domingo, janeiro 15, 2012

A avaliação dos russos:

Já se vê no horizonte uma nova guerra dos EUA no Oriente Médio 13/1/2012, MK Bhadrakumar, Indian Punchlinehttp://blogs.rediff.com/mkbhadrakumar/2012/01/13/russia-sees-middle-east-drifting-to-war/
A situação no Oriente Médio aproxima-se rapidamente do ponto crítico e o início do conflito já aparece nas cartas. Isso, em resumo, foi o que disse Nikolai Patrushev, secretário do Conselho de Segurança Nacional da Rússia (e ex-diretor do FSB, a organização que sucedeu a KGB) em entrevista à imprensa russa.

Patrushev é, sem dúvida, figura chave do establishment político e das relações internacionais russas. Ninguém duvida de que falou bem refletidamente, com o objetivo de enunciar a profunda ansiedade do Kremlin, ante a evidência de que o mundo está a poucos passos de uma conflagração no Oriente Médio, de consequências imprevisíveis no plano da segurança regional e internacional e da política mundial.

Patrushev, claro, tem acesso a inteligência de alto nível e falou baseado em dados que estão jorrando dos satélites e dos espiões e diplomatas russos. O Kremlin disparou um sinal de alerta.

As entrevistas foram dadas em idioma russo. Posso portanto reproduzir passagens. Patrushev disse: “Há informações de que membros da OTAN e de alguns estados árabes do Golfo Persa, agindo pelo cenário que se viu na Líbia, trabalham para transformar a atual interferência nas questões internas da Síria em intervenção militar direta.”

Foi específico. “As principais forças de ataque não serão francesas, nem britânicas nem italianas, mas, provavelmente, turcas.” Disse que o primeiro passo será criar uma zona aérea de exclusão sobre a Síria, para criar um santuário em território líbio próximo da fronteira turca, para entrada de mercenários que possam ser apresentados como rebeldes sírios. Em resumo, é intervenção ocidental ao estilo “líbio”; e conduzida pela Turquia.

Patrushev disse que a escalada militar alcançará provavelmente também o Irã e há “real perigo” de ataque pelos EUA, destacando que tensões sobre a Síria, hoje, são, de fato, tensões relacionadas à questão iraniana. “Querem castigar Damasco, menos pela repressão à oposição e, mais, por a Síria ter-se recusado a romper relações com Teerã.”

Sobre a situação iraniana, Patrushev disse: “Já se veem sinais de escalada militar no conflito, e Israel está empurrando os americanos para a guerra. Há perigo real de um ataque militar norte-americano contra o Irã. Nesse momento, os EUA veem o Irã como seu principal problema. Querem converter o Irã, de inimigo, em parceiro apoiador; e, para conseguir isso, o plano é mudar o atual regime, pelos meios necessários.”

E qual será a provável resposta dos iranianos? Patrushev avalia: “Não se pode descartar que os iranianos sejam capazes de cumprir suas ameaças de suspender exportações do óleo saudita pelo Estreito de Ormuz[1], se sofrerem ataque militar direto.”

Patrushev também falou sobre as políticas dos EUA para Rússia, China e Índia.

Disse que os EUA estão “persistentemente buscando manter sua dominação econômica, política e militar no mundo”. Põe sob essa luz a instalação dos sistemas de mísseis antibalísticos dos EUA na Europa. ”Hoje, [a instalação dos mísseis antibalísticos] talvez não seja grave ameaça à Rússia, mas o objetivo daquela ação, no longo prazo, é reduzir nosso potencial estratégico. Pelo que sei, os planos para uma barreira global de mísseis de defesa norte-americanos também estão sendo negativamente avaliados em Pequim.”

“Apesar das mudanças radicais no alinhamento global de forças, como resultado da modernização, os EUA insistem em manter sua dominação econômica, política e militar em todo o mundo. No presente, é importante para os EUA eliminar o que veem como ameaças a essa dominação – e ameaças que vêm da China, como creem os EUA.” (...)

Como “amigo de muito tempo” da Índia, Patrushev, evidentemente, não falaria contra a abordagem dos indianos e as atitudes de ‘sedução’ de Tio Sam. Em vez disso, falou da “vizinhança estendida” da Índia:

“Simultaneamente, os EUA buscam acesso direto aos recursos e às facilidades de transporte na vasta área do Cáucaso, do Cáspio e da Ásia Central. Há inúmeras declarações de políticos norte-americanos sobre a necessidade de pôr sob controle dos EUA a energia, a água e outros recursos da Rússia.”

Mas, apesar de tudo, Patrushev não ignorou a importância que Moscou dá às relações Rússia-EUA, porque “os EUA são líderes do mundo ocidental e, faça a OTAN o que fizer, as estratégias da OTAN são sempre modeladas em Washington.”

Além disso, “Nossos países [Rússia e EUA] têm vários e importantes interesses coincidentes em matéria de segurança. Por exemplo, estamos combatendo juntos contra o terrorismo, dentre outras coisas, ao tornar acessível a rota do norte, para atender as necessidades das forças dos EUA no Afeganistão; estamos enfrentando juntos o crime organizado e o comércio ilegal de armas, narcóticos e substâncias psicotrópicas, e cooperamos também na luta para manter a segurança das informações” – concluiu Patrushev, com boa dose do humor russo, ao acentuar o caráter profundíssimo da atual “parceria” entre Rússia e EUA.

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[1] Sobre isso, ver 8/1/2012, “Geopolítica do Estreito de Ormuz: Marinha dos EUA pode ser derrotada pelo Irã no Golfo Persa?”, Mahdi Darius Nazemroaya, Global Research, em http://redecastorphoto.blogspot.com/2012/01/geopolitica-do-estreito-de-ormuz.html [NTs].