas pela Paz e Justiça", é Diretor da ONG "Projeto Hollywood de Alfabetização e Educação", da ONG "Pelas Artes - para todas as crianças"; da ONG "Associação Mídia pela Preservação do Meio Ambiente"; além de ser membro-fundador da ONG ECO ("Earth Communications Office", Centro "Terra Comunicações"); membro do Conselho de Fundadores da ONG TDW ("The Defenders of Wildlife", "Defensores da Vida Selvagem") e membro do Conselho Consultivo da ONG CAN ("Center for the Advancement of Non-Violence", Centro pela difusão da não-violência).
Em Março de 2003, a revista Razor incluiu Haggis numa lista de "não-conformistas que desafiam o pensamento único, iconoclastas que defendem o pensamento independente, radicais que não se alinham, homens que são a matéria-prima da liberdade", uma lista que aumenta a cada ano, mas que todos os anos começa por... Bill Clinton.
Em resumo, Paul Haggis parece ser, hoje, uma espécie de D. Viviane Senna que dirige seriados de televisão e escreve roteiros de filmes para ganhar Oscars, movido a idéias ongueiras, as mesmas que, no Brasil, são chamadas também `neoliberais´, quer dizer: aquela conversa, tão nossa conhecida, de "responsabilidade fiscal acoplada à mais radical irresponsabilidade social".
Para uns, essas idéias ongueiras definem-se como "idéias de bom-mocismo individual e individualizante, travestidas em propostas-lições individualistas e individualizantes de bom-mocismo e `ética´ de salão de cabelereiro da Vila Leopoldina". Para outros, mais radicais, essas idéias ongueiras definem-se por algum tipo de "seja um bom rapaz e NÃO PENSE, nunca mais, na luta de classes".
Por essas idéias `neoliberais´, criam-se filmes (e os respectivos prêmios e os respectivos públicos) nos quais, ao mesmo tempo em que se mostram algumas crises individuais de consciência individual da e para a vida individual, não se vê NENHUMA perspectiva social de democratização das relações sociais.
Dado que não há NENHUMA perspectiva social e radicalmente democrática, democratizante e democratizatória, convivem harmonicamente, nesses filmes (e nos respectivos prêmios e nos respectivos críticos e nos respectivos públicos), todos os tipos de crises individuais, apresentadas, contudo, como se cada uma (e todas!) fossem exemplares; mas jamais se sabe o quê, diabos, cada crise exemplifica.
Dessa matéria-prima fazem-se filmes como "Crash" que, divulgados (e premiados) como filmes `contra a intolerância´, acabam por ser, apenas, filmes em que se faz de tuuuuuuuuuuuudo para que não se veja que, nesses filmes (e nesses neoliberalismos ongueiros) a desesperada luta entre pobres e ricos, no mundo do capital, em que os pobres lutam pela vida e os ricos lutam por preservar seus direitos & feudos, é mostrada, sempre, como uma espécie de briga entre alucinados momentâneos, na qual os pobres de matam e morrem, mais ou menos como se matassem e morressem de susto, no tranco, por algum tipo de `ignorância etnicamente determinada´ ou determinada `por gênero´; e os ricos sofrem, no máximo, a `crise´ de despencar por escadas luxuosíssimas e... luxar um tornozelo.
Caia Fittipaldi (abril, 2006)
[1] Com informações de http://www.imdb.com/name/nm0353673/bio
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