JOSIAS GOMES
30 DE OUTUBRO DE 2013 ÀS 18:52
Novidade é que o problema, que atravessa séculos, ocorre
agora sem as consequências econômicas e sociais que sempre caracterizaram o
fenômeno durante todo o tempo
Há um fenômeno físico-econômico-social que mais uma vez se
repete no Nordeste: a seca. Atravessando os séculos, mais uma vez ela vem
acontecendo de forma violenta, já caracterizada como uma das mais severas das
últimas décadas.
A novidade é que, no caso presente, ela ocorre sem as
consequências econômicas e sociais que sempre caracterizaram o fenômeno durante
todo o tempo. Agora, a economia da região não se mostra arrasada como sempre
ocorria.
Há um aspecto novo bem evidente no quadro atual e que
deveria chamar a atenção de todos os que se preocupam verdadeiramente com a
vida brasileira, e, principalmente, com a realidade nordestina: a ausência das
hordas de esquálidos na região.
Eram essas hordas de esfomeados que, durantes as secas,
costumavam invadir as cidades em busca de comida. Para satisfazer esse tipo de
necessidade primaríssima do homem, a turba invadia as cidades e saqueava
mercearias, caminhões, mercadinhos da Conab e, eventualmente, supermercados.
Os saques no Nordeste têm registro antigo, remontando mesmo
ao Século XVI, sendo motivo de inúmeras teses científicas e acadêmicas
assinadas por brasileiros, mas, também, e em bom número, por cientistas
estrangeiros. Há registros até de antropofagia.
Na época da ditadura, de forma ridícula, mas bastante
sintomática para as convicções ditatoriais, o então ministro Mário Andreazza,
em uma das secas da década de 70, foi a público qualificar os saques como fruto
da ação de comunistas infiltrados no seio do povo. O decantado "milagre
brasileiro", de então, era mesmo uma falácia.
Pois bem. Apesar de a atual ser considerada a mais dura seca
dos últimos 50 anos, não há os saques verificados durante séculos, nem a morte
de milhões de nordestinos com fome e sede, expostos pelas estradas da região,
conforme se via desde muito antes da existência do marxismo.
Não é pouca coisa. É um acontecimento histórico da mais
elevada significação, mas que, ou por ignorância ou por cinismo ou por desamor
à verdade ou por desprezo elitista ou simples despeito não alcançou status de
notícia merecedora de destaque na sempre atenta mídia nacional.
Sim, amigos leitores. A seca continua tão severa quanto há
séculos. Mas não há mais as hordas de famintos. E a economia nordestina não
restou destruída conforme os registros históricos mais remotos.
Em primeiro lugar, porque, nos últimos 10 anos, o governo
federal, de Lula a Dilma, vem investindo forte em programas de transferência de
renda como nunca se fez nos 500 anos de história do País.
A despeito da resistência oferecida por aqueles que não
escondem seu horror diante do processo de ascensão social, foram esses
programas de transferência de renda, capitaneados pelo Bolsa Família, que deram
dignidade às populações mais pobres do País, entre as quais se encontram os
nordestinos do semiárido.
É preciso destacar também os projetos governamentais visando
a segurança hídrica do semiárido. Falo desde as ações estruturantes, como
barragens, canais, estações elevatórias, sistemas de abastecimento d'água que
beneficiam municípios e estados, até ações emergenciais, ampliando o acesso à
água, ofertando alimentos para os rebanhos e crédito emergencial, renegociando
dívidas dos agricultores, simplificando e acelerando o repasse de recursos
federais para os estados e para os municípios.
Iniciado no governo Lula, o Projeto de Integração do Rio São
Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional, apesar das
inevitáveis dificuldades, está sendo acelerado, rumo à conclusão de uma das
mais importantes obras de engenharia hidráulica em curso no mundo, favorecendo
em elevado grau a solução do problema de água em vasta área do semiárido
brasileiro.
Pois é. Há uma nova realidade no Brasil: há seca, mas não
temos esquálidos invadindo cidades e mercados em busca de comida. Nem os
milhões de mortos verificados pela história afora, em virtude desse fenômeno
climático.
O Brasil caminha, portanto, inexoravelmente, para uma
grandiosa realidade absolutamente nova, e sonhada há 500 anos: a solução
definitiva para o mais esperado e previsível fenômeno natural do Brasil, que é
a seca.
Essa é a nova realidade, queiram ou não os incorrigíveis e
vesgos críticos das ações governamentais empreendidas no Brasil desde 2003.
Ainda bem que o Brasil real não depende desses senhores para reconhecer os
benefícios das mudanças em curso. Apenas o povo é suficiente.